Preço do Amanhã escrita por Cristabel Fraser, Sany


Capítulo 14
When I Look At You


Notas iniciais do capítulo

Boa noite... Olha quem chegou na data certa.
Ansiosos para saber como vai ser a volta para casa?



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Todo mundo precisa de inspiração

Todo mundo precisa de uma canção

Uma bela melodia

Quando a noite é tão longa

Porque não há nenhuma garantia

Que essa vida é fácil

Sim, quando meu mundo está caindo aos pedaços

E não há luz para quebrar a escuridão

É quando eu, eu, eu olho para você

Quando as ondas estão inundando o litoral e eu

Não consigo encontrar o meu caminho de casa

É quando eu, eu, eu olho para você

Quando eu olho para você

Eu vejo o perdão

Eu vejo a verdade.

Você me ama por quem eu sou

Como as estrelas seguram a lua

Bem ali, onde elas fazem parte, e eu sei

Eu não estou sozinho.

(When I Look At You - Miley Cyrus)

 

A viagem de volta ao distrito foi tranquila, estava ficando acostumada a viajar naquele trem. Doryan, depois da entrevista, ficou ligeiramente calado, e sabia que isso era resultado da retrospectiva dos jogos. Quando se está na arena não é possível ver tudo, não dá para ter uma ideia clara do que está acontecendo, sua mente fica programada em um único foco, sobreviver. Por outro lado, assistir o que os idealizadores consideram os melhores momentos ali, ao vivo, não é nem de perto algo fácil. Na minha opinião significa, o quanto se chegou próximo da morte, e ver um a um os tributos que por mais que tenham sido seus rivais, treinaram ao seu lado, morrerem nas mãos uns dos outros. 

Assim que o trem parou na velha estação, foi possível ouvir as vozes animadas da população que esperava. Aquela era uma animação diferente da que havia na Capital, e não podia julga-los por estarem animados. A vitória do Doryan para eles, representava um ano menos miserável, representava uma festa com fartura, e claro os doze dias da parcela que garantiam o básico de mantimentos.

 - Está pronto? - Peeta pergunta colocando a mão no ombro dele, que apenas concorda com a cabeça, embora nitidamente não estivesse de fato pronto. Nós, assim como Haymitch, havíamos conversado com ele durante a viagem e por mais cruel que fosse, tivemos que prepará-lo para o que viria. A Capital não estava feliz e ele precisava saber. Doryan precisava entrar no jogo e fazer parte da teia de mentiras que a Capital tanto se esforça em manter. – Lembre-se sorria, você está feliz por ter ganhado e honrado, por tudo que a Capital vem fazendo por você.

— Vamos lá garoto. - Haymitch o conduz em direção a porta e logo em seguida me sentei no sofá tentando me preparar para o que viria a seguir.

Encarar minha família era o que mais me deixa inquieta. O que eles pensaram ao descobrir minha gravidez pela TV? 

— Você está bem? - Se fosse sincera diria que não, mas sabia que ele estava se referindo ao bebê e não ao meu emocional, então confirmo com a cabeça. - Precisamos ir agora, para chegar na vila antes deles.
Saímos por outra porta do trem, onde normalmente desembarcavam os empregados, e um carro já esperava por nós.

Caso perguntassem, a desculpa já estava pronta. Devido a viagem estava indisposta, por isso não desembarcamos com Doryan. A verdade, porém, era outra, não queria encarar ninguém do 12, principalmente antes de ver minha família. 

 

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Entusiasmo parece a palavra certa para definir como Prim estava. Assim que chegamos logo veio até mim dizendo que seria tia e nos parabenizou. Minha mãe também nos deu os parabéns, porém diferente da minha irmã havia algo em seu olhar que mais parecia preocupação do que felicidade. Peeta incumbiu de narrar toda a consulta de forma animada, e não demorou muito para que ele é Prim estivessem falando sobre cores para o quarto do bebê. 

— Peeta, já pensou você fazendo uma de suas pinturas, tipo na parede do fundo do quarto? Seria incrível. – Prim estava em uma animada conversa, e o loiro dando a maior corda.

— Sim, já imaginei isso, e quero mesclar a minha cor favorita com a de Katniss, mas em tons suaves.

— Nossa que emoção! Num momento é só eu, minha mãe, Katniss, Buttercup e Lady... Daí, de repente, você e agora um sobrinho... será que vai ser menina, ou menino... – divaga minha irmã, e tenho que repreendê-la.

— Prim, menos. – Ela dá um risinho sem graça.

— Senhora Everdeen, Katniss e eu, precisamos falar com a senhora.

Precisamos? Talvez quisesse explicar a grande revelação da entrevista.

— Acho que vou levar Buttercup para dar uma volta pela vila.

Discretamente minha irmã se retira e minha mãe senta no sofá de um lugar só, enquanto nós dois nos sentamos no maior, frente a ela.

— Dona Clara, antes de mais nada, quero dizer que sinto muito por toda essa situação. – Minha mãe suspira profundamente trocando um olhar de preocupação em nossa direção.

— Não que não esteja feliz com a gravidez, sei que são casados há quase um ano, e que normalmente é o que se espera, mas vocês são tão jovens. Achei que iriam esperar um pouco.

— Sei que deve ter visto a entrevista, e sei o que disse, mas para ser sincero não foi exatamente planejado. – Olho para ele sem entender. Ele não poderia contar a ela. Não podia fazer com que se preocupasse com todas as mentiras em que estávamos envolvidos. – Katniss estava tomando um chá, mas algo parece não ter dado certo. – Ela olha em minha direção e parte de mim quis sumir.

— Taraxacum? – confirmei com a cabeça. – Mas por que? Há medicamentos mais seguros, que não colocaria sua fertilidade em risco.

— Não gosto de remédios mãe, e o chá pelo que soube fazia o mesmo efeito.

— Sim ele faz, mas também pode causar infertilidade. Devia ter me contado Katniss, eu teria dito isso a você, assim como teria dito que os chás e medicamentos que tomou para gripe poderiam anular o efeito do Taraxacum, essa é uma folha realmente delicada e que deve ser administrada com cautela.

— Katniss chegou a tomar o chá enquanto estava grávida, ela não sabia e queria muito saber sua opinião, sobre a possibilidade de que isso cause algo de ruim para o bebê. – Peeta perguntou, o que sabia que vinha se passando em sua cabeça, e que ele não pôde perguntar a médica da Capital.

— É difícil saber, até onde sei poderia ter causado um aborto espontâneo. Acredito que se houvesse algum problema a médica teria visto, com toda a tecnologia disponível na Capital.

— Certo... fiquei muito preocupado com a Katniss também.

— Sempre que tiverem alguma dúvida podem me perguntar, e até mesmo me procurar. Os ajudarei em tudo o que estiver em meu alcance. – Nós duas nos encaramos por um breve tempo. – Almocem comigo, eu já estava terminando de preparar.

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Os dias que seguiram à conversa com minha mãe foram tranquilos. Peeta foi sozinho ver a família e voltou dizendo que todos mandaram os parabéns e que estavam animados com a notícia. Havia firmeza em sua voz e provavelmente ele teria convencido uma multidão, mas o conhecia o suficiente para saber que havia algo mais que não estava contando. Mas não cheguei a perguntar o que era, nossa relação não estava nem de longe em sua melhor fase. Ele ainda era atencioso comigo, se preocupava com minha saúde e mostrava estar a disposição para o que eu precisasse. Porém, andava distante e de certa forma, evitando ficar sozinho comigo. Embora, a princípio eu acreditasse que ele ia se deitar sempre muito tarde, e estivesse acordando muito cedo, andava suspeitando que não estava dormindo em nosso quarto. 

Enquanto meu marido evitava a mim eu evitava toda a população do distrito. Detestava os olhares e o murmúrio que formava, sempre que me viam. Confesso que teria continuado evitando todos, mas minha mãe achou que seria educado marcar um jantar com os Mellark, e por mais que não quisesse ver minha sogra, não consegui formular uma desculpa para evitar a pequena reunião familiar. 

— Você tem uma bela casa, Clara. - A senhora Mellark comenta durante o jantar.

— Não posso dizer que seja mesmo minha, ela na verdade, é da Katniss. 

— Claro, mas não acho que ela vá voltar a morar aqui, então considere a casa como sua. - Minha mãe nada disse. - Fiquei sabendo que o novo vitorioso já se mudou com a família, espero que sejam vizinhos agradáveis, essa é uma vizinhança pequena. – Ela olhou para Haymitch sentado duas cadeiras de distância de onde estava.

— Não os vejo com muita frequência, para ser sincera, mas Doryan é o que mais encontro e ele é um ótimo garoto.

— Katniss como anda se sentindo? Peeta me disse que andava tendo enjoos. – Eusébio Mellark, diferente da esposa, parecia realmente interessado e sorriu em minha direção. – Não ando vendo você pelo distrito.

— Estou bem, dizem que é comum se sentir enjoada nos primeiros meses. Confesso que isso me deixa menos disposta para sair de casa – minto.

— Estou muito feliz com a notícia. Não esperava ser avô tão cedo, ainda mais do meu caçula, mas gosto da ideia.

— Peeta passou na nossa frente. Mas em breve, Delly e eu vamos dar um priminho para esse bebê.  – Esdras comentou sorrindo para a namorada. 

— Um passo de cada vez, querido. 

— O importante é que estamos um passo à frente do Sedah, que ainda não achou ninguém. – Peeta sorriu com a brincadeira. – Mas a culpa não é dele, poucas mulheres são fortes o suficiente para atura-lo.

— Grande coisa ter uma namorada, Esdras. Não se esqueça que primeiro você precisa de um lugar maior, do que o quartinho que dividimos em casa. Ou vai namorar eternamente? Lembre-se que nem todos têm a facilidade da eterna estabilidade financeira do Peeta. 

— Sedah!

— Só comentando pai, não é segredo que a Capital banca tudo isso. 

— Seu irmão vem sendo muito generoso conosco, e ele trabalha para Capital.

— Trabalho fácil, não é? - Ele murmurou, ainda assim, alto suficiente para que Peeta e eu ouvíssemos.

— Não fale do que não entende Sedah, não é como se tivesse tirado a sorte grande, e ganhado um prêmio.

— Mas, foi exatamente o que aconteceu. Todo esse dinheiro, a casa e a fama, não são o prêmio pela sua vitória nos Jogos? Vitória essa que, aliás, você deve totalmente a Katniss. 

— Sedah pare com isso!

— Não pai, deixe ele falar. Você espera por isso há tanto tempo, não é mesmo? Aproveita a plateia e diga de uma vez sua opinião.

— Não é minha opinião Peeta, é a verdade. A maior parte desse distrito, pensam como eu. Você só ganhou os Jogos por conta da Katniss, ninguém acreditava na sua vitória. Nossa família estava recebendo os pêsames antes mesmo dos Jogos começarem. Quando seu nome foi chamado, todos pensaram que você podia ser considerado morto.

— Sinto muito ter desapontado você, e não ter morrido na arena.

— Meninos... 

— As pessoas tem tendência a mentir para você, mas sei que sabe a verdade. Se não fosse ela, teria morrido de forma vergonhosa camuflado e por mais que ressaltem sua bondade, a verdade é que, sozinho ninguém achou possível sua vitória. Quanto tempo deitado e ferido, você ficou lá mesmo? Dias, não é? Ele... – disse apontado para Haymitch. - Não te mandou um único remédio, porque sabia que era perda de tempo. Que não poderia ganhar, que você é fraco... – A reação do loiro foi rápida demais para que qualquer um de nós pudesse prever, e quando vi o mesmo estava segurando Sedah pela camisa.

— Você se acha muito forte, mas acredite não aguentaria um terço do que passei!

— Chega! – Amália resolveu se impor entre os filhos. E, todos notaram que a mesma, só o fez quando o mais novo foi para cima do irmão. – Solta ele Peeta, parem de agir como dois selvagens. Eu mandei soltar, Peeta!

— Me desculpem... senhora Everdeen, obrigado pelo jantar. Sinto muito por isso, mas eu vou... – O loiro não esperou resposta antes de sair, e por um momento quis segui-lo, mas não o fiz.

— Nada como uma discussão para animar um jantar em família. - Haymitch comenta sem se importar com o clima que tinha ficado.

Depois disso, não foi nenhuma surpresa quando todos começaram a ir embora. Naquela noite esperei acordada durante a maior parte da noite, mas ele não apareceu no quarto em nenhum momento.

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Quando acordei ele não estava em casa, então acabei indo até o único lugar, onde achei que o encontraria. Mas, para minha surpresa, assim que entrei sem bater na casa do Haymitch, não foi o loiro que encontrei. Gale estava parado no meio da sala, o olhar atento nos detalhes da decoração do local.

— Ei, como vai ‎Catnip?

— Gale, o que está fazendo aqui?

— Minha mãe veio trazer algumas roupas limpas, não achava que fosse urgente, mas sabe como ela é. Quanto tempo não nos vemos, não é?

— É, muito tempo – noto seu olhar para a pequena, – quase imperceptível – saliência em meu ventre.

— Acredito que deva parabeniza-la.

— Não acho que seja necessário. – Havia um ar de estranheza entre nós, antes era tão simples estar na presença dele, mas naquele momento desejei sair do local.

— Para um casamento de mentira, sua barriga parece bem real.

— Gale...

— Você nem ao menos queria filhos, Katniss. O que aconteceu com você? – Não tentei explicar, sabia que ele não entenderia.

— É complicado.

— Imagino que sim, toda vez que olho para você, penso em como as coisas deveriam ter sido, em como cometi erros... Como tudo seria diferente se...

— Diferente?

— Sempre achei que você poderia ganhar os Jogos e voltar para casa, mas nunca imaginei que voltaria com ele. Eu realmente deveria ter me voluntariado naquele dia, no lugar dele. – Fico sem palavras por um momento, e antes que pudesse pensar em algo para responder, Hazelle aparece na sala. A conversa foi curta, mas como sempre ela foi educada comigo e me convidou para uma visita.

Não sei quanto tempo fiquei sentada perdida em pensamentos, após a saída dos dois.

— Refletindo muito, docinho? – Haymitch se joga no sofá ao meu lado segurando uma garrafa. – Eu ofereceria, mas não acho que você possa beber nesse período. Mas, vou simplificar suas ideias, antes que você pense demais. Não acho que com o Hawthorne, você teria vencido.

— Não é educado ouvir a conversa dos outros.

— Nem entrar sem bater, mas não estamos discutindo educação aqui – meneei a cabeça. – Vocês seriam uma grande aposta, iriam competir um contra o outro, e talvez um dos dois chegasse perto de ganhar, mas nunca os dois juntos.

— E, como você sabe disso?

— Existem muitos tipos de amor. É fácil dizer que se ama alguém. Dizer que deviria ter feito diferente, mas na hora de tomar uma atitude de fazer algo acontecer, é onde se vê a verdade. E, não acho que Hawthorne teria morrido por você, não que esteja julgando o sentimento dos outros, estou apenas dando minha sincera opinião. Somos parecidos Katniss, as circunstâncias nos fizeram sobreviventes e o Hawthorne é como nós, fazemos o que for necessário para sobreviver. E, aquele Mellark marrento, estava parcialmente certo ontem. Peeta não ganharia aquele jogo sozinho. Mas não por ser fraco. Ele não ganharia, porque estava disposto a lutar para que você ganhasse. Peeta não entrou naquela arena para vencer. Ele entrou já pensando em te proteger. Desde a entrevista quando anunciou para Panem, que amava você, ele queria que os patrocinadores a vissem. Peeta é altruísta demais para lutar por si.

A impressão que tive era de que, eu bebia algo amargo como um fel. Meu estômago até quis protestar, mas sabia que a sensação foi consequência daquelas palavras, pois, haviam mexido comigo.

 

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 Peeta quase não disse nada durante aquela tarde e não demorou a subir para seu ateliê, onde passou a maior parte do dia e não pude deixar de pensar no que Haymitch disse mais cedo. Era preciso admitir que o loiro nunca tinha lutado por si mesmo. Nunca tinha demostrado acreditar ganhar e havia sim, me protegido como pôde na arena. Ele havia lutado por mim.

Não demorei a pegar no sono, mas acordei algumas horas depois, novamente, sozinha na cama. A chuva caía forte do lado de fora e senti uma sensação estranha. Aquela cama era grande demais para mim e se fosse sincera, admitiria que não vinha dormindo bem nos últimos dias.

Caminho o mais silenciosamente possível pela casa em busca do loiro, e o encontro deitado no sofá da sala, paro ao seu lado por um instante e observo seu sono. Era realmente difícil imaginar minha vida sem ele agora. Sem pensar muito no que estava fazendo, deito ao seu lado.

— Katniss... - Ele desperta ligeiramente assustado. – Esta tudo bem? – confirmo com a cabeça. – Aconteceu alguma coisa?

— Me desculpa. – Não chego a explicar o porquê do pedido de desculpa, mas sei, que ele sabe sobre o que estava falando. – Eu não consigo sozinha, Peeta. Preciso de você. Não me deixe sozinha, por favor.

Como resposta, ele simplesmente me abraçou e jogou parte da manta dele em mim. Deitei minha cabeça em seu peito e as batidas ritmadas de seu coração me trouxeram uma ligeira sensação de tranquilidade. Jamais saberia como teria sido, se não tivéssemos ido juntos para os Jogos, ou se tivesse saído da arena sem ele. Contudo, precisava admitir que provavelmente eu não conseguiria sem ele.

— Você nunca vai estar sozinha...

 


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Notas finais do capítulo

É isso... Esperamos que tenham gostado do capitulo, a Bel e eu estamos muito felizes com o retorno que vocês vem dando em relação a fic.
Uma ótima semana.
Beijos...