O Verdadeiro Mundo Pokémon escrita por Ersiro


Capítulo 18
Reencontro do amigo rejeitado




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O DIA NASCEU HÁ POUCO TEMPO, e conseguimos ver ao longe o vislumbre da próxima cidade que se aproxima. Apenas alguns minutos são neceassários para podermos visualizar um emaranhado colorido de tubos que parecem se enroscar entre si.

Conforme avançamos, acabo descobrindo que os tubos, na verdade, são toboáguas, que, em seus caminhos tortuosos, descem em direção à várias piscinas de variados formatos, cheias de uma água muito azul.

Pra ser mais sincero, a cidade inteira parece ser tomada de um azul muito vivo!

Assim que adentramos nela, consigo observar com mais clareza. As construções são realmente de cor azul clara, com detalhes em todos os outros variados tons de azul. Muitas têm uma espécie de formação onde é possível ver água correndo incessantemente pelas paredes. Fontes e mais pequenas piscinas, onde humanos se banham juntamente com Pokémon aquáticos. E ao fundo, claro, o maior parque aquático que eu sequer poderia imaginar em meus sonhos.

— É... Incrível! — murmura Lucy, maravilhada. No mesmo instante, ela lança Wooper para fora de sua Pokébola. — Woo, olhe! Isso é o paraíso para Pokémon de Água.

O Pokémon pula de animação e corre, meio atrapalhado, até uma das várias fontes, mergulhando em suas águas.

— Nossa cidade é muito bonita mesmo — diz uma voz desconhecida.

Nós viramos e vemos uma mulher com um uniforme azul colado ao corpo. Shortinho, regata e um boné que em sua abertura traseira, deixa escapar um rabo de cavalo liso e loiro. Na regata as palavras "Parque L'Aquático" estão estampadas em meio à um emaranhado de Pokémon do Tipo Água.

— Sejam bem-vindos à Lucuática! Me chamo Diana. — Ela continua, sorridente. — Em termos mais rápidos, queria pedir que me acompanhassem até o Vestuário para eu achar os melhores trajes de banho para cada um.

Ficamos calados. Muito desconfiados.

— Como? E por que devemos confiar em você? — pergunta Ben, com cautela.

A desconhecida abre um sorriso maior ainda.

— Aqui em Lucuática, temos o prazer de receber novos convidados. É regra recebermos todos que entram aqui da melhor forma possível, garantindo uma boa estadia. — Ela estanca e faz um enorme esforço para continuar, desta vez, com um sorriso amarelo, contra a própria vontade. — Regras ditadas por Lukka Musician — Diana mostra um pequeno cartaz colado em uma parede.

 

Lukka Musician

Aquele que mudou esta cidade para a eterna melhora.

Lucuática, a cidade mais gentil.

 

— Imagino que esse "Lucuática" vem do nome desse aí — arrisca Helene. — Mas, por que na cidade é com C, se o nome do cara é com dois K?

— O nome dele é Lucas, com C e um S no final, mas Lucas Pereira é extravagante demais para aceitar um nome tão simples — resmunga Diana, com um revirar de olhos. Sua capacidade de nos convencer a ir ao tal Vestuário se esvai aos poucos.

— Essa aí deve ter passado por uma situação nada boa com esse tal de Lukka, para estar falando dele assim — cochicha Vector, para Helene e para mim.

Rimos.

— E é a segunda vez que ela perde as rédeas ao falar dele — acrescento, para enfatizar. – Talvez um caso amoroso envolvido entre os dois.

Não sei porque, mas quando menciono “um caso amoroso”, olho mais especificamente para Helene.

— Enfim, chega dessa baboseira toda — desabafa Diana. — O fato é que se eu registrar cinco pessoas de uma vez no Parque L'Aquático, minha comissão vai ser bem alta no dia quinze. Então me ajudem nisso. Preciso desse extra pra beber bastante no final de semana.

Cinco pessoas? Olho em nossa volta e só agora reparo que Roger e o outro Revolucionário já não estão mais conosco. Ele disse que assim que entrássemos em Lucuática, os dois sairiam de nossos pés. Então estava falando a verdade. Um peso parece sair de minhas costas. Menos um problema.

— É... agora vejo sinceridade nela — diz Lucy, medindo Diana de alto a baixo. — Vamos com ela então, pessoal.

Meus amigos se animam. Mas algo me impede de comemorar com eles. Ao longe, ouço um "Não!" baixinho, mas com tanto lamento que consigo sentir a aflição do dono da voz. Olho em volta por um bom tempo, mas não vejo nada de errado com o lugar e as pessoas.

— Vem, Bake — chama Lucy, com seu sorriso, enquanto me puxa pelo braço.

Helene está logo atrás dela e nos observa. Ao perceber que estou olhando em sua direção, Helene dá um sorriso tímido que não combina com ela, e me chama com a cabeça para a rota que Diana toma.

Lucy olha para mim e depois para Helene. Ela baixa lentamente a cabeça e solta meu braço.

— Vem logo, já está na hora de distrair um pouco nossas cabeças.

 

REALMENTE, DIANA NÃO É uma impostora nem algo parecido. É apenas uma funcionária do parque aquático, encarregada de levar e registrar a entrada de pessoas — residentes ou não de Lucuática — para o próprio parque. Cada pessoa que ela leva, conta como diferencial para um dinheiro extra que ela recebe no meio do mês.

Para Ben, Vector e eu, arranjou shorts e para as meninas, biquínis. Helene, como de praxe, usa um preto que supercombina com seus olhos e cabelos também pretos.

Nossos pertences foram guardados em armários individuais.

O mais legal é que os Pokémon aqui podem ficar fora da Pokébola e brincar livremente, mas claro que alertamos aos nossos para ficarem perto da gente. Não podemos nos dar ao luxo de perdê-los com Toran parecendo estar virando de cabeça pra baixo! E até mesmo porque... Eu gosto de meus Pokémon.

O sol está quente e não há melhor coisa do que a água das piscinas refrescando meu corpo. Até mesmo Cyndaquil entra na brincadeira e se refresca, com o cuidado para não molhar as costas flamejantes.

Meus amigos e eu descemos por todos os toboáguas disponíveis. A sensação de escorregar por um é... no mínimo estranha. Seus órgãos parecem sair todos do lugar e subir tantos centímetros dentro do corpo quanto lhes é permitido. Mas é bom. Não a sensação dos órgãos se desprendendo, mas sim a sensação de estar se deslocando numa velocidade rápida, mas ao mesmo tempo necessária para a possibilidade de poder ver do alto toda a região em volta da cidade.

As roupas de banho que nos emprestaram, foram gratuitas, mas, como tudo na vida, tudo que é bom dura pouco. As refeições tivemos que pagar. Na verdade, foi Lucy quem pagou grande parte dele. Os Parricidas também ajudaram com uma quantia que ganharam do último show.

Em dado momento, um garçom se aproximou e disse para os dois irmãos que um homem estava os chamando. Ele apontou para um que trajava social, e que estava sentado em uma das mesas encostadas à parede.

Helene e Vector se olharam e deram de ombros. Levantaram e foram se sentar com o desconhecido. Agora, já faz alguns longos minutos que eles conversam. Ben e Lucy jogam conversa fora e vez ou outra me chamam a atenção. Eu respondo o mais rápido que posso. Estou é interessado em saber o que aquele homem quer com Helene.

Os irmãos parecem encerrar a conversa e voltam para a nossa mesa. Meu olhar impaciente pede para que Helene fale o que aconteceu.

— Ele quer nos "contratar" — diz, fazendo aspas com os dedos. – Para isso, teríamos que ir até Nochelert. Ele disse que lá está tendo uma grande receptividade para o rock – ela termina, com certa amargura na voz.

— Ué, e isso não é bom para vocês? – pergunta Lucy, tentando entender a carranca da Parricida.

Quando Helene parece que não irá prosseguir com o relato, Vector continua:

— Seria como uma prova do nosso talento. Se nos dermos bem, ele acabaria sendo algo como aquele que divulga e agenda shows para nós dois.

— E como ele soube que vocês cantam? Só olhando vocês comerem? — pergunto. Meu sentido de perigo está alerta.

— Ouviu falar da gente da vez que cantamos em Acrogrey. E também de outras vezes que cantamos nas outras cidades — responde Vector, ajeitando seu cachecol branco-rosa-verde. Ele não larga esse cachecol. E mesmo agora, só de shorts de banho, o usa em volta do pescoço.

— O problema é Nochelert fica ao sul de Acrogrey — resmunga Helene. — E não podemos passar em Acrogrey nem tão cedo!

Vector baixa a cabeça e faz alguns desenhos invisíveis com o dedo indicador na mesa.

— Então vocês não aceitaram a proposta? — arrisco.

Ela murmura um "sim" muito baixo.

Desde que começaram a falar dessa proposta, esta é a primeira vez que sinto certo alívio por... Tá, confesso: por saber que, por enquanto, Helene vai continuar na jornada conosco. Ter ciência de que ela vai continuar ao meu lado nem que seja por algumas horas a mais, é reconfortante e maravilhoso. Entretanto, ao mesmo tempo isso não é um tanto egoísta da minha parte?

— Mas ele falou que a oportunidade continua aberta, que é só ligarmos de qualquer PC para seu Xtransceiver* — Helene completa, mostrando um pedaço de papel com o código de chamada do Xtransceiver do desconhecido.

— Menos mal. O lado bom de tudo isso é que, pelo menos, vocês têm algo para o qual contar e se apoiar. Quando as coisas se acalmarem, vão conseguir fazer mais shows e provavelmente conseguir mais lucro com o apoio dele. — Ben encoraja.

Fico muito feliz com a ajuda que ele dá para os dois, mas sou eu quem deveria estar ajudando Helene a levantar a cabeça! Seu burro, incentive ela!, minha cabeça grita, mas não consigo seguir o que ela ordena.

 

DEPOIS QUE SAÍMOS do Parque L'Aquático, as coisas começaram a tomar um rumo bastante diferente.

Continuamos com nossos trajes de banho emprestados — coisa que imagino ser contra as regras: usar as roupas fora do parque aquático. Jogamos conversa fora, no canto da cidade onde uma rara vegetação se inicia para logo depois dar lugar à areia do litoral, e, por conseguinte, o mar.

Nunca entrei no mar e conforme nos aproximamos de sua orla, sinto uma impotência cada vez maior diante de sua infinita extensão. Entro com cuidado, com medo de suas águas me puxarem cada vez mais para o fundo, mas conforme passo mais tempo com o mar, entendo que ele só deve fazer isso com aqueles brincam e desafiam sua força.

Os nossos pequenos monstrinhos? Estão se divertindo, brincando na areia.

A harmonia é quebrada pela voz vacilante de Benjamin.

— Não pode ser... — diz ele, repentinamente, na direção da areia. Sua voz falha e ele parece não acreditar no que está vendo.

Ah, não! O que aconteceu com nossos Pokémon? Com o coração batendo na garganta, olho para a direção que seu rosto mira.

E assim as coisas começam a mudar de uma hora pra outra. Sem mais nem menos. E o que se segue, é bem estranho e confuso.

Um Machoke, que estava sentado na areia nos observando, se levanta e começa a se afastar. Com dificuldade, lutando contra os puxões da correnteza, Ben se dirige na direção da areia, não desviando o olhar fixado no Pokémon que se retira. Lucy vai atrás dele, preocupada e eu também os sigo.

— Ei, espere! — grita Ben, começando a dar uma corridinha para alcançar o Pokémon.

Machoke retesa e se vira para mirá-lo. Seu olhar é o esbugalhado da criança assustada por saber que os pais descobriram que ela andou fazendo algo de errado. Ele para desajeitado, pronto para sair correndo caso algo de errado aconteça para cima dele.

— Não pode ser... — murmura Ben, novamente. Primeiro sua expressão é de surpresa, depois uma irritação cresce e toma conta de seu rosto. — FOI ELE, NÉ?! — urra, como um Pokémon enlouquecido.

Machoke se surpreende assim como todos em volta e arregala os olhos perdidos. Parece entender sobre o que Ben está dizendo, e querer desesperadamente mudar a situação.

Benjamin, por sua vez, não dá a mínima e continua berrando com o Pokémon.

— Foi ele, né?! Antes de morrer, ele falou pra você me seguir e me infernizar, só pra que eu continuasse me lembrando que continuo sendo a única exceção Runner! — Ben perde o controle e começa a empurrar inutilmente o Machoke, que consegue se manter de pé com facilidade, porém assustado e tentando fazer o garoto parar com aquilo. — O único deformado! — Lágrimas caem incessantemente e rolam pelas bochechas de Ben. Ele perde a força e não tenta mais esmurrar o Pokémon lutador. Baixa a cabeça, impotente, os ombros sacolejando a cada soluço. — O... único... que não se enquadra na... família. A vergonha Runner... – Seus soluços são angustiantes.

Machoke, vendo uma abertura em toda a fúria de Ben, dá-lhe um abraço, surpreendendo a mim e a Lucy. A cena é, no mínimo, tocante. O impressionante e que mais nos surpreende é que Ben retribui o abraço, fazendo com que ressalte uma certa ligação emocional muito forte envolvida nessa junção, como se se conhecessem há muito tempo. Não tem como a emoção ser deixada de lado.

— Ora, ora — começa Lucy, secando os olhos, depois de um tempo observando a cena. — Se não é o amigo rejeitado.

 

ASSIM QUE A TARDE dá seus sinais de que está se findando, nos acolhemos para o Centro Pokémon da cidade para descansarmos. Estamos exaustos. Como não podia ser diferente, o Centro de Lucuática é todo cheio de ornamentos que lembram ondas; as paredes são pintadas com todo tipo de Pokémon aquático, e as paredes de vidro na fachada fazem cair uma água incessante. Isso não importa muito.

Antes de dormirmos, Ben conta em segredo só para Lucy e para mim — na verdade, ele já tinha contado antes para Lucy — sua história com o Machoke que era apenas um Machop na época que seu avô lhe dera de presente. É uma história bem opressora, onde a família cobrava muito o físico do garoto, desde que era pequeno! Mas o lado bom da história, é que Benjamin aceitou definitivamente o agora Machoke. A partir deste momento, são definitivamente Treinador e Pokémon.

Em alguma brecha de silêncio, dormimos.

 

NO DIA SEGUINTE, nos preparamos para sair de Lucuática. Helene e Vector vão comprar algumas roupas novas para ele com o que sobrou do dinheiro do último show, pois suas antigas estavam em sua mochila, que agora está confiscada pelos policiais de Acrogrey. Lucy, Ben e eu ficamos zanzando por Lucuática.

Em dado momento, também vejo o tal Lukka Musician. Os cidadãos o cumprimentam e sempre se achegam perto dele para aproveitar alguns segundos perto daquele que se diz quem mudou a cidade para a melhora.

Seu físico é magro e alto, o cabelo desgrenhado é curto e loiro-escuro. Usa uma camisa larga e surrada, a calça de flanela amarrotada. Um bigodinho ralo deixa seu rosto bem cômico. Uma sorte de pulseiras está grudada ao pulso e um violão marrom balança levemente, pendurado nas costas.

Logo de cara, noto que ele é um tremendo desengonçado. Ele finge ser algo que definitivamente não é: cantor. Tenta imitar os charmes e postura dos grandes ícones da música, mas no fim tudo que consegue transmitir é um ar bem engraçado. Mas as pessoas realmente parecem gostar dele.

A única coisa que faz eu parar de olhá-lo como um ícone comediante são seus olhos verde-escuro. Corajosos e seguros da pessoa que os carregam. Transmitem uma segurança tão grande, que ao olhar para seu time Pokémon, me sinto como uma pequena formiga diante da força invisível que eles trazem. Seu Piplup é pequeno, mas valente. Um Poliwrath com os braços cruzados está do outro lado de Lukka, e, por fim, para completar, um lindo Milotic está de guarda às suas costas. Consigo ver o vislumbre de mais três Pokébolas em seu cinto. Como se não bastasse o fato de que somente seu Piplup seria necessário para acabar com meu Roselia e Capricórnio, ainda têm mais três monstruosos Pokémon guardados.

Lukka vira o rosto para nosso grupo e acena, sorrindo gentilmente. Devolvemos o aceno. Ele é uma pessoa muito importante, então isso é tudo o que pode oferecer no momento: Um aceno.

 

~×~

 

BEN CONECTA O PC do Centro Pokémon com o da casa da Professora Petalia, aquela de Granluz, que deu o Cyndaquil para Benjamin. Ela aparece na tela, com o cabelo descabelado – que deve viver nesse estado durante todos seus dias, desde que ela virou uma cientista.

— Olá, meus queridos, desculpem a bagunça, hehe! – Ela tenta ajeitar o jaleco torto e amassado no corpo.

Atrás dela, o cenário está de pernas para o ar. Vejo um Sandile mordendo a cauda de um Squirtle chorão. O berro do Pokémon faz Petalia ir até os dois para abrir as presas de Sandile. Ela pega o Squirtle no colo e o traz até a tela.

— Oh, perdão, esse Sandile é um diabinho! – Petalia, sorri, arrumando os óculos de armação redonda que escorrega por seu nariz. – Vamos lá padeiro, Ben me disse que você tinha algo especial para me mostrar.

Não me importo com ela me chamando de padeiro. A forma como diz é tão natural e inocente, que é como se tivesse me chamado pelo nome.

Tiro Capricórnio de dentro de sua Pokébola e o seguro nos braços, mostrando-o para a Professora.

Os olhos por trás dos óculos parecem brilhar de êxtase, quando ela vê a criatura em meus braços. Capricórnio, que é sempre muito gracioso com todos que se aproximam dele, lambe carinhosamente a tela, e Petalia fica com as bochechas rosadas, maravilhada.

— Céus, ele é muito fofo! – esganiça a Professora, apertando o Squirtle nos braços. Assim que rimos, ela ajeita a postura e começa a falar mais seriamente: — Bom, como Benjamin mesmo disse, a própria Pokédex não reconheceu o Pokémon, até porque ele não é de Toran, meus pequenos inocentes!

Soltamos uma exclamação de surpresa.

— E de onde ele é que ninguém o reconheceu até agora? – pergunta Lucy.

— De uma região um pouco longinha de Toran, chamada Kalos. Como todos sabemos, as regiões têm seu próprio grupo de Pokémon originários do local, menos a nossa pobre Toran. O problema é que esses Pokémon de Kalos ainda não decidiram se migrar para cá, talvez pela distância, nem pesquisadores se interessaram em trazê-los. O custo é alto, e do jeito que o mundo inteiro anda meio maluco com esse negócio de revolução, o melhor é parar de gastar verba com esse tipo de coisa e deixar cada um pegar o Pokémon mais próximo para pelo menos poder se proteger.

— Revolução? – Ben indaga, confuso. – Esse negócio está acontecendo em todas as regiões?!

Petalia afirma com a cabeça, seriamente.

— Os tais Revolucionários se levantaram em todo canto, como mágica, e se juntaram com os Rockets. – Ela franze o nariz. – Isso não cheira nada bem, vai dar a maior confusão. Algumas cidades já foram tomadas. Ainda bem que aqui em Toran nenhuma se encontra nessa situação, então, por favor, tomem cuidado! Tudo isso está acontecendo de uma hora para outra, fiquem atentos!

Assentimos e espero que meu rosto não pareça tão apavorado. Já estão tomando cidades?! O que vai ser de Toran depois que as cidades forem tomadas? O que esses Revolucionários junto com os Rocket planejam fazer depois, se conseguirem ganhar essa briga?

As perguntas martelantes são cortadas pela voz de Petalia.

— Nossa! Já até tinha me esquecido do Pokémon no seu colo, padeiro! Cruzes, esse papo esquisito de revolução tá mexendo até comigo! – A Professora senta o Squirtle na mesa ao lado. – Já deve ter percebido que ele é do Tipo Grama. – Confirmo. – Ele evolui para outro Pokémon quando amadurece um pouco mais. Ah! E seu nome é Skiddo.

Olho para Capricórnio, que me fita com uma expressão neutra. Deve não gostar de Skiddo. Franzo o rosto, fazendo uma leve careta.

— Acho que Capricórnio combina mais com a sua cara – sorrio e ele me acompanha com animação.

— Oh, Capricórnio! — Petalia parece saborear o nome na boca. — Um belo nome! Bem, de qualquer forma, não consegui muitas informações com meu amigo de Kalos, então por enquanto isso é tudo.

Antes de desligar, ela ainda termina:

— Seja lá como ele tenha aparecido aqui em Toran, espero que aproveite – confessa Petalia. – Não é todo dia que vemos uma raridade andando por nossas terras.

 

HELENE E VECTOR APARECEM na entrada do Centro Pokémon. Voltaram da pequena compra e Vector chega com sua aura desta vez ranzinza.

— É sempre assim? – cochicho baixinho só para Helene. – De uma hora para outra fecha a cara e parece querer sair enfiando um cutelo no coração daquele que primeiro falar com ele?

Helene ri seu sorriso lindo e branco.

— Ele não é assim comigo. Talvez só aja desse jeito na frente de vocês para querer mostrar o quanto é durão... Você se surpreenderia em ver o quão doce ele é quando estamos sozinhos.

Tenho dificuldades para imaginar um Vector doce.

Mas está indo tudo bem. Aliás, ótimo, pois mesmo depois de toda a confusão na cadeia e da notícia de que o Mundo Pokémon está virando de cabeça para baixo, pelo menos posso falar que aproveitei muito o dia anterior e que este parece ter suas ânsias de ser feliz como ontem.

Assim que saímos para a rua, com Benjamin apontando para o horizonte na direção oeste que é o rumo que iremos tomar para a próxima cidade, a tarde mal chegou em sua metade.

Uma Pokébola escorrega de dentro de minha mochila mal fechada e dou graças aos céus por ela ter conseguido bater no ângulo perfeito para que Capricórnio se libertasse e chamasse minha atenção. Caso contrário, e, segundo Petália, teria perdido um Pokémon raro. Meu peito congela quando penso na possibilidade de perder um Pokémon que decidi eu mesmo capturar. Afinal, estou aprendendo a conviver com essas criaturas e Capricórnio já se tornou meu amigo.

Decido deixar ele do lado de fora para me acompanhar pela caminhada. Nesse meio tempo em que fecho firmemente o zíper da mochila e agacho para pegar a Pokébola do chão, meus amigos já ganharam alguma boa distância.

A Pokébola parou diante de uma pequena janela comprida enroscada no chão, que deve dar para o porão da construção. Me arrependo assim que olho para dentro da janela, para dentro daquele porão.

Uma pena eu ter me enganado há pouco tempo atrás sobre hoje ser um dia feliz. O de hoje não reservou nada igual ao anterior.

Um homem está de cabeça para baixo, pendendo a alguns metros do chão pelos pés amarrados em uma corda. Seus pulsos foram amarrados para trás, o impedindo de se mover. Seu rosto está inchado, um calombo na testa, um olho roxo, a boca pingando lentamente uma mistura de sangue e saliva.

Ele abre os olhos e me fita. Seu olhar é lamuriante e pedem para que eu o ajude.

É Roger, o líder do Grupo de Manifestação Revolucionário, que fugiu da cadeia conosco, e que repentinamente sumiu aqui em Lucuática.

As pontas de meus dedos se arranham no chão quando envolvem desesperadamente a Pokébola. Nem percebo a ardência que isso produz. Agarro Capricórnio com o braço livre e saio correndo para o encalço de meus amigos.

Minha cabeça só consegue gritar uma frase de alerta e a repete em um looping interminável.

Preciso sair daqui! Preciso sair daqui!


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Notas finais do capítulo

*Xtransceiver: é um aparelho de pulso. Este aparelho serve para se comunicar com outros treinadores ou receber ligações. Se quer saber melhor o que é um Xtransceiver, leia este post da PBN: http://www.poke-blast-news.net/2010/09/xtransceiver.html

Mapa descoberto até agora: http://i.imgur.com/fYW2Zh9.png