Contos Góticos escrita por Cibrs


Capítulo 2
Conto 1 - Llyn o Perigl (Lago do Perigo)


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai o conto um, estejam prontos! [Cibrs]



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Naquela noite sombria em Magnólia, na guilda imperava a falta de pessoas. No balcão, Mira e o mestre conversavam baixinho e, em uma mesa dos fundos, tilintando copos e discutindo, ocasionalmente surgindo chamas, gelo e socos, além de pele desnuda, estavam os rapazes, Gray, Natsu e Gajeel.

A uma dada hora da noite entram lado a lado Juvia, Erza, Lucy e Levy, as duas últimas tremendo de frio, e as magas se dirigem ao balcão, onde se sentam.

— Olá, garotas – disse Mira – voltam da casa da Lucy?

— Sim, sim – Erza concorda – sentimos sua falta e resolvemos vir até aqui.

— Garotas! Hic! — ligeiramente bêbado, falou o Mestre – Vamos conversar sobre alguma coisa e beber! Hic!

— Mestre, já chega, sim? – Levy repreende gentilmente, lhe tirando a caneca – Mas a ideia de conversa é boa. Melhor ainda seria se contássemos algumas histórias de terro para passar o tempo. Que acham? – Propõe ela com os olhinhos brilhando.

— Te-Terror? – é a Lucy reagindo – Por que não podem ser simples histórias sobra amor?

— Juvia aceita. Juvia só precisa ficar perto do Gray-sama enquanto isso pra apertar ele o mais forte que Juvia puder.

— Kyah! Ah, vamos, Lucy, vai ser divertido... Garotos! – chama Mira – Vamos contar histórias de terror!

É ouvido o arrastar de cadeiras e gritos de animação. Pouco tempo depois todos estavam ao redor de uma mesa circular e o mestre Makarov, bem mais sóbrio, toma a palavra:

— Eu começo, pirralhos. Esta foi uma história que um amigo meu me contou durante uma noite de acampamento, quando ainda éramos jovens...

—---- ----- ----- ----- Llyn o Perigl (Lago do Perigo) —---- ----- ----- -----

Makarov Dreyar, mais conhecido como “Mestre”, era um jovem que adorava esportes radicais, vivia para a adrenalina. De todos os esportes que praticava, seu favorito era Salto em Altura, mais especificamente, Salto de Penhasco. A namorada de Mestre, Polyushka, ou Polly, era praticante também e adorava a sensação da liberdade dos saltos.

Viajando, certo dia, por altas estradas de um vale em formato de “U”, Mestre avistou um grande e profundo lago, localizado bem na garganta do penhasco, da margem oposta à que estavam, a uma distância, à pé, de três dias.

— Polly, meu amor, olha! – Mestre apontou-lhe o azul da água e o penhasco.

Assim que fita na direção apontada, Polly foi acometida por uma vontade desmedida de realizar o salto. Mestre, porém, sentia repulsa a tal pensamento. Contudo, Polly insistiu junto a seu amado, na esperança de convencê-lo. “São três dias de viagem até lá!” dizia Mestre, “Nem sabemos quão profundo são aquelas águas e nem se há pedregulhos mais abaixo”. Porém de nada adiantou seus bons argumentos. “Bobagem!” dizia Polly rindo do amado. Tudo o que ela queria era chegar logo ao lago.

Mestre foi vencido pelo cansaço e acabou concordando de irem. O tempo passou e, quanto mais perto chegavam, mais a jovem dama sentia a louca necessidade de saltar na água e mais Mestre se ressentia de tal sensação. Durante todo o longo percurso, desde a primeira visão do lago, um doce aroma de flores silvestres os acompanhava, intensificando-se à medida que se aproximavam do seu destino. Ao Mestre, curiosamente, tal cheiro dava certo enjôo.

Ao fim do terceiro dia, já bem próximos de seu objetivo final, chegaram a uma pequena vila. Era por volta da hora do pôr do sol e já não se viam pessoas andando livremente pelas ruas. As casinhas eram rústicas, de constituição humilde. Por trás de suas cortinas cerradas havia luz, sinal mundial de que tinha vida em seus interiores, porém o silêncio reinava soberano. Adentrando mais no vilarejo, depararam-se com uma pousada já no fim da estradinha de terra e se dirigiram para lá. Melhor dizendo, Mestre os guiou para lá, pois se dependesse única e exclusivamente de Polly, ambos teriam se enveredado nas encostas escuras e inclinadas noite adentro, até chegar ao lago.

A pousada era mal iluminada pois tinha poucas velas acesas em candelabros e castiçais. Ao passarem pela porta, eis que um sininho toca. O casal põe-se a observar a enorme quantidade de quadros nas paredes. Alguns continham estranhos símbolos de uma espécie de círculo cortado por duas retas, uma mais à esquerda, outra no centro. O desenho era reproduzido pelas paredes em diversos tamanhos e traços, algumas vezes de forma bem rústica, outras vezes bem rebuscadamente. Entremeando os quadros simbólicos, quadros de bizarras criaturas de traços humanoides na parte superior do corpo. Humanoides, porém de uma forma bem distorcida. Eram alongados como se alguém os tivesse esticado numa mesa de tortura medieval. Além disso, tinham a pele verde-musgo e dentes mais pontudos que uma agulha e mais afiados que uma navalha. Seus olhos passavam a sensação de malícia. Eram de diversas cores, porém sem a parte branca que tem os olhos humanos. A parte inferior do corpo era recoberta de escamas. Um rabo de peixe. Eram espécies de sereias e tritões.

Das sombras do corredor surge um senhor. Não parecia ser tão velho assim, porém parecia abatido e amargado pela vida. Tinha cabelos castanho-grisalhos e uma barba por fazer. Um de seus olhos era de um castanho vívido, porém o outro era de vidro. Seu corpo era magricela, porém forte, e tinha costas curvadas, como se toda a sua vivência lhe pesasse os ombros. Chegou encarando desconfiado os dois amantes e dirigiu-se para trás do velho balcão de madeira que havia ali com uma cara amarrada.

— Que querem aqui, forasteiros?

— Uma noite de descanso somente – responde Mestre.

— Bah! Descanso... Eu só queria chegar logo ao lago... – Polly resmunga baixinho, cruzando os braços.

Uma expressão de alerta passa rapidamente pelo rosto do homem, acendendo o brilho de seus olhos.

— Fiquem aqui! Somente esta noite! Faz bem descansar antes de cumprir qualquer que seja a sua missão.

— De certo o faremos, senhor. – respondeu Mestre – Ouviu, Polly?! – diz apertando-lhe o nariz carinhosamente.

E ficaram. Polly dormia depois de uma ardente noite de amor quando, depois de um tempo, Mestre acorda e vai até a janela do recinto, que estava estranhamente fechada com pregos. Ele os retira e abre completamente a janela, uma lufada de vento noturna adentrou o cômodo jogando seus cabelos para trás. O irritante cheiro das flores silvestres vinha mais forte, porém Mestre já estava começando a se acostumar com isso. Enquanto sentia o vento no rosto, ele subitamente entendo o porque de o círculo duplamente cortado lhe parecer tão familiar. Procura no bolso da mochila e encontra um medalhão que sua avó lhe dera há muitos anos, antes de ela morrer e ele sair rodando o mundo. O pingente era uma réplica do símbolo dos quadros.

Bate à porta, vagarosamente, o homem, e chama o rapaz para o corredor com um aceno. Antes de fechar a porta, Mestre olha sua amada dormir com os lençóis cobrindo lascivamente o seu corpo, num jogo de cobre - não cobre tentador. O curvilíneo corpo nu iluminado pela luz da lua e os lábios ainda inchados dos beijos que lhe dera. Seu corpo era atraído para o dela.

Na luz vaga do corredor, o homem imediatamente começa a lhe contar aos sussurros que deveriam ir embora ao amanhecer e esquecer o lago o Berigl. Era “Perigoso! Muito perigoso! Um risco à vida ir até lá e morte certa pular nele!”. Mestre lhe pergunta o porque e em resposta o homem lhe aponta o olho de vidro em sua face e também os quadros nas suas paredes.

— Impossível! – Mestre afirma em negação – Sereias são criaturas lendárias! Coisas fantásticas, sem nenhum fundo de verdade!

O homem solta uma rizada sarcástica e diz que seu olho de vidro veio em um momento de descuido e que esta era aprova definitiva da existência daquelas bestas. Devoradoras de qualquer ser vivo que passe por seus domínios, elas eram tão feias e de aparência tão cruel que espantariam qualquer preza potencial que as visse. Por isso lançavam feitiços com as suas vozes e com o perfume das flores que insistiam em crescer, por mais que todo dia o vilarejo as arrancasse. Seu canto maligno forçavam as vítimas a arrancarem os próprios olhos antes de pularem diretamente para sua morte.

Eis que dá a meia-noite e os relógios batem estrondosamente por toda a vila. “Ouça!” o velho homem diz apertando o quadro do círculo duplamente cortado contra o peito “Vai começar, seu tolo incrédulo! Aperte esse seu colar bem firme!”.

— Por quê? – Mestre pergunta, apesar de já estar apertando o seu pingente, atordoado pelo barulho dos relógios.

— É a única coisa que te impede de ser comido vivo, seu infame!

Conforme dissera o homem, ao mesmo tempo iniciou-se o mais belo e terrível canto já ouvido. Dezenas de vozes diferentes, femininas e masculinas, sopranas e tenores, se entrelaçavam harmoniosamente e vibravam o ar. Era um canto que subia pela espinha e se alocava no cérebro. Uma canção que causava um efeito devastador na sua força de vontade. Um som que te enfeitiçava de um modo assombroso, terrivelmente persuasivo, quase imperativo. Mestre se sentiu balançado, porém não saiu do lugar que se encontrava e nem perdeu o controle de si próprio.

— Viu? Bobagem! Eu continuo bem aqui! – E entrou no quarto rapidamente, fechando a porta. O hospedeiro ficou no corredor a lamentar a negligência do jovem aventureiro, balançando a cabeça em negação. Mestre se virou para a cama, possuído pelo desejo do corpo de sua amada, da sua voz, de seus olhos e lábios tão doces.

Nada, porém, encontrou sob os lençóis. Seu coração acelerou. Tum! Tum! Olhou ao redor na esperança de vê-la em algum canto escuro, não a viu. O que viu, no entanto, lhe deu um aperto no coração. A janela estava aberta e os lençóis pareciam cair por ela. Mestre pula o parapeito e corre em direção ao lago. Seus pés descalços se machucando nas pedras e espinhos que haviam caídos por ali. À luz da lua, consegue distinguir uma clara trilha de pegadas na areia fina e brilhando cor de prata devido o astro noturno. Na metade do caminho até o lago surgiu uma trilha avermelhada e úmida, a princípio bem insignificante, porém cada vez mais volumosa.

— Não... Não... Não! Esteja bem, Pollyushka! Esteja bem, meu amor! – ele murmurava para si mesmo repetidamente, aquela trilha a seu lado lhe dando uma sensação ruim que só crescia.

De repente Mestre estanca. Uma forma nua, branquíssima ao luar, estava de costas para ele. A curvatura das pernas e a inclinação do corpo indicavam que estava pronta para pular da borda e cair diretamente no lago.

— Polly! Polyushka! Ouve teu Makarov te chamar e voltes pra mim!

Ela se estabiliza na borda do precipício e Mestre consegue voltar a respirar, um sorriso se abrindo em seu rosto espontaneamente. Quando ela se vira para ela, a respiração do jovem fica presa na garganta novamente. O belo rosto da sua amada agora não tinha mais olhos. Orbitas vazias foi o que ele encarou, o sangue ainda fluindo em cântaros, tal qual grossas lágrimas rubras, caia no seu rosto desfigurado e no corpo outrora saudável da mulher.

Mestre grita e recomeça a correr, suas próprias lágrimas toldando o mundo ao seu redor, seu foco era somente tentar salvar Polyushka de um fim terrível. Todavia, apesar de todo esse esforço, ao final, ele chegou tarde. Assim que ele estava prestes a lhe alcançar, Polly se deixou cair pra trás com os braços abertos. Mestre ainda tentou lhe segurar a mão, quase caindo também, porém não conseguiu e só lhe restou assistir os lábios de Polyushka formarem um “eu te amo” surdo enquanto a dama se afastava cada vez mais de si, até ouvir o som de um corpo cair na água. Não obstante, não conseguiu ver o impacto com o lago, uma vez que havia estranhas trevas sobre o local.

Por entre as trevas, no entanto viu uma agitação se formar. Tal qual um cardume de piranhas, ferozes e imediatamente atacando a carne fresca, viu caudas escamosas nadando rapidamente, se convulsionando e levando as estranhas sereias até a doce jovem que caíra. Mestre sentiu repugnância e medo, pois os monstros eram ainda piores que os ilustrados nas centenas de quadros da estalagem. E quando um deles virou o olhar pra cima e o encarou, o medo mais visceral lhe preencheu. Mestre caiu de bunda para trás, se afastando da borda ao chutes. Quando o medo irracional diminuiu o suficiente para que ele reparasse ao redor de si e parasse de espernear-se no chão, uma coisa fez o que lhe restava de sanidade desabar. Ali ao seu lado jazia um par de orbes. Eram os olhos arrancados de seu amor, a razão de sua vida destruída.

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 O mestre terminou sua narrativa solenemente.

— Lucy! Larga, isso dói! - gritou Natsu, pois as unhas da amiga se enterravam em seu braço, tamanho era o pavor da loirinha.

— D-desculpe, Natsu... É que essa estória me deu medo. E, no entanto foi tão triste... – observa ela melancolicamente – Okay! Eu conto a próxima: A boneca mexicana.


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Notas finais do capítulo

Iai? Que acharam? A linha da fanfic vai ser mais ou menos essa presente neste conto. A atmosfera será sombria, às vezes pesada, mas nem sempre terminará em tragédia. Haverá amor também. Como eu disse, será postada segundo minha inspiração. Então até o próximo conto ou estória. Bjos. [Cibrs]



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