Viajantes - O Príncipe de Âmbar escrita por Kath Gray


Capítulo 11
Capítulo X


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora!
Ninguém parece estar acompanhando em dia, então espero que me perdoem por ser perfeccionista com os capítulos. Só revisei esse umas três ou quatro vezes, e com poucos dias de espaçamento, mas se tiverem qualquer crítica é só dizerem que posso revisá-lo novamente! E vou relê-lo mais algumas vezes depois, por precaução.
Todavia, até que estou bastante satisfeita. É muito diferente da primeira versão, então espero que não fique maçante!



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A ave que pousou no braço da garota parecia uma ave de rapina. Ela não era maior do que um pequeno falcão peregrino, mas tais eram sua imponência e graça que o tamanho se tornava perfeitamente dispensável. Suas penas eram trabalhadas em um elegante padrão de tons de marrom, branco e creme, e seus olhos, tão negros quanto os daquela em cujo braço se empoleirara.

— Bom dia, Rue! - cumprimentou Kath alegremente. - Como foi a introdução?

Rue soltou um único longo pio. Seu som era alto e ruidoso, mas não deixava de ter uma certa harmonia, como o intermediário entre o de um pássaro cantor e o de uma ave que não canta. Era um som surpreendentemente agradável aos ouvidos.

— Que bom! - respondeu a garota, sorrindo imensamente. - Isso torna as coisas mais fáceis.

Aparentando estar satisfeita com as notícias, Katherine se virou para Dean.

— Dean, esta aqui é Rue. Ela é a minha Protetora - apresentou.

— Prazer - disse Dean, inclinando-se levemente. Depois que o fez, ele se perguntou se tinha parecido bobo por se curvar para um animal, mas logo a ave retribuiu o cumprimento. Katherine pareceu apreciar o gesto.

— Rue me disse que você tem um bom Protetor. - comentou ela. - Bastante atencioso. Soube que você é bem amado em casa.

Suas palavras atingiram Dean como um choque rápido.

— Espera! - exclamou ele. - Se ela é uma Protetora... Isso quer dizer que eu posso avisar meus irmãos, certo?

— Sim. - confirmou Kath. - Eu já coloquei Rue a par da situação, mas você pode mandar uma mensagem especial, se quiser.

— Como faço isso? - perguntou Dean.

— É só falar para ela. - explicou a garota. - Rue vai se encarregar de passar a mensagem inteira assim que conseguir contato com a Imperatriz. Pode demorar um pouco, porque vamos ter que pedir um favor ao outro Viajante de seu domo, já que só ele pode receber a mensagem diretamente, mas tenho certeza de que ele vai concordar. Além disso, as Viagens da Imperatriz são bem rápidas, então seus irmãos devem receber a notícia em no máximo algumas horas. Se você quiser, pode ser até que esteja em casa antes da mensagem chegar, mas ainda assim pode ser útil ter alguém para te ajudar a explicar a situação para seus irmãos. A não ser que prefira que eu vá com você, é claro. - acrescentou ela. - Nesse caso, podemos apenas recebê-lo e explicar que tudo já foi resolvido. Uma Viagem não chega a ser um inconveniente, afinal, então ele não ficará ofendido.

Dean deixou escapar uma risada de alívio. De repente, era como se seus pés estivessem afundando um pouco menos na terra.

Ele tentou listar mentalmente as coisas mais importantes para não se confundir enquanto estivesse falando. Seu coração batia ligeiramente mais acelerado. Katherine rapidamente percebeu o que se passava em sua mente e inclinou suavemente a cabeça, gesticulando que ele demorasse o tempo que fosse necessário.

Quando terminou de preparar um esboço do que dizer, ele virou-se para Rue.

— Por favor, diga para o Dan que… aconteceu uma coisa muito estranha quando fui na loja de espelhos, mas que a pessoa que for entregar essa mensagem provavelmente pode explicar a situação melhor do que eu. Diga que houve algumas complicações, mas agora estou bem. E que estou um pouco confuso com algumas coisas, mas que algumas pessoas prometeram respostas e que voltarei assim que recebê-las, assim que descobrir como. E peça para ele dizer ao Al que não foi culpa dele. E para o Simon, a Júlia e o Will, também. E para o papai e a mamãe.

Uma pausa momentânea.

— Mais alguma coisa? - perguntou Kath.

Dean ponderou um pouco, mas sacudiu a cabeça.

— Acho que é isso. - disse. Uma dúvida surgiu. - Como Rue vai contatar a Imperatriz?

— Ah, ela já está. - respondeu Kath. - A Imperatriz e os Protetores estão conectados o tempo inteiro. Agora é só esperarmos uma resposta.

Dean assentiu devagar, compreendendo.

— Já que os Protetores já estão aqui, isso quer dizer que vocês vão responder às minhas perguntas? - perguntou.

Ela assentiu com a cabeça.

— Assim que quiser as respostas.

— Pode ser agora?

Novamente, Katherine concordou.

.

Dean se surpreendia com a facilidade com que as pessoas dali conseguiam se encontrar no meio da floresta. Todo mundo que vira até agora parecia conhecer toda a área como a palma da mão, o que era estranho levando em conta que ele mal conseguiria andar em linha reta por mais de cem metros mesmo se sua vida dependesse disso. Porém, todos eles tinham crescido ali, então isso não devia ser algo muito surpreendente.

Nesse momento, Katherine abria passagem por um caminho que era, atualmente, o mais denso que eles haviam percorrido desde que ele chegara ali. A trilha só era visível se comparada à vegetação dos seus arredores, e apenas por alguns galhos tirados do caminho e outros obstáculos removidos no chão. Parecia ser atravessada com muito menos frequência do que o caminho até a árvore das flores-sementes. Dean se perguntou se Katherine e Ty não eram os únicos a trilhá-la.

“As coisas que posso te contar não são secretas ou particulares, mas talvez você prefira um pouco de privacidade. Não sei até que ponto você ainda pode se surpreender agora que chegou até aqui, mas… Bem, se você quiser, eu conheço um bom lugar.” Assim dissera Katherine.

Agora que estava ali, Dean se perguntava se não teria sido melhor apenas ouvir as explicações lá onde estavam, mesmo. Certamente teriam poupado tempo. Mas, verdade seja dita, ele estava começando a achar tudo aquilo realmente interessante e, de certa forma, maravilhoso. Aquele mundo lhe intrigava, e ele gostaria de ver o máximo possível antes de voltar para casa.

Ele estava tão distraído com a paisagem que nem notou o galho se aproximando antes de levar um golpe forte no rosto.

— Dean! Você está bem? - perguntou Kath à sua frente, surpresa com o barulho.

Dean segurou o nariz dolorido com as mãos, tentando amenizar o ardido com o toque.

— ... Estou ótimo. - respondeu, mas sua voz saiu nasal. Ele ouviu Ty rir alto atrás de si e sentiu o rosto esquentar.

Cerca de dez minutos se passaram, até que finalmente eles chegaram ao seu destino.

A luz que penetrava a floresta não era abundante, então por um momento a luz direta do sol cegou Dean. Porém, logo seus olhos se acostumaram à luminosidade, e o branco absoluto deu lugar a uma paisagem única.

— Entre os lugares que gostamos de frequentar aqui nas proximidades, esse é um dos mais apreciados pelo povo da Cidade Erguida. - contou Kath. - Nós contamos com a simpatia da Velha Floresta já há várias gerações e, de certa forma, também fazemos parte de tudo isso, mas algumas de suas obras ainda nos inspiram um profundo senso de admiração. Esse lugar é uma delas.

— Mesmo entre as paisagens mais bonitas daqui, ela chama a atenção. - acrescentou Ty. - É muito tranquila e, como você já deve ter imaginado pela minha explicação, lagos aqui são algo muito especial, visto que a metade leste da costa quase não possui praias, com algumas raras exceções. Por isso, gostamos de guardá-lo para ocasiões especiais. Acho que pode-se dizer que é uma espécie de santuário.

— E então? O que achou? - perguntou Kath.

Dean mal ouviu a pergunta.

À sua frente, uma singela cascata dava para uma bela lagoa, cujas bordas mal eram visíveis sob a vegetação densa próxima, cujas árvores mais atrevidas ameaçavam debruçar-se sobre as águas tão transparentes que em alguns pontos era quase impossível distinguir seus limites. Essa camada verde ao redor da formação lacustre parecia atuar como um escudo, dando a impressão de que estava em uma espécie de jardim secreto.

Seu contorno era delimitado por uma faixa de pedras lisas de superfície bastante achatada, e um chão semelhante se estendia por alguns poucos metros numa espécie de plataforma rasa submersa do lado oposto à queda d’água. Conforme se afastava das bordas, as pedras eram rapidamente substituídas por um tipo de areia extremamente branca.

Exceto pelo degrau imerso, a formação lacustre se aprofundava rapidamente, e embora seu diâmetro não chegasse nem perto do de uma piscina profissional, em sua área central sua profundidade alcançava facilmente vários metros. Apenas essa profundidade permitia enxergar a leve tonalidade azulada da água contra a areia branca ao fundo - e julgando o volume de líquido entre o chão e a superfície, seria uma surpresa caso fosse diferente.

Dean não sabia por que aquilo o encantou tanto. Ele já vira foto de lugares assim antes. Grécia. Laos. México. Turquia. Equador. Filipinas. Nunca visitara um, é verdade, mas ainda assim não devia ser tão surpreendente.

Mas aquilo era diferente. Aquele lugar tinha alguma coisa única...

Sem que se desse conta, os nomes de seus irmãos deslizaram de sua boca em sussurros quase inaudíveis. Ele queria que estivessem ali com ele para ver aquilo. Tinha certeza de que amariam tanto quanto ele.

Apesar do murmúrio vago, Ty compreendeu o que se passava em sua cabeça.

— Sabe, - comentou ele. - Se você quiser, pode voltar aqui com eles um dia.

— Sério? - surpreendeu-se Dean.

Ty riu da reação.

— Sério.

— Mas… achei que só Viajantes podiam viajar entre os mundos… - um pensamento brotou em sua cabeça. - Ah! Por acaso eles também são…?

— Não, só você. - respondeu Kath. - É um pouco mais complicado que isso, na verdade. É fato que só Viajantes podem pedir para serem transportados de um lugar a outro, mas você também pode levar outras pessoas com você, caso elas estejam no seu campo de visão.

— Isso é incrível - comentou Dean, espantado.

— E não é? - concordou Ty, sorrindo largamente.

Nesse momento, Rue, que voava próxima ao grupo, pairou um pouco ao redor do trio e pousou no ombro de Kath, soltando um piado cantado.

— Ah! Chegaram - disse Kath, olhando para cima.

Dean acompanhou seu olhar. Lá no alto, acima das copas das árvores, dois outros pássaros começavam sua descida suave e entrecortada por solitários e firmes bateres de asas.

O primeiro deslizou pelo ar até pousar no ombro de Ty. Suas penas eram de tons claros de creme, puxando um pouco para um alaranjado cor de gema. Suas nuances eram pálidas e próximas ao branco, mas ao mesmo tempo tinham uma matiz tranquila, que acalmava a vista.

A segunda ave vinha logo atrás, planando com fluidez. Ela fez menção de pousar nos ombros de Dean, mas pouco antes de aterrissar pareceu mudar de ideia e inclinou-se rapidamente para cima, dando uma última virada e finalmente terminando no chão pouco à frente dele. Suas cores eram mais voltadas para o cinza e o branco e alguns trechos de um azul denso permeavam seu dorso e asas de um jeito bastante incomum.

Assim que a primeira pousou, ela pôs-se a bicar carinhosamente a orelha de Ty, que sorriu e encolheu-se um pouco, sentindo cócegas. Então, ele ergueu o outro braço e acariciou-lhe a cabeça gentilmente.

— Hey, Ellie! Como foi o passeio? - perguntou, animado.

Ellie deu um piado curto e sacudiu a cabeça, chacoalhando as penas.

Ty riu.

— Que bom! Espero que tenham se divertido!

Em seguida, a ave saltou do ombro do dono e planou em direção ao chão, saltitando duas vezes ao pousar. Ela se aproximou da ave acinzentada e ambas trocaram alguns gestos e sons distintos, aparentando uma conversa alegre, embora a cinzenta agisse de forma um pouco mais introvertida, como se sentisse uma certa timidez.

— Bom, agora que estamos todos aqui, acho que podemos começar - afirmou Kath, finalmente.

— Começar? - ecoou Dean.

— Sim. - respondeu ela. - Você queria respostas, certo?

Rue saltou do ombro de Kath, e a garota e seu irmão cruzaram as pernas ao sentarem, ela no gramado e ele nas pedras.

Ela ergueu os olhos para ele.

— Pois bem. Pergunte.


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