Viajantes - O Príncipe de Âmbar escrita por Kath Gray


Capítulo 8
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Ok. Ainda nem sinal de vida de vocês, mas aqui vai o próximo cap.
Pensando agora, acho que vocês devem ter parado de ler depois de comentar no prólogo. Espero que eu não esteja sendo descritiva demais... às vezes, isso cansa. Mas não quero mudar. Eu gosto de como está ficando.
Consegui tempo para escrever o capítulo VII, e o próximo está a caminho. Vou continuar tentando divulgar de vez em quando para ver se aparece alguém, mas mesmo que não apareça vou continuar escrevendo. Amo essa história e ela merece ser terminada, mesmo que eu seja a única pessoa a ler.
Enfim, se alguém está lendo isso, espero que goste. Trabalhei e caprichei muito nesse, e foi o primeiro que achei perfeito depois de revisar uma vez só. Realmente adorei.
E... é isso! Mata ato nè!! o/



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Segundo a física, quanto mais quente o ar, mais dispersas são suas moléculas. Isso naturalmente implica em um maior espaço entre elas. Em contrapartida, quanto mais frio, mais próximas são suas partículas, o que consequentemente torna a substância mais densa. Dean sabia bem disso. Como um dos princípios mais básicos da matéria, aquilo fora martelado em sua mente repetidamente ao longo dos anos de escola.

Porém, não era assim que se sentia. Quando o dia estava quente, ele quase conseguia enxergar o ar como uma enorme quantidade de mel ou outra substância parecida, densa e claustrofóbica. Às vezes ele sentia como se um cobertor invisível o recobrisse, sendo pressionado contra seu rosto, sufocando-o. Quente, abafado; o mero ato de respirar era mais complicado, como se o ar teimasse em brincar do lado de fora de seu corpo, sem nunca entrar.

Por outro lado, quando o dia estava fresco, era como se puro vácuo o rodeasse. Não só o oxigênio entrava com mais facilidade, como se desobstruísse suas narinas e sua garganta, mas também o próprio espaço parecia maior. Vasto, amplo, livre. Ele não sentia a pressão constante do ar sobre sua pele nem qualquer tipo de aperto ou abafo.

Dean nunca sentiu um vácuo tão limpo quanto aquele que o atingiu quando abriu a porta.

O ar fresco acariciava-lhe a pele com uma sutileza que em muito superava a da seda, trazendo consigo todo tipo de aromas. Como aquilo poderia ser um sonho? Era inconcebível que uma sensação tão real fosse qualquer coisa menos do que verdadeira. O quanto exatamente sua mente seria capaz de surpreendê-lo? O suficiente para criar tal experiência? Ele não fazia ideia.

O ambiente do lado de fora era maravilhoso de uma maneira difícil de descrever. Se lhe pedissem que apontasse o que exatamente havia de tão especial ali, era capaz de o cérebro de Dean ter um curto circuito.

A cabana tinha uma minúscula varanda. O chão era erguido dois estreitos degraus acima do solo, o que Dean imaginou que fosse a razão da terra que vira antes estar tão abaixo do piso. Quando desceu o último degrau, ele sentiu aos seus pés uma terra fofa e arejada que misturava-se a uma areia branca, fina e macia.

A cabana de Dean era uma de várias, todas dispostas com generosos espaçamentos entre elas, formando um enorme círculo ovalado ao redor do que parecia ser uma espécie de grande praça arenosa. Do lado de dentro do contorno, a areia começava a diferentes distâncias dos casebres, como o contorno irregular das águas do mar ao avançarem sobre a praia. Do lado de fora, a terra recobria o chão de uma magnífica floresta que começava alguns metros atrás de cada cabana e estendia-se até onde os olhos podiam acompanhar. O intervalo entre as construções e a mata densa consistia em um gramado incrivelmente verde e surpreendentemente bem-tratado para uma vegetação selvagem.

A única lacuna no círculo de construções dava para um penhasco rochoso, onde o espaço vazio que segundo o padrão seria ocupado por dois dos casebres deixava um campo de visão desimpedido para o belo céu atrás dele. Por um momento, Dean se perguntou se era o mesmo penhasco de antes, mas embora não se lembrasse com certeza tinha uma forte impressão de que não havia praça atrás do primeiro, mas apenas floresta. Além disso, no que ele via agora a areia invadia a formação rochosa e recobria ao menos parte da superfície cinzenta, enquanto o chão onde anteriormente fora deitado era acentuadamente duro e irregular. Por fim, concluiu que deviam ser lugares diferentes.

Em todas as direções, as cores brilhavam. Dean se lembrava claramente de quando Al e Dan se juntavam para estudar juntos muitos anos antes; as discussões amigáveis e acaloradas estendiam-se até tarde da noite, e às vezes Dean levava um chocolate quente para eles só para ter uma desculpa para ficar perto e ouvi-los conversar. Em um desses dias, Dan e Al estavam discutindo sobre uma coisa chamada “saturação”. Ao que parecia, Al tinha mania de usar muitas cores vibrantes em seus projetos, e Dean estava tentando convencê-lo de que seus desenhos seriam muito melhores se ele as balanceasse com alguns tons mais desbotados. Dean entendera apenas parte da discussão, mas aparentemente uma imagem com muitos tons intensos cansava a vista porque as cores “lutavam entre si” por atenção.

Se o que Dean dissera era verdade, aquela regra não se aplicava ali. O verde intenso e profundo das árvores casava bem com o azul puro do céu, e o amarelo claro quase branco da areia trazia um aspecto de calor aconchegante para o ambiente e combinava maravilhosamente com o marrom vivo da madeira das cabanas. Tudo ao seu redor gritava “sublime”, tanto a vívida e grandiosa floresta quanto a pureza etérea da terra, da areia e da rocha. Cada detalhe pulsava vida, como se o próprio mundo fosse um enorme coração.

Por um momento, Dean esqueceu-se de Ty. Na verdade, ele precisou de vários segundos até para se lembrar de respirar. Quando tornou a olhar para o menino, ele viu um sorriso involuntário em seu rosto. Ty sabia o que distraíra Dean, e lhe agradava saber que ele gostava de sua casa.

— Vamos? - convidou ele.

— Ah, sim - disse Dean, apressando-se em seguí-lo.

Eles andavam em direção ao penhasco, do lado oposto da praça. Durante o trajeto, Dean notou que havia muitas pessoas ali. Um número razoável para um pequeno povoado, mas certamente gente demais para um complexo tão pequeno de casas. Crianças brincavam e corriam, jovens conversavam, e pessoas de todas as idades sentavam-se pela areia e pelo gramado para apreciar o sol.  Suas roupas eram bastante simples, como camisetas ou batas sem mangas ou enfeites, completamente lisas em seus tecidos de diversos tons de creme, mas nunca branco puro. Suas bermudas eram simples e curtas, de tons mais puxados para o marrom. Os cabelos não eram nem lisos nem ondulados, mas mais tendenciosos ao primeiro, e variavam entre o loiro e o castanho. Várias das crianças pequenas usavam simpáticos vestidos de alça, independentemente do gênero, e algumas inclusive se enfeitavam com flores e folhas secas que haviam colhido do chão da floresta. Um dos meninos menores usava uma coroa de belas flores arroxeadas quando passou correndo por Dean e Ty junto com duas meninas mais ou menos de mesma idade, os três rindo de alguma brincadeira que Dean não sabia qual era.

— Ah! Esse é o garoto da água?

Dean virou-se para a dona da voz. Era uma senhora de cabelos loiros desbotados, amarrados em um rabo curto como poucas pessoas ali pareciam fazer. Muitos deixavam os cabelos soltos, e várias das garotas os tinham curtos na altura do queixo ou mais alto, embora a tendência parecesse se inverter na adolescência, onde os garotos também os deixavam crescer. A mulher carregava uma bacia tecida com folhas, cheia até muito acima do topo com grãos diversos. Apesar do peso aparente da carga, ela parecia não ter dificuldades - na verdade, a despeito de sua idade e do corpo ligeiramente arredondado, ela parecia estar em perfeita forma física, de uma forma que Dean não conseguia estar nem no auge de sua adolescência.

— Sim - respondeu Ty, parando para conversar. - Lina, este é Dean. Dean, esta é Lina - apresentou.

— Seja bem vindo, Dean - cumprimentou Lina, curvando-se ligeiramente com um enorme sorriso cortês. - Que bom que está se sentindo melhor! Espero que aproveite a estadia.

— Obrigado. Prazer em conhecê-la, L-Lina - respondeu Dean, imitando o gesto. Por um momento, teve certeza de que erraria o nome ou que ele sumiria de sua mente, como costumava acontecer quando estava nervoso. Porém, tudo correu bem. Lina pareceu achar graça de seu nervosismo.

— A Kath ainda está lá? - perguntou Ty.

— Sim - respondeu Lina, rindo consigo mesma. - Tenho quase certeza de que não encontrará mais nada, mas sabe como ela é. Fez questão de sobrevoar um pouco mais, só para ter certeza. De qualquer forma, deve estar de volta em breve.

Dean não entendeu a conversa, então não disse nada, mas não conseguiu deixar de se perguntar do que a mulher falava. Ty e Lina se despediram rapidamente com gestos e Ty se aproximou ainda mais do penhasco. Dean seguiu-o.

O grito veio sem que Dean pudesse prever. O som que saiu da garganta de Ty não tinha nenhum aspecto que impedisse o próprio Dean de fazê-lo, mas por algum motivo ele sabia que não conseguiria. Era um som puro e afinado como o de um apito, mas muito mais intenso e, de certa forma, agudo demais, quase tão agudo que ensurdecia, beirando o silêncio. Tal som podia muito bem ser uma língua própria, falada entre duas aves, e não entre seres humanos. Era o mesmo som que ouvira naquele momento de três dias antes. O mesmo grito inabalável.

O som parou um pouco menos subitamente do que começara, mas a transição não deixava de ser rápida. O silêncio verdadeiro retornou de maneira levemente surpreendente, pois por um momento Dean se esquecera de como era o mundo sem barulho.

Após retomar o fôlego, Ty olhou para Dean.

— Ela deve chegar logo. Se incomoda em esperar um pouco?

— Hm? Ah. Não, de forma alguma - respondeu ele.

Cerca de um minuto e meio se passou, e não havia sinal dela. Com o ambiente novamente beirando o silencioso, Dean sentiu a mente cansar-se de esperar e pôr-se a brincar um pouco com os arredores.

Ali ele tinha uma visão muito mais ampla, tanto do céu quanto do próprio mar lá embaixo. Inconscientemente, seus pés o levaram até mais perto da borda, pela qual inclinou-se ligeiramente para olhar. Não havia pedras ali, mas havia onde fora encontrado. Dois penhascos tão parecidos, mas em lugares diferentes. Ele lembrou-se de como não conseguira ver o fim da formação rochosa quando olhara para cima procurando uma saída, e se perguntou o porquê.

— Dizem que, alguns séculos atrás, houve um terremoto tão grande que balançou toda a ilha. Por isso, ele acabou ficando com um dos lados bem acima do nível do mar. Como um prato inclinando-se para o lado, sabe? - explicou Ty, percebendo o que se passava na cabeça de Dean. - O Povo do Oeste teve alguns problemas com o mar avançando sobre suas terras, mas eles sempre foram bons em se adaptar, então a grande maioria ficou bem depois do acidente.

— Nem dá para sentir a inclinação... - disse Dean, depois de alguns instantes.

— É uma ilha bem grande. A aclividade é mais sutil do que parece. - ele deu de ombros.

— Ah... entendi.

O minuto seguinte se passou em silêncio no que se diz aos dois, e isso deu a Dean uma oportunidade de apreciar o assobio dos ventos que vinham do mar, além de uma insinuação vagamente distante de cantos de pássaros e outros animais. Naquele momento, porém, o vento era o mais próximo, e portanto também o mais claro.

Então, a voz de Ty quebrou o silêncio.

— Ah! Ela chegou.

Dean se virou para onde ele olhava.

O ponto escuro quase sumindo à distância voava próximo ao mar à sua esquerda. Conforme chegava mais perto, ele começou a aumentar e delinear-se, ganhando forma, até que Dean finalmente pôde vê-lo com clareza.

Assim que chegou próxima a eles, a criatura fez uma curva súbita para cima rente ao penhasco, e passou tão rápido por eles que Dean sentiu as correntes de ar balançarem seus cabelos e roupas com violência. Por pouco ele não caiu para trás.

Voar diretamente para cima nunca era uma boa coisa. Ainda mais em um animal de penas ou pelo curto, onde não dava para se segurar.

Mas era o que ela fazia.

Depois de ganhar uma boa altitude, a enorme criatura abriu bem as asas e pôs-se a descer suavemente em um círculo amplo, até finalmente pousar logo atrás deles. Dean virou-se para ver a recém-chegada.

A criatura tinha o tamanho de um animal de montaria, mas não era nenhum tipo de equino, nem de longe. O que Dean via diante de si era uma enorme e grandiosa ave, cujas penas seguiam o padrão de cores de um gavião marrom ou de uma águia da mesma cor, mas com uma elegância que em muito as superava. Ao olhá-la nos olhos, Dean mais uma vez viu-se à frente de uma criatura cuja alma transparecia, quase transbordando pelas janelas de seu olhar, mas que estava além de sua compreensão. Por algum motivo, ao encarar o negro de suas enormes pupilas, Dean teve a certeza de que não importava o quanto achava que soubesse, aquela ave sabia mais que ele.

— Hey, Kath! - cumprimentou Ty. - Olha quem acordou!

Das costas da ave, Dean viu uma garota virar-se e saltar para o chão. Suas pernas flexionaram ao atingir solo firme, de forma que o som que fez ao tocá-lo, já abafado por seus pés descalços, tornou-se quase nulo.

Os cabelos de Katherine, agora soltos, estavam molhados e grudavam em suas costas, assim como suas roupas. A cor dos fios já era única naturalmente, mas a água e a luz do sol que refletiam nela agora acentuavam ainda mais o dourado profundo. Das faixas em seus braços só restava uma, no alto de seu ombro direito, mas mesmo ela parecia a ponto de cair por causa da água.

Dean já a conhecia de vista, assim como de vários sonhos, mas não se lembrava de algum dia ter olhado para ela com atenção. Diferente de Ty, que possuía um corpo esguio, Katherine tinha braços e pernas relativamente musculosos para seu tamanho e idade, mas sua estatura ainda lembrava a de uma menina pequena.

Quando a garota tornou a pôr-se de pé, outras coisas chamaram a atenção de Dean. Sua postura era tão perfeitamente ereta que mesmo com a diferença de altura era como se ela olhasse para Dean de igual para igual. Seus ombros delineados estavam tão relaxados que desciam, passando uma imagem de autoconfiança natural, inocente e desintencionada.

— Hey! - cumprimentou ela de volta, com um sorriso radiante. - Que bom que está bem! Ficamos muito preocupados.

— Ahn… Obrigado - respondeu Dean, sem saber muito bem o porquê.

— Desculpe ter demorado tanto para te encontrar... acho que cheguei muito em cima da hora, não é? - perguntou ela, sem deixar de sorrir completamente, mas deixando transparecer um pouco de culpa.

— Não, é claro que não! - exclamou Dean, de imediato. - Você salvou a minha vida… eu devia estar te agradecendo…

— Ah, imagina! Eu gosto de ajudar - respondeu ela, o sorriso puro retornando novamente ao seu rosto. Por algum motivo, Dean sentiu-se um tanto aliviado em ver sua expressão alegre de novo.

— Ah! Eu achei isso perto das pedras há uma meia hora... - ela estendeu algo que segurava em sua mão.

Era uma pulseira de macramê, feita com um fio creme e um verde decorados com contas furta-cor. Dean ganhara de Dan e Simon como presente de aniversário no ano anterior. Dean não notara quando ela caíra de seu pulso, mas agora que a via sentia um vazio em seu peito, como se algo estivesse faltando.

— Achei que pudesse ser seu. - disse ela. - E se fosse, deveria ser muito importante, já que você a usava quando veio parar aqui. Sorte que o verde é diferente do mar e que as contas refletiram a luz do sol, ou eu nunca a teria visto. Dei uma olhada pelas redondezas para ver se havia mais alguma coisa, mas espero que isso seja tudo o que caiu quando chegou.

Dean deu um passo em sua direção para pegá-la, agradecendo em voz baixa.

Porém, assim que sua mão tocou a dela, algo o fez retraí-la instantaneamente. Quando novamente tocou-a, apenas o autocontrole impediu-o de recuar.

Ele nunca sentira nada tão frio quanto aquela pele, exceto talvez pelo próprio gelo. Não havia o menor resquício de calor na superfície de seu corpo, e por um momento ele teve a impressão de tocar em algo sem vida.

Quando ergueu os olhos de suas mãos para seu rosto, Dean percebeu pela primeira vez o quão pálida ela estava. O corado de seu rosto já quase não era perceptível, e seus lábios estavam roxos como Dean nunca antes vira alguém ficar.

Ao perceber a reação do garoto, Katherine soltou a pulseira em suas mãos e afastou a própria. Não parecia incomodada, mas percebera que ele não se sentia bem com o toque.

Enquanto isso, as palavras de Ty voltaram à mente de Dean. Situação de vida ou morte. Hipotermia. Então a água estava tão gelada assim?

Seus olhos percorreram novamente o cabelo e as roupas molhadas de Katherine, depois passando por seus lábios e sua mão pálida. Aquela garota pulara naquela água congelante por ele. Eles nem se conheciam, mal haviam se visto uma vez sequer, e mesmo assim ela pulara. Duas vezes.

Com cuidado, Dean deslizou a pulseira pelo pulso e ajustou o fecho regulável.

— … Obrigado. - disse, a voz um pouco rouca. - Por me tirar da água e… por isso. E… me desculpe.

— Ah, não se desculpe! - disse ela, sorrindo novamente. - Como disse, eu gosto de ajudar as pessoas. Além disso, a água nem estava tão fria assim - ela riu, um pouco sem jeito.

— Ah, não seja modesta, mana - Ty andou até ela e se esticou para apoiar o cotovelo em seu ombro. - Você sabe que é a única que consegue nadar lá àquela hora do dia. Ele teve muita sorte de ser você a vê-lo! Você podia aprender a aceitar elogios de vez em quando - brincou.

— E você, vá catar kimitas! - replicou ela, no mesmo tom de brincadeira, empurrando-o de leve e dando um tapa de raspão na cabeça. - Eu já sou orgulhosa demais sem aceitar desculpas das pessoas que ajudei.

Os dois sorriram, rindo ligeiramente. Nesse momento, um arrepio de frio percorreu o corpo da garota.

— Aqui, vista a minha, Kath - ofereceu Ty, tirando a camisa.

— Obrigada - aceitou ela. Nesse momento, ela começou a tirar a própria blusa, mas Dean acabou soltando uma exclamação muda de nervoso, e ela ouviu. Então, lembrando-se de algo, tornou a baixá-la.

— Ah, é, tinha me esquecido. No seu mundo só os meninos tiram a camiseta do lado de fora, né? - disse. - Desculpe. Vou me trocar depois, então…

— N-não se preocupe! - exclamou Dean, virando o rosto corado. - Você precisa se esquentar. V-vá em frente.

Não era como se fosse um tabu ou algo parecido, mas desde que se entendia por gente Dean nunca tinha visto uma garota sem camiseta. Suas primas eram todas muito mais velhas e seus dois irmãos eram homens. Ele se lembrava vagamente de nadar com Júlia na piscina vários anos atrás, mas na época eles eram muito novos para se importar. Talvez nem fosse grande coisa no fim das contas, mas ainda assim era estranho para ele.

As pessoas dali não pareciam se importar, porém. Ele se perguntou se acabaria se acostumando se passasse tempo suficiente ali.

— Pronto - disse a menina. Dean voltou a olhar para eles.

Mesmo que só tivesse trocado de roupa, um pouco de cor voltou ao rosto de Kath. Ela fechou os olhos, sentindo o calor do sol em seu corpo.

— Ah, bem melhor. - murmurou.

— Você precisava mesmo mergulhar para pegar aquilo? - perguntou Ty, erguendo uma sobrancelha para ela.

— Quando vi, a pulseira já estava afundando no mar - respondeu ela, juntando o cabelo nas mãos e torcendo-o. - Se demorasse muito, não conseguiria mais enxergá-la. Foi mesmo muita sorte que vi o brilho; era literalmente a única coisa que eu poderia ver dela. Enfim... - suspirou. Ela virou-se para olhar Dean no rosto. - Meu nome é Katherine, mas pode me chamar de Kath.

— Meu nome é Deaniel. As pessoas me chamam de Dean - apresentou-se o garoto.

— Prazer em conhecê-lo, Dean. Espero que goste da nossa casa - disse ela, e repetiu o gesto da senhora, curvando-se ligeiramente. Mais uma vez, Dean imitou-o.

— Igualmente. - respondeu ele, educadamente. - Já estou gostando, na verdade.

— Que bom! - ela sorriu. - Aliás, obrigada por aquele dia no parque - disse em seguida, endireitando-se. - As instruções foram bem precisas. Achei a loja facilmente!

— Ah! - por um momento, Dean se esquecera completamente daquele encontro. - Imagine… não foi nada.

— Aquele garoto era seu irmão, não era? - disse ela. Dean não precisou confirmar. - Ele parecia uma criança bastante feliz. Sua família deve ser incrível. Eu adoraria conversar sobre eles mais tarde, mas você deve estar morrendo de fome agora, não é?

Bom, era verdade que Dean já tinha comido as frutas que Ty trouxera, mas depois de três dias aquilo realmente não era o suficiente. Na verdade, sentia-se vagamente enjoado, como se não conseguisse comer mais, mas sabia que seu corpo precisaria de mais em breve.

Ele confirmou com um aceno de cabeça, murmurando um “sim”.

— Felizmente, é quase hora do almoço! - a garota sorriu e bateu uma palma, de um jeito característico. - Venha, vamos esperar no pátio! Há algumas pessoas que querem conhecer você!


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