Bulletproof Daughter escrita por Jéssica Sanz, Jennyfer Sanz


Capítulo 20
CHARACTER NARRATION: A quarta face Pt.2 (por Jeon Minji)


Notas iniciais do capítulo

[Jéssica] Segunda e última parte do nosso conto dentro da fic. Estou apaixonada por essa história, só tenho pensado nisso ultimamente!

[Jennyfer] Estou super in love com esse mini arco.



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Aconteceu que, por volta das três da tarde, fomos surpreendidos quando o médico apareceu e disse que eu tinha uma visita. Eu não consegui acreditar quando o vi entrar no quarto. Meu primeiro palpite foi que meus pais haviam preparado uma surpresa para mim, mas eles pareciam tão surpresos como eu. Perguntaram, gentilmente, o que ele fazia ali, e como tinha descoberto o hospital.

— O velho método da tentativa e erro — explicou ele.

— Como assim? — Perguntou meu appa, incrédulo. — Quer dizer que você...

— Sim. Passei a manhã toda inquieto, me perguntando como ela estaria. Quando saí da escola, estava tão aflito que não resisti. Fui logo para o hospital mais próximo e perguntei por Jeon Minji, mas não havia sinal dela. Então, vim pra cá, e encontrei.

Agust estava mentindo. Aquela era sua quinta tentativa, como me contaria meses depois.

— Você almoçou? — Eu perguntei.

— Eu estou bem — disse ele, rindo.

— Vou comprar alguma coisa pra você.

— Não, Sra. Jeon, não precisa. Eu não vim aqui pra dar trabalho.

— Pare com isso — disse ela, como se ele estivesse falando alguma bobagem. —Você tem sido um anjo para a nossa menina, Agust, até agora não conseguimos te recompensar.

— Minha recompensa é saber que ela está bem, Sr. Jeon.

— Lindo se você pensa assim — disse meu appa. — Mas não vai conseguir continuar protegendo-a enquanto estiver com fome.

Meus pais insistiram mais um pouco e conseguiram convencê-lo a aceitar o almoço.

Agust ficou lá a tarde inteira e foi embora quando o horário de visitas acabou. Ele também me visitou nos outros cinco dias de internação, e estava lá quando eu tive alta. Fomos juntos pra casa. Aqueles dias fortaleceram a nossa amizade e nossa relação de irmão e irmã, protetor e protegida. Não precisei novamente da ajuda dele como naquela época, mas ele continuou ao meu lado e me ajudou das maneiras mais simples: sendo meu único e verdadeiro amigo, com quem eu podia contar para qualquer coisa. Às vezes ficávamos lá em casa a tarde toda conversando sobre tudo. Assuntos simples, como os jogos de basquete e as provas; assuntos banais da idade, como os garotos que eu olhava e as garotas que ele beijava; assuntos importantes, como a vida e o futuro. Também brigamos algumas vezes, mas nada disso durava mais que três dias, porque não havia nada que detestássemos mais do que a distância que nos separava nesses momentos. Nos fins de tarde frios de inverno, meu appa acendia a lareira, minha eomma preparava bebidas quentes e bem doces, e nós ficávamos sentados no tapete, entre um monte de almofadas, cobertores e roupas quentinhas, contemplando o fogo e as formas que surgiam ali. Não era preciso dizer nada. Não era preciso olhar pra ele. Eu sabia que ele estava ali.

Nossa época feliz teve sua data final marcada quando meu appa e minha eomma me chamaram para uma conversa séria. Achei que eu tinha feito algo de errado e talvez fosse ganhar um castigo, mas talvez eu preferisse o castigo do que aquilo: meu appa tinha perdido o emprego. Era um emprego ótimo que garantia aquela casa grande, a escola boa e meus suprimentos de açúcar. Ele poderia procurar um novo ali mesmo em Daegu, mas ele sabia que a situação não estava tão boa assim em nossa amada cidade. Ele explicou para nós duas, com tantos argumentos que era impossível discordar, que a melhor saída era ir para Seoul. Lá haveria mais oportunidades, empregos ainda melhores, uma casa melhor, uma escola melhor, uma vida totalmente melhor. Estávamos passando dificuldades e ele não queria que acontecesse o mesmo comigo quando chegasse a minha vez. Na capital, eu teria todas as chances para seguir o futuro que eu bem entendesse, diferentemente de Daegu, onde as opções eram limitadas. Meu appa estava certo. Seoul era a terra boa e fértil onde minhas sementes poderiam dar os melhores frutos. Seoul era o plano perfeito, exceto por uma coisa.

Agust D.

Naquela conversa, eu percebi que nossa separação era inevitável. Eu queria ficar por ele, mas precisava ir pela minha família e pelos meus sonhos. Mesmo que eu quisesse adiar, não poderíamos ficar juntos para sempre. A infância era só um pequeno e variável trecho da vida, uma passagem que não deve ser eternizada. Por mais que doesse, eu precisava dizer adeus.

Ainda fiz muitos caminhos sem ter coragem de dizer a ele que eu teria que partir. Não sabia se conseguiria ser o arauto da nossa despedida. Eu queria pedir ao meu appa para conversar com ele e explicar, mas sabia, no fundo, que aquilo era algo que eu deveria fazer sozinha. Mas só consegui porque Agust percebeu que eu estava diferente, e questionou isso. Era uma pergunta, cuja resposta era a notícia que eu não queria dar.

— O que houve com você? Está estranha…

— Eu… tenho uma coisa pra te falar.

— Então fale.

— Eu vou embora de Daegu.

Eu poderia ter feito mil voltas e explicações, mas acho que me doeria mais. Então, eu disse de uma vez só.

Senti que Agust queria interromper aquela caminhada.

— O quê? — Perguntou ele, tentando esconder o quão estava abalado com aquela notícia. Mas nem mesmo ele conseguiria disfarçar o que estava sentindo.

— Eu vou pra Seoul. — Só então contei os detalhes, os motivos que tornavam a viagem necessária. Ele foi andando enquanto ouvia aquilo tudo e concordava com a cabeça, como se fosse uma batalha de rap à qual ele não podia responder.

Eu não sabia como ele reagiria ao fim, mas sabia que ele não protestaria. Não era como se ele pudesse mudar alguma coisa. Ele não tinha esse poder, e sabia disso. Além disso, por mais que ele amasse Daegu e a levasse no seu nome, ele conhecia a realidade. Então, ele só aceitou aquilo e ficou quieto por muito tempo, caminhando e pensando.

— Vai ser bom pra você — ele disse, finalmente, dando de ombros. Agust, sempre tentando ver o lado bom de tudo. — Você precisa voar, passarinho.

Ali, descobri que Agust não estava ao meu lado. Ele estava ao meu redor, me protegendo de tudo o que era ruim. Eu estava cercada de Agust D, porque ele era Daegu, era minha morada e meu protetor. Eu estava prestes a abandoná-lo, mas ele estava habituado a me ter em seu interior como um coração que pulsa, então minha saída o destruiria. A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer precisa destruir um mundo.

A partir daquele dia, o andar ficou mais lento, o caminho ficou mais longo. Nenhum dos dois precisava dizer nada: nós simplesmente sabíamos que precisávamos desfrutar ao máximo da companhia um do outro enquanto era possível. Eu ficava na mesa dele todo intervalo. Agust passava mais horas na minha casa do que antes. No começo dessa época em que tudo parecia estar rachando e desmoronando, poderíamos ter ficado tristes por aquilo que nos era imposto, e realmente foi assim nos primeiros dias. Mas logo, ele se deu conta de que aquele restinho de tempo que escorria entre nossos dedos deveria ser o trecho mais feliz de nossa temporada. Então, ele me propôs esquecer os problemas, esquecer a futura partida e pensar apenas no hoje. Pensar em viver ao máximo, e foi o que fizemos. Em vez de simplesmente passar a tarde em minha casa, ele me levava para diversos lugares, onde passeávamos, conversávamos, ríamos, nos divertíamos ou simplesmente ficávamos felizes. Só que ninguém é de ferro. Como ele mesmo insistira em dizer, ele não era tão insensível quanto geralmente aparentava. Em uma tarde de primavera, estávamos deitados na grama debaixo de uma cerejeira, descansando depois de ficar correndo pela grama a tarde toda. Eu estava de olhos fechados, só sentindo aquela brisa, quando de repente olhei para o lado, e vi que ele estava chorando silenciosamente. No primeiro momento, eu não soube como agir. Então, eu me virei e o abracei, e nós ficamos ali até começar a escurecer.

O último dia proporcionou a caminhada mais longa. Nós andamos até nossa rua com passos tão lentos que quem nos visse de longe poderia acreditar que estávamos parados. Nenhum de nós ousou dizer nada. Ficávamos apenas encarando o chão e as pedrinhas que se achavam aqui e ali. Raramente, eu olhava pra ele por poucos segundos, ou sentia o olhar dele sobre mim. Na maior parte do tempo era suficiente ouvir o ruído dos seus sapatos ou de sua respiração, e imaginar como seria estranho para mim quando meus caminhos começassem a ser sem ele. Era algo surreal demais para minha mente.

Nosso último caminho chegou ao fim quando alcançamos a minha casa. Eu olhei para ela, da qual também viria a me despedir. Ainda era impossível acreditar que todo aquele mundo no qual eu estava inserida deixaria de existir.

Finalmente, eu olhei pra ele. Nunca pareceu tão belo. Era impossível saber o que ele estava pensando pela sua expressão, mas a ocasião permitia supor. Eu senti que precisava agradecê-lo por ter sido aquilo tudo pra mim, mas antes que eu o fizesse, ele fez.

— Gomawo.

— Achei que fosse eu quem deveria te agradecer.

— Minji… Você não tem ideia do que fez por mim? Você me deu a oportunidade inédita de ter alguém por quem viver. É algo pelo qual nunca poderei te recompensar.

— Mas… Agust… Você fez tanto por mim… Eu sei que no começo era uma obrigação, mas…

— Nunca foi uma obrigação, Minji. Olha: salvar você foi uma obrigação. Me importar com você foi uma consequência. Mas ficar ao seu lado foi uma escolha. Uma escolha terrível.

— Terrível? — Perguntei, receosa.

— Se eu não tivesse te escolhido… não estaria sofrendo tanto agora. — Eu queria dizer muita coisa, mas não me vinha nada na mente. Eu só o escutei falar. — E eu sei que eu vou sofrer por muito tempo, porque desde que eu te conheci, as piores horas da minha vida têm sido as que eu vivo sem você. Mas há uma chance mínima de eu superar isso. No fundo, não importa. Mesmo que eu sofra pelo resto da minha vida, eu não trocaria. Porque tudo aquilo que nós vivemos foi muito precioso. Ficou no passado, mas também ficou na minha memória. Eu nunca, nunca vou esquecer disso. É importante demais! Nós rimos, nós choramos, foi tão bonito… E agora eu tô olhando pra você… Tentando acreditar que não vou ter ver mais.

De repente, Agust olhou pra baixo e se conteve. Ele não gostava quando deixava transparecer sentimentos tão fortes.

— Vai ficar tudo bem — eu disse, também tentando me conter. Eu não queria chorar no nosso último encontro. — Agust — eu o chamei, e ele olhou pra mim. — Vai ficar tudo bem. Nós somos fortes, não somos?

— Eu sou. Não sei quanto a você.

Percebi a leve ironia em sua voz e o soquei no ombro, com toda a força que eu pude, o que não era muito.

— É você que está aí se derretendo feito gelo na primavera! Eu estou muito bem!

— Tô vendo — disse ele, ainda com ironia. Nós dois sabíamos que eu não era forte nem ia ficar bem, emocionalmente falando. Mesmo naquela situação que estava destruindo a nós dois, escolhemos continuar firmes, depois de fraquejar por um curto momento. — Ai ai, Minji, eu duvido que você consiga se virar sem mim.

— Mas que audácia! É claro que eu consigo.

— Eu não confio em você. Foi por isso que eu vou te dar um presente, pra garantir que você fique bem, e que me leve com você por onde for, sem nunca se esquecer de mim e do que vivemos juntos. — Agust tirou do bolso um isqueiro. Aquele havia sido o seu primeiro, e eles eram inseparáveis. O nome dele estava escrito, arranhado na lateral. — Isso aqui é pra iluminar o seu caminho, agora que terá que fazê-lo sozinha. E pra que se lembre de mim mesmo daqui a muitos e muitos anos.

Eu o peguei, sem deixar aparecer o meu receio.

— Tem certeza? Você gosta tanto desse isqueiro… Está carregado de significado.

— Exatamente! Você não queria que eu te comprasse um isqueiro novo e vazio, queria?

— Não — eu disse rindo. — Dificilmente ele me lembraria você. Obrigada pelo presente, Agust.

— Isso não é um presente. É uma lembrança.

— Ué, foi você que disse que é um presente.

— Não isso. O presente é outra coisa.

Sem nenhum pingo de pressa, nem mesmo de hesitação, Agust D me deu o seu presente: um beijo.  Tudo naquele momento foi perfeito, até mesmo a duração do beijo e a pressão dos seus lábios nos meus. Era algo que ele nunca havia ousado fazer comigo, porque éramos como irmãos. Era algo que eu nunca tinha feito, porque me achava só uma garotinha e não tinha coragem de chegar perto dos meninos. Beijar era algo que fazia parte da rotina dele, mas eram beijos que não tinham nenhum significado. Aquele era apenas um, mas significava tudo.

Depois de me beijar, Agust parecia completamente normal, como se nunca tivesse ousado fazer aquilo. Ele apenas continuou como se realmente tivesse me entregado um simples objeto.

— Eu desejo que isso faça você ser forte, ter coragem para encarar a grande capital e os oppas que vai encontrar por lá. Tudo vai ser difícil, e você pode achar que está sozinha, mas não está. Você me tem em seu coração, e eu estarei com você em todo caminho que fizer. Você nunca vai caminhar sozinha.

Eu estava a ponto de chorar, então o abracei muito forte para tentar me conter. Aquele era meu último abraço, era a despedida inevitável e inacreditável. Não me alonguei, porque sabia que não adiantaria nada. Segurá-lo um pouco mais não impediria o momento fatal da nossa separação. Então, eu o soltei, e olhei pra ele a última vez. Não conseguia acreditar que não poderia mais olhar para ele para me certificar de que ele me protegeria se algo de ruim acontecesse. Muita coisa passou pela minha cabeça, mas eu precisava partir. Não queria ir embora, queria ficar com ele ou então arrastá-lo comigo. mas tudo isso era impossível. Então, eu disse.

— Adeus.

Olhei mais por alguns poucos segundos, na tentativa de memorizar aquele rosto. Eu não poderia esquecê-lo de jeito nenhum. Por fim, eu me virei para entrar em casa. Só me virei para fechar a porta, e ele ficou parado olhando pra mim enquanto sumia pela fresta.

Dentro de casa, as coisas estavam em preparação para a viagem. Passaram-se poucas horas entre aquele momento e a partida. Fiquei na esperança de vê-lo uma última vez, mas não o vi. Fiquei o caminho todo acendendo e apagando aquele isqueiro. Eu não consegui evitar: fiquei pensando em como Agust deveria estar sem ter uma Minji pra tomar conta.


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Notas finais do capítulo

[Jéssica] Aaaaaaaaaaai não acredito que acabou! Isso merecia uma fic à parte né nom?

[Jennyfer] Shippo tanto Yoonji, pena que não dá pra acontecer...



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