Segundo ato escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 8
Intermissão VI


Notas iniciais do capítulo

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POV Harry

 O mal estar com o desfecho da noite do meu aniversário de casamento demorou a passar, mas foi embora quando consegui me convencer de que eu não tinha mais um casamento, consequentemente não precisaria me preocupar com o que quer que tivesse acontecido naquele dia.

Ainda assim, precisei esperar o “nosso mês” acabar para me livrar completamente dessa sombra.

O próximo, no entanto, começou da melhor forma possível: fui promovido. Não mudava muita coisa efetivamente, mas me tornava responsável por clientes maiores e mais importantes e era um grande passo na minha carreira. Além disso, havia a novidade de que agora eu precisaria sair em algumas viagens, pois alguns deles ficavam em outros estados, e a expectativa me deixou empolgado.

Duas semanas depois, estranhei ao sair de uma reunião que durou a manhã toda e encontrar a mesa da Helen vazia, nenhum sinal de que ela havia chegado. Não era comum minha colega de trabalho se atrasar, então não consegui evitar a preocupação.

Não precisei me inquietar muito, no entanto, porque poucos minutos depois a vi entrar com um sorriso radiante, completamente incoerente com a quantidade de horas de atraso. O motivo ela me contou antes mesmo que eu perguntasse, em meio a uma manifestação de felicidade e euforia totalmente justificáveis:

—Estou grávida, Harry!

Qualquer resquício de dúvida que eu tivesse a respeito de parabenizar ou não, sumiu com o tamanho do sorriso que ela exibia enquanto pousava a mão em cima da barriga completamente reta.

—Parabéns, Helen, e que Deus dê muita paciência a essa criança.

Ela gargalhou da minha piada, mas não pareceu se importar com meu comentário.

—E ao David, porque estou me sentindo meio inconstante.

—Principalmente ao David, então, pobre homem. - Lamentei antes de rir também. - Você chegou tarde hoje, está tudo bem?

—Está, sim, só fui ao médico pra confirmar, estou com cinco semanas.

—Não vai você começar a contar em semanas igual toda mulher grávida, por favor, fala logo pouco mais de um mês que eu entendo melhor.

Aparentemente tudo estava engraçado no mundo dela, porque minha amiga riu outra vez.

—Estamos tão felizes, Harry!

A afirmação era desnecessária frente ao tamanho do sorriso.

—Fico feliz por vocês, e desejo que venha com muita saúde.

—Obrigada.

—Já almoçou?

—Já, passei num restaurante com o David antes dele me deixar aqui, obrigada.

—Então já vou, até daqui a pouco.

Apanhei em cima da minha mesa tudo o que precisaria para conseguir comprar minha refeição e saí do escritório.

Depois de me acomodar sozinho numa mesa pequena do restaurante em frente à empresa, deixei minha mente vagar por uma dúvida que me surgiu pela primeira vez tão logo ouvi a novidade: o que Ginny diria se soubesse que a Helen está grávida? A resposta para isso eu provavelmente nunca saberia, mas como com ela não há meio termo, ela teria absoluta certeza de que sou o pai, ou se convenceria de uma vez por todas de que nunca houve nem haveria nada.

No fim do dia, guiei meu carro por um caminho diferente do meu apartamento, em direção ao shopping mais próximo à empresa. Esse não era um destino comum para mim, e não fazia parte dos meus passeios preferidos, mas a bateria do meu relógio havia acabado na semana anterior e eu precisava trocá-la.

Consegui uma vaga perto da entrada das lojas e caminhei diretamente para a joalheria no segundo andar, não me preocupei nem em olhar em direção às vitrines. Entrei na minha loja de destino e fui direto ao balcão, onde havia uma vendedora livre. Expliquei qual era o problema e entreguei meu relógio a ela, que não levou mais de um minuto para avaliar.

A troca era rápida e não compensava ir para casa ou voltar no dia seguinte para buscar, assim resolvi aguardar os trinta minutos necessários. Caminhei sem pressa pelo corredor, olhando ao redor sem necessariamente prestar atenção em nada, e parei com os cotovelos apoiados no parapeito do chafariz que havia de frente para uma loja de brinquedos.

Tirei o celular do bolso para ver as horas e monitorar o tempo necessário até poder buscar meu pertence e ir para casa, e o deixei sobre a mureta ao lado do meu cotovelo. Os minutos foram passando devagar, como sempre acontece quando é necessário aguardar alguma coisa, me deixando entediado.

Em determinado momento uma moça de cabelos pretos se encostou ao meu lado, falando animada ao telefone a poucos passos de mim, aparentemente sem nem notar minha presença. Continuei onde estava, olhando ao redor à procura de algo para me distrair, até que minha atenção se voltou de súbito ao movimento repentino que ela fez ao se virar de frente e apoiar a mão no parapeito, mandando meu celular direto para dentro da água.

Olhei atônito enquanto o aparelho afundava, a tela, antes iluminada, agora completamente escura. Eu não era um expert em tecnologia, mas sabia o suficiente para considerar inútil a possibilidade de ir até alguém da manutenção para tirá-lo dali de dentro.

—Ai, caramba. - Ela exclamou com a voz assustada. - Sarah, te ligo depois. Moço, desculpa!

Olhei diretamente para ela pela primeira vez, encontrando um par de olhos castanhos arregalados, completando um rosto bonito e quase da minha altura, com certeza mais jovem do que o meu.

—Desculpa mesmo, eu estava distraída e não vi, foi um acidente.

—Não, tudo bem, acontece.

Ela pareceu me olhar pela primeira vez quando a tranquilizei, e lançou um sorriso simpático na minha direção.

—Qual era o aparelho? Não vou te deixar com o prejuízo e nem adianta negar.

Ri da objetividade em resolver a situação, mas informei o modelo do meu telefone que jazia agora dentro do pequeno lago.

—Compro outro para você assim que chegar em casa. - Prometeu e eu assenti. - Vou te passar meu telefone e meu e-mail, aí você me envia seu endereço que eu mando entregar direto lá.

—Tudo bem, não precisa se preocupar, você pode me entregar quando chegar. Marcamos em algum lugar e eu pego com você.

—Nossa, me desculpa mesmo. - Pediu mais uma vez, envergonhada, cobrindo o rosto com as mãos.

Eu não estava muito preocupado com o aparelho em si, mas não conseguia tirar da cabeça o cartão de memória que certamente já não funcionava mais a essa hora, acabando com todas as fotos que estavam nele. Fotos que eu não queria perder, porque as únicas outras cópias estavam no computador do escritório da minha antiga casa.

—Tudo bem, é só um celular, resolvemos isso. - Dei de ombros, fingindo que não tinha nada demais. - Vou aproveitar que estou aqui e providenciar outro chip. Te passo o número e uso um aparelho antigo enquanto isso, aí quando chegar você me avisa e eu busco.

—Por mim está ótimo. - Se apressou a concordar.

Ditei meu número para ela, esperando que ela o guardasse na memória do aparelho móvel.

—Muito prazer, Harry, sou Vivian. - Se apresentou quando disse meu nome, completando a informação do meu contato.

—Prazer, Vivian. - Estendi a mão para um aperto, formalizando as apresentações.

—Não quer anotar o meu também? - Ofereceu após guardar o aparelho. - Vai que eu não consigo te ligar.

—Não tenho onde anotar agora.

—Eu tenho papel, só um minuto.

A esperei procurar um bloquinho dentro de uma bolsa enorme e destacar uma folha, onde anotou seu número.

—Obrigado. - Agradeci enquanto guardava o papel dobrado.

Ela dispensou meu agradecimento, como se fosse desnecessário, e ainda se desculpou algumas vezes pelo que aconteceu antes de sair e me deixar sozinho novamente.

Olhei desolado para o meu celular imóvel e apagado no fundo do pequeno lado, e com um suspiro resignado voltei à joalheria. Meu relógio já estava pronto, mas precisei alongar minha visita ao shopping para providenciar um novo chip.

Com minhas duas atividades cumpridas, fui embora depois de mais tempo do que o previsto por mim inicialmente.

Vivian tinha me passado o número certo e dado satisfação todos os dias por mensagem, informando que o aparelho já havia sido comprado, que estava na transportadora, que tinha previsão de entrega para o dia seguinte e, por fim, que já havia chegado e eu poderia marcar um dia que pudesse buscá-lo em algum lugar à minha escolha.

Para facilitar para nós dois, marquei no mesmo shopping, num horário em que eu já teria saído do trabalho. Quando cheguei, alguns minutos depois devido a um imprevisto, ela já estava me esperando numa mesa da praça de alimentação.

—Olá, desculpe o atraso. - Falei assim que me juntei a ela.

—Não tem problema, aqui está.

—Obrigado. - Agradeci enquanto puxava para mim a caixa lacrada de um aparelho idêntico ao que eu tinha.

—Eu não sabia exatamente a cor, então comprei o preto, achei mais discreto.

—Era cinza, mas o preto está ótimo, não se preocupe com o detalhe.

—Infelizmente meu tempo está bem curto hoje, só vim mesmo para te entregar, mas já preciso ir embora.

—Sem problemas, agradeço por ter vindo.

—Não foi nada. - Ela pareceu hesitar antes de dizer a próxima frase, mas quando o fez foi sem nenhum resquício de dúvida. - Vou deixar seu número anotado, tudo bem? Se quiser fazer o mesmo com o meu. - Finalizou erguendo um dos ombros, indicando que a escolha era minha.

Por um segundo, olhei sem dizer nada para aquela demonstração tão explícita de interesse. Fazia tanto tempo que eu não prestava atenção nesse tipo de coisa, que a princípio não soube o que pensar, muito menos o que dizer.

Não havia como negar que ela era bonita, o cabelo preto e curto contrastando com a pele clara e o corpo atraente, mas não consegui me decidir de imediato.

Precisei de um minuto inteiro e me lembrar mais uma vez que aquilo não era errado, que eu não tinha do que me culpar e meu novo estado civil permitia perfeitamente que eu tivesse encontros sem me sentir a pior pessoa do mundo.

Além disso, uma hora eu precisaria recomeçar a viver.

Pensando nisso, sacudi a cabeça para espantar o turbilhão de pensamentos, e antes que ela pensasse que eu tinha algum tipo de problema, sorri de volta e respondi:

—Claro, vou anotar o seu também.

Ela se despediu e saiu logo depois, um sorriso enorme e cheio de expectativas aberto na minha direção.

 

POV Ginny

Depois do primeiro mês de aulas, que é sempre o mais corrido entre planejamentos e adaptação com as turmas, tirei um final de semana no final de março para visitar meus pais e receber todos os mimos que eles sempre me davam. Provavelmente a pedido do meu pai, todos os nossos assuntos e perguntas foram unicamente a meu respeito.

Eles não moravam tão longe, mas eu nunca ia para voltar no mesmo dia, então cheguei em casa no final da tarde de domingo. Após tirar as poucas roupas da mochila que levei e tomar um banho, eu estava morrendo de fome e sem a menor vontade de cozinhar apenas para mim. Me vesti e dirigi até um barzinho mais tranquilo, disposta a jantar uma das inúmeras opções de porções que eles serviam.

Me acomodei no balcão de frente para o bar, pedi um suco de abacaxi e uma porção pequena de camarões, que era o melhor prato do local na minha opinião. Por vários minutos, me dividi entre apreciar minha refeição e ver amenidades na internet, concentrada na tela do meu celular. Até que ouvi uma voz masculina se dirigir a mim:

—Professora?

Em pé ao meu lado, estava um dos meus alunos. Eu o reconhecia das aulas de estatística para as turmas de segundo ano do curso de Economia, ele sempre ficava quieto no fundo da sala e raramente tinha dúvidas, mas não fazia ideia do seu nome. Minha cara de interrogação deve tê-lo alertado.

—Lucas, da turma de estatística.

—Ah, claro. Desculpe, eu lembro de você nas aulas, mas são muitos nomes.

—Não tem problema. A senhora está sozinha?

—Estou, mas “senhora” não, Lucas, por favor.

—É só força do hábito, porque você é muito jovem para ser chamada de senhora. - Se desculpou meio encabulado, me fazendo rir. - Vou me sentar aqui com você, tudo bem?

Raras vezes ele tinha falado comigo na universidade, e em todas elas foi sempre muito educado. Não vi problema nenhum em deixá-lo me fazer companhia enquanto terminava meu jantar.

—Fique à vontade. - Indiquei o banco ao meu lado.

Finalizei meu suco e pedi outro enquanto ele fazia seu pedido ao mesmo garçom, que se afastou um tempo depois.

—Está gostando do curso? - Perguntei, me virando para ele.

—De um modo geral, sim, mas algumas aulas são bem chatas. - Respondeu espontaneamente, depois se apressou a explicar. - Não estou falando das suas aulas, elas são as minhas preferidas.

Ri desconfiada, porque era pouco provável que isso fosse verdade.

—Estou falando sério, eu gosto das suas aulas, professora, a matéria é legal e você explica de um jeito diferente, deixa tudo interessante, é uma aula que não dá nem vontade de faltar.

Ele parecia sincero ao dizer, e eu gostei do elogio ao meu trabalho.

—Obrigada, espero que você continue achando isso quando entrarmos em curva normal e tabela Z. - Falei em tom de desafio.

—Tenho certeza que suas explicações me fariam gostar até de física molecular espacial, se é que isso existe.

Dessa vez eu ri com vontade, e ele me acompanhou.

—Fico realizada em saber que minha didática é assim tão boa.

O garçom nos interrompeu, trazendo nossos pedidos e deixando no balcão à nossa frente.

—Mas e você, não cansa de ver números o dia inteiro?

—Na verdade, os números são a parte mais legal do meu dia. A sala de aula, as matérias, as dúvidas, eu adoro isso. Chato são os planejamentos, a parte burocrática que sempre tem. Principalmente quando vocês faltam demais, tudo tem que ser lançado e só me dá trabalho.

—Então agora que não vou perder suas aulas mesmo, longe de mim dificultar sua vida.

—Obrigada, é muito gentil.

—Além disso a perda maior seria minha, não é?

—É o que eu sempre digo, vocês faltarem só muda minha quantidade de trabalho, mas eu já sei tudo o que estou ensinando ali.

—Não era pela matéria que eu estava falando, mas tem isso também.

Olhei de canto para ele por um momento e o observei, sem dizer nada. Lucas devia ter entre dezoito e vinte anos e estava no segundo ano da faculdade, mas isso não anulava o fato de que era um homem bonito e estava me enchendo de atenção e elogios, coisa que eu sentia falta e não tinha há tempos.

Afastei com veemência o mal estar que começou a surgir, me dizendo que eu não deveria estar ali, porque desde que a porta se fechou eu podia estar onde quisesse. Além disso, depois de tanto tempo, era gostosa a sensação de flertar outra vez, então continuei exatamente onde eu estava.

Ele sorriu de volta ao ver que não recuei e se virou no banco, ficando de frente para mim.

—Está valendo tanto a pena assim acordar cedo na segunda feira? - Provoquei de propósito, apenas para vê-lo afirmar.

—Só não mais que sair da cama hoje pra vir jantar aqui.

—Também tive que fazer um esforcinho, mas era isso ou jantar sozinha em casa.

—Melhor com companhia, não é?

—É melhor com companhia, sim.

Fiquei em silêncio por um momento e finalizei meu segundo copo de suco enquanto ele me olhava. Notei pela minha visão periférica quando se inclinou um pouco mais na minha direção.

—Tem outra coisa que me faz adorar suas aulas também.

—E o que é?

—Você.

Ergui a sobrancelha, indicando que queria uma explicação melhor.

—Me permite um elogio?

—Claro. - Me virei de frente para ele também, minhas pernas cruzadas ficando entre as dele, devido o pequeno espaço entre os bancos.

—Você é muito bonita, é impossível não te olhar enquanto você está tão a vontade andando de um lado para o outro lá na frente.

—Impossível?

—Sim, eu pelo menos não consigo tirar os olhos.

—Se eu fosse você daria um jeito de conseguir, eu não caio na prova.

—É uma pena, porque essa sem dúvidas é uma matéria em que eu gostaria de passar.

Foi involuntário o sorriso que estampou meu rosto.

—Professora, sorrindo assim fica difícil olhar para outro lugar.

—Não olhe.

Minha resposta não foi intencional, mas quando percebi já tinha falado.

—É pra olhar só para você, então? - Perguntou sugestivo, no momento exato em que alcançou minha mão sobre o balcão e deslizou o dedo desde o meu pulso por todo o antebraço.

Não sei se ele sentiu, mas fiz de tudo para disfarçar o arrepio.

—É só uma ideia para poupar seu esforço, já que está difícil olhar para outro lugar.

—É uma ideia muito boa, mas só vou olhar?

Uma vez começado esse tipo de conversa, era difícil parar, principalmente porque a expectativa já estava presente. Ele me olhava com vontade, uma vontade que eu sentia falta de ver direcionada a mim.

Eu já estava aqui, o clima era palpável e não tinha como negar que eu estava gostando, então como resposta apenas ergui os ombros, dando a entender o que eu queria sem precisar dizer nada.

Não consegui olhar para outro lugar quando a mão que estava no meu braço se acomodou na minha cintura, me puxando para mais perto, além disso ele estava exibindo um sorriso tão grande que me fazia bem saber que eu o deixava radiante daquele jeito. Só precisamos nos inclinar um pouco na direção um do outro para que nossas bocas se alcançassem, primeiro com um selinho, depois com uma mordida leve no meu lábio, e por fim num beijo profundo.

Não sei quanto tempo ficamos ali, a mão dele na minha cintura e na minha coxa, alternando entre carinhos gostosos e apertos mais firmes, e eu acariciando sua nuca com a ponta das unhas, toda a concentração voltada naquele beijo. Eu não saberia dizer em que estava pensando naquele momento, porque minha mente era um completo espaço em branco.

Nos afastamos apenas o necessário quando o ar começou a fazer falta, mas ele não me deu espaço para me distanciar e desceu alguns beijos rápidos pelo meu pescoço, antes de voltar para a minha boca falou com a voz mais rouca:

—Tem certeza que você não cai na prova, professora? Porque tudo que eu quero agora é me tornar um especialista.

—Tenho, absoluta.

Interrompi a risada dele com um beijo, mais profundo que o anterior, e desci minha mão também para sua perna. O arrepio subiu junto com a mão dele, que parou no meu quadril.

Naquele momento não me fazia diferença que ele mal tivesse vinte anos e fosse meu aluno, o tamanho do meu ego com a satisfação que ele mostrava em estar ali comigo me fazia esquecer do resto e me concentrar só naquela sensação gostosa de ser desejada e elogiada.

—Posso perguntar uma coisa? - Lucas pediu, se afastando um pouco e apertando minha coxa.

—Pode.

—Não leve a mal, é que as histórias correm, mas que tipo de idiota se separa de uma mulher como você? Você é linda, perfeita.

A frase dele não tinha nada de deboche, apenas curiosidade, mas acabou com todo o meu clima. O próximo beijo aconteceu no modo automático, já sem toda empolgação da minha parte. Correspondi com a mão imóvel sobre sua perna, pensando apenas que a resposta honesta para a pergunta dele seria que Harry não é um idiota, e que eu não queria estar separada.

Eu não tinha motivo para me sentir mal e de fato não me sentia, mas de repente estar ali sendo desejada por um rapaz, que além de muito jovem ainda era meu aluno, já não me parecia mais tão satisfatório.

—Quer ir para outro lugar? - Ele perguntou no meu ouvido, me puxando para mais perto.

Espalmei as mãos em seu peito e o empurrei. Quando o encarei, o fogo nos olhos escuros dele estava abrasador.

—Lucas, eu não quero, não. - Falei sinceramente e sem titubear.

Ele hesitou um pouco, aquela claramente não era a resposta que ele esperava. O vi abrir a boca duas vezes sem saber o que dizer, antes de por fim se manifestar.

—Fiz algo errado? - Perguntou, tentando manter o bom humor.

Acabei rindo da nota de insegurança.

—Não fez nada errado, não, só não quero. - Expliquei e ele assentiu.

Pedi ao garçom do outro lado do balcão a minha conta. Assim que ele me entregou, estiquei o cartão de crédito para ele, mas a mão do meu aluno pousou sobre a minha.

—Deixa que eu pago. - Olhei tão desafiadora para ele, mostrando como aquilo era ridículo e desnecessário, que ele recuou imediatamente. - Desculpe.

Esperei que o serviço fosse cobrado, peguei o meu cartão de volta e guardei na bolsa junto com a minha via da transação.

—Obrigada pela companhia, Lucas.

—Eu é que agradeço, só vai ser difícil esquecer.

—Mas é o que vamos fazer, e conto com a sua discrição.

—Como quiser. - Me respondeu inexpressivo, olhando enquanto eu me levantava.

—Até amanhã.

—Até, boa noite.

No caminho até em casa, pensei se era assim que seria estar solteira, status que eu já não tinha há tantos anos: beijos sem nenhum gosto especial, empolgação passageira, o calor do momento e depois apenas o nada que eu estava sentindo.

Eu gostei dos elogios, da atenção, do papo descontraído, de me sentir como a única coisa que importava para alguém, ainda que por um momento. Mas o Lucas era só a pessoa que tinha me proporcionado por alguns minutos, não de quem eu realmente queria tudo isso. E quem eu queria, estava muito longe de sequer parecer com ele.


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Notas finais do capítulo

Oi, pessoal! Como estão?
Chato vê-los interagindo com outras pessoas, né? Escrever é mais difícil ainda!
Mas antes que vocês comecem a odiá-los e me odiar também, gostaria de ressaltar duas coisas sobre: nesse ponto da história eles já não estão juntos há 7 meses, e as pessoas tem necessidades, a outra coisa é que eles se amam, isso é fato, mas creio que seja notável que ainda não consertaram neles mesmos o que tanto atrapalhava a relação com o outro.
Não é um capítulo legal, mas é necessário, e também não é o pior capítulo que está por vir. Mas eu prometo que se vocês forem pacientes vem muita coisa fofa por aí também =)
Aguardo os comentários de vocês, não deixem de me dizer o que estão achando.
Beijos e até semana que vem.



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