A noite já havia caído e para a tristeza de Sara não haviam estrelas. Os lampiões dos soldados noxianos que caminhavam na frente dela iluminavam o caminho, enquanto ela cavalgava calmamente por entre a floresta. Twisted Fate estava em uma gruta ali perto.

O mago havia dado o seu máximo para ganhar tempo para Graves e ela fugirem. Ele não estava gravemente ferido, já que era esperto o suficiente para saber que teria que se virar sozinho por um tempo, mas mesmo assim precisava de cuidados. Sara havia deixado o pai dormindo na espécie de enfermaria do acampamento noxiano. Era incrível o que os curandeiros conseguiam fazer. Uma poção de cura e uma pomada cicatrizante fizeram-no ficar como novo. A jove. também havia tomado uma poção e tudo indicava que na manhã seguinte já estaria curada, pelo menos dor ela não sentia mais, mesmo que estivesse mancando um pouquinho.

Sara parou o cavalo, fazendo sua comitiva parar também. Eles haviam chegado. Com a ajuda de um dos soldados, ela desceu do enorme animal. Mesmo sabendo cavalgar, descer de um usando vestido é complicado e os soldados eram muito educados. Ela teria ido sozinha buscar TF, tendo só pedido o cavalo emprestado, mas um pequeno grupo se ofereceu para ir com ela e insistiu bastante. Era gentil da parte deles, já que Sara não conhecia a floresta. Assim ela conseguiria voltar para o acampamento mais rápido e teria ajuda para carregar(ela quis dizer arrastar) Twisted Fate caso fosse necessário.

Sara pegou um dos lampiões e adentrou sozinha na gruta. Foi ela dar um passo para dentro para ouvir o campeão avisar de forma ameaçadora:

— Eu ficaria ai, se fosse você.

— Sou eu. – Sara se anunciou casualmente.

Ela desceu para o fundo da gruta com cuidado para não tropeçar em nada ou pisar em falso. A noite estava escura e o chão parecia escorregadio. Ela definitivamente precisava aprender a andar na natureza.

— O que você veio fazer aqui? – TF perguntou. - O porto é para o outro lado.

— Eu vim te buscar ué. Por que eu deixaria você para trás se eu posso te achar? Sem falar que você está ferido.

Sara chegou no fundo da gruta e encontrou uma pequena abertura em um dos cantos. Ela andou calmamente até lá e quando passou por ela viu uma pequena sala cavernosa de teto baixo. Na marchem de um pequeno riacho, estava Twisted Fate, sentado escorado na parede. Sara se aproximou e se sentou ao lado dele, colocando o lampião ali perto. O mago estava suado, ofegante e as finas e cara roupas manchadas de sangue. Para que ele deixasse alguma coisa sujar as roupas dele, algo de muito ruim havia acontecido.

— O que aconteceu? – Sara perguntou preocupada.

— É isso que acontece quando um trapaceiro confia em alguém. – Ele falou, com um sorriso zombeteiro.

Sara colocou as costas da mão no pescoço dele, logo baixo da orelha. Ele estava muito quente. Para confirmar suas suspeitas ela colocou a mão na própria testa e comparou as temperaturas.

— Você está ardendo em febre! – Ela concluiu.

Rapidamente a garota tirou a camiseta velha da mochila e a mergulhou no riachinho. Ela se arrependeu amargamente disso no segundo seguinte. A água estava tão fria que ela sentiu os dedos arderem. Depois de torcer a camiseta para tirar o excesso de aguar, Sara limpou o suor do rosto de Twisted Fate e colocou a camiseta molhada em sua testa, abaixo da linha do chapéu, para logo depois voltar a remexer dentro da mochila. Ela tinha certeza que havia colocado algumas poções de cura ali, mas não sabia onde.

— Achei que você me odiasse. – Twisted Fate comentou ironicamente.

— Por que eu te odiaria?

— Talvez por que eu roubei o seu Orbe de Invocadora?

Sara havia se esquecido completamente daquilo. Depois de reaver sua bolinha magica ela nem mesmo se lembrava do porque estava tão brava com TF.

  - Você acreditou em mim quando eu disse que era uma invocadora? – Ela perguntou confusa.

— Não, mas eu já vi orbes mágicos o suficiente para reconhecer todos eles.

— Então você já viu outro orbe de invocador?

— O seu foi o único que eu não consegui identificar. Logo, achei que você tivesse caído do céu para entregar aquele orbe para algum invocador. Dizem que só seres celestiais podem fazer itens mágicos para invocadores.

— Então achou que eu era a garota de entrega? – Sara perguntou de forma descontraída.

Twisted Fate assentiu com a cabeça aumentando o seu sorriso irônico. O que ele dizia fazia sentido. Sara imaginou uma estrela, dessas de cinco pontas, vestida de entregadora, batendo na porta dela e anunciando em um grito : “Correio celestial!”. Ela riu levemente com a imagem hipotética. Se tal coisa acontecesse seria hilário. TF riu com ela, mas logo soltou um gemido de dor. Só então Sara percebeu que ele mantinha a mão na própria barriga, fazendo pressão sobre um ponto em específico. Sara afastou a mão dele daquele ponto por um momento e perdeu o folego. Havia um corte horizontal na pele dele. Ele havia sido apunhalado. Aquele ferimento não estava ali quando ela o encontrou pelo orbe.

— O que aconteceu? – Ela perguntou preocupada, de novo.

— Eu confiei em alguém. Foi isso que aconteceu.

Pelo visto ele não queria contar e talvez fosse melhor assim. Sara mergulhou as mãos na água de novo para lava-las, resmungando por causa da temperatura. Mesmo sentindo a pele arder, ela colocou a mão sobre o ferimento e o pressionou. Ela pegou a poção que havia encontrado na mochila e deu a TF. Se alguém tinha que estacar aquele ferimento que fosse alguém com as mãos limpas e era melhor que o mago guardasse suas forças para se recuperar.

— Você não me respondeu. – Twisted Fate falou, dessa vez serio.

Era raro vê-lo sem o sorriso irônico no rosto, então Sara ficou curiosa. 

— O que eu não respondi? – Ela perguntou.

— Você não me odeia por eu ter roubado o seu orbe?

A garota sorriu para ele. Era engraçado ele fazer aquela pergunta. Se ela o odiasse ela não teria ido até ali, ou se tivesse, teria sido para se aproveitar do momento de fragilidade. Ela havia ficado brava com ele, só isso. Os dois não eram amigos, mas também não havia motivos para odiá-lo.

— A única coisa que eu odeio é repolho cozido. – Sara brincou. – E você não se parece nada com um repolho.

Twisted Fate caiu na gargalhada com a resposta, mas logo o som da risada foi substituída por um gemido de dor. Sara continuou sorrindo e TF levou a poção a boca, arrancando a rolha com os dentes. Com um folego só, ele tomou até a ultima gota e depois de abaixar a garrafa, fez um careta por causa do gosto. Só os Deuses sabiam como aquilo era amargo. Sara teria misturado mel, assim como fez com a poção que tomou e a que foi dada a Graves, mas pura a poção fazia efeito mais rápido. Tanto que em pouco tempo a respiração de Twisted Fate e a temperatura voltaram ao normal. A febre havia ido embora e o ferimento na barriga parecia não doer tanto. Sara o ajudou a levantar, já que ele ainda estava zonzo por causa da perda de sangue e enquanto os dois caminhavam para fora da gruta ela se lembrou de um detalhe importante.

— Você não vai acreditar no que aconteceu. – Ela falou animada.

— Eu acreditaria até se você me dissesse que conseguiu o perdão de Noxus.

— Foi exatamente isso.

— Eu estava sendo irônico.

— Mas é verdade.

— Agora vai me dizer que eles te deram o perdão por você ser uma invocadora.

— Tem certeza de que você não viu o que aconteceu? – Sara perguntou, o implicando.

Twisted Fate revirou os olhos. Ele ainda estava ferido, principalmente no ego, mas não havia batido a cabeça e enlouquecido. Aquela garota gostava de falar asneiras. Sara parou na entrada da gruta com um sorriso vencedor no rosto. Ele não entendeu o porque, até que olhou para fora e viu vários soldados noxiamos.

— Estamos prontos para voltar, Invocadora. – Um deles a informou.

Era verdade. Tudo que a garota havia dito era verdade. Twisted Fate olhou para ela espantado, para logo ve-la piscar com um dos olhos, ainda com o sorriso vencedor. Ela era uma invocadora, em pessoa. Sara se deixou rir com a reação dele, parecendo ter visto a coisa mais engraçada do mundo. Em que enrascada ele havia se metido?

— Você só pode estar de brincadeira comigo! – Twisted Fate ralhou.