Segredos do Destino escrita por Bia Oliveira


Capítulo 13
Capítulo 13




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Anastasia acordou no fim da tarde com o ruído de uma freada brusca no estacionamento debaixo da janela. Reinava a escuridão, e, por um momento, desorientada, ela não sabia onde estava. Uma respiração suave perto de sua cabeça trouxe-a de volta à realidade. Chris parecia dormir tranquilamente, e o calor da febre não se irradiava mais de seu corpo relaxado. 

Prendendo o fôlego, Anastasia libertou-se do peso do braço sobre a cintura e da perna que ele apoiara sobre a sua. Christian resmungou algo, mas continuou dormindo. Suspirando aliviada, Anastasia saiu do quarto em silêncio. Embora a saia e a blusa tivessem mesmo uma aparência horrível, uma chuveirada reanimou Anastasia. Ela vestiu uma camiseta vermelha e jeans e calçou confortáveis sapatos. Deixando a pele respirar sem maquilagem, escovou os cabelos com vigor, jogou-os para trás e deixou seu quarto em busca de algo para comer. Quando preparava uma sopa gostosa, Christian entrou inesperadamente, assustando-a, e ela quase cortou o dedo.

— Você está usando calça de homem! — ele exclamou num tom sonolento. Largando a faca sobre a pia, Anastasia virou-se para confortá-lo.

— Que susto! Quase cortei meu dedo!

— Ana, você está usando calça de homem — ele repetiu, como se a roupa fosse mais importante que ela. Anastasia olhou para o teto e respirou fundo.

— Não me diga! — ela fingiu admiração. Ergueu o olhar para fitá-lo, e sentiu um arrepio diante dele, que acabara de tomar banho, e ainda estava com o cabelo úmido enrolado na nuca e sobre o colarinho da camisa. A pele do rosto apresentava o brilho de saúde e de barba bem cortada. Por coincidência, ele também vestia jeans, com uma camisa xadrez. Anastasia então forçou-se a manter uma conversa muito natural.

— Estamos no século XX, Chris. As mulheres usam calça o tempo todo... Anastasia sentia-se embaraçada, pois sabia que Christian a examinava da cabeça aos pés e olhava fixamente para os seios dela.

— Você fica bem de vermelho. — A voz dele estava rouca, sensual, sugerindo o que ele pensava. As pernas de Anastasia tremiam e pareciam prestes a ceder sob o peso do corpo.

— Ah... obrigada. — Anastasia tentou reagir. Christian avançou na direção dela, e parou de repente, virando o rosto com expressão alerta quando o telefone tocou.

— Deve ser o tal Richard outra vez — resmungou. Anastasia esperava que ele estivesse enganado. Não queria falar com Richard, não depois da discussão que ele começara durante a ligação anterior. Insistira em ir vê-la, e ela tivera grande dificuldade em convencê-lo de que estava ocupada demais para uma visita. O confronto era iminente, e Anastasia sabia disso. Mas também não queria que acontecesse naquele momento. Felizmente não era Richard, mas Jeff Klein.

— Olá, Jeff — ela murmurou com um suspiro de alívio. — Tem alguma novidade para mim?

— Pouca coisa. O homem não é procurado em lugar algum. Aliás, a única informação do Fort Worth e Washington é sobre um tal Christian Gray, registrado como delegado federal; mas o registro é de 1989, ano em que o delegado desapareceu, supostamente morto em Montana por um criminoso a quem perseguia. — Jeff soou desconcertado. — esse Christian Gray pode ou não ser descendente do delegado. Não há nada em nome dele, nem número de seguro social, ficha policial, nada, zero. Ele nem existe oficialmente. Era verdade! Christian não mentira. Abalada com a descoberta, ela precisou esforçar-se para manter o controle.

— E você, Jeff, o que acha disso?

— Ele não existe! Anastasia controlou-se até agradecer e desligar o telefone. Então, com um leve tremor, fechou os olhos. Não ouviu Christian aproximando-se descalço, mas logo ela sentiu o braço dele ao redor de sua cintura.

— Ana, o que há? — ele indagou num tom carregado de preocupação. — O que lhe disseram? Ela respirou fundo para recuperar o senso de equilíbrio. O perfume másculo de Christian subiu-lhe à cabeça. Precisando de espaço para respirar, Anastasia afastou-se do abraço protetor e caminhou para o fogão.

— Era Jeff Klein, um dos patrulheiros que o socorreram quando você foi encontrado — ela explicou. — Ele ligou para falar sobre o resultado da verificação de registros que pediu em Washington e Fort Worth.

— E daí? — Christian quis saber, tenso.

— É verdade, Chris. Você foi baleado em Montana em 1889, e de alguma forma veio parar aqui, na Pensilvânia, no século XX. Ele permaneceu calado por um momento, e então começou a aproximar-se dela com um sorriso nos lábios.

— Não disse? Você é a resposta de Deus à minha prece. Anastasia o observava aproximar-se enquanto o comentário ecoava em sua mente. O significado das palavras ficou claro quando ele chegou bem perto. Christian achava que ela lhe pertencia pela vontade divina!

— Vamos jantar? — Recobrando o juízo, ela se virou, pegou uma colher e mexeu a sopa fervente. — Estou faminta.

— Eu, então, você nem imagina... O tom sensual da voz de Christian a fez virar-se para fita-lo. Um sorriso malicioso curvava-lhe os cantos dos lábios. Anastasia não precisava de explicações. O olhar dele bastava. Ele era impossível, Anastasia pensou, abalada. "Quando perdi o controle da situação?" perguntou-se, mexendo a sopa com violência. Balançando a cabeça para afastar aqueles pensamentos, olhou a tempo de ver a sopa escorrer por fora da panela e cair sobre o fogão.

— Então, vamos tomar esta sopa e depois comemos um sanduíche de frango, que acha? — ela anunciou com firmeza.

— E a sobremesa? Anastasia soltou um suspiro profundo e impaciente. — Bolo inglês.

— É só?

— É. Aceita?

— Claro... — Ele sorriu. Enquanto tomava a sopa, sem ânimo, Anastasia falou sobre as regras de convivência entre eles. Ela, enfim, o instruiu sobre o comportamento adequado a um hóspede, pelo menos para um hóspede na casa dela. Lógico! Ela começava a temer que não podia confiar em sim mesma, e resolveu passar a responsabilidade para Christian. O ponto fundamental era, naturalmente, que ele não fizesse nenhum comentário sobre a vida pessoal dela.

— Em outras palavras, fique longe de mim — ela terminou. — Ou se verá na rua, sozinho no mundo! Lembre-se de que não conhece ninguém. De acordo?

— Por que isso, Ana? — Christian franziu a testa com uma expressão confusa. — Você parecia tão envolvida comigo há pouco... Se eu não tivesse desmaiado, teríamos rolado na cama, você sabe. O que mudou? Lembrando-se do ardente beijo, Anastasia corou, mas conseguiu manter a frieza aparente.

— Minha opinião profissional é a seguinte: eu estava muito tensa, sujeita a circunstâncias incomuns que envolvem sua súbita aparição em minha vida. — Até para ela mesma a explicação soava como uma bobagem intelectual. Contudo, continuou: — Agora a tensão se liberou, o acúmulo de emoções se dissipou.

— E isso quer dizer exatamente o quê? — Christian indagou.

— Que perdi a cabeça por um momento. Ele a encarou bastante confuso.

— Mas você gostou, não?

— Na minha vida não há tempo para envolvimento emocional, Chris — ela o interrompeu, e continuou antes que ele tivesse chance de argumentar: — Tudo o que quis na vida foi ser médica-cirurgiã, ajudar as pessoas, curá-las se possível. Não preciso nem quero um homem para bagunçar minha vida e atrapalhar minha profissão.

— E o Richard?

— Richard é um amigo, nada mais.

— Posso ser seu amigo também, Ana? O pedido tristonho de Christian não só surpreendeu Anastasia, mas quase minou sua determinação. Christian estava tão sozinho... Ela entendia seu desejo de ligar-se a alguém, mas não seria ela aquele alguém. Não podia se dar ao luxo de se envolver com ele. Precisava manter distância; sua independência dependia daquilo.

— É claro que podemos ser amigos! Amigos simplesmente, nada mais. Christian obviamente não se satisfez com a resposta, mas concordou com um gesto de cabeça.

— Não tenho muita escolha, não é mesmo?

— É... Embora tivesse concordado com as regras impostas, os olhos dele revelaram tristeza. Mal acabou de comer, ele respirou fundo e a fitou, desolado.

— Ana, o que vou fazer o dia inteiro enquanto você está fora, cumprindo seus horários apertados?

— Você lê?

— Fui à escola — ele explodiu. — Claro que sei ler! Anastasia suspirou.

— Não perguntei se você sabe ler, Chris. Perguntei se você costuma ler. — Ela sorriu com um ar tolerante. — Existe uma diferença, você sabe. Christian a encarou com uma expressão encabulada.

— Oh, sim. Gosto de ler, embora nunca tivesse tempo. Por quê?

— Ora, porque tenho tantos livros, e você tem cem anos de história para pôr em dia. Tem com o que ocupar seu tempo enquanto eu estiver trabalhando.

— Bem, vendo a situação pelo meu ângulo, parece que vai ser um inverno longo e frio.

Ainda que a neve do fim de inverno cobrisse o chão, o ar tinha o perfume e o frescor da primavera. O sol agradável e a brisa suave animavam as pessoas cansadas do inverno. Com o ombro completamente curado, Christian caminhava pela calçada com passos leves, usando sua mais recente aquisição: um par de tênis. Ele os achava confortáveis... e caros. Tomara conhecimento dos preços atuais quando saíra pela primeira vez com Anastasia para fazer compras.

Felizmente, devido à grande soma de dinheiro que Anastasia recebera de um colecionador pelas moedas de ouro, agora ele podia pagar suas próprias contas. O custo dos tênis foram um choque, e ainda não passara, mas ele gostava de andar com o calçado confortável, O calçado baixo, tão diferente das botas com salto que dificultavam as caminhadas longas, era uma revelação, embora bem menos significava, em comparação com as informações surpreendentes que ele absorvera ao longo dos últimos três meses. Ele começara a andar e a explorar a cidade de Conifer e arredores logo no começo do ano, depois de Anastasia ter retornado ao trabalho ao fim dos dez dias de férias. Aprendera muito durante aquelas semanas sobre a vida e a história, assim como sobre a pequena cidade nas montanhas da Pensilvânia.

— Boa tarde, senhora. — Christian sorriu, ergueu a mão para tocar a aba larga do chapéu e deu passagem. A mulher de meia-idade, que passava por ele, se assustou por um momento, então sorriu e retribuiu a saudação. Christian sorriu enquanto seguia seu caminho. Já se acostumara com a hesitação inicial da maioria das pessoas ao responder a um estranho. E, embora o Natal tivesse passado fazia tempo, ele ainda era um desconhecido, não apenas para a cidade e seus moradores, mas também para o século XX. Mas ele progredia sempre. Já não retesava o corpo ao som estridente do telefone ou ao barulho inesperado de uma buzina, nem se abaixava ao som de um avião passando. Pelo contrário, ele agora falava com Anastasia ao telefone com naturalidade, e estava ansioso para sentar-se ao volante de um carro e fazer sua primeira viagem de avião... de preferência num daqueles grandes jatos sobre os quais havia lido. Desvendara os mistérios intrigantes do funcionamento da máquina de lavar e secar roupas, da lavadora de louça, forno de micro-ondas e do videocassete. Agora aprendia as complexidades de um microcomputador.

Quando passeava, usava os fones de ouvido do walkman de Anastasia preso à cabeça. E ele até aparara o cabelo desgrenhado. Entre as outras mudanças radicais em sua vida, ele deixou de fumar, graças em parte à opinião de Anastasia sobre o hábito mas devido principalmente a sua insatisfação quanto ao "material" moderno. Surpreendendo Anastasia, Christian preferia rock à música country, embora também gostasse desse tipo de canção. Mas sua verdadeira paixão musical eram as fitas de música clássica, e ele adorava televisão e livros de história, ficção ou não. Os eventos ocorridos a partir de 1889 o estarreciam, particularmente os acontecimentos e invenções da segunda metade do século XX. Ele achava incrível que desde o início da história, passando por sua própria época, a maior parte dos homens jamais entrara num automóvel e, contudo, dentro do curto espaço de menos de cem anos, o homem foi ao espaço e conquistara a Lua.

Na opinião de Christian, as pessoas, de modo geral, haviam mudado tanto. Ainda acreditava que a maioria delas era decente. Mas, também como antes, existiam os anormais, aqueles que escolhiam, por uma razão qualquer, viver fora dos limites aceitáveis da lei. Sua maior decepção foi a descoberta de que, para todos os efeitos, a execução da lei não mudara muito... Ainda eram os mocinhos contra os bandidos, os tiroteios, apenas com a diferença das armas, muito mais sofisticadas no século XX. Ele achava tudo um tanto sufocante e confuso, e ao mesmo tempo emocionante. Havia também outra grande decepção. Ele e Anastasia leram tudo que ela pudera encontrar na biblioteca e em livrarias sobre a teoria da viagem no tempo, conseguindo reunir poucas informações concretas, pois livros disponíveis sobre o assunto abordavam-no mais pelo ângulo da aventura que pelo lado científico. Assim, embora Anastasia continuasse colhendo informações sobre o tema, ambos se conformaram com a perspectiva de nunca encontrar nada realmente esclarecedor. Até certo ponto, os dias nunca pareciam longos o bastante, repletos como eram de novas coisas para fazer e aprender. Além de sua busca por conhecimento, ele adquirira habilidades em atividade que nunca sonhara tentar.

Determinado a "ganhar sua vida", como denominava para Anastasia, Christian assumira os serviços domésticos. Ele tornara um perito em cuidar da lavanderia e da limpeza do apartamento, e era um cozinheiro sofrível. Não se sentia nem um pouco humilhado por realizar essas tarefas... Talvez pelo fato de ninguém ter-lhe dito que o trabalho era indigno. Anastasia ficou satisfeita com o arranjo, e aquilo por si só era incentivo suficiente para Christian.. Mas, como previra no dia que Anastasia o levara do hospital para o apartamento, o inverno fora longo e frio. Ele não prestava atenção aos artigos de primavera nas vitrines enquanto andava pela rua principal. Sua mente estava-se ocupada, relembrando incidentes das semanas anteriores.

— Agora olhe com atenção — Anastasia o instruíra. — Quando a maçã chegar à base do mastro, a multidão enlouquecerá. Estavam sentados lado a lado no sofá, assistindo a um especial de televisão. Anastasia comprara uma garrafa de champagne para a ocasião. Bebendo o vinho, uma experiência nova e deliciosa para ele, Christian mantinha os olhos fixos na tela. Quando a maçã chegou à base do mastro e uma faixa com os dizeres "Feliz Ano-Novo" iluminou-se, seu interesse aumentou, não pelo barulho e agitação, mas pelo fato de todos se beijarem.

— Por que estão se beijando? — ele perguntou.

— Beijar é a maneira tradicional de dar boas-vindas ao ano-novo — ela respondeu, apesar de aparentar perturbação. Sorrindo, Christian deixou a taça de lado e inclinou-se.

— Gostei da sugestão.

— Chris, mantenha suas mãos longe de mim. — Franzindo a testa, ela balançou a cabeça evitando tocar os braços dele. Christian foi mais rápido. Ele a segurava pelos ombros quando Anastasia começara a levantar-se do sofá.

— Não posso quebrar a tradição — ele murmurou, ignorando a dor no ombro. — Poderia ter um ano inteiro de azar. O beijo foi longo, profundo e abrasador. Desejando-a com todo seu ser, ele deslizara uma das mãos até a curva de um seio, fazendo-a sentir-se em chamas pelo contato. Excitado e atordoado com a doçura do beijo e a maciez do corpo dela, Christian descontraiu-se, e Anastasia aproveitou a chance para soltar-se e fugir do abraço. A lembrança daquele beijo ardente e sensual, mais inebriante que o vinho, atormentara Christian durante cada noite fria e vazia desde então.

A cena não se repetira, enquanto seu corpo ardia de desejo. Anastasia estava cada vez mais distante dele. Christian comprimiu os lábios quando outra imagem voltou-lhe à mente, uma lembrança da cena desagradável que acontecera na noite em que Richard Quinter estive no apartamento.

— Oi, Richard! O que está fazendo aqui? Christian ouviu a reação surpresa de Anastasia ao visitante inesperado da sala de leitura, onde ele se concentrava num manual de programação de computador. Ao ouvir o nome do visitante, ele deixara o livro de lado.

— A resposta é óbvia — Richard respondeu num tom impositivo. — Vim vê-la, é claro. Quero descobrir por que tem me evitado há mais de um mês.

— Richard, por favor, não quero discutir isso agora. Estou...

— Tínhamos um compromisso... — Richard a interrompeu, autoritário.

— Richard, eu nunca... — Anastasia começara outra vez, apenas para ser interrompida rudemente de novo.

— Você nunca saiu com outro homem. Éramos o casal que todos admiravam. A voz dele tomara um tom de propriedade, e Christian sentira a raiva aumentar.

— Nunca fomos um casal — Anastasia o corrigira, suspirando irritada. — Tentei lhe explicar isso quando nos falamos pelo telefone no Natal.

— Você disse que seu paciente estava em primeiro lugar. Pensei que o paciente devia estar morto ou curado agora. Christian ouvira o suficiente. Saiu da sala de leitura silenciosamente e entrou na sala de estar.

— Algum problema, querida? Enquanto Richard o fitava com uma expressão espantada, Christian aproximou-se de Anastasia e a abraçou pela cintura num gesto ao mesmo tempo familiar e possessivo. Como uma experiente atriz, Anastasia fingiu uma intimidade que não existia, e abraçou-se a Christian.

— Não, querido. Richard passou para nos cumprimentar...

— Então que diga adeus — Christian retrucou, lançando um sorriso frio para o intruso. — É tarde e precisamos dormir. Richard acreditou na farsa. Olhara com desprezo para Anastasia, parecendo insultado e ofendido, depois saiu. Anastasia soltou-se de Christian logo que a porta se fechou. Então, com o rosto vermelho, ela o repreendeu duramente pela interferência.

— Ele é um cavaleiro de sombra — retrucou, irônico. Zangada, Anastasia o encarou.

— O que é "cavaleiro de sombra"?

— Cavaleiro de sombra é um termo usado para descrever um vaqueiro vaidoso, um homem tão impressionado consigo mesmo que é capaz até de achar a própria sombra atraente. — Ele demonstrava ironia. — O termo cai como uma luva nesse tal Richard, não é mesmo? Anastasia, que mantinha a expressão severa, começou a rir.

— Sim, o termo se ajusta com perfeição. Christian já raramente sentia saudade do ranger do couro da sela e de montar um cavalo. Considerando, ele sabia que estava em franco processo de adaptação àquele novo ambiente, às vezes incompreensível, porém bastante excitante. Se tivesse de escolher entre retornar a seu tempo ou permanecer no século XX, Christian não tinha dúvidas de que escolheria permanecer onde estava. Mesmo com poluição, medo do efeito-estufa, tensões internacionais e o fantasma da devastação nuclear, preferia a conveniência e conforto modernos, porque Anastasia existia no presente e isso era o mais importante de tudo. Anastasia! Christian sentiu-se queimar por um estranho calor que nada tinha a ver com o sol. Pensar nela nunca deixara de incendiar sua mente e corpo. Estava apaixonado por Anastasia. Aceitava esse amor sem questionar. Pela graça de Deus ou não, agora ele sabia, intelectual e emocionalmente, que Anastasia lhe pertencia, assim como ele pertencia a ela. Segundo sua maneira de pensar, sua viagem no tempo tinha de acontecer, pois esse era o destino deles. O longo confinamento do inverno no apartamento provara para ele o quanto eram fortes, determinados e solitários. Às vezes entravam em atrito, como seria de esperar, mas eram incidentes insignificantes em comparação às vezes que riram juntos, como na noite da visita de Richard.

Christian acelerou o passo ao dobrar uma esquina. Depois de três meses, conhecia o caminho de cor e estava indo para casa. E, para ele, casa significava Anastasia... em qualquer século. Abrindo a porta, Christian tirou a jaqueta e foi direto para a cozinha. Depois de ligar o rádio, começou a reunir os ingredientes para preparar uma carne assada para o jantar. Apenas com seus pensamentos por companhia, preparou o prato, colocou-o no forno e então olhou ao redor, procurando algo para ocupar seu tempo. Não havia nada; estava tudo limpo e arrumado. Olhou para o relógio e suspirou. Anastasia ainda demoraria no mínimo uma hora. Inquieto, foi para a sala e aproximou-se da vasta janela que dava para a parte de trás do prédio. Anastasia trabalhava demais.

Observando o cenário coberto de neve lá fora, Christian sorriu, olhando para um grande boneco. Bonecos de neve com certeza não eram uma obra de arte, mas ele e Anastasia haviam rido muito juntos enquanto construíam aquele boneco enorme depois da tempestade da semana que passara. Juntos. Com a palavra ecoando em sua mente, Christian vestiu a jaqueta e deixou o apartamento. Momentos depois chegava à clareira, para reparar o boneco de neve que começava a amolecer... o boneco de neve de Anastasia. O lugar de Anastasia era ao lado dele, o destino determinara assim. Ele sabia disso. O problema era convencê-la.

 


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