50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 36
Capítulo 35




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[...} então talvez nós não estaríamos em dois mundos separados, mas bem aqui, nos braços um do outro e nós quase, quase soubemos o que era o amor, mas quase nunca é o suficiente

 

 

Ana deixou a bolsa na cama de seu quarto e sentou na beira no parapeito da janela, retirou os sapatos que usava e segurou uma almofada contra o peito. 

Estranhamente nao havia chorado no carro, não chorou quando chegou ao quarto também.

De repente ficou extremamente difícil desmoronar. Ou talvez já tivesse o feito o suficiente.

Ela tentou convencer a si mesma que já estava esperando por aquilo, no fim tudo sempre acabava mal, alguma coisa iria dar errado. Se convencer... Porque ela não havia sequer pensado naquela possibilidade. Sabe, a possibilidade de dar errado? 

Olhando de longe, era certeiro que era um desastre, todos os pontos estava interligados para uma catástrofe. Como ela não percebeu? Como ela pôde se deixar levar por tão pouco sem se questionar, sem verificar, sem pensar? 

São tantas coisas que fazem com que a nossa mente fique em um loop infinito, nos fazendo refém de pensamentos bons, que ficamos cegos, ainda mais depois do ciclo vicioso martirizado naqueles dias em que sua alma foi se deteriorando lentamente.

Foi o que Ana culpou, afinal.

Sim. 

Foram muitos dias se martirizando, passando por situações ruins atrás de situações ruins. Quando os momentos começaram a ser bons e bons, ela se acostumou muito rápido. Porque voce se acostuma com coisas ruins acontecendo em sua vida, e mais rápido ainda com coisas boas.

— Ana - seu nome foi dito de forma hesitante e Ana se virou para a porta.

Elena estava parada ali, a encarando de forma preocupada, o cenho franzido e as maos entrelaçadas na frente do corpo.

Ana inspirou o ar e se levantou, limpando rapidamente a lágrima que havia escorrido por seu rosto, engoliu em seco.

— Eu esqueci a porta aberta - murmurou,surpreendendo-se por não engasgar devido ao nó na garganta.

Elena continuou parada, bem ali na porta, hesitante, não desviando o olhar de Ana.

— Eu te vi chegando... você me pareceu, hã, triste - a loira falou.

Ana a encarou, dando de ombros, mirando um ponto cego na mulher, os olhos embaçados porque as lágrimas estavam chegando novamente. Deus, ela não podia lidar com Elena naquele momento, não dava. Era demais. Tudo era demais. Uma mínima coisinha naquele momento seria uma bomba para ela.

Okay, as vezes era bem fácil desmoronar.

— Não é nada - ela conseguiu responder, colocando as mãos nos bolsos de trás da calça, permanecendo de pé ali, no meio do quarto, totalmente perdida.

Chorar na frente de Elena.

Há que ponto ela chegou? 

— Pode me deixar sozinha? - pediu num sussurro, um fio de voz.

Elena abriu a boca e então a fechou, passou as mãos pelo cabelo, parecendo mais perdida que Ana de repente, e quando a morena desabou ao se sentar na beira da cama, a loira se aproximou rapidamente.

— Não, eu não posso - ela se ajoelhou em frente à Ana, segurando seu rosto entre as mãos.

O rosto de Ana estava completamente molhado pelas lágrimas, e ela tentava puxar ar para os pulmões que doíam como o inferno, as mãos nas coxas, ficando as unhas no tecido do jeans da calça porque ela precisava segurar em alguma coisa, alguma coisa real, alguma coisa que a prendesse ali.

As vezes era difícil não desmoronar.

— Tudo bem, está tudo bem... só deixa vir - Elena murmurou, puxando seu rosto para si, repousando sua cabeça em seu ombro. 

— Aah - Ana meio que gritou, sua garganta doía, seus pulmões, seu coração. 

Tudo.

E queimava. Seu corpo, os braços de Elena em volta de si, as palavras dela sussurradas em seu ouvido quase como um carinho que ela nunca poderia fazer, as mãos em suas costas acariciando, a bochecha contra seu cabelo. Tudo. Queimava como fósforo em gasolina.

— Eu não... não consigo respirar - Ana tentou dizer.

— Eu estou aqui - a loira acariciou seu cabelo, apertando seu corpo contra si.  - Respire... respire para mim, por favor.

Ana balançou a cabeça, tentando se afastar.

Ela só queria que aquilo parasse.

— Eu não consigo, eu não... isso dói - disparou.

— O que dói? - Elena segurou em seu rosto mais uma vez, limpando as lágrimas que não paravam de cair.

— Isso - ela apertou uma das mãos contra o peito, inspirando o ar profundamente para tentar falar. - Tudo. É como se eu fosse feita disso. A minha vida dói, você... você dói. O que eu fiz? O que eu fiz... comigo, com tudo, com meu corpo... dói. Eu não consigo...

Elena encostou a testa na dela e respirou junto de Ana, que tinha os olhos fechados, seguindo seus movimentos.

— Eu sinto muito, eu... Deus eu sinto muito - a loira falou, e Ana a encarou, franzindo o cenho.

— Você... voce está... chorando?

Elena engoliu em seco e limpou o rosto com as costas da mão, mas não adiantou muito, logo mais lágrimas estavam ali, e tudo o que o que ela conseguia ver era Ana. Sua mente toda estava tomada por Ana.

Por Ana bebê.

Por Ana criança.

Por Ana.

Ana.

A forma como falava com ela, a forma com agia, como não se importava... como era apenas horrível.

— Eu... me perdoa, por favor... só me perdoa. Por tudo. Eu fui tão horrível, não sabia o que estava fazendo, não percebia o que estava fazendo com voce... Não daonde vinha tanta raiva, e eu apenas descontava em voce, eu sinto... eu sinto muito.

Ana tocou em seu rosto, sentindo as lagrimas na ponta de seus dedos. 

Era tão irreal. 

Tão irreal quanto Elena usava uma blusa de moletom bem a sua frente, tão irreal quanto o rosto dela ali sem maquiagem alguma... mas eram reais. 

As lagrimas.

As palavras sendo proferidas de forma tão quebrada e desesperada. 

Era real.

Ana se deixou se aproximar, descendo da cama e ficando bem de frente para a loira, sentando no chão, observando ela de despedaçar bem ali, perdida, repetindo as palavras.

Pareceu uma eternidade, mas foram só alguns minutos, o rosto de Ana estava seco, sua cabeça latejava, seu nariz vermelho com coriza, mas ela estava melhor.

Num ato impensado, pegou na mão de Elena, olhando como elas ficavam juntas. 

Não foi ruim.

Foi tudo bem.

Elena a encarou. Os olhos azuis que sempre foram tão parecidos com os de Ana, estavam vermelhos e inchados.

— Eu perdoo - a morena respondeu sinceramente.

Ana recebeu o baque com um estrondo silencioso em seu coração, a sinceridade em suas palavras a pegou desprevenida, mas, de alguma forma, a sensação se espalhou por todo o seu corpo, até o ultimo fio de cabelo.

De alguma forma, já não doía tanto.

Foi no meio da tarde, Ana havia acabado de tomar banho e desenhava em seu caderno, tendo o pequenino Penn contra sua barriga e a cabeça em cima da folha, sentada no parapeito da janela,  olhando o balanço do quintal, onde ela havia brincado tanto, mas tanto com Mia.

Sua porta permanecia aberta, mas ela não precisou se virar para saber quem era que havia entrado em seu quarto.

— Atrapalho? - Linc perguntou.

Ela se virou com um sorriso pequeno e balançou a cabeça.

— Claro que não - respondeu.

A morena cruzou as penas e pegou uma almofada, colocando-a em seu colo enquanto seu pai se sentava de frente para si no parapeito.

— Que isso? - ele questionou ao ver o peludinho em cima de Ana.

A garota pressionou os lábio num sorriso.

— Esse é o Pennywalter, mas pode chamá-lo de Penn, seu netinho - respondeu.

Linc franziu o cenho e balançou a cabeça, resolvendo não comentar sobre.

— Passou a noite fora - ele comentou.

Ana riu baixo.

— Pois é - respondeu.

Christian suspirou.

— Eu sei que perdi o direito de perguntar sobre suas noite há muito tempo, mas eu gostaria que fosse um pouco mais cuidadosa, não tenho um coração muito forte. Talvez uma mensagem ou uma ligação.

Ela concordou.

— Pode deixar, vou providenciar isso - prometeu.

Linc a encarou, inclinando a cabeça.

— Você está diferente, não sei... parece bem, e parece triste também.

Ana balançou a cabeça.

— Não se preocupe - falou. - Mas então, você também parece diferente.

Linc suspirou, passando as mãos pelas coxas, desviando o olhar, e Ana franziu o cenho.

— O que está havendo?

Ele se virou para ela novamente.

— Estou indo embora - declarou.

Ana sorriu.

— Para onde? - questionou.

Linc mordeu o lábio inferior, confuso pelo sorriso da menina.

— Japão - respondeu.

Ana quem ficou confusa agora.

— Sério? Por que?

Ele suspirou novamente.

— Preciso te contar algo, e só quero que saiba logo que eu te amo, você é sim a melhor coisa que aconteceu na minha e eu nunca vou me perdoar por ter demorado tanto para perceber isso - ele falou e então pegou as mãos de Ana.

— Está me assustando - a morena murmurou.

— Não, não fique assim - ele inspirou o ar profundamente para então se voltar novamente para Ana. - Antes de vir para cá, há alguns meses, eu e Sabrina estávamos nos encontrando, passamos algumas semanas juntos até Kate me ligar sobre você.

— Sinto muito.

— O quê? Não, meu amor. Eu não me arrependo de ter vindo e agradeço Kate pode ter me ligado. Mas acabou que eu apenas deixei Sabrina lá e ela me ligou há algum tempo.

— Você ainda gosta dela, né?

Ana não havia entendido muito bem, mas sabia que seu pai e Sabrina haviam terminado o relacionamento depois da mulher descobrir que ele ainda era casado com Elena e não pretendia assinar os papeis do divórcio. Ana também não sabe o que ficou acordado, mas ele e Elena havia se divorciado perante a lei finalmente e não houve um julgamento grande, o que queria dizer que havia entrado em um consenso mas nenhum dos dois parecia "pobre".

— Gosto. Gosto de verdade, e ela parece que gosta de mim tambem - ele falou como se fosse um absurdo.

Ana riu.

— Então deve ir até ela - a morena disse.

— Sério?

— Sim, pai. Vai. Não deixa ela esperando assim, ninguém espera ninguém a vida inteira. 

Ele concordou com a cabeça, mas continuou encarando Ana.

— Ela está grávida - disparou.

Ana arregalou os olhos.

— Caramba - murmurou em surpresa.

— Ela me contou assim que descobriu, mas eu não podia te deixar aqui. 

— Eu estou bem - ela garantiu. - Precisa ir. Não por mim ou por ela, por voce, pelo bebê.

— Seu irmãozinho - ele falou em tom de brincadeira.

— É um menino, então? Gostei disso - ela falou sincera.

Linc sorriu para ela, e era tão fácil aquilo acontecer ultimamente.

— Posso pedir uma coisa? - ela perguntou.

— O que quiser, meu amor.

— Não deixe que ele passe nenhum dia sem ver isso.

— O que?

— Seu sorriso. É importante. E faça ele sorrir, pelo menos uma vez no dia faça ele rir de doer a barriga.

Linc fechou os olhos e aproximou totalmente, passando um braço por seu pescoço e a puxando para um abraço.

— Não quero que se sinta mal, eu estou bem. Só quero que faça ele ficar tambem, desde sempre.

— Eu prometo - ele respondeu.

Os dois inspiraram o ar profundamente e então se afastaram, sorrindo.

— Voce sabe que pode ir comigo, não é? Eu sei que tem o casamento de Mia, mas eu posso esperar, ou então voce nos encontra lá. É muito bem vinda, eu ficaria muito feliz e sei que Sabrine tambem - garantiu.

Ana balançou a cabeça concordando.

— Eu sei - respondeu. - Mas eu estou pensando outras coisas agora, e não tem nada a ver com o Japão.

— Eu entendo. Mas espero que voce vá algum dia, eu sempre vou estar esperando por voce - falou.

Ana sentiu seu coração esquentar.

Ela acreditava naquilo e era bom. Muito bom.

Linc beijou o topo de sua cabeça e então se levantou, seguindo para a porta.

— Pai - ela chamou, e ele se virou para ela. - Cuida deles.

Ele lhe deu uma piscadinha.

— E de você também - prometeu e então fechou a porta atrás de si.

Ana passou a mão pelo gatinho adormecido ainda em seu colo e então o pegou nos braços e o colocou com cuidado na caminha ao lado da cama que Clarissa havia comprado. Deixando o caderno onde desenhava aberto em cima do colchão, pela primeira vez ela não odiou o que via ali.

A silhueta de Christian já era bem conhecida por ela, havia o desenhado tantas vezes que era difícil não o faze-lo. Mas não foi ruim. 

Doeu menos ali também.

A morena abriu a bolsa que havia jogado por ali e pegou seu celular pela primeira vez no dia.

Havia duas mensagens de Mia, uma ligação perdida de Kate e três mensagens de ontem a noite, uma de seu pai e duas de Elena. 

Ela não sabia o que sentir sobre não ter nada de Christian, mas era uma sensação boa. Ela não queria lidar com aquilo, nem saberia. Vendo a cartela de remédios na bolsa, ela arregalou os olhos ao ter se esquecido dela.

— Merda! - xingou, pegando a cartela e já retirando um comprimido.

Desceu as escadas da casa e seguiu para a cozinha, indo direto para a geladeira e pegando uma garrafinha de água, engoliu rapidamente a pílula, e suspirou aliviada. Ao fechar a porta, levou um susto ao ver Elena sentada num dos bancos do balcão, havia um pote de sorvete a sua frente.

— Isso era pílula do dia seguinte? - a loira questionou enquanto comia uma colherada do sorvete de morango.

Ana bufou baixinho.

— Talvez - respondeu.

Naquela manhã, ela havia dormido depois daquele momento com Elena, e quanto acordou a loira já nao estava mais em seu quarto, mas a própria Ana tinha um travesseiro debaixo da cabeça e um cobertor em cima de si.

A mulher levantou as sobrancelhas, e nada disse, apenas levantou a colher em sua mão e a estendeu para Ana.

A morena encarou a colher e então Elena.

— É seguro eu comer sorvete? - questionou se sentando ao seu lado e após pegar o talher.

 Foram alguns dias nublados, mas no sábado, naquele sábado tudo estava perfeito, o céu tão azul e límpido, como se desse sua própria benção.

Ana admirava o sorriso de Mia, as lágrimas escorrendo sem parar, quase provocando as suas também. A morena usava um vestido rosa bebê, o cabelo preso deixando seu pescoço e colo a mostra, a maquiagem era leve e ela segurava um buquê. 

O que buquê de Mia. No casamento de Mia.

Ela tentava se concentrar nos detalhes: na forma como Ethan parecia que desmaiar a qualquer segundo, como Grace chorava de soluçar agarrada à Carrick que tambem segurava a emoção, a forma como Elliot e Kate estavam juntos e misturados no primeiro banco da igreja, como a vovó Ava tinha uma flor bonita na cabeça e repetia as palavras do Padre num sussurro sem som.

Ana tentava se concentrar ao máximo nessas pequenas coisas. 

Tentava.

Mas a cada segundo era invadida novamente pelo cheiro característico de Christian bem ao lado, quase tocando em seu corpo, ou a sensação que tomava seu coração por ele não estar tocando em si. 

Eles não se viram mais desde a briga, há uma semana. Sem mensagens, sem ligações, um dando tempo ao outro. Ana tentou se preparar desde a noite anterior para aquele momento, e ela estava bem, até ficou orgulhosa de si, mas tudo foi por água abaixo no momento que teve de encontrar Christian na porta da igreja.

— Você está linda - ele havia dito.

Ana não conseguiu responder, seu coração parecia que sair pela boca, e ela apenas balançou a cabeça  num gesto de agradecimento e se virou, permanecendo parada, até o Grey pegar em seu braço e entrelaçar com o seu quando a música de entrada começou a tocar na deixa deles.

— Eu, Mia Treveland-Grey, aceito voce, Ethan Antony Mendes, como meu legítimo esposo.

Ana voltou a se concentrar em Mia, ela falava hesitante pelas lágrimas, mas em seus olhos e sorriso era clara a certeza de cada palavra.

— Até que a morte nos separe - ela prometeu. 

Era impossível não se emocionar, tudo era tão lindo e puro. Apaixonante. 

— Missão cumprida! - Mia gritou em seu ouvido e Ana xingou alto. 

Eles estavam na mesa grande do jardim da mansão dos Grey, onde era a festa do casamento e todo mundo parecia tão, e o sol estava se pondo.

— Sua louca! - Ana rebateu enquanto os outros riam.

Mia riu alto.

— Vamos dançar - ela a puxou consigo e foram caminhando até onde Kate e Elliot estavam, logo Mia levou as mãos até a cintura de Ana e começaram a dançar para lá e para cá durante a música romântica que tocava. - Vou sentir tanta a sua falta.

Ana sorriu para a amiga.

Tambem iria sentir a falta dela, como jamais imaginou.

— Voce vai poder me visitar, sempre - garantiu a morena.

— Mas a França é tão longe.

 _ Mas eu sei que você vai - ela falou e Mia riu concordando. 

— Voce tem mesmo que ir?

Ana suspirou e abraçou Mia ainda dançando.

— Sim, eu tenho. Eu preciso.

— Olha, eu não sei o que aconteceu entre voce e meu irmão, mas voce não precisa...

— Não é por causa dele, é por minha causa, por que eu preciso. Eu não quero te magoar, Mia, eu não quis antes e não quero agora, voce e Kate são minhas melhores amigas e sei que voces vao ficar bem sem mim por um tempo. 

Kate não iria com Ana, ela ficaria ali, em Seattle. Ana jamais pediria algo daquele tipo a loira, mesmo que a primeira coisa que a Kavanagh tivesse feito fora se oferecer para ir com Ana.

 Nem pensar — Ana foi irredutível. Elas estavam deitadas lado a lado no chão do quarto da morena, o pequeno Penn dormindo em cima da barriga de Kate enquanto Ana relatava tudo o que havia acontecido e o que havia decidido. - Voce não vai deixar Seattle, não vai deixar seu emprego dos sonhos, e pior, não vai deixar o Elliot. Nunca imaginei que fosse dizer isso, mas ele foi a melhor coisa. Voces dois foram a melhor coisa que aconteceu e eu estou tão feliz por voces. 

— Ana - Kate começou, os olhos já cheios de lágrimas. 

— Está tudo bem, Kate, está na hora eu saber me virar. Prometo que vou ligar toda semana, que vamos fazer videochamada, que voce e Mia vão me visitar e nós vamos passar as noites em claro contando as fofocas que são sem graça de contar sem ser pessoalmente, eu vou voltar para o seu casamento, claro, o que eu imagino que nem vá demorar muito pelo jeito que voce e Elliot não se desgrudam. Eu prometo, K, eu vou estar com voce em todos os momentos importantes.

Ana se voltou para Mia quando a mesma tropeçou em seu salto.

As duas riram.

A noiva estava meio alta.

— Acho melhor você beber uma água, amiga, vamos - a morena falou, arrastando Mia consigo.

As duas se sentaram lado a lado, mas logo Ethan pegou Mia para seu colo e os dois se beijaram, fazendo Ana fazer um gesto de vomito e todos rirem.

— Só porque casaram não tem mais nenhum respeito pelo próximo - ela brincou.

— Voce vai sentir falta disso, Ana. Quando estiver em Paris, cheia de coisa para estudar, voce vai parar e pensar: que saudade de estar ao lado de Mia e Ethan se beijando - fora Ethan quem brincou, mas não deu tempo de Ana retrucar, nem mesmo de ninguém rir.

— Como assim Paris? - Christian perguntou, e fora a primeira vez que ele lhe dirigiu a palavra desde que se viram mais cedo na igreja.

Ana o encarou e a mesa inteira ficou em silêncio.

— Ana vai para Paris em três dias, foi aceita para fazer uma pós - Elena quem respondeu quando percebeu que a morena nem conseguiu abrir a boca para responder.

Ana e Christian se encararam por quase um minuto inteiro, até que ele se levantou e se afastou.

Ana encarou o chão, odiando a onda de incerteza que chegou em seu coração.

Era aquilo que ela mais odiava. Aqueles sentimentos ruins que lhe tomava toda vez que algo não estava completamente de acordo com Christian. Não deveria ser daquela forma. Amar não deveria ser daquela forma.

— Eu posso ir - Mia sussurrou para ela, querendo dizer que poderia ir lá e explicar à Christian.

Mas a verdade era que ela nao podia, apenas Ana poderia.

A morena sorriu para ela e beijou sua bochecha.

— Eu estou tão feliz por voce, tão feliz. Eu sei que voces vão ser muito, muito felizes, mais do que já são - ela falou e Mia a devolveu um beijo na bochecha. - Eu vou lá agora, e provavelmente eu não vou voltar.

Ela sabia que iria ficar destruída depois.

Mia balançou a cabela concordando, ela entendia.

— Te amo - falou antes de Ana se levantar.

A morena lhe deu uma piscadinha.

— Eu também te amo.

Christian estava recostado na ponte que separava o lago, bem de frente para a bahia, de costas para Ana. Esperando por ela ou não.

A morena se aproximou, parando ao seu lado.

— Não vai - ele disparou sem que ela falasse qualquer coisa, sem encará-la.

Ana se virou, olhando a água, o sol quase totalmente desaparecido em seu poente.

Admirando o mundo a frente deles.

E era tudo tão grande, profundo e intenso. Como ela poderia não ir? Como ela poderia ficar e tentar se consertar ali quando tem tanto para ela ver, tanto para ela sentir... tanto para ela encontrar?

— Eu preciso disso - ela declarou. - Não é por sua causa, eu só preciso - então suspirou e finalmente se virou para Christian, o fazendo encará-la. - É como se todo mundo tivesse um propósito, sabe? Como se todo mundo está tendo exatamente o que sempre quis, menos eu.

— Voce tem a mim - ele respondeu, pegando em seu rosto. - Eu posso fazer dar certo, nós dois podemos. 

Ana mordeu o lábio inferior e então desviou o olhar.

Ela não conseguia. Por que era tão difícil? Fazia mal para ela, nao estava pronta, não era o certo naquele momento, mas ainda assim, desistir, ir embora, era a coisa mais difícil que ela já fez em toda a sua vida.

— Não posso - respondeu. - Nós não podemos ser assim, Christian, está errado - o olhou nos olhos, não se dando ao trabalho de se afastar, queria ele a tocando, pelo menos até o fim. - Esse jeito bruto e desesperado, cheio de inseguranças, de sacrifícios, não é como tem que ser um relacionamento. Não é saudável, nós não fazemos bem um para o outro. Pelo menos por enquanto. Precisamos de tempo, longe um do outro para aprendermos a fazer isso do jeito certo.

Ele a soltou, dando um passo para trás.

— E todo mundo tem alguma coisa, todo mundo está seguindo a sua vida para algum lugar. E eu? Eu nem sei o que eu quero. Acho que passei tanto tempo da minha vida tentando ser perfeita, tentando ser o que eu nem sou que me perdi - ela desabafou, sentindo o peso de suas palavras, seus olhos se embaçando de forma silenciosa. - Eu não sei quem eu sou, não sei o que eu quero. Você entende isso? É preocupante. Tudo está acontecendo, o mundo está acontecendo e eu estou tentando seguir junto, mas não tenho direção. E eu preciso. Preciso saber o que fazer antes de fazer qualquer coisa. Eu preciso de mim

— Não pode fazer isso aqui? - ele tentou.

Ela se aproximou dele completamente, pegando em sua mão e então correndo os dedos da outra por seu cabelo, sorrindo para ele.

— Eu te amo, Christian - confessou, fazendo o Grey abrir a boca. - Eu te amo e eu acho que esse é o sentimento mais puro e bonito que eu já senti. Adoro isso - ela riu para si mesma, abrindo um sorriso grande. - Eu adoro te amar, é uma coisa certa sobre mim e eu me agarro bastante nisso. Acho que passei tanto tempo da minha vida achando que te odiava, quando na verdade, eu apenas te amava, te amava a cada dia de cada ano. Mas estar com voce, agora, está transformando esse sentimento em algo que... que eu tenho medo. Me assusta - então ela mordeu o lábio inferior novamente, levando a mão até seu rosto, dedilhando seus lábios.

— Me perdoa - ele pediu num tom baixinho, beijando seu indicador que contornava seus lábios da forma mais gentil possível.

Ana balançou a cabeça.

— Sinceramente, eu não acho que tenha alguma coisa para perdoar, nós dois fizemos escolhas que infelizmente não foram as melhores, mas eu perdoo. Eu já te perdoei há muito tempo.

De longe eles ouviram a música na pista de dança, alta e agitada, e Ana riu.

— Vou sentir falta deles. Vou sentir sua falta - confessou.

— Ana...

 _ Vou precisar continuar te amando de longe agora, à todos vocês. Por enquanto - declarou rapidamente. - Nós dois precisamos disso. Ainda mais agora. Como vou ficar com alguém sem saber quem eu sou? Como você vai fazer isso? E pior, como vamos colocar uma criança nisso?  - ela passou os braços por seu pescoço e ficou bem perto, tocando as testas, misturando as respirações. - Você vai precisar amá-lo, por favor. Amá-lo como se não existisse mais nada no mundo, porque realmente não há. E eu espero algum dia fazer isso também. Mas não fica esperando, só... só tenha a sua vida e eu vou ter a minha. Talvez algum dia tudo se volte para nós dois, e eu prometo, que eu não vou mais embora dessa vez. Eu vou amar vocês - ela aproximou a boca da dele, as lágrimas se misturando nos lábios dos dois. E era lágrimas do Grey. - E eu vou amar vocês dois.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu chorei escrevendo o capítulo anterior, mas nesse aqui, eu DESIDRATEI!!!! Pode não ter a mesma emoção em voces, mas, cara, eu escrevi escutando um cover de GIVE ME LOVE e eu tive que parar muitas vezes porque estava realmente difícil com os olhos tão embaçados de lágrimas. Espero que tenham gostado, reta final total, imagino que mais uns dois capítulos.



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