Nada precisa ser tão difícil escrita por Liara


Capítulo 5
Voldemort parecia ter um pedido a atender


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo!



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Não era a intenção de Tiago ter mais uma noite conturbada.

Quando os aurores viram a carnificina na rua, encaminharam Pontas e Almofadinhas para o quartel no Ministério, onde eles foram interrogados à base de veritaserum. Fizeram, ainda, inspeções nas varinhas de ambos. Tendo colhido os depoimentos de ambos e constatado que nenhum feitiço que pudesse ter causado a morte daquelas pessoas havia saído de suas varinhas, liberaram-nos.

A dupla estava mortificada. Haviam presenciado uma verdadeira chacina na qual o traidor a quem procuravam parecia ter morrido. Eles apostavam mil galeões que os seus nomes estariam na primeira página da próxima edição do Profeta Diário.

Já eram seis horas da manhã quando retornaram ao apartamento. Entraram na sala silenciosamente, temendo acordar Lílian. Aquele cuidado, porém, não era necessário: a jovem estava sentada no sofá da sala, de cara sonolenta e emburrada.

Tiago e Sirius se entreolharam. O segundo deu uns tapinhas no ombro do primeiro para lhe dar forças e foi para seu quarto.

O jovem senhor Potter tentou abrir a boca para falar alguma coisa, mas não teve tempo. Sua esposa pôs-se de pé e, com um aceno de cabeça, pediu para que ele a seguisse. Não havia doçura em seu olhar. Ao invés disso, uma fúria muito grande, que fazia seus olhos se estreitarem.

Tiago seguiu a moça silenciosamente até o quarto. Assim que os dois entraram, Lílian trancou a porta do quarto, pegou a sua varinha, e, erguendo-a, disse:

— Abaffiato!

Depois, mirou o artefato na direção do berço de Harry. Agora, ela podia gritar e esbravejar o quanto quisesse; o filho não acordaria e, tampouco, Sirius ouviria.

Ao vê-la lançar aquele feitiço, Tiago coçou a cabeça e enfiou as mãos nos bolsos da calça, totalmente desconcertado. Sabia que os próximos minutos não seriam fáceis. Ele não teve coragem de encarar Lílian nos olhos e, por isso, permanecia fitando o chão, esperando por suas palavras, que não demoraram muito a sair de sua boca em um tom transtornado.

— Muito bem. – começou ela, de braços cruzados e extremamente carrancuda – Posso saber onde o senhor estava durante a noite e qual o motivo de só ter voltado para casa de manhã?

Ao escutar a pergunta, Tiago imediatamente ergueu a cabeça e a olhou nos olhos. Se ela estivesse pensando que ele se envolvera em alguma aventura extraconjugal na noite que se passara, conversar de cabeça baixa poderia deixá-la convencida de sua suspeita. E ele tinha a consciência extremamente limpa em relação a isso! Portanto, sua voz saiu tranquila ao responder:

— Lílian, eu não estava fazendo nada de estúpido. Sei que para uma mulher deve ser estranho descobrir que seu marido saiu no meio da noite, mas...

Ela respirou fundo.

— Tiago, eu não estou achando que você me traiu. Nenhum homem que pretende sair para um encontro amoroso deixa a própria carteira em casa. – disse, pegando uma carteira de couro de dragão que estava em cima de um criado-mudo e erguendo-a no ar. – Obviamente, também não deve ter sido sua intenção sair para beber. Então, diga-me: o que, de tão importante, você tinha para resolver durante a noite, para deixar a mim e ao seu filho sozinhos em casa, depois de tudo o que aconteceu?

O rapaz voltou a encarar o chão. Não escaparia de um sermão de Lílian se contasse a verdade. Ela com certeza acharia a ideia totalmente estúpida! O que poderia dizer? Pense, Tiago, pense...

— Você foi atrás de Pedro, não foi?

Tiago ergueu a cabeça, deixando o queixo cair. Como Lílian descobrira?

Como se tivesse lido a mente dele, ela continuou:

— Para dois vingativos, você e Sirius estavam quietos demais.

Ele sentiu-se ofendido.

— Ei! Não somos vingativos! Somos Marotos! – falou, tentando descontrair o ambiente.

Lílian, que parecia prestes a explodir em lágrimas a qualquer momento, respondeu, encolerizada:

— Esse é o seu problema, Tiago Potter! Você acha que tudo na vida se resume a uma marotagem, não é? Mas abra bem os ouvidos para escutar o que eu tenho para te dizer: a vida não é uma brincadeira! Você não é mais um adolescente protegido pelos muros de Hogwarts! Você agora é um homem casado, um pai de família e tem um filho pequeno que depende de você! Pedro Pettigrew passou informações suas para um assassino que queria aniquilar a todos nós! Ir atrás dele não é o mesmo que vingar uma mera azaração! Nosso mundo estava em guerra, Tiago! Guerra! Você sabe o que isso significa?

— É claro que sei o que isso significa, Lílian! – retrucou ele, aos brados, gesticulando demasiadamente – Pensa que eu não senti o efeito de toda esta loucura? Caso você não se lembre, eu integro a Ordem da Fênix. E sabe por que faço isso? Porque tenho plena ciência da gravidade de tudo o que estava acontecendo! Sei o quanto é necessário lutar contra o mal no qual o nosso mundo está imergindo. Não, eu não estava no meio do fogo para brincar! E assim como você, eu passei os últimos dias preocupado com a possibilidade de o meu filho de um ano ser assassinado por um bruxo impiedoso. E depois de quase perder a minha vida e a minha família, Lílian, depois de descobrir que fui traído repugnantemente por um dos meus amigos mais achegados, ir atrás de Pedro Pettigrew não me pareceu nenhuma brincadeira de criança!

Ele olhou para a esposa. Caminhos de lágrimas marcavam o rosto de Lílian e ela o olhava de um jeito meio irado, meio assustado. Tiago suspirou e abaixou a cabeça.

— No fim das contas, você nunca mudou sua opinião sobre mim, não é mesmo?

Lílian balançou a cabeça afirmativa e freneticamente.

— Claro que mudei, Tiago!

Ele balançou a cabeça negativamente.

— Não, não mudou. Se tivesse mudado, jamais diria que eu estou agindo como uma criança imprudente, quando na verdade, Lily, eu estou fazendo de tudo para garantir a nossa segurança.

— Ah, e é assim que você deseja garantir a nossa segurança? – ela indicou Harry com um aceno de cabeça - Nos deixando sozinhos no meio da noite para ir atrás de um provável Comensal da Morte? Se colocando em risco, Tiago?

Tiago encarou outro ponto qualquer do quarto, parecendo pensativo. Lílian prosseguiu:

— Eu poderia ter te perdido, Tiago! – berrou ela, as lágrimas voltando a cair copiosas de seus olhos.

— Oh, Lílian! Não! – murmurou ele, indo ao encontro dela. Ele abriu os braços e ela lançou-se neles, sentindo-se ser aninhada contra o corpo do marido. – Não! Você não vai me perder! Não chore! Eu estou aqui! Estou aqui!

Lílian respirou fundo, tentando acalmar-se.

— Vocês o acharam?

— Sim, achamos.

— E o que aconteceu?

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TRAIDOR DOS POTTER MATA 12 EM RUA TROUXA E SE MATA EM SEGUIDA

Mais uma notícia acerca da família Potter abala o mundo bruxo. Desta vez, o ocorrido envolveu, além do pai do Menino Que Sobreviveu, dois de seus amigos mais próximos e doze pessoas totalmente inocentes no caso, todas trouxas.

Enquanto a comunidade bruxa ainda comemorava o fim da guerra que abalou a sociedade e cujo fim foi provocado por Harry Tiago Potter, o pai e o padrinho do menino, Tiago Potter e Sirius Black, respectivamente, decidiram ir atrás de um dos amigos mais próximos da dupla, o bruxo Pedro Pettigrew. O motivo da perseguição seria um acerto de contas, visto que Pettigrew era o Fiel do Segredo da família Potter, cuja casa foi invadida por Você-Sabe-Quem, na noite do último dia 31.

Os senhores Potter e Black encontraram o homem e, segundo o depoimento prestado por ambos ao Ministério, ao ver Sirius, Pedro gritou a plenos pulmões que ele havia traído a família de seu melhor amigo. Tiago, que até então estava escondido, revelou-se e o confrontou, deixando Pettigrew bastante confuso. A confusão, porém, não passava de um disfarce: com um feitiço não-verbal, Pedro explodiu a rua, o que levou doze trouxas à morte, além dele mesmo.

Neste momento, apareceram na cena aurores, membros do Esquadrão de Execução das Leis da Magia, e o ministro júnior do Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas, Cornélio Fudge. Antes que o funcionário pudesse modificar as memórias das testemunhas trouxas, as mesmas se anteciparam em dizer que o acusado possuía uma varinha escondida às costas. Fudge disse, em entrevista ao Profeta Diário:

— Sirius Black agia de uma maneira anormal, como se achasse tudo muito cômico. Ficava parado ali, ao lado de Tiago Potter, dando gargalhadas diante do que restava de Pettigrew... um monte de vestes ensanguentadas e uns poucos, uns poucos fragmentos. – o único vestígio encontrado de Pedro foi um dedo.

Suspeitando-se do envolvimento de Potter e Black nas mortes, os membros do Esquadrão de Execução das Leis da Magia, juntamente com os aurores, os encaminharam para o Ministério, a fim de colher depoimentos de ambos. Não se sabe detalhes do que aconteceu a partir deste momento, mas o chefe do Esquadrão confirmou a nossa equipe que ambos são inocentes. “Foram ouvidos, fizemos todas as investigações e podemos inocentá-los com toda a segurança. De qualquer forma, não há nenhuma explicação cabível para que um dos dois tenha participado da chacina”.

Quais serão os próximos capítulos da história que envolve a Família Potter e outras figuras proeminentes do mundo bruxo? Aguardamos ansiosamente para descobrir.

— Vocês se metem em cada uma, hen? – reclamou Lílian, ainda observando a notícia, que trazia a fotografia de uma rua repleta de corpos.

Sirius olhou na direção oposta à moça e girou os olhos e Tiago, fingindo que não escutara, começou a brincar com as mãozinhas de Harry, que tentava agarrar os óculos do pai.

Após alguns minutos de silêncio, o rapaz declarou:

— Eu espero imensamente que este tenha sido o último capítulo desta história.

Sirius voltou a olhar na direção dos amigos, sacudindo a cabeça negativamente.

— Seria bom, meu caro Pontas, mas acho que isso ainda vai render e muito.

Tiago sacudiu a cabeça em concordância.

— Só tem uma coisa que não ficou clara para mim nessa história toda... – disse Lílian, pensativa.

— Olha, Lily, isso não está claro para ninguém, ainda. Sabemos que a profecia falava que alguém seria capaz de derrotar Voldemort, e tal e coisa, mas acho que ainda vai demorar um pouco para entendermos como o porco-espinho mirim ali conseguiu mandar o cadavérico para onde Merlin perdeu a capa e...

Tiago sabia que ao chamar Harry de porco-espinho mirim, Sirius fazia alusão aos cabelos espetados do garoto, idêntico aos do pai e, por isso, lhe lançou um olhar nada amigável. Mas não teve tempo de revidar e chamá-lo de sarnento ou perguntar se o amigo já havia se curado do calazar; a voz de Lílian fez-se ouvir novamente.

— Não é nisso que estou pensando, Si. – respondeu ela – É que, na noite em que fomos atacados, aconteceu uma coisa muito estranha.

Sirius juntou a sobrancelha ao olhar para ela.

— Coisa muito estranha? O que aconteceu?

— Bem, Si... Pouco antes de atacar Harry, Voldemort disse que não seria necessário que todos morressem naquela noite. Além do nosso filho, ele mataria “só” mais uma pessoa...

— Caramba... – murmurou Tiago – No meio de toda essa agonia, acabei esquecendo desse detalhe.

Sirius parecia não acreditar no que ouvia.

— Esperem aí... Vocês estão me dizendo que Voldemort deixaria um de vocês vivo?

— É o que parece. – afirmou Tiago, coçando o queixo, o olhar distante – Até me lembro que, antes de lançar o feitiço em Harry, ele disse que, antes de matar esta segunda pessoa, nos daria o prazer – ele cuspiu a palavra com o maior asco e desprezo do mundo – de ver o nosso filho morrer. Você percebe, Sirius? Esta segunda pessoa. Esta... – insistiu ele – Do jeito que falava, parecia que ele sabia muito bem quem pouparia naquela noite.

Sirius tinha uma expressão indignada, mas ao mesmo tempo confusa no rosto.

— Mas, por que, centauros mancos, ele pouparia um de vocês?

Lílian mordeu o lábio.

— Talvez pouparia Tiago por ser sangue puro.

Por alguns instantes, o senhor Potter permaneceu em silêncio, os olhos estreitados. Pensava, tentando achar um sentido para aquilo. Voldemort poderia poupá-lo por ser sangue puro? Talvez. Mas o jovem achava isso improvável depois de desafiá-lo três vezes e deixar claro que jamais apoiaria as suas insanidades. Principalmente por ele ser o pai da criança que colocava em risco seu poder. E, se Harry já estava predeterminado para morrer, a segunda opção seria Lílian. Mas por que Voldemort a pouparia também, se ela era, segundo ele próprio, uma sangue-ruim? Por que teria compaixão de Lílian? De acordo com os ideais lunáticos dele, ela era exatamente o tipo de pessoa que ameaçava a pureza do povo bruxo. E ela, assim como Tiago, era responsável pelo nascimento do menino que o levaria a derrota. Além disso, era também membro da Ordem da Fênix e havia o enfrentado. Não fazia o menor sentido! A não ser que...

— A não ser que ele estivesse atendendo a um pedido muito especial. – concluiu Tiago, repentinamente.

— O que você quer dizer? – quis saber Lílian.

Tiago soltou um sopro e balançou a cabeça.

— Nada não. Esquece.

Tiago sentiu-se grato quando a campainha tocou, pois, pela expressão de Lílian, ela já se preparava para insistir que ele explicasse a sua conclusão.

— Eu atendo! – antecipou-se ele, deixando Harry nos braços de Sirius e indo até a porta.

Antes de girar a maçaneta, ele espiou pelo olho mágico, que para ele e Sirius, não tinha absolutamente nada de mágico. E, ao ver um jovem de cabelos castanhos claros salpicados por alguns fios brancos, olhos castanhos, marcas de arranhões no rosto e vestes surradas, ele abriu um sorriso de orelha a orelha.

Mal a porta foi aberta, e o recém-chegado, ao ver o rapaz de cabelos espetados, lançou-se sobre ele, em um abraço apertado e fraterno. Parecia que ele temia soltar o amigo e vê-lo desaparecer.

— Pontas! Ah, meu chapa!

— Aluado, meu lobo adorado! Achei que abandonaria a mim e a minha família neste mundo frio com um cachorro motoqueiro!

— Ah, para de brincadeira, seu cacto ambulante! – retrucou ele, bagunçando os cabelos de Tiago ainda mais. Ele interrompeu o abraço e olhou o amigo no fundo dos olhos: - Eu me senti horrível quando soube que Voldemort invadiu a sua casa. E me senti pior ainda porque o demente que me deu a notícia não soube dizer se houve ou não sobreviventes. Mas, graças à Merlin, o Profeta Diário existe. E foi por meio dele que soube também que Pedro nos traiu. – Remo Lupin olhou na direção de Sirius e, suspirando, murmurou: - E pensar que eu cheguei a achar que o espião era outra pessoa.

Tiago fechou a porta atrás deles. Ambos foram em direção à cozinha, onde Sirius e Lílian ainda permaneciam sentados à mesa. Ao ver Remo, a jovem levantou-se e correu ao encontro dele.

— Ah, minha garota! – gritou ele, suspendendo Lílian e a girando. – No bom sentido, certo, Pontas? – avisou, olhando para o marido de Lílian por cima do ombro da moça.

— Está mesmo a fim de ficar com o olho roxo, não é? – respondeu ele, em tom de brincadeira.

Sirius levantou-se, um tanto desconcertado. Passou por Tiago e entregou Harry a ele. O bebê, notando a presença de Remo, esticou os bracinhos para o rapaz, mas o pai sabia que aquele não era um bom momento para brincadeiras. Ao ver quem caminhava em sua direção, Remo colocou Lílian no chão. A moça virou-se e viu Sirius e ela pode jurar que ele estava disfarçando a sua insegurança. Com uma expressão que denotava compreensão, ela dirigiu-se ao marido, prostrando-se ao lado dele. Ambos observavam o desenrolar da cena um pouco tensos. Durante a guerra, antes de eles precisarem se esconder, eles assistiram a amizade de Black e Lupin passar por uma fase turbulenta. Um desconfiava do outro e, agora, percebiam que durante todo este tempo, lutavam pelo mesmo ideal.

Os dois se abraçaram. Não o abraço escandaloso de Remo e Tiago. Foi um abraço calmo, porém terno e verdadeiro.

— É possível que em uma amizade verdadeira haja espaço para desconfianças? – cochichou Sirius no ouvido de Remo.

— Desconfianças são irrelevantes quando há ainda mais espaço para o perdão. – respondeu Remo no mesmo volume.

E, então, o abraço se tornou ainda mais apertado. Jamais guardariam qualquer tipo de ressentimento pelo outro. Remo amava aquele rapaz que, mesmo sabendo que nas noites de lua cheia ele virava um monstro, sempre o apoiou e ofereceu a mão. E Sirius também amava o jovem que era o equilíbrio do grupo, a consciência. Não viviam dizendo isso um para o outro, mas... Como poderiam deixar uma amizade como aquela se dissolver por conta das tensões da guerra?

— Vamos deixá-los conversar um pouco. – sussurrou Tiago para Lílian. E a família foi para o quarto.

Remo e Sirius se jogaram no sofá displicentemente, como faziam no seu período em Hogwarts. Eles riram.

— E aí? Conseguiu resolver os assuntos da Ordem? – perguntou Sirius, ciente de que o outro acabara de voltar do norte da Inglaterra, em missão para a Ordem da Fênix.

— Sim, e foi tudo ocorreu bem. Melhor ainda foi voltar sabendo que a guerra havia terminado...

— Soube de Pedro, não soube?

— Sim, e não tenho como descrever minha decepção. Mas, Almofadinhas... Este tempo todo eu acreditava que você fosse o Fiel dos Potter!

Sirius sacudiu a cabeça.

— Tudo não passou de um mero blefe. Nem Dumbledore sabia. E aí entregamos o ouro para o bandido!

— E agora ele está morto...

— É, meu chapa... Morreu como o covarde que ele foi...

— Vamos mudar de assunto? Quero falar de outra coisa que não seja aquele crápula...

— Vamos lá. Já se acomodou em casa?

— Ainda não desfiz as malas, se é o que você quer saber. Deixei-as em casa e vim direto para cá.

— Sabia que os Pontas estariam aqui?

— Para onde mais eles iriam quando a casa dele fosse totalmente destruída?

Eles riram mais uma vez.

— Mas também vim porque precisava falar contigo. Por fim a esse mal entendido.

— Tudo bem, camarada. Estamos em paz novamente.

Ficaram em silêncio por um tempo, até Remo dizer:

— Confesso que estranhei minha casa quando cheguei. Sei lá, sabe? Acho que as últimas notícias me deixaram um pouco aéreo.

— Por que não fica aqui por um tempo?

— A casa já não está muito cheia?

— E desde quando isso é problema para Marotos baderneiros? Vamos! Você pode ficar no meu quarto. Como nos velhos tempos!

— Não sei se é uma boa ideia... Você sabe do meu problema... Tiago está aqui, com sua família... Um lobisomem, perto de um bebê...

— Ah, qual é Aluado? Ainda faltam cinco semanas para a lua cheia! Daqui até lá, Tiago e Lílian já vão ter arrumado uma casa. E, mesmo se isso não acontecer, eu não vou deixar você se transformar aqui dentro e quebrar a mobília que eu comprei com o suor de tio Alfardo, que os Black sempre se lembrem de sua alma caridosa!  - falou Sirius, deliciando-se em sua ironia, ao lembrar-se do tio que deixara uma grande herança ao falecer e que, por isso, muito havia irritado o resto da família - E de qualquer forma, você não vai morder Harry, vai?

Remo riu.

— É ridículo da minha parte achar que vou oferecer risco a uma criança fora da lua cheia, não é?

— Ridículo você sempre foi e é por isso que sempre tivemos tanto trabalho com você. - retrucou Sirius. - Agora vamos lá. Você precisa pegar suas coisas. - E, virando-se para o quarto onde a família Potter estava, chamou: - Tiago, otário!

Tiago apareceu na sala.

— O que é, cabelo de minhoca?

— Vou à casa desta outra anta londrina, ajudá-lo a trazer as malas dele.

Tiago olhou o amigo com um brilho animado no olhar.

— Ah... Então Reminho vai passar uns dias conosco?

— Isso mesmo. - confirmou Remo - Mas vou trazer uma poção calmante para não terminar de enlouquecer em companhia de vocês dois.

— Remo, Remo, meu caro Remo... Durante sete longos anos, nós dormimos no mesmo quarto que você, comemos na mesma mesa e te acompanhamos na lua cheia. Talvez, se você tivesse que perder o juízo, já teria perdido. – lembrou Tiago.

— A questão, na verdade, meu caríssimo e inteligente Tiago, é conservar o pouco de juízo que ainda me resta. – respondeu ele, rindo.

— Bem, eu odeio dizer isso, mas vamos deixar as piadas para mais tarde e fazer o que interessa, não é mesmo? Vamos, Remo! – chamou Sirius, puxando o outro para se levantar do sofá, e depois, virando-se novamente para o quarto dos Potter, gritou: - Lílian, minha linda, o seu pastor belga vai ali com o canis lupus, mas logo, logo estará aqui.

A voz de Lílian fez-se ouvir bem-humorada na sala:

— E qual dos dois vai puxar a coleira?

— Eu, que sou mais civilizado! – respondeu Remo.

— Disso não tenho dúvidas! – concordou a moça, aparecendo na sala com Harry no colo. O bebê não parava de ajeitar os bracinhos, animadamente. Parecia reconhecer o clima festivo no qual o apartamento estava, aos poucos, entrando.

Remo foi até o garotinho e brincou com suas mãozinhas.

— Quando titio voltar, vai brincar muito com este principezinho!

— Vamos nessa! - Sirius chamou mais uma vez, arrastando Aluado até a porta. E, antes de desaparecer com o amigo, virou-se para os outros dois que ficavam e advertiu: - Não aproveitem a nossa saída para fazer alguma coisa que não se deve fazer quando se tem uma criança de um ano acordada, ouviram, seus pervertidos? Se eu souber de alguma coisa, tiro o meu afilhado de vocês!

Lílian lançou uma almofada na direção de Almofadinhas, mas ela atingiu o chão. Remo e Sirius já haviam aparatado.

Assim que viu o apartamento vazio, Tiago aproximou-se perigosamente de Lílian e sussurrou de um jeito sedutor, em seu ouvido:

— Até que Sirius deu uma boa ideia, não?

Lílian sorriu cínica e respondeu:

— É, mas Harry está acordado, não?

E retirou-se com o filho para o quarto, deixando o marido com cara de bobo.

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A noite caiu festiva sobre o apartamento Black. Lílian e Tiago já haviam dançado I started a joke, de Bee Gees, no meio da sala, enquanto Sirius e Remo bebiam e faziam piada do casal. Quando I wanna hold your hand, dos Beatles, foi a vez de Sirius, sacudir o corpo.

— Vamos lá, moleque! – disse ele, pegando Harry que, até então, brincava no chão, em cima do tapete. E começou a pular com o afilhado nos braços, ambos rindo deliciosamente. Remo entrou na brincadeira também e começou a dançar sozinho, uma dança muito esquisita, por sinal.

Já eram oito horas quando a única mulher do grupo resolveu encerrar a brincadeira. Deixou os amigos, o esposo e o filho na sala e foi tomar banho. Ao sair, voltou à sala e pegou Harry dos braços de Remo. O garotinho relutou.

— Rimo! – chamou ele, manhoso.

— Ah, agora não, bebê! – disse Lílian, tomando-o a força – Você precisa se preparar para dormir. Dá um tchauzinho para tio Remo, para o padrinho e para o papai, vamos!

Harry ergueu a mãozinha para dar um tchau desajeitado para o quarteto.

— Tchau, mascote! – despediu-se Sirius.

Ao chegar no quarto, a jovem mãe deitou o garotinho na cama e colou sua testa com a dele, deliciando-se com o sorriso infantil do filho.

— Ah, meu amor! – sussurrou ela, sorrindo – Há poucos dias, mamãe quase te perdeu! Seria a pior coisa que aconteceria a mim, sabia? E ao papai também!

Harry olhou para a mãe com uma expressão de curiosidade para a mãe.

— É! Mamãe te ama muito! E papai também! Você não vê o sorriso bobo dele quando olha para você? Ele é capaz de fazer qualquer coisa para te proteger. Lembra quando o feiticeiro mau nos atacou? Ele se jogou na nossa frente, lembra?

O pequeno sorriu, como se entendesse alguma coisa. Lílian beijou a mão do menino.

— Bom, agora vamos deixar de conversa, porque agora está naquela hora que nós dois amamos, não é? É, está na hora da shantala, filhote!

Assim, ela pousou suas mãos no corpinho da criança, com a delicadeza que só as mães têm. Ambos amavam o momento da massagem. Era bastante prazeroso e só estreitava os laços entre mãe e filho.

Enquanto isso, os três Marotos se sentavam de maneira desleixada no sofá. Remo e Sirius ocupavam os lugares nas pontas e Tiago estava no meio. Aquele que apelidavam de Pontas soltou um suspiro de alívio e falou:

— Marotos, enfim, reunidos, afinal!

— Marotos, enfim, reunidos, afinal! – repetiram os outros dois.

Aluado, de repente, pareceu bastante triste. E o motivo de tamanha tristeza foi revelado quando ele acrescentou:

— Só está faltando um.

Os semblantes dos outros dois decaíram lentamente também.

— Não vamos ficar tristes, companheiros. – Pontas voltava a falar – Acolhemos Pettigrew no nosso grupo e o chamamos de amigo. A vida foi generosa em nos mostrar que estávamos sendo apunhalados pelas costas.

Almofadinhas bateu palmas, desgostoso.

— Belo discurso, meu caro Pontas. Se você não estivesse ao meu lado agora, poderia ter certeza de que fora Aluado quem acabara de falar.

Tiago levantou o queixo fino.

— Eu também sei falar bonito.

— Mas lobisomens são poetas natos. – disse Remo – É o constante contato com a lua, sabe?

Os três riram um pouco.

— Ei! – exclamou Sirius, de repente. – Já contou aquele detalhe que você e Lílian estavam me contando para Aluado?

— Qual detalhe, Pontas? – indagou Remo, olhando curioso para o amigo.

— Um detalhe macabro daquela fatídica noite de 31 de outubro, Remo. – respondeu Tiago. Então, ele contou para Remo sobre Voldemort dizer que só mataria mais uma pessoa além de Harry.

— Que coisa... – murmurou Remo, chocado – Mas você acha que ele de fato já sabia quem pouparia?

O pai de Harry olhou na direção do quarto onde estava dormindo com a esposa. A luz parecia estar acesa, mas a porta estava fechada. Então ele abaixou bastante o tom de voz, fazendo os amigos aproximar os rostos dele.

— Vejam bem... Eu estive pensando... Voldemort não teria razões para me poupar. Sou sangue-puro, é verdade. Mas ele sabia também que jamais apoiaria a ideologia dele. Além disso, eu sou o pai da criança a quem ele queria matar. Se eu não existisse, também não existiria ameaça para o reinado dele. Então, a única pessoa que resta nesta história toda, é Lílian.

O olhar que Sirius lançou ao amigo demonstrava que ele achava que aquela conclusão não fazia o menor sentido.

— Mas por que Lílian? Assim como você, ela jamais apoiaria a ideologia suja de Voldemort, e se ela não existisse, também não existiria ameaça ao reinado dele, já que ela é a mãe da criança. E para agrava ainda mais a situação, ela é nascida trouxa, Tiago! Ele jamais a pouparia!

— Não, em situações normais. Mas digamos que, dentre os Comensais da Morte, houvesse um que admirasse Lílian. Admirasse tanto que seria capaz de pedir ao seu mestre que a poupasse.

Remo arregalou os olhos.

— Você não está achando que...

— Estou. – sentenciou Tiago – Snape provavelmente pediu a Voldemort que poupasse Lílian, pois uma vez que eu estivesse morto, o caminho ficaria livre para ele. Nós três sabemos que ele sempre gostou dela.

Sirius ainda olhava para o amigo da mesma maneira que outrora.

— Mas você acha que Voldemort permitiria que Lily vivesse só para atender a um pedido emocional de um servo seu?

Tiago deu de ombros.

— Não, a menos, é claro, que o servo em questão sugerisse a troca da vida do filho, pela vida da mãe.

Remo abriu a boca, pálido. Estava horrorizado.

— Se ele fez isso, é realmente mais podre do que qualquer um de nós imaginava!

— Será que em nenhum momento ele pensou no sofrimento de Lily? – perguntou Sirius.

Tiago sacudia a cabeça lentamente.

— O que vocês esperam de um cara que sempre se dedicou a aprender as artes das trevas e juntou-se àquele grupo de exterminador de trouxas assim que se formou?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Não recebi nenhum comentário! É tão desestimulante!



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