Eu gostaria de ter tido a oportunidade de fazê-lo mais feliz. De ter demonstrado mais vezes o quanto meu coração batia alegremente contra meu peito quando ele estava por perto. Tudo o que eu precisava era daquele sorriso de menino tímido e dos suaves toques calorosos contra minha pele quando ele tomava coragem para se aproximar o suficiente de mim.

Nós nunca tivemos a chance de sequer começar algo. Eram apenas trocas de olhares e um desejo que parecia queimar dentro de nós cada vez mais forte.

Mas ele nunca deu um único passo em minha direção com a intenção de me tomar. Eu me sentia indescritivelmente desejada apenas com a intensidade de seus olhos verdes sobre mim, e isso era o suficiente para acalentar a minha ansiedade de fazer a nossa platônica situação tomar um rumo mais profundo.

Estávamos tão concentrados na guerra que não tivemos um único segundo para sentir como seria se tivéssemos parado de resistir e nos entregado loucamente a esse amor que nos guiava em direção um ao outro.

Meu caminho sempre se cruzava com o dele, mas no passo seguinte, estamos nos separando novamente por uma bifurcação sem fim.

Eu desejei o Eleito

Eu sonhei com o Menino que Sobreviveu.

Eu amei Harry Potter.

You know I'd fall apart without you
I don't know how you do what you do
'Cause everything that don't make sense about me
Makes sense when I'm with you
Like everything that's green, girl, I need you
But it's more than one and one makes two
Put aside the math and the logic of it
You gotta know you're wanted too

Sentada na janela do meu quarto, observando a chuva cair, tentava entender como a vida poderia ser injusta com pessoas que sempre tentaram fazer o bem. Por algum motivo, a vida tinha uma forma injusta de sempre ferrar com qualquer um que mostrasse qualquer sinal de integridade e caráter.

O mundo não havia sido feito para receber bondade.

Ouvi a porta do meu quarto abrir e não me dei ao trabalho de olhar para saber quem estava interrompendo o meu momento nostálgico. Não havia forças suficientes no meu corpo para que eu pudesse mover um único musculo. Eu estava congelada no lugar. Parada no tempo.

Morta.

— Quanto tempo mais você vai ficar aí? – a voz do meu irmão soou antes que suas mãos repousassem sobre os meus ombros.

Suspirei, apertando o porta retrato em meu colo, onde tinha uma fotografia de Harry sorrindo e passando a mão pelos cabelos rebeldes de forma tímida. Ele odiava fotografias, mas eu precisava de algo a mais do que apenas a imagem que eu tinha dele em meu coração.  Eu precisava segurar algo para acreditar que em algum momento, ele foi real. Que nosso amor foi real.

— Quanto tempo você acha que precisamos para esquecer alguém?

Ouvi minha cama ranger, cedendo ao peso de Rony quando ele se sentou perto de mim.

— Esquecer alguém não é tão difícil quanto lembrar-se dela e não sofrer mais.

Eu teria me surpreendido pelas sábias palavras do meu irmão se não estivesse mais focada em minha própria dor, afogando-me mais a cada segundo em um precipício de solidão.

Hermione teria ficado surpresa ao saber que seu marido finalmente tivesse dito algo memorável e adulto.

Desviei os meus olhos da chuva que castigava o jardim da minha mãe e encarei a imagem feliz de Harry repousando sobre meus joelhos.

— Tenho a impressão que essa dor não vai me deixar, Ron – murmurei. - Eu não consigo respirar sem sentir meu peito doer. Eu não consigo imaginar o que irei fazer daqui para frente – meus olhos se encheram de lágrimas. Engoli em seco – Nós nunca tivemos uma única chance. Ele nunca veio para mim, e eu fui covarde para não tomar uma atitude. Acreditei que teríamos a vida inteira, mas... Isso não aconteceu.

— Gina...

— Ele não está mais aqui e eu não sei como fazer para lidar com isso. Eu não tenho nada para me agarrar, Rony. Nenhum momento nosso, nenhuma conversa em que eu dissesse o quanto o amava, o quanto esperava poder abraçá-lo fortemente e saber que ele era meu. Eu só tenho essa fotografia.

As lágrimas finalmente ganharam seu espaço, embaçando minha visão e criando longos caminhos úmidos pelo meu rosto. Elas eram intermináveis, como a corrente de uma enchente. Apenas saindo do meu corpo como uma forma visível de demonstrar o quanto minha alma estava quebrada, meu coração rasgado.

Entre soluços, tentei recuperar o folego, mas isso apenas fez com que me tornasse ainda mais patética.

Rony segurou meu braço e me puxou, fazendo com que minha cabeça repousasse contra seu peito enquanto me abraçava com força.

— Eu não sei o que dizer, irmãzinha. Apenas posso ficar aqui e oferecer todo o apoio que for preciso até que as suas feridas parem de sangrar. E elas vão parar, Gina, não amanhã, e nem no mês que vem. Mas elas vão parar de doer, irão se transformar em cicatrizes, e você passará a carregar apenas doces lembranças – sua mão começou a deslizar pelo meu cabelo, como se Rony quisesse que o seu toque fosse o suficiente para me ajudar a encontrar forças - Harry jamais ultrapassou os limites porque ele queria recomeçar a vida ao seu lado quando tudo acabasse. Ele queria começar as coisas do jeito certo, e não tendo momentos roubados quando Voldemort estivesse o caçando.  Ele sabia que você merecia um relacionamento melhor do que algo instável.

Virei o rosto e afundei o nariz contra sua camisa de algodão, tentando criar uma barreira que detivesse as minhas lágrimas. Mas elas eram intermináveis, e em questão de segundos, a camisa de Ron ficou manchada.

— Qualquer coisa teria sido melhor do que não ter nada, Rony – consegui dizer, fracamente. – Qualquer coisa que o fizesse saber que ele era amado.

— Ele sabia, Gin. Harry sabia que você o amava.

E então ficamos em silêncio, ouvido apenas o som da chuva contra o vidro da minha janela e o meu choro.

'Cause I wanna wrap you up
Wanna kiss your lips, I
I wanna make you feel wanted
And I wanna call you mine
Wanna hold your hand forever
And never let you forget it
Yeah, I, I wanna make you feel wanted

Anyone can tell you you're pretty (yeah)
And you get that all the time, I know you do
But your beauty's deeper than the makeup
And I wanna show you what I see tonight

Havia se passado um ano. E eu ainda mantinha a fotografia de Harry perto de mim.

Aprendi a seguir em frente. Foram em passos pequenos, uma vitória a cada dia. Meus irmãos sempre estavam presentes, minha mãe com o seu típico sorriso acolhedor e meu pai com os braços abertos para me acolher quando as minhas forças vacilavam.

Harry havia deixado sua marca em cada um deles. Encontrando na minha família todo o amor, apoio e carinho que lhe foram negligenciados pelos Dursleys. E ele sempre seria lembrado, não apenas como o herói que derrotou Voldemort, mas como o rapaz que tinha muito a oferecer com toda a sua bondade, coragem e determinação.

Ele teria realizado muitas coisas se estivesse vivo ainda.

— Você tem certeza? – Hermione perguntou, olhando para mim. Ela estava sentada no bando do motorista enquanto meus olhos se perdiam pelas inúmeras lajes do cemitério.

— Sim. Eu tenho – afirmei.

— Você quer que eu vá junto?

Sorri para ela e abri a porta.

— Não precisa. Eu estou bem. Não vou demorar.

— Leve o tempo que precisar – ela sorriu de volta para mim, descansando a mão em sua barriga de seis meses.

Fechei a porta do carro e caminhei pelas trilhas de pedras que guiavam os visitantes pelos túmulos. Olhei ao redor, apreciando o calor daquela tarde de primavera e as belas flores que acrescentavam cores a um cenário normalmente triste e solitário.

Harry foi enterrado ao lado de um salgueiro. Era possível localizá-lo de longe. Fui em direção a árvore, segurando um buque de violetas e pela primeira vez, sentindo-me incrivelmente leve. Como se aquele momento eu estivesse tomando a decisão certa.

Ao chegar na laje de Harry, olhei para os ornamentos delicados que enfeitavam a pedra de mármore e os dizeres discretos. Havia apenas o nome dele, sua data de nascimento e a de falecimento.

Nenhuma frase, nenhuma mensagem de adeus ou lembrete da pessoa que ele fora.

Ele não precisava disso.

Todos nós sabíamos quem ele era. Eu sabia quem Harry era.

Ajoelha do sobre o gramado bem aparado, coloquei a foto que me agarrei no último ano e sorri.

— É a primeira vez que venho te visitar. Desculpe por ter demorado tanto – comecei, timidamente. – Eu estou estudando para ser uma curandeira. Rony ficou um pouco decepcionado por eu ter desistido da minha ideia de unir-me a um time de Quadribol, mas jogar não me dava mais a mesma satisfação. Acho que só era feliz em campo quando você estava jogando comigo. Fazíamos uma ótima dupla – tossi, tentando clarear a voz. – Eu estou tentando levar a minha vida, trabalhando para ter um bom futuro. É a primeira vez que faço planos que não envolvam você. Acho que isso significa muitas coisas para alguém que passou quatro meses trancada em um quarto sem ver a luz do sol.

Uma brisa fria passou pela minha nuca, fazendo com que meu corpo se arrepiasse. Ajeitei o echarpe sobre meus ombros antes de continuar:

— Eu ainda sonho com você. Sonho como estaríamos hoje se você tivesse sobrevivido. Imagino que também estaria gravida como a Hermione. Por sinal, ela está querendo dar o seu nome ao bebê, mas Rony não concorda com isso por minha causa, achando que toda vez que for brincar com a criança, acabe caindo no choro – ri. – O que é bem provável no começo, até que eu consiga me acostumar em dizer o seu nome em voz alta novamente.

Ainda doía dizer o nome dele. Como se estivesse enfiando lentamente espinhos em meu coração. Mas as feridas não sangravam mais, pelo menos.

— Eu amo você – declarei finalmente. – Eu amo você, e sempre irei amá-lo. Não importa o que digam, e o quanto as pessoas tentem me dizer que preciso sair mais e conhecer pessoas novas. Talvez isso aconteça, eventualmente, porque tenho apenas vinte e um anos. E talvez eu deixe um cara se aproximar o suficiente, mas você sempre terá a maior parte do meu coração, Harry. Porque eu sei, com a mesma certeza que sei que preciso de ar para respirar, que você é e sempre será, o amor da minha vida. Nós não tivemos a chance de começar uma história de amor aqui, mas espero que tenhamos essa chance quando eu for encontrá-lo, onde quer que você esteja no céu.

Deixando o buque de flores sobre o tumulo, beijei os meus dedos antes de deslizá-los pela fotografia de Harry.

— Até o ano que vem, meu amor.  

E com um último olhar, fui embora, sabendo que havia tomado a decisão certa em vir visita-lo no dia do meu aniversário. Aquele encontro, era o melhor presente que eu poderia me dar.

E eu estava tão focada em apreciar aquelas sensações boas que formigavam em meu peito, que se tivesse tomado mais cuidado ou olhado para trás, teria visto a sombra de um homem surgindo de trás do salgueiro. Os cabelos negros bagunçados, os olhos verdes claros brilhando e um rosto repleto de cicatrizes.

Eu teria visto a dor em seu semblante. Seus lábios se curvando para me chamar. E sua mão apertando com força uma bengala que usava para auxiliá-lo a manter-se de pé.

Mas eu não fiz isso. Apenas segui o meu caminho até o carro onde Hermione me esperava. Acreditando que o amor da minha vida estivesse realmente morto. 

When I wrap you up
When I kiss your lips, I
I wanna make you feel wanted
And I wanna call you mine
Wanna hold your hand forever
And never let you forget it
'Cause, baby, I, I wanna make you feel wanted

As good as you make me feel (make me feel)
I wanna make you feel better
Better than your fairy tales (your fairy tales)
Better than your best dreams (your best dreams)
You're more than everything I need
You're all I ever wanted
All I ever wanted
And I just wanna wrap you up
Wanna kiss your lips, I
I wanna make you feel wanted
And I wanna call you mine
Wanna hold your hand forever
And never let you forget it
Yeah, I, I wanna make you feel wanted
Yeah, baby I, I wanna make you feel wanted
'Cause you'll always be wanted