O Verdadeiro Mundo Pokémon escrita por Ersiro


Capítulo 2
PARTE 1 - PRIMEIROS PASSOS — A Familiar Morte


Notas iniciais do capítulo

Aqui se inicia a PARTE 1 da história que se chama PRIMEIROS PASSOS. O nome do capítulo é A FAMILIAR MORTE.



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MORO NA REGIÃO TORAN, que é uma das quais ainda não foram projetadas pelos desenvolvedores dos jogos de Pokémon. Não minto quando digo que é uma linda região, com muito verde, com seu solo predominado por colinas, vales e montanhas, mas também por planícies úmidas, secas e áridas. Também existem várias pequenas ilhas para os que preferem viver longe da maioria da população - que, logicamente, se concentra mais ao centro. É uma região muito diversificada, onde geralmente ao sul se faz um frio de rachar os dentes, sempre acompanhado de neve. E é exatamente nesta direção onde moro, na ponta do mapa que marca o início do sul: a Vila Montevasca, onde se dá a procura incansável de boas lenhas secas para se aquecer e espantar o frio.

Aqui, as casas são feitas de madeira de qualidade para não permitir que o vento gelado ultrapasse as paredes. A vila é pequena e, infelizmente, todos conhecem todos. Digo infelizmente porque não se pode fazer nada sem que o vizinho e, consequentemente, toda a vila fique sabendo.

Meu nome é Bernardo Baker e tenho 13 anos, mas todos aqui da vila me chamam apenas de Baker. Os Baker é uma família com uma longa geração de padeiros. Os adultos ensinam seus descendentes desde pequenos para que a prática de fazer pão nunca morra. É daí que tiramos dinheiro para nos sustentar. Sem contar que os pães são feitos em casa, o que a deixa quente, confortável e com o cheirinho duradouro de pão fresco e assado.

Meu pai faleceu quando eu ainda era pequeno; tinha exatamente quatro anos. Eu estava terrivelmente doente, tinha contraído uma rara e forte gripe. A velha curandeira da vila não tinha nenhum remédio ou antídoto que pudesse vender para que eu fosse curado. Minha mãe tinha uma receita antiga que sua avó fazia e que me ajudaria na minha recuperação, porém faltava um tipo de erva amarga e peculiar que nascia aos pés das colinas, a meio quilômetro da vila. Meu pai agonizado com meus gemidos de dor, decidiu ir à procura do ingrediente que faltava. 

Era época dos Beartic andarem nos arredores, procurando locais para suas famílias hibernarem. Quando dá início à essa procura desses Pokémon, é estritamente proibido sair da vila, pois o risco é grande, considerando que os Pokémon ursos andam em bando.

Passaram-se dois dias e meu pai não havia voltado para casa, até que depois de uma rápida busca dos moradores no local para onde meu pai provavelmente teria ido, todos os procuradores da vila voltaram com o corpo. Chamaram minha mãe e meu avô para fora de casa para dar a péssima notícia da morte de seu familiar. Até hoje ninguém sabe, mas a teoria mais provável é que um Beartic o tenha atacado. No fim, apenas minha família sentiu a perda, pois para os moradores, a morte de meu pai fora apenas um exemplo de que era bom ficar em casa quando o bando dos Pokémon ursos estivesse nos arredores.

Eu não me esqueço desse dia justamente por ter sido angustiante, pois estava muito fraco por conta da forte gripe e ouvir o choro sufocante de minha mãe e de meu avô só serviu para me deixar mais impotente. Mas também me lembro por ter sido o dia em que tive minha primeira experiência com um Pokémon. 

Assim que um dos procuradores levou minha mãe e meu avô para o lado de fora da casa, olhando pela porta escancarada que levava para a rua pintada da brancura da neve, vi um focinho farejando algum odor que vinha de dentro de casa. Receosa, a criatura andou calmamente até onde eu estava - mais tarde descobri que era um Deerling -, me cheirou e deu um passo para trás. A flor em sua cabeça começou a brilhar com uma cor dourada e dali saiu um pó brilhante verde e amarelo que se espalhou pelo ar. Assim que aquilo me envolveu, imediatamente comecei a me sentir muito melhor. Hoje sei que ele havia usado o Aromaterapia para me curar.

Passos ecoaram do lado de fora e meu avô entrou. Assustado, meu avô avançou para cima do Pokémon. Por sua vez, Deerling tentou escapar, mas era tarde demais e já estava com seu pescoço em volta das firmes mãos de meu avô. O velho pegou com experiência cada extremo do frágil pescoço da criatura. Quando entendi o que ele iria fazer, fechei os olhos com força e ouvi o arrepiante e doentio som de ossos se quebrando.

Naquela noite jantamos a carne magra de um Deerling. E na bela inocência de uma criança, tentei entender por duas vezes no mesmo dia o que significava morrer.

Não demorou muito para meu avô falecer. Já estava muito velho e cansado. Na época preferi pensar que ele tinha apenas descansado de todo o trabalho que teve para cuidar de sua família.

Posso concluir que já tenho, até mesmo, certa "familiaridade" com a morte. 

 

~×~

 

      VOLTANDO PARA O AGORA, há dois dias, eu estava ajoelhado ao lado de minha mãe doente, estirada em sua cama. Ninguém sabe o que ela tem. Sua pele está super-ressecada e por vezes se descasca, como uma cobra que troca de pele. O incrível é que a mesma situação que passei, ela também está passando: não tem nada que possa curá-la na vila, com a diferença de que nem um único morador conhece algo milagroso nos arredores que possa salvar sua vida. E desta vez duvido que um Deerling consiga curá-la.

Estou em um dilema. Amo minha mãe, faço tudo por ela, e não quero vê-la dessa forma. Então decidi e comentei com ela a ideia de eu sair sozinho, andando por toda a região, procurando alguém que saiba pelo menos uma informação sobre o que está acontecendo com ela.

— Sim, claro. Pode ir. Faça o que você bem entender - murmurou ela, com os olhos e a voz cansada. - O que me importa é saber que você está fazendo algo que só você tenha decidido fazer, sem a intromissão de ninguém.

— Você sempre me disse isso, mas a questão é que não quero deixar a senhora sozinha aqui - eu disse, perdendo um pouco a sonoridade da voz. - Sem contar em quem cuidaria da senhora e dos pães diários?

— Deixe disso - disse ela, sempre com a voz fraca. - Eu estou doente, mas não morta. E ainda temos a pequena Drim, a filha da vizinha. Posso continuar ensinando ela a fazer pães, já que ela se interessa tanto por isso... Vá e não quero que fique preocupado comigo.

Houve um silêncio longo depois disso e pensei que ela havia dormido, mas concluiu:

— Só me promete uma coisa: que você não permitirá que a geração Baker morra. Me promete que dará continuidade à família...

Não respondi. Eu preocupado com sua saúde e ela preocupada em dar continuidade na família.

No dia seguinte, bem cedo, fiz a quantidade necessária de pães para o dia e assei a quantidade suficiente para vender para os moradores no período da manhã. Conversei com a vizinha e seu marido sobre sua filha, Drim, e eles aceitaram que minha mãe a instruísse.

— Não se preocupe Baker - disse a mãe de Drim. - Eu ficarei cuidando de sua mãe enquanto você estiver fora. 

Agradeci. Em poucos minutos já tinha separado tudo para a viagem dentro de apenas uma mochila. Me despedi de minha mãe com direito à lágrimas e peguei a rota que saía da cidade. 

A neve no chão estava funda, pois cobria quase por inteira as minhas botas. Um sorvete passou por entre as árvores que circundavam o caminho, e pensei pela centésima vez que Pokémon de merda era aquele. Sabia que era um Vanillish e me perguntei: "Por que diabos uma forma de monstro tão bizarra existe?"

Falando em Pokémon, uma pena que eu não tenha um para me acompanhar nessa jornada, pois confesso que seria muito útil, mas não tenho essa tal "ligação" com eles. Nunca houve um real interesse de minha parte em ter um desses e depois do possível ataque de um Beartic contra meu pai, e de comer variadas carnes de outros Pokémon, além daquele Deerling, decidi não manter contato com esses monstros. Os membros de minha família nunca tiveram Pokémon, e geralmente os usaram como alimento - claro, os que são seguros para comer. Não são necessariamente saborosos, eu particularmente não gosto do sabor, mas quebra o galho quando não se tem dinheiro para ir ao açougue.

Em certo momento, no caminho da rota, algo verde soterrado na neve quebrava a harmonia da paisagem branca. Parei ali e observei mais atentamente, até que aquele algo se mexeu quase imperceptivelmente. Levei um leve susto e me ajoelhei, começando a cavar em volta, para desenterrar aquilo. Suspirando, reparei que era um Budew desacordado. Tirei-o dali e fui para a margem do caminho, onde as árvores se erguiam modestamente sem suas folhas. Limpei a fina camada de neve do chão e estirei a pequena criatura ali. Abri a mochila e tirei uma manta, que usei para cobrir o Pokémon.

Vocês devem estar pensando em como sou hipócrita em ajudar um Pokémon, sendo que já comi algumas espécies. Bem, pra mim isso não é impedimento para que eu possa ajudar alguns deles, se porventura necessitarem.

O fato é que é muito estranho um Pokémon Tipo Grama estar nessa parte da região, já que o frio e gelo não são favoráveis para eles.

Já estava anoitecendo. Decidi entrar um pouquinho mais na floresta, com o Pokémon em meus braços. Limpei uma área do chão, para passar a noite ali mesmo. Dormi em cima de meu fino colchonete e envolto na minha manta, abraçado com Budew que parara de tremer de frio, mas continuava inconsciente. 

 

~×~

 

ACORDEI COM ALGO tentando subir em cima de mim. Era Budew. Quando viu que conseguiu me acordar, sorriu e exclamou seu nome.

— Ah, olá, Budew. Você estava enterrado na neve, então decidi te tirar dali para que você não morresse de frio.

Ele sorriu de novo como forma de agradecimento.

O céu estava começando a clarear com o começo do dia. Recolhi minhas coisas e me despedi do Pokémon.

— Bem, não sei o que faz por aqui, mas espero que não aconteça de novo algo do tipo com você. Tome cuidado e não se meta em encrencas de novo, viu?! - aconselhei.

Virei as costas e voltei para a rota. Ouvi um suave rumor atrás de mim e me virei de supetão, para pegar o meu perseguidor de surpresa. Mas não havia ninguém. Voltei a andar e o rumor voltou a me seguir. Virei de novo e novamente não havia ninguém. Ouvi alguém dizer algo que soou como "budiu" e automaticamente olhei para baixo. Ali estava Budew, pulando.

— Não, não. Volte. Não sou nenhum desses que capturam Pokémon - e empurrei ele de leve para trás.

— Budew? - disse ele, tentando entender.

— Isso, agora volte - dei as costas e voltei a andar.

A cada 5 minutos que olhava para trás, Budew estava lá, caminhando atrás de mim, feliz. E assim continuei andando, fingindo que ele não estava ali.

Em certo momento, quando olhei distraído para trás, acabei caindo em um buraco fundo, que não tinha notado. Caí de bunda no chão e no mesmo instante não senti mais minhas pernas, mas elas voltaram a responder aos poucos. Budew olhou para mim, lá de cima e saiu da vista. "É isso o que você ganha por ter salvado a vida dele", pensei, me sentindo, de certa forma, traído. Tentei subir, mas o buraco era muito alto e íngreme. Quando fui frustado novamente, tentando sair dali, ouvi um rastejar lá de cima e Budew reapareceu, acompanhado de um Weepinbell que usou Chicote de Cipó e me tirou do buraco.

No fim, Budew que me ajudou, desta vez. Ele disse algo para Weepinbell e este assentiu e foi embora.

Antes de cair no buraco, eu fiquei tão focado no Pokémon que me seguia, que nem reparei que já tinha saído da área em que a neve se instalava. Agora estava em uma área onde tudo em volta era verde, mas ainda batia um vento fraco e frio. Por isso que Budew conseguiu encontrar um Weepinbell para me ajudar, já que a área onde nos encontrávamos era bem mais propícia para um Tipo Grama viver.

— O-obrigado... - gaguejei. - Mas é sério... Não sou um Treinador, sinto muito. Que tal se você voltasse de onde veio?

Budew negou e chegou mais perto de mim, sorrindo.

Percebi que ia ter que aguentar aquele pequenininho, no mínimo até a próxima cidade que estava a menos de um quilômetro. Pelo menos, me salvando, ele provou que era um bom Pokémon.

Mal sabia eu que, em poucas horas, me meteria em encrenca e que estaria onde me encontro agora: esperando que Jane e Jeremy não me matem.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo! ♥



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