Baile de los Pobres escrita por Miss Addams


Capítulo 7
Sétimo Passo


Notas iniciais do capítulo

Voltei linda como se não tivesse meses sem publicar nada :D



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Christopher

 

Quando minha tia avó Maria Antonieta de lãs Nieves contava nos encontros da família que acreditava em possessão e demônios eu achava engraçado e engolia o riso quando ela me olhava de cara feia. Ela sempre me aconselhava a não assistir filmes de terror e sempre a ir à igreja, no auge de seus 95 anos, minha tia era uma católica fanática e ia a missa todas as terças, quintas e domingos em Yucatán no México.

Além de sentir falta de passar minhas férias com minha tia, eu estava dando razão a essa sua crença! Eu andava possuído ou algo bem misterioso me controlada nos últimos tempos. Veja bem, eu, Christopher Casillas, aceitei a proposta maluca da Baker! Todos os dias quando me revolto por estar sendo pago pelo dinheiro maldito do pai de Anahí e penso em chutar o balde. É complicado, eu trabalho nisso todos os dias, mas só pelo fato de minha família ter ganhado qualidade de vida vale essa pena, vale eu engolir meu orgulho a seco e com uma pitadinha de pimenta a cada manhã.

Atualmente eu trabalho apenas um turno, não preciso de trabalhos temporários, o concerto da moto foi pago, eu tenho mais tempo para estudar, dançar e brincar com a minha Day! Só é complicado mentir para minha mãe sobre a grana extra que entrou recentemente, mentir para os meus amigos quando eu passo um tempo sumido e não saio com eles e definitivamente suportar o mal humor da Baker em nossas aulas é um porre. Mas, eu sou um dançarino, vou seguindo minha vida conforme toca a música. Suspirei ao olhar que ainda era 22h:15 no meu celular, eu marquei de encontrar com Anahí as dez e vinte e cheguei meia hora adiantado tamanha minha ansiedade. E porque estou assim? Não sei responder!

Logo veio a minha cabeça a imagem dela dançando em sua apresentação de balé e lembrei que só não chorei ao vê-la no palco porque não sou uma cara que chora facilmente. Eu estava sentado no canto em um lugar privilegiado quando a cortina abriu e ela começou a dançar e parecia que cada passo era para mim. Para a minha surpresa quando o espetáculo acabou eu sequer me mexi, estava inebriado. Lá fora, ela me recepcionou com um sorriso sincero, como poucos que já recebi em minha vida.

Nessas condições não foi difícil aceitar ensinar reggaeton para ela, durante nossos encontros, ela me surpreendeu aprendeu as coreografias com rapidez. Mas, faltava algo! Uma lição que eu pretendia ensiná-la esta noite. Nesse momento, eu vi seu carro se aproximar na esquina e eu me desencostei da parede do estacionamento para caminhar até a calçada, um dos manobristas me olhou ameaçador ao ver que eu estava de olho no carro. Aquilo me irritou! Nessa cruzada de olhares hostis, Anahí chegou até a porta do estacionamento e desceu do carro.

 Eu senti meu coração disparar contra o peito tão rápido que até esqueci do babaca que me encarava como se eu fosse um assaltante. Ela seguiu minhas orientações, não veio com joias caras, roupas valiosas, nada que chamasse a atenção, mas ainda assim estava deslumbrante. Era impossível não olhar para ela! Anahí sorriu para o manobrista que babava tanto quanto eu, pediu que cuidasse bem de seu carro e lhe entregou as chaves e depois caminhou na minha direção. Eu sei que é idiota, porém, não consegui me conter eu a cumprimentei com um beijo no rosto que tanto ela quando o manobrista ficaram surpresos. Antes de começarmos a andar o encarei com superioridade, não deu para evitar.

:- Então você não me disse para onde vamos... – Ela comentou e eu percebi que diferente dos outros dias ela estava diferente.

:- Vamos para um boate chamada La Calle que fica aqui por perto, vamos caminhando mesmo. – A respondi vendo que estava de tênis como recomendei. – Eu só não quis que você estacionasse seu carro por lá porque não é muito seguro. – Disse coçando minha cabeça e desviando o olhar quando ela me olhou assustada. Mas, antes que ela reclamasse, me antecipei. – Fica tranquila, você está comigo, eu conheço aqui como a palma da minha mão.

:- Ufa! Agora sim me sinto segura. – Ela ironizou e ao ver o seu rosto vi que ela sorriu. Fiquei a encarando até perceber a razão de sua postura.

:- Eu tomei algumas taças de vinho em uma festa que estava acontecendo na casa de Logan, pensei que não teria mau algum. – Ela comentou ao ver que eu notei que ela estava “leve”.

:- Tirando o fato de você dirigir depois de beber não tem nenhum mau mesmo. – Foi minha vez de ironizar a situação. Anahí estava tão diferente aquela noite que ela nem respondeu minha alfinetada, só riu do que eu disse e continuou caminhando do meu lado.

Em certo momento, viramos uma rua onde tinha uma viela estranha, tinha um grupo de rapazes ali, fumando e bebendo. Tudo parecia estar tranquilo quando de repente eles ficaram imóveis. Um  viatura da polícia surge a toda velocidade do outro lado da rua invade a calçada. Os policiais saem do carro com as armas em punho e logo começaram a enquadrar cada um. Por instinto, eu passei meu braço pelo ombro de Anahí e a obriguei andar mais rápido, suspirei ao ver que os rapazes aparentemente não estava fazendo nada demais, além de beber na rua que é proibido, e todos eles eram negros.

Baker ficou tão chocada com o que viu que ficou no completo silêncio enquanto eu a guiava. Sequer ela sabia que cenas como essas se repetem diariamente por Miami inteira, eu já fui um desses caras. Por ser latino posso ser um desses caras amanhã. O clima tenso que pairava sobre nós demorou um pouco para dissipar, nós já havíamos chegado a boate e ela olhava atentamente a tudo. No térreo ficava tocando hip hop e rap. Já no nosso segundo andar só tocava músicas latinas.

:- Aqui só tem pessoas mais velhas! – Ela disse vendo os pares na pista de dança, eu tive que sorrir porque pensei o mesmo quando vim no La Calle da primeira vez com os meus amigos. A grande maioria detestou o lugar por conta do público. A verdade é que muitos de nós saímos a noite para ficar com alguém e aqui não rola bem isso. Eu trouxe Anahí aqui porque sabia que ninguém conhecido frenquentaria este lugar e por mais que tocasse pouco reggaeton, em compensação dançariamos muita salsa, merengue e mambo. - Não sei se isso vai dar certo! – Ela arregalou os olhos na troca de música.

:- Vai sim! Dessa vez, eu vou te ensinar de uma forma diferente. – Eu peguei em sua mão e a levei até o bar. – Vamos começar bebendo! – Anahí tomou um susto, mas não reclamou.  Provavelmente não é a postura de um bailarino que ela estava acostumada.

:- Que bebida é essa? – ela chegou o copo pequeno e cheirou ao ver que eu virei todo o líquido em um gole.

:- Se chama Mezcal, nunca tomou? – Eu perguntei ao ver que ela negou, eu sorri. – Vamos dizer que é uma bebida “prima” da Tequila, bem popular e bem mais forte. Anahí me escutou e por fim decidiu beber. Apesar da careta, nós dois tomamos mais cinco doses cada.

:- Talvez tenhamos ido rápido demais. – Ela comentou ao ver uma senhora rodopiando na pista de dança.

:- Não! Estamos indo pelo caminho certo. – Eu a provoquei e a puxei para a pista, como a música estava muito alta tinhamos que conversar estando bem próximos. – Você é uma pessoa bem perfecionista, gosta de se dedicar e não se importa com as horas e horas de ensaio desde que seu passo fique perfeito. – Eu comecei a falar e ela prestava atenção em mim. – Você dança balé desde que se entende por gente e, por conta disso, precisa aprender certas lições para que fluir melhor ao dançar reggaeton.

:- O que eu preciso fazer para melhorar? – Ela me perguntou interessada.

:- Você aprendeu facilmente as coreografias que eu te passei, mas reggaeton não é uma dança de classe, regrada. Ou melhor, é uma dança das classes baixas, é um ritmo que tenta demonstrar nossa intensidade. – Veja como eles estão dançando. – Eu apontei para os casais que dançanvam Yo no sé Manaña de Luiz Enrique. – Eles estão sintonizados, confiam um no outro, estão seduzindo um ao outro. Não é reggateon, mas preciso que você sinta como é dançar uma música latina. – Ela olhou para pista por alguns segundos e depois me encarou enigmática.

:- Nós vamos dançar juntos? – Me questionou.

:- Sim! – Afirmei e vi que ela ficou preocupada. – Não se esqueça que eu sou o seu professor, não dá para eu te ensinar só falando o que você tem que fazer, eu preciso dançar com você, te mostrar como faz.

Antes que ela se recusasse, eu a peguei pela cintura e levei para a pista, com nossos corpos grudados eu comecei a levá-la.

:- Nós já dançamos juntos antes! – Anahí deu um sobressalto quando eu me encostei para falar em sua orelha, senti sua respiração ficar esbaforida. – Na festa na casa do seu pai e... No passado! – Limitei minha fala.

:- Eu não tenho boas lembranças desses dias! – Ela disse séria demais para o meu gosto.  E eu não sabia dizer para onde a sua mente a havia transportado para o passado, preferi ignorar porque não é algo que me sinto orgulhoso. Como resposta, eu comecei a balançar meu corpo de um lado para o outro levando o corpo dela comigo, apenas a segurando por uma mão em sua cintura.

Houve um momento que um casal de senhoras nos empurrou, Anahí olhou para trás e uma das senhoras deu um sorriso arrogante e deu os ombros. De uma forma torta, ela entendeu que tinha que dançar comigo ou seriamos atropelados na pista.

E aí fluiu! Eu e Anahí começamos a dançar juntos, ela aprendeu os passos rapidamente por observar os outros pares e pelas minhas indicações, estamos leves e tínhamos baixado nossas guardas. Fazia tempo que eu não me divertia tanto e fizemos isso por horas. O clima entre a gente estava leve, mas passou a ficar tenso. Eu puxei sua cintura e ela colocou uma de suas mãos em minha nuca enquanto rebolava, minha respiração passou a ficar pesada e estava ficando cada vez mais difícil controlar as reações do meu corpo que estava mais atraído por ela.

Quando Anahí voltou a subir o seu corpo depois de rebolar em mim eu apertei forte sua cintura, soltando meu ar quente em seu pescoço, engoli a seco ao me lembrar do nosso beijo. Ela se virou e ficou de frente e nos encaramos. Por Deus, eu estava morrendo de desejo de beijar sua boca entreaberta, ela percebeu isso porque viu o meu olhar alternar entre seus lábios e seus olhos.

:- Eu acho melhor ir embora. – Ela falou com um tom de voz rouco. – Tenho que dar aula de manhã, sou a primeira a chegar e não posso me atrasar. – Anahí se justificou e eu apenas assenti com a cabeça sem consegui desgrudar de seu corpo. Ela subiu as suas mãos até meu maxilar e por um instante eu achei que fosse me puxar para beijá-la. – Tenho que ir. – Reforçou depois de soltar um suspiro.  E eu entendi o recado, tirei minhas mãos de sua cintura e puxei as dela para sairmos do local de mãos dadas.

Assim que cruzamos a porta de saída, vi que o céu estava negro, deveria ser metade da madrugada de longe um horário que e não estava acostumado a sair de uma boate. Mas, por ter trabalhado  dia todo estava bem cansado, Anahí sugou minhas energias. Estávamos ainda na calçada quando vi um rosto familiar e quando reconheci chamei a atenção de Baker.

:- Aquela não é sua amiga? – Eu perguntei estranhando a presença dela nas partes baixas da cidade aquela altura da madrugada, ainda que estivesse em grupo.

:- Bridget. – Anahí confirmou as minhas suspeitas e eu percebi que ela ficou nervosa. Enquanto eu estava a olhando, de repente ela me puxou pela minha camisa e recusou até a parede de uma loja. Minha expressão de confusão não passou desapercebido por ela. – Ela não pode nos ver.  – Se justificou enquanto tentava olhar por cima do meu ombro para saber se sua amiga a notou ali.

:- Por quê? – Eu perguntei sem deixar de olhar para o rosto desesperado de Anahí e como o seu corpo estava encostado no meu como há minutos atrás. Na verdade, agora estava melhor já que tinha uma parede atrás dela, um passo meu e seu corpo ficaria prensado.  Baker voltou o rosto um segundo para me olhar com hostilidade e então me toquei que minha pergunta foi idiota. Ninguém pode saber da nossa relação.

Isso explicaria essa reação exagerada de Baker, ela não havia mencionado nada sobre a volta de Bridget, talvez esse fosse à primeira vez que elas se reencontrariam. Seria difícil explicar minha presença.  A morena deu um sobressalto entre meus braços e arregalou os olhos.

:- O que foi? – Perguntei sem olhar para trás e olhando para Anahí.

:- Acho que ela me viu. – Anahí respondeu fazendo uma careta de preocupação. Mas, antes que eu tivesse qualquer reação, ela me beijou. Subiu suas mãos que estavam apoiadas em meu peito e puxaram minha nuca, movendo um pouco nossa posição e a deixou mais escondida. – Ela se separou dos meus lábios e voltou a olhar por cima dos ombros. – Bridget está andando. – Disse mais preocupada com a sua amiga do que perceber os efeitos que ela tinha sobre mim.

:- Então não vamos deixar que ela te veja. – Eu respondi olhando para a sua boca. Dessa vez, eu tomei a atitude e não só porque queria ajudar Baker, mas porque eu estava morrendo de vontade de beijá-la de verdade. Não como ela fez há pouco tempo, eu usei a língua para passar sobre seus lábios e pedir passagem. Assim que Anahí o fez, eu a beijei com gosto, foi minha vez de colocar minhas mãos suas bochechas enquanto pressionava meu corpo contra o dela na parede.

:- É isso aí casal! – Escutei de fundo a voz de Bridget e depois passos que foram se afastando. Ela passou por nós, a missão estava cumprida, mas eu não conseguia desgrudar minha boca de Baker.  Muito menos ela que estava entregue a mim. Só nos soltamos depois de alguns minutos depois que puxei o lábio inferior dela em uma mordida e nos olhamos com a respiração ofegante.

:- Ela deve ter ido embora. – Comentei contente por o que causei em Anahí, boca avermelhada, cabelo bagunçado. Ela concordou com a cabeça e passou o seu dedão em meus lábios tirando um pouco do seu batom. Eu sorri. – Vem, você tem que ir. – Eu puxei sua mão e caminhamos de mãos dadas em silêncio até o estacionamento.

Não estava incomodo, mas estava pensando em como me despedir dela, tentando conter o desejo de pedir para levá-la para casa só para ter mais tempo em sua companhia.  Anahí deve ter me possuído! Defini, assim que o manobrista trouxe o carro e ela o pagou. Baker abriu a porta do carro e ficou em pé de costas para ele e de frente para mim.  Os olhos dela percorreram o meu corpo e se fixaram no meu rosto, era um sinal, eu dei dois passos até ela e beijei de novo. Foi mais rápido do que eu gostaria.

:- A gente se vê mais tarde. – Eu olhei para o céu que estava ganhando um tom azulado e se preparava para dar espaço para o sol. Sorri para ela que retribuiu, eu me afastei e ela me deu um selinho antes de entrar em seu carro e ir embora. Eu olhei o seu carro partir com um sorriso bobo no rosto, o manobrista que era o mesmo do começo da noite me olhava com inveja e eu queria gritar porque aquela noite eu era o cara mais feliz de Miami.

 

 

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