Viajantes - O Príncipe de Âmbar escrita por Kath Gray


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

O prólogo é exatamente o mesmo da versão anterior. Espero que gostem.
Leitores antigos, se quiserem apenas dizer "hey, estou aqui!", não precisam comentar tudo de novo. Não deletei a outra versão da história justamente para não perder os comentários amáveis que recebi lá.
Bem, aproveitem!



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'Sala' era uma palavra demasiado fraca para descrever.

O lugar era tão alto que não se via o teto e tão extenso que era impossível ver as paredes que deveriam cercá-lo. Só o que se via era o chão, de grandes ladrilhos de mármore negro.

A pouca luz vinha de pequenas esferas luminosas no chão.

Pérolas.

Pérolas pouco maiores do que as normais, mas com uma cor única. Era uma mistura de pérola negra com um belo tom petróleo. A sua forma era a da mais perfeita das esferas.

As pequenas pérolas eram a origem de toda a luz no aposento. Cada uma delas cintilava como uma jóia fluorescente. Não iluminavam muito do que quer que se passasse à sua volta, mas o brilho era suficiente para chamar atenção para sua beleza e destacar-se do escuro que as rodeava. O contraste de claro e escuro acabava por torná-las ainda mais etéreas.

Havia pelo menos uma pérola no centro de cada ladrilho, e mais algumas espalhadas em volta, todas com mais ou menos a mesma distância entre si. E para completar, cada uma das pérolas era ligada às outras mais próximas pelo que parecia ser o fio da teia de uma aranha, mas com uma fluorescência semelhante à das pérolas que as interligavam. O brilho era fraco, mas estava lá, e fazia possível ver-se o que só podia ser descrito como uma enorme teia. A teia mais bela de todas.

Uma figura caminhava por entre as pérolas. 'Ela' era a única forma de descrever, pois seu rosto não tinha idade. Podia ser uma garota com a mesma facilidade com que poderia ser uma menina, uma moça, uma mulher ou uma senhora.

Sua beleza era equiparável à das pérolas. Trajava um longo vestido, que quase alcançava o chão, mas deixava os centímetros necessários para que caminhasse sem roçar as pérolas com o tecido. O vestido era do mais puro branco, tão branco que se alguém o olhasse teria a impressão de que a visão o cegaria, mas sem cegá-lo de fato. Por cima do vestido, vestia uma longa capa e capuz. O fim da capa arrastava-se pelo chão atrás dela, mas, de alguma forma, as pérolas permaneciam intocadas após a sua passagem. Era como se o tecido fosse nada, ou como se as pérolas fossem demasiado puras para deixar-se tocar por algo tão impuro quando um mero tecido, por mais etéreo que este fosse.

Sua pele era alva, perfeita, tão macia quanto a mais macia das peles. Seus traços eram ao mesmo tempo delicados e resistentes, como um diamante que, apesar da aparência frágil, levava o renome de 'a mais dura das pedras'. As longas mechas de seu cabelo que balançavam fora da capa eram de um branco tão puro quanto o tecido que vestia, mas seus olhos estavam encobertos pela sombra do capuz.

Parecia impossível que alguém pudesse andar por ali sem se perder. A despeito disso, porém, Ela parecia caminhar com certa firmeza, rumo a um destino fixo, e não parecia ter nenhuma dúvida ou hesitação sobre que caminho tomar.

As pérolas permaneciam inertes, indiferentes à sua passagem.

Finalmente, ela chegou ao seu destino.

Uma das pérolas pareceu perceber sua presença, acentuando seu brilho sutilmente por alguns instantes conforme se aproximava.

Ela moveu-se até ficar de frente para a pérola, tirou o capuz que lhe encobria os olhos com um gesto elegante e esperou.

Não teve que esperar muito. Num pulsar, a pérola brilhou tão forte que qualquer um fecharia os olhos para protegê-los. Mas Ela não fechou, nem quando a luz iluminou com clareza seu rosto divino.

E com esse pulso luminoso, uma rajada de vento súbita atingiu-a, fazendo balançar a capa e os cabelos soltos da caminhante.

Junto com a rajada, uma nuvem de areia surgiu. A areia resplandecia com a mesma luminescência etérea das esferas, em um distinto e sublime tom dourado-alaranjado.

A nuvem de areia flutuou confusa por alguns momentos. Então, como se uma mão invisível a modelasse, ela começou a rodopiar como um redemoinho, lentamente tomando forma.

Por fim, via-se com clareza a imagem de uma garota. Ombros fortes, postura altiva, ar confiante e determinado. Longos cabelos presos, trajava uma camiseta sem mangas e uma calça justa simples, e trazia nas costas um elegante arco longo.

A garota ergueu os olhos para aquela que a observava. Assim que reconheceu-a, fez uma expressão surpresa e desceu sobre um joelho, curvando-se com respeito e devoção.

— Milady - saudou.

Milady lançou-lhe um olhar afetivo.

— Levante-se - disse, com suavidade. - Se alguém deve curvar-se, sou eu perante ti.

A jovem sorriu com humildade, mas, devagar, levantou-se.

— Por que me chamas, Milady?

.

— Tem certeza?

— Absoluta.

Milady olhou com hesitação para a garota à frente. Em contraste, a jovem parecia mais determinada do que nunca, certa de sua decisão.

— Haverá muitos perigos pela frente - Milady repetiu, com um certo tom de insistência e dúvida. - E eu não poderei acompanhá-la por toda a sua jornada.

Agora que propusera a missão, ela pensava se não era melhor não tê-lo feito. Poderia estar mandando-a para a morte. Era quase certo que estava.

— Não tenho medo - afirmou a jovem, com firmeza. - Tenho pena daqueles que se meterem em meu caminho.

— Não deveria subestimá-los - Ela hesitou novamente. - Eles são mais poderosos do que qualquer um que você já enfrentou. Mais poderosos do que eu.

— Milady, mesmo que eu tivesse medo, mesmo que minhas pernas tremessem e meu coração palpitasse, mesmo que tudo em meu corpo fraquejasse, eu ainda embarcaria nessa jornada. Se você me pedisse, eu pularia para a morte sem hesitar um momento sequer. Pularia para o Inferno sem pensar duas vezes. Mas não tenho medo - tornou ela, olhando fundo nos olhos de Milady. - Você me salvou de mim mesma. Quando minha alma enjaulou-se nos cantos mais profundos de meu coração e meu desespero parecia me dominar, quando toda a esperança era nula e eu me sentia fadada e impotente em frente ao destino traçado para mim, a senhora estava lá. A senhora libertou-me e me mostrou um outro caminho. Eu não lhe devo minha vida. Devo minha alma.

Por um momento, Milady ficou muda. A intensidade e sinceridade implícitas em suas palavras a chocaram de uma forma que ela nunca antes havia experimentado.

Então, a surpresa deu lugar a outro sentimento.

A garota era nova. Não apenas para seus padrões, mas também pelos padrões de seu próprio povo. Perto de Milady, era como se mal passasse de um embrião.

Alheia a isso, porém, ela era sua guerreira mais valorosa. Tinha um misto distinto de orgulho e humildade. Era determinada. Destemida. Fiel. Corajosa. Leal. Habilidosa. A jovem não atraía apenas seu valor, seu apreço ou sua gratidão. Ela atraía seu carinho.

Ela era sua Escolhida.

Sua Herdeira.

Milady suspirou.

— Bom, se vai enfrentar os Nove, pelo menos permita que eu lhe mande ajuda. - sugeriu ela, com um sorriso triste.

A garota parece curiosa.

— A senhora tem algo em mente?

— Quantos gostaria em seu time?

A jovem tocou o queixo com a ponta dos dedos, pensativa.

— Que tal nove? - sugeriu ela. - Nove é um bom número, e assim estaremos em pé de igualdade com nossos inimigos.

Seus olhos brilharam de ansiedade e expectativa.

Milady permitiu que um sorriso se insinuasse em seus lábios. Em sua empolgação quase infantil, a garota parecia imaginar-se trocando golpes certeiros ou desferindo estocadas precisas em um inimigo.

Ela divertiu-se com a personalidade da garota, mas logo em seguida apreciou com certa amargura sua ingenuidade.

Ela quase insistiu que a garota se lembrasse de não subestimá-los, mas deteve-se.

Primeiro porque ela sabia que nada que dissesse faria diferença. Quando se estava há tanto tempo naquela existência tão cheia de aventuras, a pessoa já tinha uma ideia bem precisa da própria força, e isso ela tinha em potencial. A imagem que a garota tinha de si mesma era notável e admirável... e Milady não tinha dúvidas de que era certeira.

E além disso, apesar de sua preocupação, Milady estava certa de que sua preferida era capaz de vencer aquela guerra.


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Notas finais do capítulo

... e esse foi o prólogo.
Como autora, eu não estou na posição de pedir comentários elaborados, mas gostaria de saber quantos leitores tenho. Se quiserem comentar apenas um "Li, gostei!", já estarei satisfeita.
Obrigada a todos que leram esse primeiro capítulo da fanfic!