The Witcher: Broken Blades escrita por BadWolf


Capítulo 6
Iorveth


Notas iniciais do capítulo

Eu odeio escrever poesia, então peço desculpas antecipadas.
Perdoe minha "falta de sensibilidade" rs.

[EDITADO] Graças à Priscila Portgas, essa fanfic recebeu uma poesia decente. Leitores, agradeçam à ela por seus olhos não sangrarem com a poesia anterior.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722792/chapter/6

Houve um tempo em que dragões eram comuns e governavam o Continente de modo absoluto. O fogo do dragão era a praga das cidades, e o apetite de um dragão era uma ameaça constante aos primeiros colonizadores. Feiticeiros se levantaram contra essas criaturas, bruxos foram criados para combatê-los. Hoje os dragões estão quase extintos. Os animais foram exterminados por caçadores profissionais, como os famosos Crinfrid Reavers.

Os dragões gostam de reunir tesouros e têm um apetite voraz que eles saciam comendo todo e qualquer tipo de criatura viva, sem exceção. Há cinco espécies de Dragão: branco, preto, vermelho, verde e roxo. Os dragões dourados, extremamente inteligentes, dotados da capacidade de assumir a forma de qualquer criatura, são, naturalmente, um conto de fadas para crianças. Os dragões são realmente inteligentes, mas não podem falar, muito menos praticar polimorfia e assumir a forma de um ser humano, por exemplo.

A melhor tática ao encontrar um dragão é orar a todos os deuses, sem se esquecer de nenhum. Os ateus devem correr - eles podem assim estender suas vidas por alguns batimentos cardíacos. Deve-se salientar que qualquer uma dessas escolhas resultará em morte quando feitas por um amador.

 

(extraído do livro “Dragões: Verdades e Mitos”)


 

Um bardo.

Não bastava dividir sua cela com um elfo de mentalidade submissa, mas sim com um bardo. Por isso as torturas cessaram, pensou Iorveth. Ao que tudo indicava, ele já estava tendo o suficiente. O elfo bardo, chamado de Argalard, foi preso porque havia sido flagrado fornicando... Com anãs! Quando Iorveth pensava que já tinha visto de tudo em seus duzentos e vinte e oito anos de vida, a vida trazia mais alguma coisa para surpreende-lo.

Argalard não tinha flauta nem alaúde na cela, mas isso não o impedia de passar quase o dia inteiro entoando canções e mais canções de todos os tipos imagináveis, fazendo Iorveth ficar abismado por seu repertório aparentemente infinito. No início, Elendil ficou animado, pedindo que o bardo cantasse uma ou outra canção que ele conhecia, mas após três dias de intensa cantoria o elfo também já estava a ponto de enlouquecer.

A cantoria cessava apenas quando Argalard pausava para comer, ou ficava a balbuciar sozinho, decerto compondo mais músicas. Isso quando não resolvia fazer piada, fazendo gracejos com seus companheiros de cela se utilizando de rimas.

Deitado em um canto da cela – seu canto, ele assim definiu – Iorveth estava quase caindo no sono quando versos saídos da boca do bardo chamaram sua atenção.


De sua boca, suas chamas ardiam com fulgor

Ignorando o fio da lâmina e as setas das flechas

Homens, mulheres e crianças fugiram com horror

Em Vergen dos anões e elfos nada resta

 

Seu solo tingido pelo carmesim de sangue

E suas montanhas desfiguradas pelofogo da morte

Pereceu a cidade sobre a fúria fumegante

E assim o dragão proclamou-se o Destruidor do Norte


Quando cantava, o bardo parecia estar em um universo próprio, desligado de tudo e todos ao seu redor. Senão, ele teria notado a expressão boquiaberta de Iorveth, algo incomum de se ver. O líder dos Scoia'tael se levantou, correndo até o bardo e o agarrando com rispidez pelo colarinho.

—Esta canção... De quem é? – ele perguntou, fazendo o bardo engolir em seco.

—Minha! – disse o elfo, temeroso por sua vida.

—Não minta para mim, bardo. De quem é esta canção?

—É serio! Esta canção é minha, completamente minha, sem qualquer coautoria! Na verdade, ela ainda não está pronta, eu estou terminando e...

Sentado em um canto, Elendil escutava a tudo sem compreender o comportamento agressivo repentino de Iorveth. No pouco tempo de convivência com o elfo, Elendil sabia que ele tinha lá seus rompantes de raiva, mas jamais de modo gratuito. De modo geral, Iorveth era calmo, mesmo quando posto à provação da cantoria interminável do bardo Argalard. Apesar da cicatriz horrenda no rosto e das roupas sujas e maltrapilhas, Iorveth carregava uma elegância possivelmente proveniente de seu orgulho em ser um elfo – algo que Elendil jamais compreendeu. Talvez porque ainda tinha cinquenta e dois anos de idade e já tivesse nascido em um mundo pessimista, sem perspectiva de tão dominado por humanos. No fundo, Elendil desejava ter testemunhado mais o que era a sociedade élfica, ainda em seu esplendor. Talvez, se assim o tivesse acontecido, ele seria tão orgulhoso de ser um elfo Aen Seidhe como era Iorveth.

—Os eventos dessa canção, o Dragão... Isso tudo é verdade? Ou é mais alguma mentira sua para embasbacar sua plateia?

—Não, tudo que escrevi é verdade. Não a mais pura verdade, é claro, mas...

—Você disse que viu o Dragão... Qual era a cor dele? Anda, responda!

—Negro! Era um Dragão negro! Eu vi com meus próprios olhos um Dragão, negro como ébano, cortando os céus da Teméria, perto de um vilarejo chamado Lathlake. Pessoas morreram atacadas por ele e...

Elendil sobressaltou-se repentinamente.

—Espere... Você disse que há um dragão em Lathlake?

—Sim, mas nos arredores. Ele não atacou o vilarejo, mas sim alguns transeuntes que se aproximaram de uma torre abandonada. Ele fica lá, à espreita, como uma fera a abocanhar, enquanto nós, mortais, estamos a passar...

Iorveth rolou seu único olho.

—Será que dá para falar sem rimar, por favor?

—É mais forte do que eu. – recolheu-se o bardo. – Mas o que tem demais nisso? Sim, eu sei que um dragão é algo extremamente raro em nossos dias, mas porque vocês estão tão nervosos?

—Eu estou nervoso porque minha esposa mora perto de Lathlake.

—Oh. – limitou-se a dizer o bardo. – E você, senhor Iorveth?

—Puta merda, bardo de araque, pare de me chamar de “senhor”. Você é apenas setenta anos mais novo do que eu. E o motivo de meu nervosismo... Não interessa a nenhum dos dois.

Elendil parecia abismado. Jamais viu Iorveth falar um palavrão sequer. Não que ele fosse o mais gentil dos cavalheiros. Ele era um homem educado, mas sabia ser ríspido se provocado ou irritado. Mas palavrões? Jamais. Parecia que palavras chulas não existiam em seu vocabulário austero. Embora fosse um elfo sem eira nem beira, a arrogância de sua linhagem Aen Seidhe pura, como ele já anunciou, não o permitia falar e agir como um dh’oine, que gostava de descarregar sua fúria por meio de palavras de baixo escalão. A ausência de palavrões era uma das diversas formas que Iorveth tentava preservar para não corromper suas raízes e agir como um dh’oine, mas vê-lo exclamar um “puta merda” sem qualquer intenção foi um claro sinal de que, o que quer que estava escondendo, era grave.

—Não adianta insistir, bardo. Ele não vai falar.

Argalad deu de ombros. – Querem que eu recite os versos que compus sobre a brancura dos montes de Dol Blathanna no inverno?

—Merda... – bufou Elendil. Iorveth cruzou os olhos em asco, virando para o lado e tentando encontrar uma boa posição para dormir. Na verdade, o elfo sabia que não conseguiria. Não que a cantoria desenfreada de Argalad fosse atrapalhá-lo. Seus pensamentos voltaram-se para Saskia.

Era a primeira vez em semanas que ele teve notícias dela. Notícias estas nada animadoras. Ela ainda era um Dragão, incontrolável e implacável, a destruir e matar discriminadamente – algo que Iorveth tinha certeza de que não era de seu querer. Ela ainda estava controlada pela maldição. Seria alguma ordem lançada por Phillipa Eilhart? Não. O instinto de Iorveth não o apontava para isso. Phillipa estaria mais preocupada em escapar das garras vingativas de Radovid do que ficar controlando Saskia. A uma altura dessas, Phillipa deveria estar no topo de alguma árvore, em algum bosque, vivendo uma vida pacata de coruja e esperando a poeira baixar para voltar a agir e embarcar em mais uma de suas conspirações. Um dragão atacando vilarejos não estaria em seus planos.

Iorveth jamais teve certeza do que sentia por Saskia. Seu coração batia mais forte, ele possuía uma profunda admiração por sua postura carismática e corajosa, mas o que era afinal tudo isso? Amor? Amizade? Ele jamais se permitiu a tais sentimentalidades, pois as desprezava considerava todas como sendo “invenções de dh’oine” para satisfazer suas necessidades carnais. E desde jovem, esteve sempre com a mente ocupada no conflito dos não-humanos. Era um adolescente quando matou pela primeira vez um dh’oine, que estuprou uma elfa e saiu impune das leis injustas dos humanos. Desde então, não parou mais. Encontrou nos ideais dos Scoia'tael o alicerce de sua vida. Entregou sua vida à causa, sem se preocupar em receber algo em troca. Pensava sempre em coisas acima de si mesmo, de modo que, perante questões profundas e íntimas, como seus reais sentimentos por Saskia, Iorveth sentia-se pisando em terreno desconhecido, algo que sempre o desagradou.


II


Quando o último chicote acertou a pele de suas costas, já em carne viva, Iorveth estremeceu levemente. Ficara apenas alguns dias sem receber chibatadas e já havia desacostumado com a dor. Além disso, seu repertório de imagens lúdicas da floresta e canto dos pássaros estava terminando, bem como sua paciência em permanecer a agir como o preso calmo e pouco problemático, que colocava à prova a paciência dos guardas, aguentando as torturas com estoicismo.

Orlo arfava, cansado. A porta se abriu, repentinamente. Iorveth sentiu um aroma de linguiça tomar o ar úmido e sujo de sua cela.

—Resolveu se divertir um pouco hoje? – perguntou um guarda, que carregava as linguiças sentidas por Iorveth.

—Não quero perder a prática. Mas onde conseguiu isso?

O guarda começou a rir. – Dei uma afanada na dispensa do capitão. O que acha de aproveitarmos a ausência dele e comermos um pouco?

—Tudo que é roubado é mais gostoso. Vamos comer ali ao lado.

—Mas e este elfo?

—Deixa ele recuperar as forças. Vai precisar, quando eu voltar bem disposto depois que eu me fartar dessa linguiça.

Iorveth ouviu Orlo estalar os dedos, enquanto acompanhava o guarda para fora. A porta se fechou. Pela primeira vez, o elfo estava sozinho naquela sala de tortura. Desesperado para se soltar, Iorveth começou a tentar forçar as correntes que conectavam os grilhões que prendiam seus pulsos à parede da cela. Apoiou seus pés descalços na parede, para forçar as correntes, quem sabe, quebra-las. O líder dos Scoia’tael aplicou tanta força que começou a sentir a pele de seus pulsos arderem, devido à fricção com o ferro. Mas as correntes, embora tivessem o aspecto envelhecido, provaram-se resistentes. Por fim, o elfo desistiu. Transpirava, de cansaço e também raiva por não conseguir escapar, certamente por estar fraco demais.

Enquanto arfava em contemplação ao seu próprio fracasso em se libertar, o elfo pôde ouvir vozes. Na verdade, sons de mastigação. Iorveth nunca entendeu porque os dh’oines mastigavam com tamanha ferocidade, a ponto de fazer barulho. Talvez fosse sua natureza primitiva se sobressaltando à “civilidade” que eles tanto insistiam em dizer possuir.

Com nada mais a fazer ali, Iorveth permitiu-se concentrar na conversa entre os guardas. Afinal, ele poderia descobrir algo interessante. Desde uma fraqueza que poderia ser explorada, até mesmo notícias.

—Quero saber quando Vízima virá buscar esse filho da puta do Iorveth. Já está mais do que na hora, não acha?

—Teremos de ser pacientes. – respondeu Orlo ao guarda que resmungava.

—Mais?! Orlo, esse elfo é perigoso! Já deveria estar morto há muito tempo.

—Ordens são ordens. – respondeu Orlo, com veemência. – Fomos autorizados a tortura-lo apenas para deixa-lo na linha, mas não a ponto de mata-lo. Lembra-se do que o nosso comandante disse? Se esse elfo morrer, seremos expulsos.

—Pois eu prefiro ser expulso a acabar tendo meu pescoço cortado por ele. Eu te garanto uma coisa, Orlo. Na primeira oportunidade que este elfo tiver para fugir, ele matará a todos nós.

—Esse elfo não vai fugir, sossegue. Viu o quanto ele está fraco? Magro? Pra não dizer das costas lanhadas de tanta chibatada... Além disso, eu o coloquei em uma cela com um bardo e um elfo que odeia Scoia’tael.

Todos os guardas riram ao mesmo tempo.

—Ele está fodido, esse Iorveth. Acho que até ele vai preferir que os homens de Vízima busquem-no logo para que ele seja enforcado e assim tenha fim o seu suplício na Terra.

—Isto se ele não acabar indo para a roda.

—Nada de roda. – respondeu Orlo. – Querem um enforcamento limpo em praça pública, pelo que soube. Um exemplo aos elfos que ainda ousam viver em Vízima. E também a qualquer inumano que estiver passando por lá. E vocês sabem, tudo que acontece em Vízima se espalha por toda a Teméria.

—Então porque não buscam logo esse filho da puta?

Orlo deixou um arroto escapar, antes de voltar a falar.

—Pelo estado que se encontra a Teméria, enforcar Iorveth é a última preocupação deles. O Comandante John Natalis está ocupado demais para se importar com a execução da pena de um prisioneiro.

—Estão dizendo que ele não se sustentará no poder por muito tempo. Que os nobres estão cansados da falta de perspectivas do reino e querem que o país se divida em províncias...

—Ainda confio que John Natalis saberá sufocar todo esse descontentamento da nobreza. Não devemos nos esquecer de que ele é um herói. Se não fosse por ele, eu e você estaríamos agora tendo que obedecer a um nilfgaardiano nesta fortaleza, na melhor das hipóteses.

—Reputação não salva um reino, Orlo. O fato é que não temos mais um monarca. Foltest está morto, os filhos bastardos dele estão mortos... Esse bruxo filho da puta que matou o Foltest fez um estrago no nosso país, nos tornou uma terra sem monarcas, então por que não assumirmos isso de uma vez?

—Você está louco? – retrucou Orlo. – A última coisa que deveriam desejar é ser governados por um Barão ou Duque. Seremos ainda mais explorados do que já somos.

—Há bons nobres pela Teméria, Orlo. – retrucou um deles. – São poucos, é verdade, mas ouvi dizer que o Cavaleiro Papebrock, por exemplo...

—Pelos deuses... Percebeu o que acabou de dizer? “Bons nobres”? Não delira, caralho! Daqui a pouco você dirá que há pessoas educadas em Skellige ou que existem gigantes habitando Mahakam.

Todos começaram a rir. O assunto que se seguiu após a piada de Orlo era trivial demais para chamar a atenção de Iorveth. Ainda que estivesse acorrentado a uma parede e sem qualquer chance de se soltar, era bom ser atualizado sobre a situação política da Teméria, país que mais do que nunca queria sua cabeça. Mas, para a sua sorte, eles estavam ocupados demais com seus problemas típicos de dh’oine para se preocupar em enforcar o líder de um grupo que estava agora fragmentado após a derrota de Vergen.

A porta se abriu. Era Orlo. Estava assobiando, bem disposto. Além do cheiro de linguiça, o açoitador também cheirava a bebida. Parecia contente pela pequena luxúria que acabara de viver.

—Aproveitou bastante o seu descanso, elfo?

Então, veio a primeira chibatada. A mais forte do dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Saskia tá aprontando e Iorveth lá, sofrendo... Nossa...
Mas não se preocupem, o suplício dele está com data para acabar, vocês verão.

Até o próximo cap!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Witcher: Broken Blades" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.