Um romance quase de cinema escrita por Miaklein


Capítulo 7
6




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Senhor Harry era um ótimo anfitrião. Todas as músicas do baile foram selecionadas por ele e sucessos antigos deixaram o clima nostálgico e muito, muito romântico. Era uma seleção fina e agradável aos ouvidos o que me permitiu desfrutar uma vez que todo o repertório era apaixonante. Nick levantou-se e em uma curvatura de cavalheiro me chamou estendendo a sua mão para que eu a segurasse. Segurei o riso e ele percebeu.

— Já te falei que sou dramático?

— Não, mas acabei de perceber. – respondi retribuindo o gesto dobrando as pernas como faziam as damas de outro século.

Humm... Isso mesmo, Michelle. Entre no clima. – falou enquanto caminhávamos de mãos dadas até o centro do salão. Não que eu pensasse em tamanhos, mas a sua mão abraçava a minha. Era enorme. Olhei à minha volta e encontrei Jennifer, próxima a nós em meio aos casais, sorrindo para o seu par, mas tudo se transformou quando ela viu Nick ao meu lado. Seu rosto angelical se transformou em uma careta demoníaca. Parecia uma criança pirracenta. Inacreditável!

O cantor iniciou o baile com uma canção de Elvis Presley chamada Can't help falling in love with you. Era uma das minhas preferidas. Sempre fui amante deste grande artista e agora estava em uma situação tão fora de contexto da minha vida habitual que ri sozinha ao relembrar uma noite com João em nosso apartamento.

— Eu amo essa música. – suspirei sentada no sofá comendo brigadeiro. João me olhava desde o outro lado da sala.

— Eu sei que você gosta.

— Sabe?

— Eu sempre reparo em você, Misha. – ignorei a suposta cantada. – Pela manhã, você coloca o seu pendrive no rádio da cozinha enquanto prepara o café.

— Verdade, João! Você é muito observador. – tentei parecer descolada, mas aquela conversa estava ficando íntima demais.

— Também noto que quando está pensativa, essa é a canção que escuta. Só não descobri ainda se existe um motivo por trás dela.

— Ahh... Não. Eu só gosto. Ela é melancólica. Parece ser a música ideal para um baile de casal apaixonado. Se todo livro narrasse um romance, seria essa música que eu colocaria na cena de um beijo. – comentei ao lembrar um dos livros que estava em minha cabeceira.

João deve ter achado que era uma indireta, pois se levantou da poltrona e pegou minha mão.

— Vamos dançar um pouco? – eu fiquei com vergonha, mas como negaria sem parecer rude?

— Eu estou com as minhas pernas doendo. Caminhei tanto hoje que poderia virar uma maratonista. – menti.

— Só um pouco, Misha. – ele pediu e eu resolvi ceder. – dançamos o primeiro minuto da música e João tentou diminuir a distância entre nós. Eu dei um passo para trás e ele sorriu.

— É só uma dança.

— João, eu não costumo dançar com ninguém assim. – parei e afastei-me. – Desculpe-me, mas me sinto um pouco sem graça. Ele fechou a cara e colocou as mãos no bolso.

— Somos amigos. Não tem motivo para ficar assim. – havia uma leve irritação em sua voz.

— Sim, eu sei. – sorri. – Porém, eu sou estranha mesmo e me sinto um pouco constrangida.

— Tudo bem. Boa noite! – disse, saindo apressadamente para o seu quarto. Foi um alívio, mas sua atitude hostil diante de uma negação não me deixou à vontade. Eu precisaria tomar as providências de cair fora dali o mais rápido possível.

— O que você está pensando? – a voz de Nick trouxe-me de volta ao momento. Estava curioso por meu sorriso.

— Desculpe. Não estou rindo de você. Só estou achando tudo muito engraçado. – rejeitei João com essa música e agora estava adorando estar escutando-a com outro homem.  Não havíamos começado a dançar, mas o meu corpo não rechaçava ao astro como a meu amigo. – Você é um ator de Hollywood prestes a bailar com uma brasileira organizadora de eventos. É a típica história da dama e o vagabundo, sendo que eu sou a vagabunda, no bom sentido, claro.

— Você está tão bela que o vagabundo aqui sou eu. Além do mais, qual o problema em dançar comigo? Você deveria agradecer por ser uma pessoa que não precisa fugir constantemente. – comentara. – Para você ter ideia, o simples fato de ignorar a minha assessora e viajar para cá fará um rebuliço em minha vida amanhã. Tudo que eu faça terá algum tipo de consequência no mundo inteiro. As revistas ganharão milhões só por causa disso.

— Ohh! Ser rico deve ser muito ruim.

— Você acha que eu posso fazer tudo que eu quero? 

— Ohh! Eu sofro tanto em meio a caviar e festas. Sua vida deve ser muito chata. 

— Você é sempre tão irritantemente irônica? – perguntou debochadamente.

— Eu sou um doce de pessoa. Ironicamente falando. – ele sorriu. – Mas, me conte. Você veio mesmo sem a sua assessora?

— Sim. Eu quis fazer algo diferente. Cheguei sem ser notado e tentei curtir até a praia, mas não pude. Não conhecia o país e peguei um táxi. O motorista ficou todo o tempo comigo. Paguei uma nota. – minha cara estava no chão.

— Você é louco! E se alguém te seguisse? E se fosse assaltado? Você não conhece nenhum lugar aqui. Sua assessora vai te matar.

— Eu não ligo. Faria tudo novamente.

— Enquanto você enfrenta um tipo de problema, eu também tenho os meus. – comentei sem interesse. – Para você seria apenas fugir da rotina, mas para mim seria algo que jamais pensaria viver há um dia atrás. Agora, por exemplo, seria o momento “Dança dos famosos”.  

— Então, apenas viva. – ele balbuciou perto de meu ouvido passando uma de suas mãos por minha cintura. O calor do meu corpo recebeu aquele gesto com se fosse uma pequena chama e sei que queimei por dentro quando ele me puxou levemente. – Mais perto, Misha. – oh! Sua voz máscula era incrivelmente hipnotizadora. Evitei olhá-lo, pois sabia que estava como um tomate maduro de tanta vergonha por saber o que se passava em minha mente e corpo.

Nosso movimento começou lentamente, de um lado para outro. Eu pus minha mão em seu ombro e a outra ele segurava. Mantive uma distância considerável para não dar ensejo a fofocas sobre mim. Mas, eu não sabia dançar e pisei em seu pé. Ele riu e tentou me levar pela dança, mas acabei encontrando novamente o seu sapato. Depois de algumas tentativas, consegui pegar o ritmo lentamente.

— Eu não te contei, mas eu tenho uma armadura dentro do sapato. – brincou.

— Eu não sou boa com danças. – falei baixinho. Ao desviar meu olhar, vi João com o semblante atordoado. Ele deveria se lembrar, assim como eu. Fingi não ver sua decepção, afinal nunca lhe dera esperanças.

Mesmo assim, ao ver a cara transtornada de João, acabei me recordando de um momento que passei com Rafael em uma festa da empresa. Depois de tentar dançar, ele desistiu na terceira pisada em falso que eu dei.

— Porra, Michelle. Todos estavam olhando. – Rafael gritou dentro do banheiro da empresa.

— Perdoe-me se esqueci de te contar que eu não sabia dançar. – falei no mesmo tom. – Não sou obrigada a fazer parte desse teatro. Eu te disse que não queria vir.

— Mas, você é a minha noiva! Como aparecer sem você aqui? – ele estava muito nervoso, pois passara vergonha comigo. Eu sempre era a culpada.

— A sua amiguinha não parecia feliz. Acho que ela se decepcionou quando cheguei.

— Do que você está falando? Eu não tenho ninguém.

— Será, Rafael? Será mesmo? Você se lembra do telefone do seu personal trainer? Aquele que você sempre ligava para marcar? Pois, agorinha mesmo eu resolvi apertar para chamar o número e adivinha qual foi o celular que tocou na festa? O dela. Interessante, não é mesmo?

— Ela... Ela é namorada do meu personal trainer. – ele gaguejou denunciando a grande mentira.

— Seu mentiroso! Você deve me achar com cara de babaca, só pode!

— Sim. Você é idiota por pensar isso de mim. Sabe de uma coisa? Se quiser ir para casa, pegue um táxi. Não posso deixar os demais diretores porque você não curte uma festa.

— Eu gosto de festa. Eu não gosto dessa daqui. Será que você não percebe que todos estão me olhando de cara feia? Eu não faço parte desse seu mundo. As mulheres não querem conversar comigo. Seus amigos mantem distância de você como seu eu fosse descobrir algo. Tudo é muito suspeito. E agora tem sua amiguinha. Para piorar você insistiu nesse baile e olha no que deu! Agora está brigando comigo porque cometi o maior pecado do mundo por não saber dançar. Me desculpe se sujei o seu sapato de couro de jacaré.

— Volta pra casa de táxi. – Rafael implesmente me deixou naquele banheiro frio e retornou à festa. Me senti abandonada por sua insensibilidade. Não precisei passar por dentro do salão para me retirar daquela porcaria de lugar, seria demasiadamente humilhante.

— Você é engraçada. – Nick tirou-me daquele pensamento horrível que já estava causando um mal estar em mim.

— Eu? Por quê?

— Apesar de ser uma das funcionárias, não teve problema em dar a sua opinião nos momentos que foi confrontada. Normalmente, as pessoas preferem aceitar tudo que alguém famoso diz só para deixá-lo feliz.

— É o que as pessoas fazem com você?

— O tempo inteiro. – ele inspirou profundamente. – Não gosto de ser bajulado. Quero conversar, discutir assuntos diversos sem que uma pessoa simplesmente aceite o meu pensamento pelo simples fato de ser Nick Cooper.

— Isso parece ser muito... Solitário. – disse com pesar encarando aquele par de olhos azuis.

— Eu gostei de sua personalidade decidida e até mesmo petulante. Afinal você irritou a Jennifer. – seu sorriso me fez desviar o olhar novamente. – Foi a melhor parte dessa festa.

— Isso foi um elogio, senhor Cooper?

— Definitivamente, Misha. – Nick parou a nossa conversa e me puxou ainda mais para perto. Desta vez, eu quase encostei a minha cabeça em seu peito, mas pensei sobre tudo e vi que eu não podia me dar o luxo de fechar os olhos e fingir que estava em um baile de A Bela e a Fera. Primeiro, por que eu seria a fera nesse conto e, segundo, por que a imprensa estaria de olho nele todo o tempo. Não queria ser chacota das revistas sensacionalistas.

— Eu amo essa música. – balbuciei desfrutando do baile, mas como eu era especialista em destruir belos momentos, acabei pisando em seu pé novamente. – Perdão.

— Esqueça. Eu não ligo para isso. Estou me divertindo muito. Take my hand, take my whole life too. For I can't help, Falling in love with you. – Nick cantou em meu ouvido e suspirei. Foi inevitável afinal era a minha música cantada por um astro em meu ouvido “Pegue a minha mão, pegue também toda a minha vida, pois eu não consigo evitar de me apaixonar por você.”

Assim que finalizou a canção. Todos bateram palmas. Eu me desvencilhei de seus braços e bati minhas mãos para aquela banda maravilhosa, poré esse ato era mais para ocultar o quanto eu estava totalmente sem graça.

— Obrigada por contribuir. Esse dinheiro será muito bem empregado. Pode ter certeza.

— Eu sei. A doação valeu cada centavo. – ok. Fiquei sem ar. Não pelas palavras dele que me impactaram, mas sim com o olhar sério e profundo como se pudesse ler a minha alma. Nick sabia jogar bem.

— Gostaria de passar mais tempo com todos vocês. – falei no plural para ele entender que estava apenas cumprindo o meu papel ali. – Mas, preciso continuar cuidando de tudo. Se você não se importa...

— Eu me importo. – disse seriamente. – Se você pudesse...

— Linda música, Nick! Quero dançar contigo agora. – Jennifer apareceu segurando o braço direito do amigo. Ele desistira de completar a frase. – Percebi o quanto você dança bem, Michelle. Parabéns! – estava sendo irônica.

— Não precisa amenizar a situação, senhorita Wilde. Eu sei que sou péssima, mas o senhor Cooper foi um cavalheiro e não fugiu na primeira pisada.

— Nem na segunda e terceira só para constar. – ele disse. Olhou para os pés e balançou um deles. – Veja! Quase foi um esquartejamento, mas ele ainda está grudado. – rimos como dois bobos, exceto Jennifer, para variar.

— Ótimo. – Jennifer falou. – Pois, preciso deles para a próxima música. Vamos. – ela o puxou com ferocidade.

— Tchau. – me despedi colocando a cara mais profissional do mundo.

— Nos vemos. – ele piscou e saiu com sua amiga olhando para mim. Certo momento, Nick, já na pista de dança, colocou um rosto de pessoa assustada e eu participei de sua piada passando o dedo na garganta como se a estivesse cortando em sinal de “você está morto”.

Apesar dos cinco minutos de fama, eu tinha um trabalho a ser feito. Era hora de voltar à realidade.

— Como estão as bebidas dos convidados e a segurança na porta? Cambio.


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