A Bela e a Fera escrita por Lilissantana1


Capítulo 5
Capítulo 5 - A fofoca...


Notas iniciais do capítulo

Eles vão se meter em uma confusão!



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Era madrugada. Mabel se virou na cama pela vigésima vez com uma sensação esquisita que não lhe permitia dormir tranquilamente. Ainda se sentindo incomodada pelo modo como Elliot a tratara durante toda a noite. Nada havia nele do homem gentil e amoroso que lhe escrevia as cartas. Até parecia que os dois não eram a mesma pessoa.

Sentou na cama passando as mãos pela testa na tentativa de desvanecer aqueles pensamentos preocupados e viu a colega de quarto a dormir placidamente ao seu lado. De boca aberta e papelotes nos cabelos, a outra parecia não ter uma única preocupação na vida além de dormir e falar.

Pulou da cama, pegou um de seus vestidos mais simples, passou o xale pelos ombros e decidiu caminhar um pouco, talvez ir até a varanda ver o sol nascer aliviasse aquela apreensão que tanto a perturbava.

Caminhou lentamente pelo corredor, desceu as escadas sem encontrar uma única pessoa ou ouvir um único som. Estava tudo em completo silêncio. Mas, quando passou pela porta que dava acesso à cozinha percebeu movimentação e decidiu mudar de direção. Tomou o rumo da sala principal e saiu pela porta lateral em direção ao jardim. No horizonte ao longe a claridade da manhã se espalhava pelo céu.

Desceu lentamente os degraus que a levariam para a estrada entre os arbustos, mais alguns passos e ingressou pela mesma faixa de cascalho por onde Dominic passara na noite anterior. Logo se deparou com a trepadeira, com o banco que elas costumavam usar para brincar quando criança. A trepadeira ainda não florira, mas estava repleta de botões e exalava aquele aroma conhecido e gostoso de sempre.

Distraidamente se acomodou no banco de madeira enrolando o xale sobre o corpo novamente. O silêncio da manhã era agradável. Aquele cheiro de verde e de grama molhada, ela fechou os olhos experimentando um breve sentimento de paz. Pois logo em seguida ouviu o leve burburinho de pássaros. Um trilado cada vez mais forte atraiu sua especial atenção.

Ficando em pé não pensou duas vezes se deveria ou não subir no banco, apenas realizou a tarefa e prontamente se pôs na busca pelo provável ninho até que ouviu a voz profunda de sir Deeping falando: “ Senhorita Nagle!”

O susto foi tão grande que ela perdeu o equilibro na tentativa de se voltar para ele, mas, ao contrário do que pensou, o marquês se portou muito bem e a conversa entre eles transcorreu de forma tranquila. Dominic chegou até a ser cortês, dentro dos limites que sir Deeping considerava cortesia, é claro. E logo foi embora. Quando Mabel retornou para o quarto, minutos depois, sua companheira ainda dormia e ela agradeceria por isso mais tarde.

***************

Dominic se enfurnou no quarto por boa parte da manhã. Tomou um banho demorado, comeu seu desjejum e sequer aceitou a companhia do primo Elliot. Depois, com a facilidade de quem conhecia aquela casa desde muito novo, desceu até o escritório sem atrair a atenção de ninguém. E lá se trancou até que a marquesa bateu na porta, cerca de hora e meia depois.

— Abra Dominic! – a mãe pediu depois de insistir nas batidas da porta, sem obter resultados. – Preciso lhe falar... aconteceu algo importante.

Ele suspirou ainda incerto se deveria ou não receber a mãe. Frances insistiu:

— Sei que está aí, Virgínea o viu entrando.

Um breve sorriso escapou dos lábios masculinos. Sabia que a mãe colocaria alguém em seu encalço. E quem melhor do que arrumadeira? Ela transitava pela casa o dia todo.

— É muito importante! – ela insistiu novamente, ele finalmente ficou em pé e caminhou até a porta para recebê-la.

— Você vai passar quinze dias trancado aqui ou no seu quarto?

A mulher perguntou enquanto ele voltava a se sentar detrás da mesa de carvalho.

— Pretendo aproveitar as noites. – respondeu encarando a mãe, sem se preocupar com o tom de voz usado.

— Não seja insolente! – ela reclamou – Você não apareceu durante as apresentações de ontem a noite. 

Sem paciência o rapaz se inclinou para a frente, apoiou os cotovelos na mesa suspirando antes de explicar:

— Estive ocupado com um longo passeio a cavalo. E você vai me dizer o que aconteceu de tão importante para me perturbar? além é claro do fato de não ter aparecido nas apresentações.

A marquesa se sentou suspirando também.

— Você passou a noite toda fora?

— Sim... cheguei pela manhã. – ele voltou a se recostar na cadeira. Estava farto de oferecer explicações.

— E ficou sozinho com uma moça no jardim em trajes inapropriados?

Como ela sabia disso? Ele se perguntou acreditando que poderia estar em maus lençóis. E nada falou.

Percebendo o silêncio do filho a marquesa soube que era verdade. Dominic estivera sozinho, com uma moça no jardim, e pelo que foi dito estavam mais do que próximos.

— Quem é ela? – a voz materna perguntou naquele tom imperativo sempre usado quando ele era um menino.

— Por que quer saber? – ele perguntou batendo com os dedos na mesa, se ela não sabia quem era não poderia perturbar sua vida, nem a vida da senhorita Nagle.

A marquesa se empertigou. A teimosia do filho era irritante.

— Porque todas as jovens que foram convidadas para esta casa estão sob meus cuidados. Você não pode ficar sozinho com uma delas no jardim, quando ninguém mais está acordado, em situação comprometedora e acreditar que isso não vai interferir na reputação dela... na sua... e consequentemente na minha.

Droga! Ele pensou zangado. Quanto mais tentava escapulir dos problemas, mais eles pareciam procurá-lo. E mesmo sem querer ofereceu uma meia verdade como justificativa para o que acontecera?

— Foi um encontro casual. Mal nos falamos.

A marquesa bateu com a mão no apoio da cadeira antes de insistir

— Quem é ela Dominic?

Ele ficou ereto, sua mãe achava que ele não conhecia as regras sociais? Essas malditas regras foram gritadas em seus ouvidos por anos. Dominic sabia que encontrar casualmente uma jovem no jardim não queria dizer absolutamente nada. De seus lábios Frances não ouviria um nome. Mas... o cérebro masculino pensou com rapidez. Era preciso que Mabel ficasse calada também ou eles acabariam envolvidos em grandes e irremediáveis problemas.

Pelo modo como o filho a encarava, Frances soube que de sua boca nada sairia, exatamente como ele fazia quando era apenas um menino. Extremamente insatisfeita a mulher se retirou do escritório prometendo a si mesma que descobriria de quem se tratava essa garota. Pois a mesma deveria ouvir alguns conselhos o mais rapidamente possível.

Lentamente Dominic se ergueu da cadeira, ia sair do escritório para empreender uma busca. Uma busca por Mabel e tentar resolver a questão de uma vez.

Por quê? Por que não passara direto ao vê-la no banco? Por que não tomara outro caminho? Agora, estava envolvido em uma confusão, e deveria dar graças se não desse em nada. Muitos casamentos aconteciam por muito menos.

*************

O assunto marquês sozinho no jardim com uma mulher corria a boca solta entre os convidados. Assim que ouviu as insinuações, Mabel quase entrou em pânico. Será que ele mencionara o encontro deles a alguém? Não! Dominic não teria motivos para isso. Sequer aparecera na residência, quanto mais contar algo assim para alguém, e ainda fazer insinuações de que fora um encontro romântico.

E o que era mais assustador. Num dos relatos que ouviu, eles estariam se beijando. Se beijando? Se mal haviam conversado! Que loucura era aquela? Elliot ficaria maluco se soubesse quem era a garota que estava com Dominic no jardim. De nada adiantaria gritar aos quatro cantos que nada acontecera, ninguém acreditaria. Não agora!

Sentada junto a Amy e Abigail, Mabel ouvia os comentários da outras moças como se elas tivessem presenciado a situação, quando ela sabia que não pois, se assim fosse, já teriam dito que se tratava dela. O que o marquês falaria sobre o assunto quando soubesse? Se perguntou enquanto tentava encontrar uma posição cômoda no sofá. E então, algo inusitado aconteceu, Dominic ingressou na sala. Sério, ereto, com as mãos postas nas costas. A encarou sisudo e a garota travou a respiração. Nada foi dito, mas ela imediatamente soube que ele sabia.

— Bom dia... – ele falou fazendo uma reverência para o grupo feminino e todas sorriram antes de responder em coro:

— Bom dia sir Deeping.

Mabel estremeceu, será que ele pediria para falar com ela ali, naquele momento? Se fizesse isso todas tomariam conhecimento de quem era a garota do jardim. Mas o marquês pediu licença e lentamente saiu do peça, com a mesma expressão com a qual entrara. Apenas provocando o acelerar involuntário de seu coração.

— Ele finalmente resolveu sair da reclusão. – Amy falou sorrindo – Graças aos céus, achei que não teríamos o prazer de vê-lo durante nossa estada aqui... será que está buscando pela tal garota? Ou por outra? – e liberou um risinho irritante.

Mabel pediu licença e se ergueu. Não queria ouvir sobre os interesses de Amy em conquistar o marquês. Para ela ninguém conseguiria esse feito. Ele parecia o tipo de homem que vive uma vida toda sozinho.

Mal havia saído da sala e topou com ele novamente, o hall estaria totalmente vazio se não fosse pela presença dos dois. Dominic olhou rapidamente em volta, se aproximou dela e estendeu a mão, como se fosse cumprimenta-la. Os olhos azuis eram urgentes, ela acreditou que compreendia o que ele queria. Segurou a mão grande e sentiu um pequeno pedaço de papel ser colocado em sua palma. Mesmo assim, ele ainda completou a pantomima fingindo beijar o dorso.

Foi tudo muito rápido e a figura do marquês havia sumido de suas vistas. Apenas o papel dobrado na palma da mão servia como prova do que acontecera há segundos. Rápida ela correu escada acima, precisava da tranquilidade do quarto para ler o que ele escrevera naquele pequeno pedaço de papel.

Quando finalmente ingressou no escritório, Dominic se sentia agitado. Há muito tempo não fazia esse tipo de coisa. Entregar um bilhete furtivamente para uma mulher. Mais especificamente para uma mulher por quem não tinha qualquer tipo de inte... ele parou no meio da peça lembrando dos olhos escuros assustados de Mabel sobre os seus. A última vez que vira aquela expressão fora quando a carregara até em casa para cuidar do machucado na perna.

E lá se iam quase catorze anos. Ele lembrava que a garota nada pesava. Que a mão dela se agarrara a gola de sua camisa e que fungara o caminho todo. Sorriu brevemente para si mesmo. Quase podia sentir o cheiro de grama e terra daquele dia tal a intensidade das lembranças.

O quarto estava vazio, sua companheira deveria estar fofocando sobre o assunto do dia. A garota do jardim e seu beijo em Dominic Deeping. Sentou na cama ainda com o coração aos saltos e tentou acalmar a respiração. O papel estava amassado dentro da palma da mão. Com cuidado abriu, não havia muita coisa, ele era curto e direto no que queria.

“ Me encontre na cavalariça em uma hora. Precisamos conversar seriamente. Dominic”

Ele não assinara marquês Deeping? Pensou relendo e relendo e relendo o texto inúmeras vezes. Será que eles deveriam se encontrar? Não seria melhor deixar tudo como estava. As pessoas parariam de falar quando percebessem que era apenas uma fofoca. Imediatamente ela lembrou da figura masculina ingressando na sala onde ela e as outras estavam. Essa súbita aparição poderia complicar tudo.

Ficou em pé amassando o bilhete entre os dedos sem saber o que fazer. Segundos depois saiu do quarto e tomou a direção do hall. Pretendia dizer a ele que não iria, que seria ainda pior se alguém os visse juntos na cavalariça. Mas, não o encontrou, topou com outra pessoa. Elliot. O “noivo” lhe sorriu timidamente e passou por ela depois de trocarem algumas palavras. Ele queria poder dançar com ela ainda aquela noite na reunião que a marquesa estava preparando. Sem cabeça para pensar no assunto naquele momento Mabel apenas acatou o pedido garantindo que adoraria dançar com ele.

Dominic sumira novamente. Será que estava no escritório? Ela não poderia ir até lá. Atrairia suspeitas. Será que já fora para a cavalariça? Outro lugar onde ela não deveria colocar os pés sob pena de ser vista por alguém.

O que, por Deus deveria fazer? Se perguntou ainda parada no mesmo lugar a apertar o papel entre os dedos. Com o coração aos saltos e a cabeça perdida.


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Notas finais do capítulo

E agora, ela vai ou não vai? O que Mabel deve fazer?
BJ Lahi obrigada pelos reviews adoro. Bj também para quem está apenas acompanhando. Espero q gostem do capítulo