Viajantes - O Príncipe de Âmbar escrita por Kath Gray


Capítulo 6
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Hey! Aqui está mais um capítulo.
Eu tenho alguns avisos para dar. O primeiro é que o próximo capítulo já está quase pronto - vou revisar mais algumas vezes e terminar alguns detalhes, mas de maneira geral, já está encaminhado. Não postei este aqui antes justamente para terminar os ajustes (e, embora não tenha terminado ainda, achei que seria injusto demorar mais).
A segunda é que vou fazer algumas alterações nos primeiros caps. Acho que me apressei com as descrições do "garoto" e da "garota", então vou tirar o grosso do garoto - vou apresentá-lo melhor quando ele aparecer pessoalmente na frente de Dean - e vou tentar concentrar os da garota na cena do Mural. Por isso, pode ser que algumas cenas que vocês já leram apareçam novamente, ok?
Esse capítulo foi baseado na versão anterior.
Uma dedicação especial a Suellencraft, que acabou de deixar um comentário maravilhoso no capítulo 6 do primeiro Viajantes!! *-*
Espero que gostem o/
(Ah, por favor, deixem suas opiniões se vocês acham que a mudança das descrições ficará melhor ou pior. Eu gostaria de saber)



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De repente, não havia nada. E havia uma mulher.

Em contraste com a escuridão absoluta que seguia infinitamente em todas as direções, a mulher emanava uma poderosa luz branca, mas que nada encontrava e nada iluminava a não ser ela mesma e Dean. Era como se na negrura não houvesse matéria para refletí-la.

Algo nela o fixava. Não estava estava especialmente curioso ou fascinado - não mais do que se poderia esperar -, mas mesmo assim sentia-se intimamente atraído por ela, como um planeta girando em torno de seu sol. Inconscientemente, ele receou que, se chegasse perto demais, jamais conseguiria afastar-se dela novamente.

— Você me surpreendeu.

Quando a voz alcançou-o, Dean sentiu o coração saltar de susto. Pura, suave, límpida, mas também poderosa. Mesmo em seu tom gentil, ela ecoava por todo o nada com indescritível clareza, e Dean sentiu-a reverberar até as profundezas de sua alma.

— Você sempre teve os pés bem firmes no chão. - continuou ela, virando a cabeça para olhá-lo nos olhos. O gesto era de tal graça que um anjo não teria se equiparado a ela. Talvez fosse ela quem pessoalmente ensinara os cisnes a nadar. - Tem família. Amigos. Vive em uma época de paz. Por que abandonaria tudo isso para ir em direção ao desconhecido?

— N-Não abandonei ninguém! - afirmou ele, com firmeza. Surpreso, ele percebeu que sua voz, embora não tão poderosa, também ecoava, como se numa enorme caverna. Mas não havia caverna. Não havia nada. - Q… quem é você? Como sabe tanto sobre mim?

— Neste momento, sou apenas a pessoa que lhe trouxe aqui. - respondeu ela, sorrindo levemente. - Sei sobre você assim como você sabe sobre os outros.

— Outros...?

Naquele momento, todas as imagens de seus sonhos retornaram à sua mente.

— Eles… - ele tentou formular a frase, mas era impossível. As palavras confundiam-se em sua mente e atropelavam-se ao tentar sair de seus lábios. - Aquilo era… tudo aquilo…?

— Sim. É tudo verdade. - respondeu ela, assentindo. - É. Não “era”.

— Mas… como…?

— Não se preocupe, Deaniel. Eles lhe explicarão tudo. - afirmou ela. - Você está em boas mãos. Ela cuidará bem de você.

— “Ela”...?

Quem é “ela”?, ele quis perguntar. Mas as palavras não saíram.

Nesse momento, ele sentiu a presença da mulher começar a desaparecer.

Ele tentou ir em sua direção, mas já era tarde. Antes que avançasse um só passo, o próprio nada ao seu redor desapareceu.

.

Dean demorou vários instantes para perceber que estava dentro da água.

Tão logo percebeu o fato, ele prendeu a respiração, mas já estava com pouco oxigênio.

A segunda coisa de que se deu conta era que a água ao seu redor estava congelando.

Frio!, sentiu vontade de gritar. Cada membro de seu corpo parecia queimar de tão gelado. Ele nunca havia entendido o que as pessoas queriam dizer com 'isso queima!' ao segurar cubos de gelo, mas agora entendia, e do pior jeito possível. Era como se milhões de agulhas em brasa lhe espetassem cada centímetro de pele.

Ele estava de olho aberto, mas, por algum motivo, não ardia. Onde quer que fosse aquilo, a água à sua volta era mais limpa do que deveria ser possível. Não era cristalina - na verdade, sua cor era até bem densa, de um azul meio esverdeado - mas ele podia ver com clareza em todas as direções; não havia areia barrando sua visão ou tornando-a turva como acontecia perto da praia.

Mas tudo ao seu redor estava meio sombrio, e ele sentia a pressão da água sobre seu corpo. Provavelmente, estava a uma grande profundidade. Ele quase via a escuridão das águas mais profundas se esticando para alcançá-lo, como sombras abaixo dele.

Dean nadou desesperadamente para a superfície. Seus pulmões estavam quase explodindo e seu peito ardia de uma forma quase insuportável.

Ele viu a claridade se aproximar acima, até que teve que fechar os olhos por causa da luz refratada na superfície.

Finalmente, sua cabeça ergueu-se acima das águas.

Mesmo não tendo nadado mais do que seis ou sete metros, ele sentia como se tivesse nadado cem. A pressão era tanta que a exaustão o atingira com muito mais força do que deveria dentro do curto espaço de tempo transcorrido.

Dean inspirou a maior quantidade de ar que conseguiu na primeira oportunidade, e sentiu tal alívio que teve vontade de chorar.

Mas ainda era cedo para dizer que ele estava em segurança. Ele percebeu que a água ao seu redor era agitada e as correntes, fortes. Além disso, ele sentia a dormência atingindo seus membros por causa do frio.

Dean olhou em volta e sentiu seu coração pesar.

À sua direita, não havia nada além de mar até a linha do horizonte. À esquerda, ele podia ver um enorme penhasco que se erguia a mais de cinquenta metros acima do nível do mar e parecia estender-se infinitamente para os lados. Dean nunca conseguiria subir ali, não importava quais equipamentos tivesse ou quão treinado fosse. E, para piorar, só o que ele tinha era suas mãos dormentes.

Além disso, na base da grande pedra em que consistia o penhasco, ele podia ver vários amontoados de outras pedras, que erguiam-se acima da água como lanças afiadas.

E era justamente em direção a elas que a água parecia lançá-lo.

Droga!, desesperou-se.

Se fosse jogado contra as rochas afiadas, não havia a menor chance de ele sobreviver. Era infinitamente mais provável que ele fosse perfurado por elas e morresse por hemorragia. Ou batesse a cabeça, desmaiasse e morresse por afogamento.

Não havia como ele sobreviver. Não podia cair nas pedras nem escalar o penhasco, mas do outro lado só havia mar para onde fugir. A essa altura, Dean já não sentia seus membros, e logo estaria exausto demais para continuar nadando.

Antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma onda forte empurrou-o para o fundo.

Três metros. Cinco. Ele sabia que continuaria descendo se não nadasse contra a força remanescente da onda com tudo o que podia.

Dean lutou para subir de novo à superfície, o que já seria difícil sem o frio cortante e a corrente impiedosa, mas a união dos obstáculos só tornava tudo mais difícil.

Socorro!, pensou. Ele precisava de ajuda, mas para quem pediria? Não havia ninguém para escutá-lo, fosse dentro ou fora d'água.

Ele não queria morrer agora... não podia morrer!

Finalmente, Dean chegou à superfície. Respirou fundo novamente. O mar estava ainda mais agitado; será que estava começando uma tempestade? Não podia ser. O céu estava limpo.

Antes de pensar qualquer outra coisa, outra onda forte lançou-o para o fundo.

Dean nadou com todas as suas forças para subir novamente, mas assim que chegou, outra lançou-o novamente para o fundo. Mais uma vez ele lutou para subir, mas a onda seguinte lançou-o para baixo antes mesmo que ele erguesse sua cabeça sobre a água.

Seu pulmão ardia, e ele já não sentia mais suas pernas ou braços.

Por mais que tentasse, ele não conseguia retornar à superfície. Já não tinha mais ar, energia nem condições para continuar tentando.

Foi só quando sua visão começou a ficar turva, a escuridão começou a alcançá-lo e ele já não conseguia mais segurar o ar que Dean parou de lutar.

.

Então, era isso.

Dean parou de se debater.

Quando já não tinha forças para resistir, ele pôde perceber a beleza do cenário que o cercava pela primeira vez. A água podia não ser cristalina, mas tinha uma beleza própria. Um tom de azul profundo, meio puxado para um turquesa ou petróleo onde batia a luz. Além disso, era completamente limpa. Não havia areia nem qualquer tipo de “impureza”. Porém, ele também não via peixes. Por que será? Seria por causa do frio?

A essa altura, Dean nem sentia mais o frio. Na verdade, não sentia mais nada, exceto a dor em seu peito, mas já estava mais fundo do que a parte violenta do mar, e, por algum motivo, a calmaria fez dissipar-se ao menos parte do seu medo de morrer.

Por que será que ele estava ali? Onde era ali, afinal de contas?

Todas essas perguntas despertavam sua curiosidade, mas já era tarde para as respostas terem qualquer importância, de qualquer forma.

Quando se deu conta, Dean estava virado para cima. A superfície não era menos bonita do que o fundo. Na verdade, era até mais. A luz do sol refratava-se na superfície em padrões inigualáveis. Cada pequeno facho era mais bonito que o outro, e os pilares de bolhas e espuma desciam cada vez mais baixo na água.

Cada segundo parecia uma eternidade, e ninguém consegue passar muitas eternidades sem fazer nada. Dean realmente devia estar perdendo seu juízo - provavelmente pela falta de oxigênio - quando começou a imaginar um cavalinho feito de espuma dentro de cada pilar.

Eles estavam sempre sendo puxados de volta para cima, mas cada um deles lutava com todas as suas forças para se afastar mais do que todos os outros da linha que dividia o mar e o céu.

Inconscientemente, Dean começou a torcer pelos cavalos. Cada um deles estava dando seu máximo, e era uma pena que nem todos pudessem ganhar. Ele gostava particularmente de um, que por mais que fosse puxado de volta, continuava tentando. A mesma coluna de espuma, várias e várias vezes, cada vez mais longe.

Então, surgiu uma coluna ainda mais densa, que descia ainda mais baixo do que todas as outras. Mesmo quando todo o resto já tinha sido sugado de volta, essa continuava descendo, cada vez mais e mais fundo.

Dean viu de relance um vislumbre dourado em meio à espessa cortina de espuma branca.

Em seguida, sentiu um puxão em seu braço, e logo percebeu que estava sendo puxado para a superfície.

Ele estava mesmo assim, tão fundo? A água ao seu redor parecia tão mais clara em meio à luz refratada que nem parecia que ele tinha afundado mais do que na primeira vez. Só percebeu o fato quando percebeu o tempo necessário para atravessar todo o caminho que ele percorrera em sua queda.

Com um último impulso, sua cabeça se ergueu novamente acima d'água.

— Aguente firme! - Dean ouviu uma voz feminina, aguda em desespero. Seus olhos eram incapazes de focar em algo, talvez pela falta de força necessária para tal, talvez pela forte luz repentina que o atingira, talvez pela água na superfície de seus olhos, que distorcia tudo de uma maneira quase bela. - Por favor, aguente firme!

Dean ouviu um som alto e agudo, como um grito, tão potente e penetrante que alcançaria até os recantos mais selvagens e inóspitos do planeta mais distante.

As ondas golpeavam-nos de todos os lados, como que tentando lançá-los sobre as pedras ou tornar a afundá-los, mas a garota resistia com determinação e força, sem parar de repetir 'Aguente firme!'

Novamente, ele tentou focá-la, mas era impossível. Só lhe restava imaginar.

O sol brilhava sobre ela com um lindo reflexo dourado, tão forte que poderia cegá-lo, mas não cegava. Será que era uma fada? Será que era um anjo? Devia ser. Será que não era hora de desistir, afinal?

Dean sentia a espuma das ondas sob ele. Será que os cavalinhos estavam tentando ajudá-lo?

Ah! Talvez eles tivessem chamado o anjo. Deviam ter pensado que ele precisava de ajuda. Depois, ele teria que lembrar de agradecer-lhes.

Ele queria poder ver melhor o anjo... Será que ele devia dizer 'a anjo'? Ou 'a anja'? Dean não sabia. Talvez ele devesse perguntá-la. O que será que ela preferia? Ou será que anjos não tinham preferência?

Logo ele viu um vulto escuro descendo do céu. Era grande, do tamanho de um cavalo, mas ele não conseguia detalhar mais sobre sua forma.

Dean sentiu um par de garras avinas agarrando seus ombros com firmeza, com cuidado para não ferí-lo. As garras eram muito maiores do que as de qualquer ave que conhecesse.

— Lyssa só consegue levar um de nós de cada vez - disse o anjo, lutando para ficar acima d'água. Em seguida, disse para Lyssa: - Segure-o firme!

E o animal que o carregava tornou a levantar voo.

Será que o anjo conseguia aguentar mais na água fria? Ele devia se preocupar com ela? Será que anjos sentiam frio? Ele não sabia. Nunca havia pensado nisso. Por que ela simplesmente não alçava voo com suas asas? Que tipo de anjo não tinha asas? Será que era um anjo caído?

O céu dali era tão lindo... Mesmo desfocado, Dean conseguia perceber a beleza. As nuvens eram tão brancas que doía olhar, mas ao invés de serem vagas ou difusas, pareciam quase sólidas de tão delineadas. Pelo menos, era o que parecia. Dean não tinha como saber com certeza.

O céu era mais azul do que qualquer um que ele já tivesse visto: um azul perfeito. Porém, o forte laranja e amarelo do nascer do sol ainda não renunciara à sua parte da abóboda celeste. Ele não sabia palavras suficientemente belas para descrever aquela visão.

Também... devia ser lá que o anjo morava. Um belo lar para um belo anjo.

Dean viu uma grande superfície acinzentada. Será que estavam subindo até o penhasco?

Logo sua pergunta foi respondida, quando o grande animal deitou-o com cuidado sobre a superfície rochosa e desconfortável do desfiladeiro.

Então, Lyssa tornou a levantar voo e mergulhou novamente em direção ao mar.

O anjo! Será que ele tinha ido buscar o anjo? Será que ela não podia mesmo voar, afinal?

— Mas o quê…! - Dean ouviu alguém exclamar próximo a ele.

'Alguém' se aproximou, os passos fazendo barulho contra a pedra.

Dean sentiu sua cabeça em seu peito.

— Ainda está vivo! - disse Alguém, com um misto de alívio e ansiedade. Sua mão pairou em frente ao rosto de Dean por alguns segundos. - Droga! Não está respirando!

Logo Dean ouviu um barulho de asas. Lyssa pousou próximo a eles e o anjo desceu de seu lombo e correu em sua direção, jogando-se de joelhos ao seu lado.

— Está vivo, mas não respira! - resumiu Alguém.

— É a água! - respondeu o anjo, com a voz aflita. Por que estava tão preocupada? Será que achava que ele ainda não estava a salvo?

O anjo debruçou-se sobre ele. Dean sentiu suas mãos se posicionarem pouco acima de seu peito, e então, ritmadamente, ela começou a apertar.

Alternadamente, ela aumentava e aliviava a pressão, sempre com força.

— Maldição, maldição! - praguejou, alarmada. - Não está funcionando! Por que a água não está saindo?

— Eu não sei! Nunca fiz isso! - disse Alguém, aflito.

A escuridão estava começando a alcançá-lo. Dean sentiu seus membros fraquejarem, sua visão começou a ficar cada vez mais difusa e ele sentiu como se a vida o abandonasse aos poucos.

— Não, não, não!

O anjo começou a soluçar. Será que seus olhos estavam úmidos de lágrimas?

Você não vai embora - afirmou ela, com um tom teimoso, alarmado e angustiado. - Você não vai abandonar a gente, ouviu? Eu não vou deixar!

Essas foram as últimas palavras que ouviu antes que sua consciência fosse alcançada pela escuridão.


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