Desejada escrita por Lena Lestrange


Capítulo 2
Segunda Parte - Harry


Notas iniciais do capítulo

Música. Cloves - Don't Forget About Me.
O capítulo não foi revisado/betado. Peço desculpas desde já por qualquer erro encontrado.



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If I fall, can you pull me up?
Is it true, your watching out
And when I'm tired, do you lay down with me?
In my head so I can sleep without you?

 

Você pode ouvir as minhas lágrimas?

Você pode ouvir as batidas do meu coração gritando o seu nome?

Você pode ouvir a minha alma quebrando?

Você pode ouvir, Gina? Você pode ouvir a minha dor em ter que me separar de você e fazê-la pensar que estou morto?

Espero que não.

Espero que você seja feliz. Que encontre um homem capaz de fazê-la sorrir todos os dias. De amá-la como você merece. De tornar todos os seus sonhos em realidade. Porque eu teria feito isso, ruiva. Eu teria ido buscar todas as estrelas do céu que você quisesse, teria desenhado o seu nome na Lua. Eu teria abraçado o Sol se você me pedisse.

Porque tudo o que eu sempre quis foi você.

E agora estou abrindo mãos disso.

Do meu amor.

Do meu sonho.

De nós.

E caso Deus tenha um dia piedade da minha miséria, ou que a esperança se torne finalmente algo alcançável para mim, espero que você se lembre de mim. Porque se você se esquecer do nosso amor um dia, Gina, essa seria a minha verdadeira morte.

Hey, hey
Without you there's holes in my soul
Hey, hey
Let the water in

Where ever you've gone?
How, how, how?
I just need to know
That you won't forget about me

Where ever you've gone?
How, how, how?
I just need to know
That you won't forget about me

Eu observava as gotas da chuva deslizando pelo vidro da janela do meu quarto no hospital. Estava sentado em uma cadeira dura, a roupa branca pinicando minha pele onde as ataduras que escondiam as queimaduras não estavam.

Um raio azulado cortou as nuvens de tempestade, o som ecoando com uma força que apenas a fúria da natureza era capaz de possuir. E por um breve momento, senti aquela explosão rouca retumbando em meu peito.

Eu queria gritar, quebrar qualquer coisa ao alcance das minhas mãos. Eu queria correr em direção a mulher que meu coração chamava, mas tudo o que meu corpo inútil era capaz de fazer, era de ficar ali, sentado em uma cadeira e me fazendo ficar olhando a chuva.

A única coisa que me aliviava era o conhecimento de que Gina provavelmente estava fazendo a mesma coisa. Ela tinha uma fascinação encantadora pela chuva, pelo barulho e pelos relâmpagos. Talvez ela fosse a única garota que eu conhecia que seria tola o suficiente para dançar na chuva enquanto a natureza castigava o mundo.

Alguém bateu na porta do meu quarto, uma rotina comum no último mês. A única diferença era que eu não estava mais na cama, vegetando.

 - Olá Harry.

Não respondi ao cumprimento, apenas permaneci olhando para a chuva, tentando não perder o que faltava da minha sanidade.

Os passos de Rony soaram atrás de mim antes que ele aparecesse na minha frente. Seu cabelo ruivo estava bagunçado, como se ele tivesse passado a mãos pela cabeça de forma nervosa. Seus olhos castanhos estavam tomados por um brilho de preocupação... e pena. O que era uma merda.

Eu não precisava da piedade de ninguém. Já bastava a minha culpa me corroendo e me empurrando cada vez mais para o fundo do poço.

— O que você está fazendo aqui? – finalmente perguntei.

Rony suspirou.

— Eu queria ver como você estava.

— Mas é claro... – ergui meu rosto, deixando que a claridade do abajur iluminasse a parte do meu rosto que estava completamente desfigurada. Rony estremeceu diante da visão. Eu teria sorrido com escarnio se a pele esticada do meu maxilar permitisse uma mobilidade maior dos meus lábios. – O que acha? Como estou?

— Harry...

Abaixei meu rosto, escondendo a face horrorosa.

— Se você já viu o que queria, dê o fora. Estou respirando e pretendo me manter assim, caso esteja se perguntando se estou parado aqui pensando se irei ou não pular a janela.

Eu não precisei encarar o meu melhor amigo para saber que ele estava fitando o espaço vazio que antes estava a minha perna direita, e a pergunta muda de como eu iria até a janela caso estivesse mesmo considerando o suicídio. Com certeza, saltitar pelo quarto não era uma opção inteligente. Eu estava tão fraco e vulnerável quanto um recém nascido.

Voldemort fez questão de me enviar para o inferno. Mas estávamos em infernos diferentes. Eu ainda estava no mundo real, tendo que lida com a minha nova realidade, enquanto o filho da puta estava queimando no único lugar em que merecia estar há muito tempo.

Minha cicatriz não estava doendo, o que era um bom sinal. Eu finalmente poderia seguir em frente sabendo que minhas dores de cabeças não seriam mais causadas pelo desejo irreverente de alguém tentando me matar.

Qualquer dor que eu viesse a sentir agora poderia ser facilmente tratada com algumas aspirinas. Ou o que quer que as pessoas comuns usavam para lidar com essas merdas. O problema é que eu teria que me preocupar com outras dores. E outras cicatrizes.

Rony deu um passo em minha direção, sua mão parando a alguns centímetros do meu ombro, mas ele recuou, parecendo se lembrar que aquele ombro estava enfaixado e em carne viva pela queimadura.

— Eu sei que está sendo difícil para você – meu amigo começou a dizer, sua voz solenemente calma. O que serviu para me deixar ainda mais irritado. – Mas você não é o único que está sofrendo.

— Cada um tem a sua própria dor para lidar, Rony. Neste momento, não estou me importando muito com a sua necessidade de chorar no meu colo.

— Você não está morto.

— Eu me sinto como se estivesse – rosnei. – Olhe para mim, porra. Nem mesmo os melhores curandeiros conseguiram encontrar uma forma de fazer a minha pele regenerar. Eu vou ficar assim, Rony. Pelo resto da minha vida. O que acha que os tabloides irão dizer? O Menino que Sobreviveu, tornou-se o Menino Manco que foi Queimado Vivo.  

— É com isso que você está se importando? O que a mídia irá dizer de você? – raiva respingava de suas palavras.

— O que você acha que irá acontecer com a Gina caso ela saiba o que aconteceu comigo? Você acha mesmo que os jornalistas irão deixa-la em paz? Ela será considerada a maior oportunista do mundo mágico por estar ao lado de alguém como eu agora. Ela será motivo de chacota!

— Por que não a deixa decidir isso? Tem ideia do estado que a minha irmã está agora? Gina não come e não sai do quarto há semanas. Tudo o que ela faz é ficar deitada na maldita cama, abraçada a uma fotografia sua como se pudesse trazê-lo de volta!

Uma raiva avassaladora atravessou meu corpo, atingindo cada um dos meus ossos, e antes que pudesse me conter, ergui novamente o rosto para encarar Rony.

— OLHE PARA O MEU ESTADO! – Gritei. A dor do esforço rasgando a minha garganta. – Mesmo se ela soubesse que estou vivo, é esse tipo de vida que você quer para a sua irmã, Rony? Ela é jovem, tem um futuro brilhante pela frente, e você quer vê-la abrindo mãos de tudo isso para cuidar de um invalido? Eu não posso sair de dia, não posso andar, e nem os curandeiros me deram a certeza ainda se serei capaz de ter filhos! Sua irmã viveria na miséria ao meu lado, eu a destruiria.

A piedade nos olhos de Rony foi consumida por uma ira que se igualava a minha. E sem o menor cuidado, ele avançou sobre mim, curvando-se de modo que seu rosto ficasse a centímetros do meu.

— Você já está a destruindo, Harry – ele sussurrou entre os dentes. - Viver ao seu lado, não importa o estado em que esteja, já seria tudo para Gina. Porque você era o mundo da minha irmã. Ela te ama o suficiente para aceitar qualquer coisa que você esteja disposto a oferecer. Ela iria aceitar cada pedaço quebrado seu. O problema é que você não está conseguindo lidar com essa merda, e em vez de pedir ajuda, está escolhendo agir com um covarde e mentir para toda a minha família de que está morto. E arrisco a dizer que se eu não tivesse te encontrado, você teria mentido para mim também.

— Eu não pedi que você me resgatasse daquela casa em chamas.

— Foda-se – Rony se ergueu. – Apenas vá se foder. Estou tendo que olhar para os olhos tristes da Hermione todos os dias e permanecer calado, sabendo que eu poderia fazer a dor que ela está sentindo, passar. Mas eu permaneço em silêncio, porque essa é a sua vontade, e estou respeitando isso. Mas eu juro por Deus Harry, ouse ser ingrato comigo novamente, e irei a cada fodido jornal que conheço e direi a verdade, e ainda levo uma foto sua!

Abaixei a cabeça, vergonha assolando-me.

Eu sabia que Rony também não estava passando por um bom momento, ainda mais que tinha finalmente pedido Hermione em casamento. Eles não poderiam fazer a cerimonia agora em respeito à minha morte. Ele estava sacrificando a própria felicidade para me ajuda, e tudo o que eu podia oferecer era raiva, rancor e ódio.

Suspirando, voltei a encarar a chuva.

 - Vá embora, Rony. Não há mais nada que você possa fazer por mim.

Tirando algo de dentro do sobretudo, Rony colocou um envelope no patamar da janela.

— Vim trazer a data do seu velório – anunciou, amargo. - Parabéns, Harry. Você conseguiu o que queria, e agora está morto para todos nós.

E sem mais uma palavra, ele saiu.

O silêncio do quarto me comprimiu, sufocando-me como se mãos estivessem se fechando entorno do meu pescoço. Cerrando os punhos, ignorando a dor em minhas articulações por estar forçando a pele queimada, tentei manter minha respiração controlada, ao mesmo tempo em que tentava ignorar a forma como meu coração parecia estar desfalecendo.

A forma como o mundo havia perdido completamente o sentindo desde que Gina não estava mais ao meu lado.

A forma como mesmo vivo, eu estava me sentindo morto por dentro. Oco. Vazio.

Solitário.  

Lost through time and that's all I need
So much love, then one day buried
Hope you're safe, cause I lay you leaves
Is there more than we can see?
Answers for me

And hey, hey
Without you there's holes in my soles
Hey, hey
Let the water in

Where ever you've gone?
How, how, how?
I just need to know
That you won't forget about me

Ela não havia ido ao meu velório, mas ela estava aqui agora. Precisou de um ano inteiro para que Gina conseguisse dar os primeiros passos para a sua nova vida. Uma vida que eu não faria parte.

A visão dela percorrendo o gramado do cemitério, usando um vestido preto e um casaco vermelho por cima arrancou completamente o meu folego. Ela estava ainda mais linda do que em minhas lembranças. O rosto sereno, os lábios curvados delicadamente em um sorriso genuíno, os olhos brilhantes.

Ela carregava um buque de flores que deixou em meu tumulo assim que o alcançou.

Meus olhos capturaram cada um dos seus movimentos. Senti suas lágrimas atingindo meu peito como facadas. E ouvi cada uma de suas palavras como se fosse a música mais linda do mundo.

Após um ano de fisioterapia e de longas sessões dolosas de cuidados, a pele do meu corpo havia cicatrizado, mas oitenta por centro do meu corpo estava coberto por uma superfície rugosa, áspera e visivelmente repudiante.

Metade do meu rosto também estava destruído. Era um milagre que não tenha ficado cego. Um dos lados do meu lábio parecia congelado para cima, dando-me um aspecto grotesco. Meu cabelo havia crescido graças alguns cremes, ocultando a rede de cicatrizes no meu couro cabelo, mas era possível senti-las com as pontas dos dedos.

Eu usava uma prótese na perna que fora amputada, mas ainda não conseguia manter o equilíbrio, o que me obrigava a andar com ajuda de uma bengala.

Uma brisa balançou o topo das arvores, e fez com que alguns fios vermelhos do cabelo de Gina se movessem ao redor de seus pequenos ombros. Senti minha mão coçar para ir até ela, e afastar aqueles fios de seu rosto, colocando-os atrás de sua orelha.

Minha necessidade de sentí-la era tãopoderosa que quase me colocou de joelhos. Eu precisava sentir o calor de sua pele, suas curvas perfeitas contra o meu corpo aleijado. Respirar seu perfume. Experimentar pela primeira vez o gosto de sua boca. 

Mas tudo o que me restava agora eram sonhos. Imagens irreais dela curvando-se sobre mim, levando-me para dentro de seu corpo. Seu rosto corado de prazer. Suas unhas fincando contra minhas costas enquanto a penetrava cada vez mais profundamente. Mais forte. Unindo nossos corpos até o ponto em que não saberíamos dizer onde um começava e o outro terminava.

Balancei a cabeça. Despertando-me. 

Apoiado contra a árvore, escondido o máximo possível, a vi levantar-se e então começar a percorrer o caminho que tinha feito anteriormente.

Olhei para suas costas, seu casaco vermelho esvoaçando.

Contei seus passos. Quarenta e dois. Essa era a distância que tínhamos um do outro agora.

Tão perto e ao mesmo tempo tão longe. 

A vi partindo, e não fiz nada. Apenas continuei vendo a mulher que amava indo embora. Indo para longe de mim, e  caminhando em direção a um futuro que eu não faria parte. 

Aquele era o nosso fim.

— Adeus, Gina.

Aquele era o meu fim. 

Where ever you've gone?
How, how, how?
I just need to know
That you won't forget about me

And I get lonely without you
And I can't move on
And I get lonely without you
I can't move on
Move on

Where ever you've gone?
How, how, how?
I just need to know
That you won't forget about me


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Notas finais do capítulo

Olá gente.
Espero que estejam gostando a história. Hoje tivemos a parte do Harry, e semana que vem, posto a terceira, e última parte dessa história super curtindo.
Muito obrigada pelo carinho.
Um beijão.



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