Era como observar um cardume de peixes. Eles iam em grupos para todos os lugares. As fêmeas faziam praticamente tudo juntas. Estudavam, comiam, iam até ao banheiro acompanhadas… era como um ritual onde nenhuma podia abandonar a outra mesmo para atividades simples. Já os machos não eram tão dependentes um do outro, já que precisavam demonstrar sua virilidade. Se eles soubessem que quando minha raça completa 7 anos vividos somos deixadas nos confins mais sombrios do mar aberto para aprendermos a sobreviver, sozinhas dependendo unicamente de nosso aprendizado não seriam tão dependentes um do outro. Eram completamente patéticos e inúteis. Choravam por coisas supérfluas e não aceitavam não como resposta.
    Por inúmeras vezes os imaginei afundando no mar, seus rostos com expressões de medo e terror… ver a vida deles se esvair de seus corpos me dava estímulo para continuar em minha jornada pelo mundo terreno.
— Então meu pai fundou esse estabelecimento com minha mãe. Faz mais de trinta anos, todos que moram aqui…
    Sorri enquanto assentia com a cabeça. Algo curioso sobre os humanos é que se perguntar sobre sua história de vida a maioria deles abre a boca e não para mais. Falam e falam sobre sua luta para estarem ali.
— E quem trabalha com o senhor? – Perguntei, o cortando.
— Duas moças, uma na parte da manhã e outra à tarde.
— Entendi – mordisquei o pedaço de bolinho a minha frente, o gosto era horrível. – São boas funcionárias?
    Ele sorriu, mostrando seus dentes amarelos.
— Ótimas garotas!
— É sempre bom trabalhar com pessoas agradáveis – disse sorrindo, sentindo meu estômago querendo expulsar aquela comida grotesca de meu interior.
— A do turno da manhã se chama Olívia e a outra Abigail – ele recolheu o prato a minha frente, suas mãos eram calejadas e ásperas.
— Como Olívia é?
    Aquela pergunta era específica demais, eu sabia. Notei o semblante dele mudar, a desconfiança emergindo.
— Porque quer saber dela? – Ele limpou as mãos em um pano surrado. As sobrancelhas grossas e grisalhas juntaram-se.
    Era incrível como os seres humanos mudavam sua postura quando desconfiados.
— Me conte – meu sorriso sumiu, dando lugar a minha verdadeira face por estar ali, buscando informações com um reles mortal. – Agora – ordenei. A impaciência querendo explodir em minha voz.
    Sua postura relaxou, dando lugar a serenidade em seu olhar.
— Olívia é uma garota doce e gentil, mas nas últimas semanas notei que ela tem sido silenciosa e aflita.
    Assenti para ele continuar.
— Ouvi Abigail dizer que a pobre garota tem ouvido vozes...acho que está ficando louca.
    Dei meio sorriso, satisfeita. Então estava realmente chegando a hora.
— Obrigado pelas informações, Duke – levantei-me, vendo que o estabelecimento estava vazio.
— Qual seu nome? – perguntou ele, seu olhar era de fascínio e medo.
    Eu não poderia dizer meu verdadeiro nome a ninguém. Sabia que no momento que a palavra fosse pronunciada eu voltaria a minha forma real.
    Abri um largo sorriso, dizendo suavemente:
— Quem não existe não necessita de nome. Certo? – Aproximei-me mais, fixando meus olhos nos seus, sentindo minha força ficar cada vez mais frágil.
    Duke assentiu levemente, seus olhos castanhos fixos.
— Volte a sua vida miserável – sussurrei, saindo rapidamente.
    O ar gélido do início da noite me envolveu. Estava fraca e me sentia horrível por isso. Um encantamento simples sugou mais da metade de meu poder. Precisava me fortalecer novamente, meu corpo ansiava por isso. Apressei o passo sabendo exatamente aonde iria. Necessitava de minha rainha.