A Senhora da Sorte escrita por Ana Letícia


Capítulo 4
Parece que o jogo virou




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Dia monótono. Andrômeda acordou, comeu, se arrumou e foi trabalhar. Seu corpo não doía tanto como no dia anterior, mas ela ainda estava bastante indignada. Mais uma vez Lana aprontou e ela levou a culpa. Então, de repente Andrômeda se lembrou dos diários que ela roubara do lixo de Lana no dia anterior, ela não tivera tempo de dar uma olhada, mas faria isso assim que chegasse em casa… logo depois da detenção!

Andrômeda suspirou frustrada, e ainda tinha Pablo.

Ah, meu Deus, o que ela ia fazer com Pablo?

Ela precisava contar que não estava mais interessada nele, mas sentia que não era a hora.

Qual a lógica disso? Ela não sabia.

Andrômeda despachou os últimos clientes da clínica e correu para almoçar. Ela não podia se atrasar para a primeira aula, ela não estava afim de pegar um adicional na detenção.

Alguns minutos depois, atravessou os portões da escola correndo com um sanduíche pela metade em uma das mãos e um grande copo de café na outra.

Notas sobre Andrômeda: ela era loucamente viciada em café. E chocolate. E lasanha. E várias outras coisas também.

Mas de repente freou ao ver Lana com seu bando de amigas que mais pareciam espigas de milho, a maioria tinha cabelos louros obviamente pintados e eram magras demais, elas não tinham um pingo de noção. Lana estava no centro, como sempre o centro das atenções. Estava usando a mais nova calça jeans da Calvin Klein e tênis cano médio que mais pareciam botas, as longas unhas impecavelmente pintadas, e o cabelo ruivo estava solto em cachos grossos bem artificiais, ela falava gesticulando como um pato querendo voar.

Andrômeda não pensou bem, mas viu a sua chance de vingança à vista.

Enfiou o sanduíche na mochila e andou até Lana e suas amigas.

— Ei, Lana. Obrigadinha pela detenção. - entoou Andrômeda.

— Por nada, querida. Já até estou pensando na próxima vez que vou armar pra você. - disse Lana sorrindo.

Um sorriso brincou nos lábios de Andrômeda e Lana hesitou.

— Sorte a sua seu namoradinho estar por perto, não é? - disse Lana. As amigas dela riram.

— Eu acho que você sabe que ele não é meu namorado. Mas eu só vim aqui te dar um presente.

Lana ficou com uma expressão de surpresa.

— Presente? - perguntou ela hesitando.

— Isso!

Andrômeda pegou o grande copo de café ainda quente e despejou na cara de Lana.

Lana gritou e se sacudiu como cachorro molhado, respingando café pra todo lado, as amigas dela gritaram, e Andrômeda apenas foi embora.

Mais uns dias de detenção para a conta.

Andrômeda agiu naturalmente e foi para a sala de aula, sentou-se no seu lugar de costume e apanhou o livro de geografia. Até que ouviu a voz da diretora no auto falante:

— Andrômeda Allen, compareça à sala da diretora imediatamente!

Todos os olhos da sala se voltaram para Andrômeda, até a menina que era surda estava olhando para ela.

Ela se levantou e foi até a sala da diretora. O coração palpitando a cada passo. Será que ela seria expulsa? Isso não podia acontecer. Ela bateu na porta e entrou.

— Boa tarde, senhora Morgan. - disse Andrômeda calmamente.

— Boa tarde, senhorita Allen. Sente-se.

Andrômeda sentou-se nervosa, mas manteve a compostura. O que ela estava pensando ao jogar café quente na cara da Lana Winters? Ela não sabia, só sentia. Naquele momento ela sentiu que era capaz de qualquer coisa, mas esse tipo de coisa não era do feitio dela. Mas ninguém sabia disso, porque há anos Lana aprontava e a culpava, então todo mundo achava que Andrômeda era uma encrenqueira.

— Eu soube que jogou café quente na senhorita Winters e nas amigas dela. - disse a diretora.

— É verdade. - admitiu Andrômeda.

— Como disse?

— Eu disse que é verdade. - replicou Andrômeda.

— Bem, é… É que vocês brigam nessa escola há anos, e há anos venho te repreendendo e castigando, e você nunca admitiu que tenha feito qualquer uma das travessuras com Lana Winters.

— Porque as outras coisas eu não fiz, a Lana sempre arruma um jeito de me fazer parecer culpada. Mas dessa vez eu joguei café na cara dela sim. - disse Andrômeda respirando fundo.

— Ah, certo. - disse a diretora sem muita convicção. - Bem, então da próxima vez vou analisar melhor a situação, e a senhorita Winters será punida também, ok?

— Ótimo.

Ela se levantou para ir embora.

— Andrômeda? - disse a diretora.

— Sim?

— Você ainda está na detenção, mas pelo que aconteceu hoje, e não por ontem.

Andrômeda deu um leve sorriso.

— Sim, senhora.

E então deixou a sala.

***

A detenção era a coisa mais ridícula que a humanidade inventou. Juntavam todos os alunos preguiçosos ou encrenqueiros numa sala, onde tinham que ficar uma hora e meia sentados, em silêncio sem nem olhar para o lado. As vezes os professores se apiedavam e mandavam eles escreverem sobre o livro ou série favorita, mas isso era bem raro.

O bumbum de Andrômeda já estava dormente quando a professora Rivers os liberou.

— Comportem-se essa semana, meninos. - ela disse.

Andrômeda praticamente correu até em casa.

Quando chegou, sua família já estava terminando de jantar.

— Olá. - disse ela meio sem graça.

A mãe comprimiu os lábios.

— Vá lavar as mãos, querida.

— Como foi seu dia? - perguntou o pai.

— Bem chato. - ela disse receosa.

Ela pensou que a senhora Morgan havia ligado contando a última gracinha que ela aprontou. Mas ninguém mencionou nada.

Sua sobrinha, Alison estava fazendo uma bagunça com os vegetais. Andrômeda sorriu. Parecia que tudo estava voltando ao normal.

Depois de ajudar Ádria a limpar a cozinha, Andrômeda subiu para tomar banho, lavou os cabelos cuidadosamente.

Quando acabou vestiu o pijama e se abaixou perto da cama, pegou o saco de lixo que recolheu na casa de Lana e despejou o conteúdo no chão. Ela sentou e começou a olhar a capa de um por um, todos tinham o nome “diário” ou “querido diário”, alguns eram só cadernos velhos de matérias escolares.

Andrômeda abriu cada um dos diários e viu que eram escritos por ano, ela os ordenou na sua frente, eram oito no total, cinco dos últimos cinco anos, um do ano atual, um diário de poesias e um que estava trancado por um cadeado numérico, era de capa verde água de veludo e tinha o nome “Secret” prateado no centro.

Andrômeda tentou forçar a senha por alguns minutos mas desistiu, e decidiu ler os outros diários, assim que leu a primeira página do de cinco anos atrás soube imediatamente que eram de Lana. A escrita era egocêntrica e desleixada, a autora se sentia o centro do universo.

 

20 de Janeiro 2011

Querido Diário,

hoje eu ROUBEI a pulseira bordada a ouro daquela joalheria famosa do centro, a “Ourus”, ninguém me notou.

Eu poderia dizer que estou arrependida e me sentindo culpada, mas eu estou me sentindo fantástica, eu roubei mesmo uma coisa e não fui descoberta, e nem serei. Só tenho que ser discreta ao usá-la em público, quando alguém notar vou dizer que foi só um presentinho da vovó. Mas isso deve custar uns 3 mil, devo ter cuidado.

Hoje o Dean Paulson estava olhando para a ridícula da Andrômeda Allen, senti muita raiva disso, estávamos na sorveteria quando aconteceu, eu achei que fosse explodir de tão vermelha.

Espero que um dia ele me note.

XOXO Lana.”

Isso sim era algo que valia a pena ser lido.


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