Fluminatte. escrita por Miss B


Capítulo 5
IV — O dia em que tudo realmente começou, parte 2.


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas por demorar a postar. Muitos trabalhos na mente, e internet fora do ar, porém VOLTEI.

Música recomendada: Snuff, Slipknot.



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Foram horas pensando em Sam. Alesea não aguentava mais a lembrança viva de seus lábios tocando-se levemente; do pudim derretendo em sua boca; do abraço que compartilharam naquela tarde. Sem conseguir dormir à noite, ficou divagando sobre a possibilidade de serem. De serem mais do que conhecidos, mais do que amigos, mais do que meras paixões. Não. Alesea vetou os próprios pensamentos. Viu-se a observar a lua sorrindo. Ela viu possibilidades que não podiam ser desperdiçadas. Viu oportunidades, viu chances, viu esperança. Naquele selinho. Naquele pudim. Naqueles cabelos dourados. Naqueles olhos cinzentos. Viu a possibilidade de ser feliz. Viu um futuro ao lado do marido, e agora tudo parecia querer dar certo.

Se a confusão vem depois da calmaria, o que vem antes?

Algo parecia estar errado. A duquesa ouvia tranquilamente os sons da noite, volta e meia os olhos alternando entre a lua e o pedaço do jardim coberto por uma cerca viva: O lago. A morte de Sebastian. Começou a repassar todas as vezes em que sua vida dera um giro de trezentos e sessenta graus. Calmaria. Sua vida era completamente normal até atingir a idade de oito anos. Confusão. Sebastian morre, e anos de trauma espalham-se pela família. Calmaria. Sua família aumentava cada vez mais. Confusão. Sua mãe morrera. Calmaria. As drogas a entorpeciam. Confusão. Seu pai morre, ela é obrigada a casar com quem não amava e muito menos conhecia. Calmaria. O reino está indo bem. Alesea é uma lembrança e um exemplo para amigos e súditos.

Que confusão viria agora?

O que o destino estava esperando?

Estaria ele afiando o punhal para cravá-lo em suas costas?

Seus devaneios foram abruptamente interrompidos por passos. Um galho quebrou. Alesea virou-se para encontrar Sam com uma das mãos pousadas na bainha da espada. Sorria.

— O que faz aqui a essa hora da noite?

— Eu que pergunto. — disse ela, erguendo uma sobrancelha.

Ele deu um sorrisinho.

— Aproveitando... A última noite de verão? — tentou.

— Estamos na primavera. — respondeu a morena.

— Estamos? Nossa!

Alesea deu um pequeno sorriso, enquanto Samuel tirava, de nenhum lugar aparente, com a mão que estava escondida, mais um pedaço de pudim e esticou o braço até a esposa. A duquesa deu uma risada, enquanto pegava o pudim e uma colher que ele lhe estendeu, provando de seu maravilhoso pudim novamente. Fechou os olhos calmamente, enquanto saboreava, ouvindo a melodiosa risada de Sam. Um momento de entendimento mútuo passou entre eles, até Alesea abrir novamente os olhos e Sam roubar um pedaço de seu pudim.

— Invasão de privacidade tem multa a ser paga. — disse ele.

— Ainda valeu a pena. — fez uma mesura, visando as costas para ele e dando delicados passos até a porta mais próxima, que levaria até seu quarto.

— Ei! — Sam seguiu a esposa e parou fronte à ela, entre a mesma e a porta. — Você nem provou o Pudim. — pegou um pedaço na colher e colocou perto da boca de Alesea. Antes de ela conseguir abocanhar a colher, Sam pôs na própria boca, o que resultou com os rostos próximos, ele sorrindo de deboche. 

— Farei isso bem longe de você. — disse a morena, havia ficado vermelha, com a aproximação e com a repentina raiva.

— O.k., o.k., agora é sério. Não vamos brincar com comida. 

O rosto de Sam era sério. Pegou mais um pedaço de pudim e pôs perto da boca de Alesea. Um grilo cantou ao longe, no momento em que ela avançou levemente para a colher, esperando experimentar seu doce favorito. O loiro afastava lentamente o doce da mulher, e enfim tirou a colher de cena, tocando ambos os lábios em um selinho demorado. Ao final, afastou-se, um sorriso de canto involuntário tomando seu rosto.

— Opa. 

Alesea deu um sorriso, acariciando seu rosto e voltando a beijá-lo, agora tentava avançar do selinho para algo mais intenso enquanto ele retribuía, esquecendo a colher com o pudim em uma mão e derrubando-a sem querer, sujando ambas as roupas sem querer. Ela adorou o gosto de pudim em seus lábios. Acariciou levemente sua nuca, enquanto o mundo ao seu redor desaparecia. Só haviam ela, ele e o pudim. Ele largou o pudim em cima de uma mesa encostada na parede, com algumas flores em vasos, e segurou a cintura da esposa. A duquesa não sabia como agir a partir d'ali. Ele a deixava boba, não sabia se ele queria o que ela queria, não sabia de nada mais, só queria beijá-lo para a eternidade. 

— Eu sujei você. — disse entre o beijo, enquanto a puxava à ponto de rodarem e ela ficar encostada na porta do próprio quarto. Alesea assentiu, murmurando um "deixa assim", enquanto abria a porta e o puxava para dentro. — Você tem que trocar de roupa. 

Ela assentiu novamente, dando um sorriso entre o beijo. 

— Eu aceito ajuda pra me vestir depois que você me despir.

Sam não respondeu, apenas começou a abrir seu vestido puxando as fitas que trançavam suas costas. Ao chegar à cintura, o vestido caiu, virando um tapete ao chão. Alesea deu um sorriso contido. 

— Opa. 

Ele a segurou pela cintura, voltando a beijar seus lábios, a tocar suas costas agora nuas e aventurar-se pelo pescoço da morena. Andava devagar até a cama, onde deitou-a e ficou por cima dela. 

...

Alesea abriu os olhos calmamente. Olhou em volta. Sam estava ao seu lado. Deu um sorriso curto. Ele parecia um anjo dormindo. Dormindo ao seu lado, na cama do casal que ele nunca havia tocado. Agora os dois estavam ali. Seguiu o feixe de luz que entrava pela janela e voltou a fechar os olhos. Não queria que aquele momento acabasse nunca. Sentiu Sam sentar na cama, respirando fundo. Passou a mão na própria testa, olhando para o teto como se o mesmo fosse dar-lhe explicações. 

— Bom dia. — ela deu um sorriso, abrindo os olhos para observá-lo.

— Oi. — olhou pra ela e apoiou-se nos cotovelos, meio deitado. Sorriu. — Dormiu bem?

— Muito bem. — Alesea sentou-se na cama, observando ele por inteiro.

— Eu sei que sou maravilhoso, mas ainda fico envergonhado quando me olham assim, tá? — comentou Sam, cobrindo-se.

Allie deu uma risadinha, tapando os olhos.

— Desculpa.

— Desculpa. — disse ele, enfim, deitando e olhando para o teto. — Fui impulsivo e... errado. — seu olhar fixou-se em Alesea. — Eu não devia ter feito isso sem estarmos apaixonados.

A morena ficou em silêncio, observando os olhos de Sam, enquanto seu sorriso desaparecia devagar. Fez um coque rápido no cabelo cacheado, o que o fez cair logo em seguida.

— Ah. Claro. Eu... — olhou em volta, procurando seu vestido. — O.k.

— Alesea. — Sam chamou sua atenção, assim que ela o olhou, tocando seu rosto. — Eu sou um babaca, me odeie, o.k.? Deixa só um de nós pensar que não desperdiçou a vida. 

Tirou a mão dele de seu rosto com um empurrão, levantando-se da cama em silêncio, começando a colocar o vestido. 

— Eu devia ser justo. Devia ter te conquistado. — vestir as próprias roupas era mais fácil e rápido do que as dela, estava vestido agora. — Desculpe. — repetiu ele. Olhou-a. Estava bem melancólico. 

— Não. Não. Cala a boca! — Alesea terminou de amarrar o vestido muito mal. — Sai do meu quarto.

— Eu... — ele tentou falar algo, mas decidiu que poderia ser cedo demais. — Vou estar treinando.

— NÃO ME INTERESSA, SAI DO MEU QUARTO. — jogou o travesseiro nele. — SAI! 

Cabisbaixo, o louro saiu pela porta de madeira, começando a dar tapas no próprio rosto, xingando-se de idiota e afastando-se dali devagar, andando ainda mais lento até o campo de treino, a tempo de ouvir o urro de Alesea reverberar pelo jardim, vindo de dentro do quarto-do-jardim. A mulher começou a jogar tudo quebrável na parede, tudo que encontrava à sua frente virava cacos à seus pés descalços. Trinity, sua dama de companhia, entrou no quarto, em silêncio, começando a recolher as coisas quebradas do chão.

— ELE NÃO PODIA! ELE NÃO PODIA! AAAAARGH!

Após descarregar sua raiva, sentou-se no chão e começou a chorar. Sam chegou à porta assim que ela começou a chorar, levemente ofegante pela corrida que dera ao ouvir as coisas quebrando. Viu a mulher chorando, as coisas quebradas à sua volta, e andou até ela apressado. 

— Você está bem? Está machucada? — o loiro falava em um desespero visível, não sabia o que tinha acontecido. — O que faz parada aí? Vá buscar curativos! Não vê que ela pode ter se machucado?! — tinha sido, pela primeira vez, rude com um serviçal. 

— EU ODEIO VOCÊ! — pulou em cima dele, começando a arranhar sua face. — É tudo culpa sua! — ainda berrava com ele, Trinity não havia saído. Só obedecia as ordens de Alesea. — Você estragou tudo... — voltou a chorar, cravando as unhas em sua face.

Samuel tentou segurar seus braços, o rosto estava realmente começando a doer. Assim que conseguiu, segurou seus pulsos, os olhos estavam arregalados. — Eu sei que me odeia, só não diga isso em voz alta, machuca mais que suas unhas. 

— VOCÊ ESTÁ FAZENDO ISSO COMIGO, SEU... QUEBRA-CORAÇÕES! — berrou, agora dando-lhe tapas e mais tapas em seu rosto. — Você tá me fazendo te odiar tanto... OLHA O QUE VOCÊ FEZ COMIGO!

— Alesea...

A duquesa levantou-se ficando de costas para o marido, os braços cruzados, algumas lágrimas escorrendo pelo rosto. Não conseguia acreditar que gostava tanto dele, e que aquela maldita confusão pisoteara sua calmaria. 

— Cala a boca. Vá treinar. É só isso que você faz. Além disso, foi um erro, não foi? Pode ir. — apontou para a porta, ainda de costas. — Vai.

— Tudo bem, eu vou. — disse — E foi sim um erro. Eu errei em tentar algo com alguém que não me ama. Eu errei em pensar que seria possível ser o único com sentimento.

Suspirou. Vou deixar ele pensar assim. Vou deixar ele pensar assim. Vou deixar...

— SERÁ QUE EU TERIA FEITO TUDO ISSO — apontou em volta, virando-se pra ele — PRA NADA? POR QUE EU FIZ ISSO, SENHOR DUQUE? PORQUE EU TE AMO! 

Sam estava começando a juntar os cacos das coisas quebradas porque não queria que ela se cortasse. Ouvi-a dizer aquilo e, pelo susto, cortou sua mão com um dos cacos. Fitou Alesea.

— Você... o que? — largou o caco, levantando-se, caminhando até ela. A mão sangrava no carpete. — Tem certeza?

— Sai da minha frente. — a mulher começou a se balançar, cruzando os braços.

O duque tocou seu rosto de leve com a mão ensanguentada e beijou-a antes dela ter alguma reação. Alesea retribuiu o beijo, mas não deixou que ele avançasse. Afastou-se calmamente, limpando o próprio rosto o sangue do marido com as costas da mão.

— Vamos... Vamos limpar sua mão.

— Eu gosto de você. — ignorou o que ela disse, colando as testas. — Eu só não fiquei com você porque... não queria você desconfortável.

— Sua mão pode infeccionar. Vamos logo. — puxou-o para a saída, não querendo ouvir explicações ou nada do tipo.

Ele deixou ser puxado, em silêncio. Ela levou-o até sua dama de companhia, que enfaixou sua mão após limpá-la devidamente. Alesea sentou-se em uma cadeira próxima, observando. Sam encarou a dama e ponderou sobre pedir desculpas por ameaçar fazê-la de alvo, mas desistiu. Fitou Alesea em silêncio e suspirou quando terminaram seu curativo.

— Curativos são desnecessários. — comentou.

— Obrigada, Trinity. Me traga um copo de água, sim? — a menina assentiu, saindo.

— Você treinou um cão, não uma criada.

— Ela é muda. — Alesea bufou.

— Pra mim não faz diferença. — suspirou.

Olhou firmemente pra ele, ainda lembrava de suas palavras. Ia responder algo, quando Trinity voltou com seu copo de água, fazendo alguns gestos em uma linguagem apenas delas. Alesea respondeu a garota, da mesma forma, enquanto Sam as encarava, inexpressivo. 

— O baile de outono é hoje. Vai ir comigo ou me fará ir sozinha também? — perguntou a duquesa. 

— Detesto bailes. — comentou, mas então soltou um suspiro. — Eu irei, com todo prazer.

— Vá se vestir, Trin, e chame as outras. Preciso de ajuda com o vestido. — Trinity assentiu e deu meia volta. — Vá se vestir. Afinal, você vai comigo.

Alesea tinha vociferado minutos antes, e agora falava seriamente. Seu coração estava apertado, ainda mais encarando um Sam sem expressão, o Sam de antes de se falarem. Respirou fundo e engoliu em seco, antes de dar meia volta e sair do jardim, indo direto para a sala de jantar, tomar seu café.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. ♥