POV Jason

— Precisamos conversar.

— É, acho que precisamos.

Reyna suspirou, gesticulando pra que eu entrasse no apartamento.

— Acho que não veio aqui pra dizer que me ama e me chamar pra sair, né? — Reyna disse fechando a porta.

Observei-a.

— Pode falar.

— Não, eu não vim. Olha, você é incrível, mas... Não vai dar certo.

— É culpa minha.

— Não...

— Jason, eu sei que é, você também sabe. Tudo bem, nós tentamos. Não vai dar certo.

Houve um silêncio que pareceu demorar uma eternidade.

— Então, acho que é assim que vamos terminar — Reyna disse.

— Eu acho... — concordei — É melhor eu ir embora.

Segui em silêncio até a porta.

— Espera — Reyna disse, de repente, e correu até o quarto.

Ela voltou com meu moletom nas mãos. Era um moletom roxo, velho, que eu tinha e que Reyna gostava de usar como pijama.

— É seu pijama favorito. Tem certeza de que não quer ficar com ele? — perguntei.

— Tenho, se não vou mais te ver, acho melhor não deixar nada que me lembre... Você sabe... Você.

Assenti e peguei a blusa.

— Tem umas coisas suas lá em casa... Livros, roupas... Acho que então é melhor você pegar de volta.

— Eu vou. Amanhã. Tá bem?

— Tudo bem — falei e me virei pra porta.

Eu não queria ter feito isso. Quer dizer, eu sei que é o certo, e que no fundo eu sei que é o melhor, mas eu vou sentir falta de ter Reyna comigo.

Nosso relacionamento acabou muito antes de eu vir aqui terminar tudo. A cada dia que passava, fazíamos com que ele acabasse um pouco.

— Tchau, Reyna — me virei quando já estava no corredor.

— Tchau, Jason — ela respondeu apoiada na porta.

Decidi que era melhor eu apenas ir embora logo.

POV Piper

— Sabe, eu posso só ligar pra um encanador... — entrei no banheiro, onde Leo estava, e insistia em resolver o problema da torneira da banheira.

— Eu dou conta do recado, McLean — ele dizia enquanto torcia algo com a chave inglesa.

— Já tem meia hora.

— Sabe, você é muito ingrata...

— Desculpa — ergui minhas mãos em rendição e me sentei na beirada da banheira, onde Leo estava sentado com ferramentas espalhadas ao seu lado — Obrigada por vir ajudar.

— Agora sim. Disponha — ele parou de mexer com as ferramentas e me olhou — E voilà — ele se levantou.

— Consertou?

— Se não consertasse não me chamaria Leo Valdez, o incrível.

— Claro que não — sorri.

— Tá afim de sair pra comer alguma coisa?

— Com certeza. Tudo o que tenho é leite e meia caixa de cereal.

— Você não faz compras, não?

— Fica quieto, você esquece de lavar a roupa.

— Eu tenho estado muito ocupado pra me lembrar desse pequenos detalhes.

— Então, quer comer o quê? — disse saindo do banheiro.

— Que tal brunch no Upland?

— Leu minha mente — sorri.

(...)

Quando chegamos no restaurante, não havia muita gente. Conseguimos uma mesa pra dois no canto.

— Eu amo esse lugar — Leo observava.

— Vim aqui duas vezes, foram incríveis — comentei.

— Então, o que vai querer? — ele se debruçou sobre o cardápio.

— Acho que...

Antes de eu terminar, o telefone de Leo começou a tocar.

— Jason... — ele olhou o nome da chamada e depois olhou pra mim, surpreso.

— Atende — sugeri.

— Jason? — ele atendeu.

Fiquei observando a rua pelo vidro da janela, pensando em coisas bem aleatórias, e logo me lembrando que precisava terminar um rascunho pra aula de artes.

— Então... — Leo me fez voltar à realidade — Se importa se o Jason se juntar a nós dois?

— Claro que não. Se resolveram?

— Ele disse que quer falar comigo — ele guardou o telefone no bolso da jaqueta.

— Bom sinal — falei pegando o cardápio de volta.

POV Jason

Precisava me desculpar com Leo.

Quando cheguei no Upland, vi que estava acompanhando.

— Podia ter me dito que estava em um encontro — cheguei na mesa, fazendo com que Leo me lançasse um olhar de desaprovação.

— Nada simpático, cara.

— Estou brincando — sorri — Oi, Piper.

— Oi — ela sorriu — Tudo bem. Vocês precisam conversar, então vou ao banheiro — ela se levantou, o que me deixou aliviado. Não sabia ao certo como começar.

— Então... — Leo disse — Não vai sentar?

— Ahm, tá... Olha, eu fiz bobagem. Mas eu decidi consertar — falei me sentando.

— Então já fez as pazes com a Reyna? — Leo mexia no porta guardanapo.

— Eu terminei com ela.

— O quê? — ele me encarou.

— Há uma meia hora...

— Como se sente?

— Mal. Mas sei que fiz a coisa certa. E por falar em coisa certa, eu preciso me desculpar e te agradecer.

— Eu?

— É, porque você foi legal e aguentou minha namorada e as ofensas dela por tanto tempo, apesar das brigas. Mas é tudo culpa minha. E como eu retribui? Eu briguei com você, e te deixei de lado por anos.

Leo voltou a mexer no porta guardanapos, dessa vez com uma expressão pensativa.

— Então, ahm... Me desculpa. Cara, você é meu melhor amigo — falei.

Leo ergueu os olhos pra mim, e eu não sabia dizer qual seria a reação dele.

— Levou um tempo pra você perceber hein, Grace? — ele sorriu — Eu te perdoo, com uma condição.

— Que seria?

— Vamos sair hoje. Pra comemorar o término.

— Eu não sei...

— Se você disser que prefere ficar em casa, de cueca, assistindo reprises de seriados antigos a sair comigo, eu vou embora agora e você nunca mais me vê.

— Tá bem — sorri — Podemos sair hoje...

— Ótimo.

— Então... Isso é algum tipo de encontro? — mudei de assunto, me referindo a Piper e Leo.

— Claro — ele revirou os olhos — Estávamos prestes a nos beijar quando entrou.

— Duvido. Ela é areia demais pro seu caminhãozinho.

— Vocês nunca estão satisfeitos, né?

— É brincadeira, cara — eu ri da cara dele, e Leo deu de ombros — Mas ela é bem gata.

— Chama ela pra sair — ele disse, indiferente.

— Quis dizer pra você.

— Não, não, senhor, ela é minha amiga.

— Sei.

Leo ignorou minha resposta e mudou de assunto.

— Tá. Vamos a onde?

— Não sei, decidimos na hora...

— Tudo bem — ele disse e eu vi que Piper voltava, caminhando em direção às mesa.

— Então, vou deixar vocês dois se divertirem — me levantei.

— Já vai embora? — ela chegou ao meu lado.

— Na verdade, tenho umas coisas pra fazer. Divirtam-se — pisquei discretamente para Leo, que levantou os polegares em aprovação, ironicamente.

POV Piper

— O que ele quis dizer? — me sentei novamente depois que Jason saiu.

— Bobagem, acredite — Leo disse — Então, vai querer o quê?

— Pensei em pedir panquecas sem glúten... E você?

— O maior hambúrguer que tiverem — Leo disse, colocando os braços atrás do pescoço e se esticando na cadeira.

— Eca.

— Ah... Você é vegetariana, esqueci. Bom, se te incomodar, eu peço outra coisa menos... Carnívora.

— Tudo bem — sorri — Não se preocupe.

A garçonete veio até a mesa e nós pedimos a comida, que não demorou muito pra chegar.

— Que belezura — Leo pegou o hambúrguer.

— Então... Como Jason estava? Não o vi desde o dia do paintball.

— Ah, ele terminou com a Reyna.

— Nossa. Sério? Ele parecia tão... Bem.

— Jason não é de deixar transparecer emoções — Leo parou pra engolir o pedaço de hambúrguer — Enfim, ele vai ficar bem.

— Tem certeza que não devia ter ido dar um apoio pra ele? Tipo, sei lá...

— Piper, homens não fazem isso. Nós lidamos com términos em bares, saímos pra respirarmos ar puro.

— E vocês vão sair?

— Sim. Hoje. E se ele ficar muito pra baixo, eu arrumo uma garota pra animá-lo.

— É assim que vão lidar com isso?

— Funciona — Leo sorriu e deu outra mordida no hambúrguer, sujando a boca e me fazendo rir.

— É, dá pra ver que você tem o charme.

— Falando em charme, Jason disse que você é gata. Talvez eu devesse arranjar vocês em um encontro.

— Ah tá, vai nessa — falei comendo minhas panquecas.

(...)

POV Leo

Jason e eu fomos até um bar bem legal perto de casa.

— Tudo bem, escolhe uma mesa enquanto eu pego as bebidas — falei e fui até o balcão. Estava animado! Fazia tempo que Jason e eu não saíamos assim.

Pedi as bebidas e, enquanto esperava por elas, observei o bar. A TV estava ligada em um jogo de futebol, pessoas conversavam em suas mesas enquanto outras dançavam ao som de uma música do jukebox... Eu sei. Jukebox. Mas fazia parte do bar. Sempre esteve lá, e os clientes regulares adoram.

— Aqui está, Valdez — me virei quando as bebidas foram colocadas no balcão.

— Valeu, Tim — agradeci e peguei os copos.

— Faz tanto tempo que eu não venho aqui... Eles mudaram a TV? — Jason perguntou quando eu voltei.

— A mesma de sempre — sorri.

— Nossa...

Jason não fazia o tipo festeiro, mas ele estava quieto demais, até pra ele mesmo.

— Você tá bem? — decidi perguntar.

— Sim — ele respondeu virando o copo de bebida todo — Vou pegar outro — e se levantou.

— Vai com calma aí — me virei pra direção que ele seguia.

Pelo canto do olho, vi um vulto familiar.

Piper entrou no bar acompanhada de uma garota muito gata. Claro, Piper era linda. Mas essa garota... Uau.

— O que tá olhando? — Jason parou em pé ao meu lado.

Fiz um gesto com a cabeça em direção às garotas.

— Quem é aquela com a Piper? — Jason olhava pra elas.

— Não faço ideia, mas gostaria de conhecê-la.

POV Jason

As duas, Piper e... Seja lá quem for aquela garota, eram lindas. Eu não tinha parado pra observar Piper antes, mas agora que eu realmente foquei nela... Uau.

— Vou lá falar com elas — ele se levantou e caminhou casualmente até elas.

Não quero nem ver no que isso vai dar.

POV Piper

Quando entramos no bar, não tinha reparado nas pessoas, até eu escutar uma voz familiar.

— Vocês vêm sempre aqui? — Leo apareceu ao meu lado.

Eu apenas sorri, Calipso foi quem se assustou.

— Desculpe, não queria assustar vocês — Leo sorriu.

— Você não me assustou — respondi.

— Bom, a mim, sim — Calipso se recompôs.

— Leo Valdez — ele sorriu e estendeu a mão, que Calipso segurou um pouco confusa.

— Ahm... Calipso...

— O que faz aqui? — perguntei.

— Trouxe Jason pra cá — ele fez um gesto em direção a uma mesa, onde Jason sentava, aparentemente envergonhado por Leo. Ele acenou, sem graça — Querem sentar com a gente?

— Você não disse que seria noite dos caras?

— Não quando temos duas belas garotas por perto...

— Bom, tem várias belas garotas por aqui. Nós só viemos comprar um lanche e voltar ao nosso projeto.

— Ah, certo... O projeto pra sua aula... Então você também é artista? — Leo se virou pra Calipso.

— Sim — ela sorriu.

— Os jeans velhos e as camisetas sujas de tinta não entregaram? — sorri. Nós duas estávamos vestidas da mesma maneira, eu até havia prendido o cabelo pra pintar.

— Nem notei. Têm certeza de que não querem ficar um pouco?

— Não...

— Ah... Um pouquinho não tem problema — Calipso sorriu — Né, Piper?

— Sério?

— Vamos! — Leo se animou.

— É sexta-feira — Calipso disse.

— Esse é um bom argumento — Leo concordou.

— Tudo bem, mas precisamos terminar o trabalho depois — reforcei.

— Vem logo — Calipso e Leo foram me guiaram.