Complicated escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

N/A: Um aviso importante: esse capítulo é “levemente” forte, com muitas palavras de baixo calão e cenas de agressão. Quem não gostar, é só pular a primeira parte, okay? Nós vemos lá embaixo



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Capítulo 13 – Harry VI

 

Duas semanas se passaram desde o meu primeiro encontro com Ginny e eu só poderia classificar a nova fase do nosso relacionamento como algo maravilhoso. Era incrível ter momentos só nós dois, vivenciar uma relação leve e sem maiores complicações e saber que eu poderia contar com alguém em qualquer circunstância.

No entanto, o fato de nós nos mantermos em segredo começou a me incomodar.  Queria dizer para o mundo que estávamos juntos e que nós éramos novamente um casal, porém eu entendia quando Ginny me dizia que ainda não estava pronta para contar sobre nós para nossas famílias e amigos. Ela me alertava que ainda tinha muito em jogo e que gostaria de esperar para ver até onde chegamos.

Com isso, nossos encontros tinham que ser muito bem pensados e planejados. No sábado após nossa primeira saída, nós nos reunimos com Ron e Hermione e foi impossível – pelo menos para mim – esconder o sorriso que eu estampava nos lábios. Eu tinha a impressão que Hermione tinha “sacado” alguma coisa, mas ela não se atreveria a contar seus apontamentos na frente do namorado. Meu melhor amigo, por outro lado, se mostrava desconfiado de nosso comportamento e ele fazia questão de dizer que estávamos estranhos, pelo menos, uma vez por dia, seja pessoal ou por mensagem de texto.

O nosso segundo encontro foi no cinema. Ela disse que sairia para ver um filme sozinha e eu disse aos meus amigos que iria passar a noite com meus pais – o que era, em partes, verdade, já que eu jantei com eles antes de sair com Ginny. Nós optamos por um cinema em uma cidade próximo a nossa e foi muito divertido andar de mãos dadas, sorrir e trocar beijos apaixonados sem a preocupação de que encontraríamos com algum conhecido. Depois de topar com Cho no restaurante, decidimos “reforçar” nossas ações para não dar tão na cara que estávamos juntos.

Ginny voltou a trabalhar na segunda semana de janeiro e, juntamente ao fim de suas férias, houve o retorno das minhas aulas. Combinar nossas rotinas de trabalho e minhas aulas se mostraram um novo desafio para nós, mas eu acreditava que estávamos sendo bem-sucedidos visto que até sexta-feira nós tínhamos nos falado todos os dias. Na nossa carona semanal, combinamos de sair para patinar no gelo no sábado em um estabelecimento que tinha acabado de abrir em Londres. Estava frio e nós não sabíamos patinar – pensamos que iria ser divertido cair alguns tombos e ganhar alguns roxos...

Na sexta-feira, no entanto, voltei para faculdade com Ron para uma partida de futebol. Nossos antigos colegas de turma tinham combinado um jogo para relaxarmos e colocarmos os assuntos e as novidades em dia. Nós iriamos jogar uma partida e, posteriormente, iriamos sair para beber em um barzinho próximo do campus, sem a presença de nenhuma das namoradas. Apenas homens, sendo homens, em uma sexta-feira qualquer, com muito chope e salgadinhos baratos.

Eu gostava de esportes e joguei pela universidade durante os três primeiros anos do curso, então, mal pude esperar para sair do escritório, pegar minhas chuteiras e ir ao encontro dos meus amigos. Não contava, contudo, que teria que me encontrar com Draco Malfoy, que foi convidado por Mike, um dos meus antigos colegas de turma durante o jogo. Malfoy era formado em economia e deveria ter participado de alguns jogos que eu e Ron não fomos porque ele parecia entrosado com o restante do pessoal.

Durante a partida, as coisas se mostraram estranhas, principalmente porque ele sempre buscava nos fuzilar com o olhar e, por várias vezes, buscou cavar uma falta em mim ou em Ron, como se ele estivesse com raiva de algo que tivéssemos feito. Como era Malfoy e ele era um otário, não liguei, embora eu conseguisse ver o meu melhor amigo “puto” com a situação.

Em vários momentos, as cotoveladas e empurrões foram tão fortes que caímos no chão e ganhávamos faltas para o nosso time. Os companheiros de time dele, no entanto, não pareciam se importar que eu e Ron acumulássemos hematomas em nossos corpos. Quando a partida chegou ao fim, me despedi momentaneamente de alguns amigos, inclusive de Mike, e foi em direção ao vestiário para tomar uma ducha com Ron.

— Estou quebrado, cara! – disse para meu amigo.

— Eu também. O que deu na doninha? Parecia que ele estava com o demônio no corpo. – Respondeu Ron, enquanto deixava suas coisas em um armário que existia no vestuário.

Fiz a mesma coisa antes de comentar: - Não sei, mas parecia que ele queria nos machucar seriamente... Ele nunca foi de jogar limpo, mas estava um pouco forçado demais todas aquelas faltas. Eu devo estar com vários roxos pelo corpo, puta que pariu.

Ron aproveitou o momento para xingá-lo também. Nós nos encaminhamos para o chuveiro e começamos a ouvir os burburinhos de outras duas pessoas que chegavam ao vestiário.

— Aquela puta da Weasley. Você acredita que ela me denunciou porque eu supostamente tentei violentá-la? – Escutei uma voz, que certamente era de Malfoy, dizendo algo para outra pessoa. Só podia ser sobre Ginny... Decidi ficar atento aos próximos comentários.

— A irmã do Ron? Mas por que ela faria isso? – Respondeu um outro homem, que eu acreditava ser Mike pelo tom grave da voz.

— Por que a dondoca acha que eu tentei fazer sexo com ela na festa de boas vindas da faculdade. Me poupa... ela nem é tão gostosa assim. Se bem que dá para o gasto, né? – Percebi que Ron abriu a porta do chuveiro e eu resolvi segui-lo totalmente molhado. Amarrei uma toalha na cintura e fui para a frente do vestiário, onde estava Malfoy e Mike somente de calções.

— Você disse o que da minha irmã, Malfoy? – Falou meu amigo. Eu já estava prevendo que haveria uma briga e tentei ficar do lado de Ron para evitar qualquer complicação. Não que eu gostasse de Malfoy, mas não queria que Ron se metesse em confusão. Eu também tentava ignorar que ele falava sobre Ginny, pois se eu desse voz para o que meus instintos pediam, Malfoy seria um homem morto.

— Sua irmã, aquela puta, me denunciou por agressão sexual na polícia. Recebi a intimação na manhã de hoje para depor sobre o caso. Sabia? A biscate da sua irmã... – Ele recebeu o primeiro soco de Ron e quando ele estava prestes a dar o próximo, eu segurei seu tronco.

— Ron não vale a pena. Gin não iria querer que você se metesse em confusão! – Gritei.

— Isso mesmo, Potter. Não vale a pena me bater por causa daquela puta. Ela merecia uma boa foda, daquelas que deixa as pernas moles e o corpo totalmente satisfeito, sabe? Vai ver você não foi capaz de proporcionar isso para ela, Potter, uma vez que ela precisou recorrer para outros homens. Daí, quando eu não quis, ela resolveu me processar... Eu deveria era ter comido aquela... – Dessa vez, não foi Ron que socou a cara de Malfoy. Eu não sei como, mas eu soltei o tronco do meu amigo e parti para a briga com o babaca do Malfoy. Bati primeiro em seu maxilar e passei a socar seu rosto com o máximo de força que eu consegui.

No entanto, eu não fiquei impune dos meus atos. Draco aproveitou o momento em que eu fiquei distraído e me socou o rosto, o estômago e eu ganhei alguns outros hematomas para se somar aos que eu recebi durante o jogo. Senti quando seus golpes abriram o meu supercílio e o sangue começou a escorrer pelo meu rosto.

Quando ele se cansou, voltei a batê-lo e senti com satisfação quando o osso de seu nariz quebrou sob meus dedos. Foi nesse instante, que Mike e Ron me seguraram, pois eu, provavelmente, iria continuar batendo até vê-lo sem respirar embaixo de mim tamanha minha raiva. Quem era ele para falar assim de Ginny? Esse escroto tentou violentá-la e ainda tinha a “cara de pau” de achar ruim quando ela o denunciou? Esse idiota deveria morrer para aprender a respeitar as mulheres... Mesmo caído, com o nariz sangrando horrores, ele continuou a me provocar.

— Potter, Potter... quem você engana? Você ainda é caidinho pela Weasley. Desde moleque, você corre atrás dessa ruiva nojenta... Era impossível não vê-los juntos por todos os lugares, todo amorzinho... vocês me davam náuseas. Eu devia ter concluído o que eu planejei com Cho naquela noite anos atrás. – Disse, arfando no chão.

— O quê? Do que você tá falando, seu verme? – Disse. Ron, ao meu lado, me puxava com mais força para o seu corpo, com o intuito de me parar.

— Estou dizendo que eu e Cho armamos para separá-los naquela formatura ridícula de Hogwarts anos e anos atrás. Foi tudo armação, tudo planejado para que a doce Ginny ficasse levemente inconsciente e que você nos pegasse no flagra. Não sei o por que eu concordei com a Cho em fazer parte disso, mas ver sua cara de puto me deu a confirmação de que eu o fiz certo em participar. Foi sensacional tê-la totalmente drogada nos meus braços, eu deveria ter transado com ela quando tive a oportunidade...

— Seu filho da puta. Seu nojento, eu vou te quebrar inteiro, Malfoy! – Eu me debatia com tanta força que Mike e Ron estavam tendo dificuldades em me segurar. Meu melhor amigo tremia de raiva e ele queria, tanto quanto eu, machucar aquela doninha com suas próprias mãos.

— Cala boca, Draco! Você só está piorando a situação. – Disse Mike para apaziguar a situação.

— Não, deixa ele falar, Mike. Vamos, Malfoy... o que você iria fazer? Iria comê-la? Iria chupá-la? Hein? Seu filho da puta! – Tentei me soltar de novo, mas foi em vão.

— Potter, eu sempre achei ridícula a fascinação que Cho tem por você. Veja bem, você não é um cara especial, não é bonito e não é rico. Não sei o que as mulheres veem em você, com exceção da Weasley, que por ser pobre vê qualquer dinheiro como uma grande fortuna.

— Filho da puta! – xingou Ron ao meu lado.

— Quando Cho me procurou com essa ideia mirabolante de dopar a Weasley durante a sua própria festa de formatura achei que era loucura. Mas acabei topando porque eu queria ver sua cara de puto, de traído. Foi bonitinho te ver com raiva, achando que o mundo tinha armado para você, que ela tinha traído sua confiança. A garota era totalmente inocente e você fazendo o maior escândalo... Você é patético. Uma pena que Cho não conseguiu o que queria, mas ela merece coisa melhor. Eu não consegui terminar o meu serviço naquela época, afinal não é muito legal fazer sexo com alguém que está dormindo, não é mesmo? Pois bem, como eu não pude fazer isso naquele dia, pensei em completar a tarefa na Habeas Corpus, mas você veio para salvar a pátria né, Potter? Deve ter sido difícil para Claire ver você de quatro pela Weasley mais uma vez... Pensando bem, acho que vou investir na Claire, ela é bem mais gostosa que a irmã do Ronald.

Dessa vez, nem Ron e nem Mike conseguiram me soltar... Minha toalha jazia no chão e eu passei a chutar o estômago de Malfoy com muita força. Dei um chute nas suas costas e só parei quando ouvi a voz de Lupin me chamando.

— Harry, o que está acontecendo? – Ron e Mike se afastaram da cena da briga e eu peguei minha toalha que estava no chão.

— Esse verme me contou algumas coisas interessantes que me fizeram ficar com tamanho ódio que fui obrigado a quebrar sua cara. Mas não se preocupe, Lupin, ele ainda está vivo.

— Meu Deus. Senhor Malfoy? – Ele se encaminhou até a doninha, que choramingava de dor. Meus dedos começaram a mostrar sinais de dores e o sangue continuava a jorrar do meu supercílio. Meu olho esquerdo também começava a inchar.

— Vocês dois – Ele apontou para mim e para Malfoy - Depois de passarem na ala hospitalar, irão se encontrar comigo no meu escritório, okay? Não quero desculpas de ambas as partes. E você, Harry, está suspenso por uma semana. Não posso dar essa punição para Draco, mas você ainda é aluno da London e agiu totalmente fora de decoro, Harry. Estou totalmente decepcionado contigo! Mike e Ron, vocês também deverão comparecer na diretoria e receberão advertências porque foram coniventes e não ajudaram a estancar a sangria que eu acabei de ver aqui.

Lupin pegou Malfoy no colo e levou-o para fora do vestiário. Quando os dois saíram do local, senti as primeiras lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Foi tudo uma armação: Ginny era inocente nessa história toda, nós brigamos e terminamos por um plano arquitetado por dois doidos e eu estava agora totalmente quebrado fisicamente e emocionalmente.

— Harry? – Chamou meu melhor amigo. – Toma um banho e se troca. Você precisa ir na ala hospitalar, cara. Seu olho está inchando como uma bola e seu supercílio não para de sangrar... Vem, vou te ajudar.

Ele me segurou com cuidado e me levou para o chuveiro. Toda a raiva que tinha explodido por meus poros me abandonou e eu só sentia vontade de chorar e ficar encolhido em um canto. Com uma paciência que não lhe é característica, Ron passou xampu no meu cabelo, lavou o machucado no meu rosto e me passou uma toalha para que eu pudesse me enxugar decentemente antes de ir à ala hospitalar. Nesse meio tempo, Mike se trocou e foi até a diretoria para falar com Lupin. Isso foi ótimo porque eu não queria ver a cara dele quando eu saísse do chuveiro.

Nós nos vestimos e saímos até a ala hospitalar, que ficava próxima a quadra de esportes, mas, mesmo assim, demandava vários passos e alguns lances de escada. Eu já frequentei esse espaço algumas vezes, porém Madame Pomfrey sempre se espantava quando me via.

— Senhor Potter, o que diabos aconteceu? – Disse a senhora de meia idade, que sempre estava de uniforme branco e que adorava passar unguentos fortes para qualquer tipo de dor.

— Me meti em uma briga com Draco Malfoy. – Comentei sem esboçar grandes reações.

— Ah, então foi o senhor que deixou o menino Malfoy naquele estado? Eu não consegui dar conta nele por aqui, tivemos que transferi-lo para um hospital. O senhor quebrou o nariz dele, sabia?

— Foi pouco para ele, de verdade!

Ela começou a tratar das minhas feridas e me prescreveu alguns remédios. Enquanto eu recebia atendimento médico, Ron ligou para Ginny pedindo que ela nos encontrasse na ala hospitalar, pois eu precisava de alguém para me levar para casa, já que nós dois estávamos viemos de carro e não tinha como Ron deixar o seu veículo na faculdade durante o fim de semana.

Eu não queria vê-la nesse estado e comentar o que tinha acabado de ocorrer. Como que eu ia explicar que eu soquei a cara do Malfoy por causa dela? Com certeza, ela ficaria bem brava comigo.

— Ginny disse está saindo de casa e que irá nos encontrar daqui a pouco. Esqueci que o expediente dela já tinha acabado. – Comentou meu amigo. Depois das recomendações de Madame Pomfrey, fui até a diretoria e esperei pacientemente Ron dar o seu depoimento para Lupin. Ele me chamou em seguida.

Quando me sentei na cadeira defronte à sua mesa, ele se pôs a falar: - O que te deu na cabeça para socar Draco Malfoy daquele jeito?

— Ele tentou violentar Ginny na festa de abertura do semestre e ela resolveu processá-lo por isso. Ele recebeu a intimação hoje e buscou provocar a mim e Ron durante o jogo. Malfoy tentou cavar várias faltas e quando a partida acabou começou a falar merda no vestiário.

— Olha o linguajar, Harry. Não é porque eu te considero um filho que eu vou aceitar mau educação nessa sala.

— Desculpa. Mas o que você esperava que eu fizesse, Remo? Ele xingou-a de vários nomes imperdoáveis, nomes que eu me recuso a voltar a dizer. Ele contou que armou todo um plano com Cho Chang na formatura de Ginny anos atrás somente para nos separar... Sem falar, que ele disse que queria estuprá-la e que deveria ter feito isso quando teve a oportunidade. Eu não consigo ficar quieto vendo um negócio desses.

Lupin não sabia o que me dizer, por isso, ficou com o semblante sério.

— E você achou que seria importante para colocar Malfoy em seu devido lugar soca-lo daquela forma? – Me questionou.

— Eu não pensei, Remo. Eu só bati nele. E eu teria batido mais se não fosse por Ron e Mike.

— Tudo bem, Harry. O restante dos motivos não me interessa, uma vez que Draco Malfoy não é mais estudante dessa instituição e todos os seus atos ilícitos não ocorreram sobre o meu teto e responsabilidade. Vou providenciar alguém para ficar de olho em Ginny enquanto ela estiver aqui para protegê-la, uma vez que ele pode tentar de novo alguma coisa contra ela. Você, por outro lado, infringiu inúmeras regras e ficará suspenso por uma semana por causa disso. Estamos entendidos?

— Sim, senhor.

— Está dispensado.

Quando sai da sala, encontrei com Ron e Ginny sentados lado a lado no sofá que ficava na recepção da diretoria. Ela me olhou de cima a baixo.

— O que, diabos, ocorreu?

— Não aqui, Gin.

Ela levantou e me abraçou com certo cuidado.

— Então vamos para casa, okay? Cadê as chaves?

— Está na minha mochila. Ron, você pegou?

— Sim, cara. – Ele me mostrou minha mochila, que repousava no chão.

— Obrigado.

Nós saímos da universidade em total silêncio e, durante todo o caminho até minha casa, Ginny não proferiu nenhuma palavra. Eu ruminava o acontecimento, tentava dissipar a raiva e os maus sentimentos que haviam se instalado dentro de mim nesta noite.

***

Ginny estacionou o carro na garagem da casa dos meus pais e saiu comigo até a porta de entrada.

— Obrigado por me trazer. – Disse.

— Não tem problema. Vem, vou entrar contigo e tentar apaziguar a situação com a sua mãe.

Fiz uma careta após sua frase. Minha mãe ia surtar quando me visse desse jeito. Ela não era super protetora, mas não havia como não ficar horrorizada com a minha cara. Eu estava um “caco”. Abri a porta com a minha chave e foi surpreendido com a visão dos meus pais no sofá da sala.

— Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro! Harry James Potter, em que você se meteu? – Minha mãe veio em minha direção. Meu pai estava chocado com o número de hematomas que eu apresentava.

— Em uma briga, mãe. – Ouvi os passos do meu pai vindo até nós.

— Harry, o que aconteceu? Oi, Gin! – Ele notou que sua afilhada estava ao meu lado.

— Oi, tio James. Oi, tia Lily. – Ginny disse fechando a porta de entrada.

— Oi, querida. Você viu isso acontecer? – Minha mãe deu um beijo em Ginny.

— Não. Eu só fui buscar o carro dele. Ron me ligou e só disse que ele tinha se envolvido em uma briga.

— Filho, o que aconteceu? – Meu pai voltou a perguntar.

— Me meti em uma briga com Draco Malfoy e eu não quero falar sobre isso nesse momento, pai. – Dei um olhar discreto em direção a Ginny e ele entendeu o que eu queria dizer. – Por causa disso, tomei uma semana de suspensão na faculdade e alguns vários hematomas.

— Ele apanhou, pelo menos? – Perguntou meu pai buscando amenizar o clima.

— James! – Disse minha mãe.

— Oras, meu bem. Só quero saber se o cara ficou pior que Harry.

— Sim, ele quebrou o nariz. – Disse com um certo orgulho.

— Misericórdia. Harry, nós não te criamos para ser uma pessoa briguenta. O que te deu na cabeça? – Questionou minha mãe.

— Mãe, eu não quero realmente falar nisso nesse momento. Eu só desejo uma aspirina e cama. Eu tô com muita dor no corpo.

— Você tá com fome?

— Não, na verdade, eu estou enjoado.

— Tia, deixa que eu levo Harry lá para cima. Talvez, amanhã, totalmente descansado ele conte o que houve, não é Harry? – Falou Ginny e minha vontade foi de dar um beijo nela como forma de agradecimento.

— Não vai te atrapalhar, querida?

— De forma alguma...

— Tudo bem. Mais tarde eu passo para ver como você está, então, filho. Seu pai e eu vamos pedir pizza e você está totalmente convidada para se juntar a nós, Gin.

— Obrigada, tia. Vou querer um pedaço sim, exceto se for de atum, que eu não sei porque tio James insiste nesse sabor de pizza horrendo. – Buscou fazer uma graça.

— Gin, querida, você que não percebe a complexidade de sabores que o atum proporciona aliado ao queijo...

— Gente, o papo tá ótimo, mas eu posso subir? – Perguntei irritado.

— Claro, filho. Vai lá. – Minha mãe me fez um carinho no cabelo e Ginny segurou meu braço para que eu não caísse na escada. Eu sentia muita dor pelo corpo e tudo o que eu queria era ficar bem quentinho na minha cama após tomar um comprimido bem forte para dor.

Ela colocou minha mochila na escrivaninha, foi até meu armário pegar um pijama para mim e, enquanto eu me trocava no banheiro, ela arrumou minha cama para que eu ficasse o mais confortável possível. Enquanto eu me vestia, minha mãe deve ter trazido o comprimido para mim, porque Ginny me esperava sentada na cama com um copo de água e uma cartela de aspirina.

— Para você! – Me entregou o copo e o remédio e, após eu ingerir o medicamento, me instalei ao seu lado na cama.

— Harry, não que seja da minha conta, mas você pode me dizer o que te levou a ficar com a cara toda roxa, o supercílio cortado e um olho inchado, fora as demais partes do corpo que eu não consigo ver que também devem estar com hematomas?

— Eu briguei com Draco Malfoy.

— Sim, isso eu sei.

— E a razão foi você...

— O quê? Por quê? – Ela me olhou com curiosidade.

— Ele me contou várias coisas interessantes...

— Verdade? Tipo o quê? – Ela cruzou os braços e eu pude perceber que ela achou que eu estivesse insinuando algo em relação aos dois. Ginny estava entendendo a situação de forma errada.

Buscando resolver essa questão, disse: - Gin, ele e a Cho armaram para gente.

— Você ficou maluco? Como assim? Não aconteceu nada nesses meses para gente brigar...

— Gin, você se lembra do seu baile de formatura do ensino médio?

— Infelizmente, sim. Mas o que isso tem a ver com Malfoy e Cho?

— Deixa eu contar a história do começo...

— Okay. – Ela voltou seu corpo em minha direção e me olhou desconfiada. Me encostei na cabeceira da cama, busquei ar e comecei a falar.

— Ron e eu fomos jogar futebol com uns colegas na faculdade e Malfoy foi convidado por um amigo nosso, o Mike. Nós dois percebemos que o Malfoy buscava cavar várias faltas durante o jogo contra nós, chegando em cima de nós nos lances, esbarrando, empurrando... essas coisas!

— Tá, mas onde eu entro nisso? – Ela cruzou os braços novamente.

— Calma!

— Okay.

Voltei a falar: - Quando a partida acabou, eu e Ron fomos tomar banho no vestiário e acabamos ouvindo uma conversa entre ele e Mike sobre você. Parece que ele recebeu uma intimação da polícia para depor sobre uma tentativa de violência sexual contra você. Eu nem sabia que você tinha feito isso... – Respirei profundamente de novo. - Ele passou a te xingar e eu e Ron saímos do banho e passamos a interrogá-lo. Ron começou batendo, mas quando ele começou a te xingar e falar algumas coisas que não me agradaram nem um pouco eu também bati. Mike e Ron tentaram me segurar, mas Malfoy me provocava demais. Em uma de suas falas, ele acabou confessando que ele e Cho armaram um plano para nos separar durante sua formatura. Eles te drogaram e, de acordo com ele, ele deveria ter te estuprado naquele dia... Gin, ele é um filho da puta. E eu sinto muito, muito mesmo. Você não deveria ter passado por isso...

Ela se levantou da cama e começou a andar em círculos pelo quarto.

— Deixa ver se eu entendi: Cho e Malfoy armaram um plano mirabolante para nos separar. Eles colocaram uma droga ou qualquer outra coisa na minha bebida e fizeram com que você visse Malfoy me beijando para que nós terminássemos, é isso?

— Sim.

— E com qual intuito eles fizeram isso?

— Segundo Malfoy, a ideia foi da Cho. Ela queria me conquistar e achou que te tirando do caminho poderia conseguir isso mais facilmente. Ele achou que era loucura, mas concordou só porque eu iria ficar bravo com a situação. Durante a briga, ele disse, inúmeras vezes, que ele deveria ter transado com você quando ele teve oportunidade.

— Ele é doente! Que pessoa, em sã consciência, fica feliz de dopar outra? Que pessoa fica feliz disso? De arruinar a felicidade dos outros? – Ela se sentou no pé da cama. Engatinhei, com muita dor, até ela e me sentei ao seu lado.

— Não sei, Gin. Só sei que eu sinto muito. Eu fui muito idiota de acreditar em todo esse circo e não há nada nesse mundo que possa apagar o quão burro eu fui. Eu cai como um “patinho” nessa história e te fiz sofrer. Fiz a gente sofrer de uma forma que não tem como voltar atrás. Me perdoe, Gin? Me perdoe por ser um babaca, um idiota, um cego...

Ela não me respondeu de imediato. Percebi quando ela segurou as primeiras lágrimas que teimavam em cair dos seus olhos. Gin jamais me deixaria vê-la chorando, porque ela era orgulhosa demais para isso.

— Harry, eu não sei o que eu te digo. Por muitos anos, eu esperei você admitir que tinha errado, que via que eu não tinha feito aquilo... No dia de hoje, no entanto, eu estou sem reação. Por outro lado, eu também estou com raiva porque precisou do Malfoy para você perceber que eu jamais teria te traído.

Ela levantou de novo e eu remoí toda a culpa pelo acontecimento. No fundo, eu sempre soube que ela nunca tinha me traído, mas o meu orgulho também não tinha me deixado assumir isso para mim mesmo. Dois orgulhosos, idiotas, que se amam. Era isso que éramos.

— Eu sei. Precisou de um babaca para eu, finalmente, cair em mim e perceber a mulher incrível que eu sempre tive do meu lado.

Ginny fungou.

— Sou um idiota, Gin. Deixei que o ciúme tomasse conta de mim, mesmo com todas as evidências na minha frente. Deixei que minha raiva se sobressaísse na situação, não fui em sua direção quando você mais precisava e fiz com que o nosso relacionamento ruísse diante dos nossos olhos. Eu sou totalmente culpado e vou compreender perfeitamente se você terminar comigo. Só que eu também fui enganado, tanto quanto você. Nós dois somos vítimas nessa história.

— Não, Harry. Você se fez de vítima. Você acreditou no Conto da Bela Adormecida por quatro longos anos e não me deu nem o benefício da dúvida. Quem foi dopada, julgava pela sociedade e teve toda a sua vida mudada por causa dessa história fui eu. Quem mudou de país para esquecer da humilhação fui eu. Quem voltou e teve que encontrar o cara que amou por toda a sua vida nos braços de outra fui eu, Harry. Quem encontrou o ódio e a raiva que você direcionou para mim por muito tempo fui eu. Fui eu, fui eu, fui eu. – Ela gritou apontando para si. Eu não tinha o que argumentar, ela estava mais que certa.

Ginny começou a chorar e sentou ao meu lado novamente.

— Naquela época, você não me deu nem o benefício da dúvida, Harry. Você me escorraçou desse quarto como se eu fosse nada. – Ela me disse em um tom choroso, que me fez deixar cair uma ou duas lágrimas pelo rosto. Eu tinha sido um completo idiota.

— Você não quis me ouvir, não quis saber o que eu tinha para dizer, não quis nem ouvir a minha versão dos fatos. Tá, eu sei que teve todo o lance de relembrar o passado, em que o tio James traiu a tia Lily, mas estávamos juntos há três anos. Nós éramos melhores amigos desde sempre, desde a nossa infância. Como você pode pensar que eu te trairia na minha própria festa de formatura com o Malfoy? Ainda mais com o Malfoy? – Ela esbravejou e eu senti a necessidade de buscar remediar a situação. Ela tinha razão, mas eu queria me explicar por toda a dor que eu a fiz passar e por toda a dor que eu continuava sentindo em meu peito.

— Não sei, Gin. Eu só sei que quando eu te vi nos braços daquela doninha eu senti a maior onda de ódio na minha vida. Maior até que a do dia de hoje, em que eu quebrei o nariz dele e o deixei totalmente quebrado. Eu queria fazê-lo sentir a dor que eu senti todos esses anos longe de você, de todos os momentos em que eu duvidei de que te amava e de que você tivesse feito aquilo.

Ginny não me respondeu. Ela fungou mais algumas vezes e colocou as mãos no rosto para que pudesse chorar em paz, sem que eu visse seu rosto. Eu, no entanto, busquei continuar a falar para tirar todo aquele sentimento ruim do meu sistema.

— No fundo, Gin, eu sempre soube que você não seria capaz disso. Eu te amava muito e eu sabia que nosso amor era maior que qualquer coisa nesse mundo. Tanto é que eu não consegui ficar longe de você quando retornou...

— Você iria me procurar nos Estados Unidos se eu nunca mais voltasse, Harry? – Ela me perguntou. – Ou você só iria quando tivesse descoberto a verdade?  

— Não sei. Mas, provavelmente, sim. Eu teria ido em algum momento. Eu jamais seria feliz com Claire, Gin. Nós dois sabemos disso. Por mais que ela seja uma pessoa incrível, meu coração nunca a pertenceu.

— Ah, mas isso não te impediu de beijá-la e transar com ela na primeira oportunidade, né? – Disse sarcástica. Touché!

Resolvi ser sincero com Ginny. - No começo, me envolvi com Claire para te esquecer. Busquei compensar toda a dor e toda a minha saudade de você com ela, mas, com o tempo, eu só me acomodei. Um lado de mim sempre soube que ela merecia algo melhor que eu.

Ela soltou um riso baixo como que duvidando da minha palavra.

— É verdade, Gin. Tanto é que quando terminamos ela jogou isso na minha cara. Eu nunca disse que a amava e ela soube que eu não tinha feito isso porque eu amava e ainda amo você.

Essa era a primeira vez que eu dizia que amava Ginny em mais de quatro anos. Nunca uma frase me pareceu tão certa.

— Isso é comovente, Harry, mas não sei como agir diante de toda essa situação. Minha vontade é de tirar satisfação com aquela coreana, chinesa, japonesa ou sei lá que etnia que ela é. Saber os motivos do por quê ela fez isso e resolver essa história, mas eu sei que não é possível fazer isso nesse momento.

Nós dois ficamos remoendo nossos pensamentos por alguns minutos antes de eu novamente tomar a palavra.

— Gin, você me perdoa?

— Eu já te perdoei há muito tempo, Harry. Uma prova disso é o que estamos tendo desde o Natal. Eu não estaria contigo se eu não tivesse te perdoado. – Ela colocou uma mão na minha nuca e eu aproveitei seu gesto para dar um selinho em seus lábios.

— Obrigado. Mil vezes obrigado.

— Isso não quer dizer que eu esteja confortável com essa situação. Como eu te disse há algum tempo, você precisa acreditar em mim e essa história toda com o Malfoy hoje só me mostrou o quanto isso é necessário...

— Você acha que eu te contaria tudo isso se eu não confiasse em você? – Questionei. Ginny sabia o quanto eu era fechado. Eu não contaria todos os detalhes do que aconteceu na noite de hoje, além dos pormenores do meu relacionamento com Claire, se eu não confiasse nela.

— Sim, eu sei. E eu aprecio isso. Eu só estou machucada com o retorno desses acontecimentos em minha vida, Harry. Gostaria de esquecer tudo o que eu passei e ter uma nova página em branco para escrever uma bela história.

— Eu só posso imaginar o que você está sentindo, mas se te consola eu também estou me sentindo mal com tudo isso.

— Fora a dor física, né? – Ela riu.

— Hey... saiba que ele apanhou mais que eu.

— Pelo menos isso, Harry Potter.

Nós dois rimos.

Eu precisava dizer mais uma vez o quanto eu a amava nesta noite.

— Gin, eu te amo.

Ela me deu o sorriso mais doce que eu poderia receber nesse momento.

— Eu também te amo, Harry.

Dei um beijo na sua testa e ela buscou abrigo em meu abraço.

— Mesmo você sendo um idiota e acreditando em doninhas silvestres pintadas de loiro, eu amo você. – Ela me disse.

— Prometo nunca mais acreditar em doninhas silvestres metidas a loiras de farmácia.

— Combinado!

Ficamos abraçados por um longo tempo, sentindo nossas respirações calmas após toda a discussão e buscando conforto nos braços um do outro. Minha discussão com Malfoy me mostrou que, às vezes, alguns “pingos nos is” eram necessários para que assuntos mal resolvidos viessem à tona e fossem solucionados.

Eu ainda não sabia, mas essa briga seria um marco no nosso relacionamento. Ginny se mostrou mais próxima a mim e eu passei a me entregar totalmente a ela. Se antes eu tinha algum receio ou algum pé atrás, isso ficou no passado. Nós nos tornávamos mais fortes, mais unidos e mais apaixonados. Isso, no entanto, só ficou claro para mim nas semanas após essa noite. Hoje, nós só queríamos o conforto um do outro e foi o que fizemos ao dormir abraçados na minha cama até o amanhecer.


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Notas finais do capítulo

Aleluia, Harry! Finalmente você descobriu a verdade, né? Eu senti vontade de bater nele nesse capítulo – como assim você sentiu vontade de bater em algo que você mesmo escreveu? Pois é, eu sempre digo que os personagens têm vida própria e que eles se utilizam de mim para ganhar vida (doida, nem um pouco, né?). Essa briga com Malfoy era necessária para que as coisas viessem à tona, que ele soubesse, de uma vez por todas, que ele foi feito de trouxa por Draco e Cho. Eu sinto que Ginny também precisava colocar para fora tudo o que ela sentia em relação aquela noite e mostrar para o Harry o quanto isso a afetou, de uma forma que ele não consegue imaginar. Mesmo que eles estivessem juntos novamente, não é fácil reconstruir a confiança quando ela é quebrada uma vez. Essa conversa foi fundamental para resgatar isso entre eles. Por isso, se vocês querem fazer uma autora feliz não deixem de comentar, recomendar, indicar para algum amigo, etc. Um grande beijo!