Os vampiros que se mordam 2 escrita por Gato Cinza


Capítulo 6
O brilho eterno de uma mente sem lembrança e o efeito borboleta




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Dava para ouvir a brisa gelada dos últimos dias do outono. Também se via o cheiro do calor do sol de verão. Podia sentir os sons típicos da primavera causados por pássaros e insetos. E algo no ar tinha gosto dos primeiros dias de neve de inverno. O fato estranho era ela ter plena consciência de que não era nenhum problema com seus sentidos. Aos poucos entendeu o porquê daquelas sensações não lhe causar surpresa, ela reconhecia a razão daquilo. Não estava acordada, estava em algum tipo de sonho, como os que ela teria com Klaus em alguns anos quando ele estivesse perdido fora da realidade.

Mas por que estava ali? Ainda não conhecia o Original. Será que era ela quem estava em algum estado de quase morte? Não conseguia pensar em outro motivo para estar ali. Aliás, onde era ali? Não era o jardim-fantasma, parecia mais um quarto de hospital com paredes e persianas brancas, e aqueles trecos hospitalares que mantinham as pessoas vivas. Curioso, estavam ligados á ela. Então se lembrou da tontura que tivera quando chegara a Mystic Falls, mas tinha certeza que havia freado. Só não lembrava o que acontecera depois.

Olhou ao redor assustada, será que tinha morrido de novo? Alguém estava sentado em uma cadeira branca daquelas antigas e pesadas com cara de hospital da segunda guerra. Era uma pessoa de cabelo auri-rubro-alaranjado que trajava um discreto vestido marrom... os olhos verdes-radioativo a fitava sem expressar nem remoto sinal de reconhecimento.

— Oi, você – disse a ruiva.

— Lumina – respondeu a bruxa sentando-se e tirando os conectores e agulhas de sua pele – Achei que só fosse conhecê-la em mais ou menos quatro anos.

— Então nos conhecemos, acho que isso responde cinco de minhas perguntas e acrescenta mais cinquenta á lista. Esta versão de mim, do passado, não sabe seu nome.

— Bonnie Bennett.

— Uma encantriz.

— Aqui chamamos de bruxa ou chamávamos. Eu estou viva?

Mina sorriu e assentiu lentamente, tinha um traço de seriedade nela que Bonnie estava tendo dificuldade de conciliar com a lembrança da ruiva que ela conheceria/conheceu.

— Se me conheceu em sei lá qual realidade, eu creio, que saiba o que sou e quais minhas propensões sobrenaturais.

Bonnie confirmou. Mina ficou em silencio a estudando, pensando.

— Eu posso ver as linhas partidas ao seu redor, o Tempo está tentando corrigir sua interferência... Bennett Bonnie – diante da confusão da bruxa, a criatura solar explicou – Eu imagino, que tenha conhecido um dragão de nome Q’rey Él-Lir, correto?

— Sim – a bruxa murmurou se encolhendo ligeiramente, novamente a sensação de que ele ia se libertar voltou – O aprisionei, para sempre. Se eu tiver um pouco de sorte.

— Eu também havia o aprisionado, mas aparentemente em algum futuro alternativo ele escapou. Não falaremos sobre esse futuro. Ele não existe mais.

— Como não? Eu me lembro de tudo.

— Tudo bem, mas não se apoie tanto nessas lembranças. Tenha paciência, vai entender. Eu e ele deveríamos dormir para toda a eternidade ou pelo menos até alguém ser estupido e tentar nos despertar. Estranhamente poucos anos atrás eu despertei de meu sono eterno, Él-Lir tinha desaparecido e o Velho Folhoso não estava em seu pedestal. Tentei descobrir o porquê, mas a energia do Livro desaparecera logo depois de meu despertar e achei que tivesse se perdido no tempo ou pior, Q’rey tivesse o levado consigo quando de algum modo quebrou meu feitiço. Contudo, do nada, seis noites passadas senti uma força estranha me atraindo e a segui até você.

— Seu livro está bem guardado, devolverei assim que me recuperar do que seja lá o que eu tenho.

— E seu comentário oportuno me leva ao segundo motivo por qual vim falar com você agora que está adormecida. Aquele Livro não me pertence mais, ele agora é seu.

— Que? Mas é uma relíquia de sua família e você disse que ia destruí-lo ou vai.

— Não sou eu quem controla a magia do livro, às vezes acho que ele tem vontade própria. Você o consegue ler?

— Sim, as palavras parecem se traduzirem para meu idioma... oh!

— Exato. Se quiser destruí-lo é bem fácil, jogue-o na água. É sério. A magia de meu povo é muito frágil e por água não existir em meu mundo acaba se tornando uma arma letal contra nós. Eu não recomendo que o destrua, á menos que seja a sua última opção em algum caso de emergência sobrenatural.

Crível. Bonnie se lembrava de como uma simples chuva afetava a ruiva.

— E Q’rey? Vai leva-lo de volta?

— Não quero, nem posso. Disse que o prendeu, garanta que ele nunca se liberte.

— Não vai, pelo menos não sem ajuda de fora. As pessoas gostam de poder e muitas não ligam para o como conseguem.

Mina entendia, e puxou um fio de seu cabelo afogueado o sacudindo no ar. Quando parou tinha em mão um fitilho de cor verde-radioativo que entregou para a bruxa negra.

— Se precisar de ajuda é só queimar isso que eu virei o mais rápido possível, se não vir é por que estarei eu em apuros.

— Espero realmente nunca precisar – comentou a bruxa enrolando o fitilho no dedo.

— Agora a outra razão por qual estou aqui. Seu estado de coma.

— Estou em coma?

— Sim, bateu o carro logo depois de ter uma lipotimia... des-maiar. Hoje é quinta-feira, está dormindo á 78 horas e 47 minutos.

Essa informação deixou a bruxa nervosa. Estava em coma.

— Preciso acordar.

— Vai acordar, quando for a hora. Enquanto não acontece, vou te contar uma história sobre minha família. Meu bisavô, Rei de Taan, criou o Livro Luz, todos os grandes feitiços reunidos em um só volume blá, blá, blá... ele tinha dois netos, Telloc e Azura. Antes de ser nomeado Rei, Telloc se casara com Absol por quem era loucamente apaixonado. Tão loucamente que quando a rainha morrera no parto de seu primogênito, Telloc ousou burlar as leis do espaço-tempo e voltou para antes de seu filho ser concebido e evitou todo modo que sua amada Absol engravidasse. Ela contraiu uma doença incurável e morreu pouco tempo depois dele ser coroado rei, ela viveu apenas um ano á mais do que viveria se tivesse gerado um filho. Tell nunca mais se casou ou teve filho, e eu, sua sobrinha filha de Azura, fui coroada rainha e conheci Q’rey e trouxe caos para meu mundo, o que não aconteceria se fosse o filho dele quem assumisse o trono, mas o filho tinha sido apagado. Entendeu?

— Ele realmente amava a esposa.

— Ele quebrou as regras. Usar magia para viajar de Mystic Falls para o Rio em um segundo é muito diferente de viajar para o ano passado. O máximo que se pode voltar sem causar grandes distúrbios no Tempo é onze ou doze horas. Você quando me viu disse que nos conheceríamos em mais ou menos quatro anos. Quanto tempo voltou?

— Oito – a bruxa não ia mentir, não precisava – Só que houve um incidente e só fui lembrar-me do futuro recentemente.

— Oito anos. Você não voltou no tempo usando uma máquina, mas sim usando magia. Él-Lir não voltara para a tumba, o Livro não voltara para meu mundo. Isso significa que tudo está diferente. Essas linhas em sua volta são alterações esperando ser reparadas e cada vez que uma mudança ocorrer seu corpo vai sofrer o impacto. É melhor se acostumar com os desmaios, convulsões, esquecimentos temporários, confusão e mudanças de humor.

— Não pode fazer nada para impedir isso? Voltar para o futuro?

— Isso não é magicamente possível, aquela linha do tempo não existe mais.

— Quanto tempo isso vai durar? As crises e o realinhamento?

— Telloc não voltara um ano completo e passara quase três décadas sofrendo colapsos ocasionados pela tentativa de salvar alguém cujo destino era morrer jovem. Quem foi que você tentou salvar para ficar nesse estado?

— A irmã de um amigo. Ela deveria morrer nas próximas semanas, mas a mandei para longe de Mystic Falls.

— Alguma chance dessa irmã-de-um-amigo sofrer um acidente fatal?

O tom da ruiva deixava claro que com “sofrer um acidente” ela queria dizer “provoque um acidente”. Sim, a bruxa podia cuidar para que isso acontecesse. Era só ligar para Enzo e dizer que tinha mudado os planos, mate a Vicki e está livre. Mas não podia fazer isso com Matt.

— Não vou mata-la.

— Tudo bem. Sei que é tentador ter o conhecimento para mudar toda uma história, ainda que a magia do tempo só permita que retorne para seu passado, mesmo assim, saber que pode salvar vidas... A tentação é um bichinho teimoso que sempre ataca quando menos se espera. Aprenda a ignorar os impulsos heróicos, e não interfira em assuntos da morte.

— Foi só desta vez, não farei de novo.

— Mentirosa – disse a ruiva acusadora – Na primeira oportunidade que tiver de fazer uma besteira para mudar um acontecimento trágico, o fará.

Bonnie teve uma ideia repentina e agradável.

— Não poderei fazer besteiras se não me lembrar. Esquecer tudo o que vivi na outra realidade. Pode apagar minhas lembranças?

— Claro que posso, sou Lumina Aurië. Contudo, não farei isso e recomendo que não o faça.

— Por quê? Vai ser mais fácil lidar com tudo sem me lembrar de coisas que só aconteceram em um futuro que não vai existir. Vai impedir esse efeito borboleta que me causará tanto mal.

— Uma ova que vai. Você já mudou um bocado de coisas salvando a irmã-de-um-amigo. Suponha e imagine. Noutra realidade ela estava morta e uma pessoa atrasada usou um táxi para chegar ao seu destino, nesta realidade ela está viva e pegou o táxi uma esquina antes do desconhecido atrasado. O desconhecido não chegou á tempo para sua importante reunião, perdeu um contrato milionário e seu chefe o demitiu, em casa sua esposa informa que o filho está doente e os remédios custam caro, para salvar o menino ele vende seus bens e contrai dívidas que o levam á falência. O taxista que levou a irmã-de-um-amigo fizera uma rota diferente do que teria feito noutra realidade e acabou se envolvendo em um acidente de trânsito, o motorista que estava no outro carro era um jogador de futebol que não usava cinto-de-segurança e ficou paraplégico, quando soube que nunca mais andaria suicidou-se, acabando com o que seria uma longa e feliz vida cheia de descendentes que agora não mais nasceriam... Uma reação em cadeia começada por uma pessoa que não devia estar viva. E todas essas vidas alteradas por causa da irmã-de-um-amigo vai espelhar no seu bem-estar, Bonnie.

— E o que isso tem haver com minhas lembranças?

— Tudo. Especialistas e Encantrizes não saberão o que tens e todos ao seu redor sofrerão ante a idéia de que sofre de um mal desconhecido. Não estou dizendo que deva sair por ai contanto a todo mundo o porquê de seus colapsos, só peço para considerar o fato de que ter consciência do por que é melhor do que ignorar.

Bonnie a encarou com seriedade, então riu. Riu tanto que os olhos se encheram de lágrimas.

— Eu não tinha a intenção de voltar tanto tempo, era a primeira vez que usava tal encantamento e perdi o controle. Eu queria voltar para o dia em que nos conhecemos, e dirigir para o mais longe possível de Mystic Falls, para um lugar onde nem você e nem Q’rey pudessem me achar. Ia evitar tantas coisas, as consequências nada significavam diante da ideia de poupar nossos mundos da destruição.

Mina piscou surpresa. Ia indagar sobre “poupar nossos mundos da destruição”, mas reconsiderou. Não saber ás vezes era melhor que saber, ainda que estivesse tentado convencer a bruxa-humana do contrário.

— Já falei o que vim á falar, agora voltarei para meu posto de rainha. Se precisar de mim sabe como me chamar. Até um dia, Bennett Bonnie.

E como de costume a elfa entrou em combustão e desintegrou-se em cinzas. Bonnie recostou-se no travesseiro mirando o teto branco. Estava em coma e a presença de Lumina não servira para nada além de deixa-la confusa e assustada. Por que ela tinha de querer mudar as coisas? Ela tinha Damon e Caroline, eles aprenderiam a conviver com a perda de Stefan e reconstruiriam Mystic Falls. Uma cidade-fantasma para seres sobrenaturais, como ela um dia em um futuro não existente ousara imaginar.


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