Merda. Merda. Merda. Merda.

Ela precisava pensar. Sim, pensar.

Que vergonha! Como ela ia poder viver com essa vergonha? Ela podia se matar? Era só pular do terraço e então ela seria um corpo e corpos não sentem vergonha! Não? Ela não podia morrer?

Se ela não podia morrer, era hora de voltar pra realidade. Hora de voltar pra realidade, Lauren! O que diabos ia fazer? Podia ser qualquer pessoa de merda que a tinha visto!

MERDA DE PORTÃO QUE NÃO DEIXAVA VER DIREITO!

Ah, saco! Saco! O que ela faria? Aquilo era demais pra sua cabeça e...

Que vergonha! Deus, que vergonha! Colocou a mão no rosto quente querendo tampá-lo. Só que isso fez o lençol escorregar sobre seu corpo a deixando nua novamente. Exatamente nesse momento, um vento fresco noturno passou por seu corpo

—YAAAAAHHHHH – ela gritou envergonhada, agarrando novamente o lençol para se cobrir.

Ela quase podia ver sua alma saindo de seu corpo com a vergonha que sentia.

Droga. Droga. Droga! Ela podia alegar insanidade, né? Ela era louca mesmo. Afinal, quem mais ia pra um jardim ficar pelada e se masturbar lá em cima?

— He. He. He. – ela definitivamente era louca.  Definitivamente louca. Louquinha de pedra, doida varrida. Só tinha essa explicação!

Ah! Droga! O que ela faria de sua vida? O que ela ia fazer? Era a primeira vez em toda a sua existência que não sabia o que faria e... Merda!

Um vento frio passou pelo seu corpo. Roupas. Isso. Primeiro roupas. Isso. Roupas e depois sair daqui o mais rápido possível. Levantou-se olhando ao redor. Pelo amor, cadê essas merdas de roupas? Cadê a MERDA DAS ROUPAS?

Acabou achando as roupas dentro da mochila. Quem tinha colocado essas roupas na mochila? Não interessava. Ela tinha apenas que colocar as roupas e vazar o mais rápido dali. E foi isso que fez. Pegou sua calcinha e o moletom enorme de todos os dias e o colocou.

Olhou mais ou menos ao seu redor, pegou o que viu, tacou de qualquer jeito na mochila, calçou o mocassim e saiu correndo daquele jardim. 

Desceu as escadas na velocidade da luz. Com o mantra “Guria imbecil” na cabeça. No segundo andar já estava relativamente mais calma. Na entrada do prédio resolveu que precisava se acalmar de qualquer jeito.

Parou e respirou fundo várias vezes. Fez o exercício de respiração que sabia. Inspira, expira. Isso calma... Calma...

Ok. A primeira coisa era eliminar as provas. Subiu as escadas novamente e viu que acabou fechando novamente o portão de controle na hora da pressa. O abriu e checou o jardim rapidamente. Tudo no lugar como sempre. Quando estava indo embora, pisou em algo estranho.

Nuggets e um cone feito com folhas de caderno estavam ali. Pegou-os. Era sua pista.

Desceu um andar e trancou o portão que dava acesso a escada do terraço. Desceu tudo novamente mais calma agora. Tinha ao menos uma pista. Agora era só olhar as câmeras e ver quem tinha pego esses nuggets e essa folha.

Sim! As câmeras seriam sua salvação e... As câmeras... as câmer... AS CÂMERAS!

A pessoa podia ter gravado tudo e estar colocando tudo na internet agora mesmo! Ela não podia deixar isso acontecer de forma nenhuma! Sua vida certinha iria pelo ralo...

Ela quase podia ver sua alma saindo do seu corpo. Adeus, alma... Ninguém quer mesmo ficar num junto de uma menina tão imbecil que se deixou ser pega... Adeus, alma...

Adeus, vida. Foi bom viver você também.... Ela se pôs a chorar internamente. Sua vida de certinha, sua reputação... Tudo isso indo pelo ralo por causa de alguém que a filmou e...

E o que era isso? Ela não estava se reconhecendo! Ela não era assim: ela era dessas que sempre sabiam o que fazer! Isso. Se alguém queria destruir sua vida, ela iria devolver o triplo pra essa pessoa. Sim, era assim que era. Isso. Ela era Lauren Nascimento!

A primeira coisa que precisava fazer era impedir quem quer que fosse de upar o vídeo. Pegou o celular no bolso lateral da mochila, respirou fundo mais algumas vezes, testou sua voz para ver se ela já tinha voltado ao normal e só então fez uma ligação.

—Eu tenho uma ordem – a voz dela estava no tom calmo e monótono de sempre. Ela até se assustou com sua capacidade de atuação – Quero que você bloqueie a internet da escola e cheque se alguém daqui upou algum vídeo nesses últimos... – ela olhou para tela do celular. Fazia meia hora que tinha subido para o telhado. Céus, tudo isso tinha acontecido em meia hora?-  Nessa última hora.

—Você tem muitas exigências. – a voz masculina respondeu entediada – Posso saber porquê?

—Não –seu tom apesar de monótono era firme e decidido -, apenas obedeça. E qualquer vídeo upado eu quero que você me envie. – e ela desligou.

Respirou fundo mais algumas vezes e colocou sua máscara de aluna perfeita novamente. Ótimo, agora que ela não deixara que aquilo se espalhasse para fora do colégio, ainda tinha mais uma missão a cumprir: precisava descobrir como não deixar isso vazar dentro da escola.

Não fazia muito tempo que tinha desligado o celular quando ouviu o bipe.

“Bloqueei” Era a única mensagem que aquele número sem nome em seu celular a enviara. Escreveu uma resposta:

“Algum vídeo?” Ela esperou alguns segundos até ler novamente na tela:

“Segue”

Ela já estava chegando perto do complexo escolar e analisava os vídeos pelo celular. Vários alunos fazendo snap e um professor gravara a solução de um desafio matemático até agora.

—Lauren? – Ela se virou para ver um dos monitores. Ele estava no terceiro ano e mesmo fazendo esforço, Lauren não conseguia se lembrar o nome dele.  – Você é a Lauren do segundo ano?