Não Consigo Evitar Me Apaixonar escrita por Ice Queen


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao final :(
Eu tinha planos de que essa fic ficasse pequena mesmo e particularmente eu gostei dela, espero que vocês também tenham.
Obrigada por lerem, um beijo e até uma proxima
Boa Leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722023/chapter/4

Seu coração me deu novas emoções
Seu coração me deixou sentindo tão bem
Então, o que posso fazer?
Ainda estou apaixonada por você

Still Falling For You - Ellie Goulding

 

Meu coração para. Se não, a dor é como se tivesse. Então tudo faz sentido, Elsa saindo de casa, ela parecer tão fraca em alguns dias e, para piorar, as vezes em que ela chorou baixinho no meio da noite, achando que eu não escutava. Mas eu escutava, e devia ter pedido o que aconteceu.

— Eu... eu preciso vê-la. Eu.... – agarrei meus cabelos, sentindo meu coração bater forte. Eu ainda não sabia tudo e eu precisava saber. Elsa, minha Elsa, estava num hospital e eu tenho um pressentimento de que, seja lá a causa de sua internação, não é algo que vá acabar bem.

— Eu vou com você. – Anna pousa a mão em meu braço, tentando me confortar. Assinto e praticamente corro com ela até o meu carro, ainda parado no meio da rua, com um repórter furioso parado ao lado da porta do passageiro.

— O que foi isso? – ele exige, mas o ignoro e abro a porta para Anna. Pego as coisas dele sobre o banco e praticamente jogo em seus braços. Posso ouvir as buzinas dos carros atrás do meu, impacientes com a minha demora. – Mas o que é isso? O que está fazendo?

— Não interessa  à você. Eu preciso sair daqui e você está me atrapalhando.  – digo, fechando os punhos para não empurrá-lo para longe. Anna nos fita, sentada encolhida no banco do passageiro. Fecho a porta dela, correndo para o outro lado.

— Nós temos trabalho a fazer! – o repórter grita e fica ainda mais furioso ao me ouvir gritar um “dane-se” em resposta. – Você vai ser demitido por isso!

— Otimo! – sorrio em sua direção, certo de que essa era a decisão que eu já devia ter tomado há tempos. Entro, então, no carro, partindo o mais rápido que posso para o hospital.

Eu mal estaciono em frente ao prédio e já pulo do carro, correndo até a recepção. Dessa vez, Silvie está em seu posto e olha confusa para mim. Quando vê Anna, seu olhar muda para assustado. Então realizo que, muito provavelmente, o hospital inteiro saiba que Elsa não está bem. Será que mais algum estranho sabia sobre isso, e eu não?

— Achei que ela não queria que ele soubesse. – ela murmura, logo depois de conversar com Anna sobre algo que não prestei atenção. Eu estava olhando ao redor, procurando por ela, esperando que ela aparecesse, sorrindo ou brigando comigo por não deixá-la em paz. Qualquer uma das maneiras iria saciar a minha ansiedade, porque significaria que ela estaria boa o suficiente para vir até aqui. E sua falta triplica minha preocupação. Estou pronto para encontrá-la, depois que Silvie termina minha etiqueta de acompanhante e Anna a gruda na minha camisa, mas a ruiva apenas para na minha frente. Ela fita o pedaço de papel que acabou de colar, perdida por um momento, então respira fundo e me olha.

— Ela pode estar fraca, ok? Mas ela continua sendo a mesma. – ela diz, com os olhos marejados, começando a andar lentamente comigo pelo hospital. – A doença dela não tem cura e ela quase não ficou sabendo que a tinha. Ela contou pra você que a mãe dela fez tratamento aqui? – assinto, acompanhando-a pelos corredores imaculados. – Eu imagino que não tenha lhe contado sobre os testes. Bem, quando ela veio acompanhar a mãe, os médicos quiseram fazer alguns testes nela, procedimento padrão. Foi quando descobriram o que ela tinha. A mãe dela ficou devastada, Elsa me contou que ela não conseguia parar de chorar. Elsa era ainda tão nova, mas disse à mãe que ficaria tudo bem. – eu e Anna sorrimos ao mesmo tempo. Elsa sempre sendo Elsa. – Enfim, os médicos não lhe deram muito tempo de vida, o que tornou a chegada dela a essa idade uma grande vitoria. Eu me lembro de que quando a conheci ela me alertou que se morresse logo, não iria querer que eu chorasse por gratidão. “Primeiro preciso conhecer você bem pra te deixar chorar”.

— Ela não me disse isso. – digo, a voz saindo mais magoada do que eu pretendia. Anna aperta meu ombro, sorrindo confortante.

— Com você foi diferente. – começa, alargando o sorriso. – Ela nunca se envolveu com alguém como fez com você. Ela se apaixonou tão profundamente que começou a planejar um futuro com você, e ela nunca tinha feito isso.

— Como não?

— Ela sempre soube que a vida seria curta, então fez um objetivo pessoal aproveitar cada segundo, sem pensar no futuro. – seus olhos brilharam de emoção, e um sorriso tristonho apareceu em seu rosto.  –Então ela conheceu você, e tudo mudou. Pode achar que você foi o único que mudou, mas não, ela também mudou. Mas quando a doença bateu na porta, ela se viu em um beco sem saída.

— Por que ela simplesmente não me contou? – pergunto, acusatório. Anna então olha para o fim do corredor, para uma das únicas portas entreabertas. Elsa.

— Acho que isso você precisa perguntar a ela. – andamos até lá e eu paro do lado de fora, sem coragem de entrar. Olho para Anna que sorri, aperta meu ombro e assente. Respiro fundo uma vez e entro no quarto.

Elsa esta deitada na cama no centro do quarto, parecendo tão pequena e pálida que faz meu peito apertar. Mesmo dormindo, ela parece extremamente cansada e as olheiras abaixo de seus olhos denunciavam que provavelmente era a primeira vez que ela dormia há dias. Por mais que eu não queira acordá-la, ando até o lado da sua cama, levando minha mão tremula para afastar uma mecha de cabelo do seu rosto. Mas o leve roçar dos meus dedos em sua pele a acorda e, sobressaltada, Elsa me encara um pouco perdida. E então seus olhos se arregalam.

— Jack. – ela sussurra, sua voz tão fraca quanto seu corpo.

— Por que não me contou? – digo antes que possa pensar, um tom de magoa dominando minha voz. Ela desvia os olhos e eu rapidamente puxo a cadeira do fundo do quarto para perto do seu leito. Sento-me e seguro sua mão, mas mesmo assim ela não me olha. – Elsa.

— Quem contou pra você?

— Anna. – digo e ela sorri de forma doce, provavelmente sabia que isso iria acontecer. Finalmente, Elsa toma coragem para me olhar e assim que o faz seus olhos enchem de lagrimas.  –Por que não me contou?

— Eu não queria me envolver desse jeito com você. – ela inclina a cabeça e sorri para mim, tão apaixonada que chega a doer. – E quando você me contou sobre sua mãe, quando pareceu tão machucado por perdê-la daquele modo... eu não queria fazer você passar por isso de novo. Então, eu preferi mil vezes que você tivesse raiva de mim, do que fazer você sofrer tudo isso de novo pelo meu egoísmo.

— Não foi egoísmo.

— Foi sim. – ela balança a cabeça, convicta. – Se não fosse, eu teria contado logo que nos conhecemos. Mas tudo o que fiz foi mentir e esconder de você o que estava acontecendo.

— Então quando você sumiu esses últimos dias...? – começo, sem coragem para terminar.

— No primeiro deles, logo depois que eu dormi na sua casa, eu vim só para um exame de rotina. Eu estava radiante aquele dia e então veio a noticia. A doença havia evoluído mais do que previsto e chegou a um ponto que não se podia fazer nada além de esperar. – sua voz morre na ultima palavra e lagrimas inundam seus olhos. Aperto sua mão com força, desejando poder tirar toda essa dor dela, mas sei que não posso. Não posso fazer nada. E isso me destrói ainda mais. – Eu vinha me sentindo estranha antes de checar com o exame, mas achei que não fosse nada. Achei que poderia ter uma chance.

— Por isso você parecia tão receosa em como nós estávamos indo?

— Eu nunca tive isso. – ela sorriu e acariciou minha mão. O amor puro e incondicional transbordando de seus olhos, assim como eu sei que ela podia ver nos meus. - Eu me apaixonei por você no dia em que nos conhecemos, aqui no hospital. Aquela tarde, Jack... – ela ri, perdida em lembranças. – Eu tive aquilo e para mim já era o suficiente, por que eu sabia que não poderia ter mais, não poderia puxar mais uma pessoa para o meu drama. Então quando nos despedimos eu achei que seria o fim, mas aí.... aí você me encontrou.

— Aquele dia na feira...  – então entendi porque ela parecia tão nervosa. Ela ia dizer não. - Você quase negou.

— E eu devia ter negado. – balancei a cabeça com força, enquanto ela segurou minhas mãos. – Devia sim, Jack. Você não estaria assim se eu tivesse.

— Não estou com raiva. – eu nunca poderia estar.

— Mas está triste. E vê-lo assim é pior.  – sua mão alcança meu rosto e seu polegar acaricia minha bochecha. Quando me olha nos olhos, Elsa não consegue mais segurar as lagrimas e sua voz sai embargada. – Eu sinto tanto Jack. Eu amo tanto você e sinto muito por fazer você sofrer tanto, eu nunca quis quebrar seu coração.

— Hey. – inclino-me em sua direção e seguro seu rosto, sorrindo para ela como ela sorriu pra mim na primeira vez que nos vimos. – Eu nunca fiquei tão feliz por ter meu coração quebrado. O que você me deu em troca Elsa... – balanço a cabeça, emocionado e ela sorri. – Você poderia acabar com ele que eu continuaria a amá-la como amo.

Ela ri em meio ao choro, balançando a cabeça e segurando meu pulso. Aproximo-me e a beijo, forte e profundamente. Mas meu coração se aperta, sabendo que mesmo a felicidade de tê-la de volta não vai superar a dor de perdê-la de novo.

. . .

Eu não fui demitido, como meu caro colega ameaçara, porém, eu mesmo pedi demissão. Eu teria mais tempo com a Elsa, sim, e era o que eu queria, mas as quando saí daquele jornal para nunca mais voltar foi como se um peso saísse das minhas costas. Talvez fosse a hora de voltar àquela velha idéia do livro.

Minha rotina resumiu-se, portanto,a ficar no hospital. Havia dias em que Elsa estava tão alegre, tão forte e cheia de vida que um pequeno fio de esperança brotava em meu coração. Mas também havia dias em que ela não saía da cama e mal abria os olhos, e eram nesses que eu sabia que ia perdê-la. Por isso, eu me dedicava o dobro nesses dias.

Acabei também por ficar sabendo de tudo que ela passou desde que soube da doença, os tratamentos experimentais, as sessões longas e intermináveis, médicos e médicos a examinando só para lhe dizer o que ela já sabia. E saber de tudo isso e que ela nunca perdeu essa personalidade alegre dela me fez amá-la ainda mais. Elsa me mudou de um jeito que ninguém nunca fez. Cuidei dela e amei-a ardentemente até seu ultimo dia. Eu me lembro, muito bem na verdade, de uma noite em especial. Eu estava me preparando para sair, por insistência dela, ir para casa e dormir um pouco.

— Fotografo. – a escuto chamar. Viro-me e ela me estende a mão, a qual eu seguro prontamente. Ela olha nossas mãos juntas e um sorriso aparece em seu rosto, quando volta a olhar pra mim, seus olhos estão brilhando. Ela estava cansada, eu sabia, os dias de não poder levantar da cama se tornaram rotineiros e eu não conseguia suportar não poder ajudá-la de alguma forma. Eu queria ter mais tempo. – Obrigada.

— Pelo que?  - rio, sabendo que ela não se referia a minha compainha.

— Por me fazer querer mais, por me fazer perceber que não importa como as coisas estejam ruins, sempre há um jeito de melhorar. Você foi minha melhora, meu amor. E eu vou te amar para sempre. – ela sorri e meu peito aperta.

— Eu também, minha enfermeira. – ela ri, apertando minha mão. – Eu vou amar você para sempre. Você também foi minha melhora.

E a beijo, forte e longamente, temendo deixá-la. Mas não foi no dia seguinte. Elsa me deixou definitivamente poucos dias depois. Eu soube assim que entrei no hospital e vi Silvie chorando no balcão, tentando inutilmente continuar seu trabalho. Quando me vê, chora ainda mais. Fiquei parado ainda na entrada por alguns segundos, sentindo todo o peso daquilo me puxar para baixo e então disparei para seu quarto. Estava ofegante quando cheguei lá, os coração batendo forte e as mãos tremendo. Endireitei-me, sem entrar, fitando-a de olhos arregalados. Ela parecia estar dormindo, tão calma, tão serena, parecia que finalmente havia conseguido algum sossego. Anna estava debruçada sobre seu leito, os leves tremores de seus ombros denunciando o quanto ela chorava. Eu deveria ter estado com ela. Sei que ela não queria, mas mesmo assim. Tenho certeza de que ela sorriu daquele jeito doce, antes de fechar os olhos.

Eu achei que sabia o que era ter o coração partido quando Elsa terminou tudo comigo, mas nada se compara a agora. Afasto-me da porta, andando para trás até bater na parede do lado oposto. Escorrego até o chão, de onde posso ver apenas a parte de baixo de seu leito. E então as lagrimas vêm, fortes, sacudindo todo o meu corpo. Meus soluços se alastram pelo corredor e puxo os joelhos contra o peito, apoiando os cotovelos nos mesmos e agarrando meus cabelos com as mãos. Fecho os olhos e aperto as palmas das mãos com força contra eles, desejando que a dor fosse embora, que tudo isso fosse um sonho, que eu acordasse em um mundo onde coisas como essas não acontecessem. Onde famílias não perdessem seus entes queridos, que amigos não perdessem seus companheiros de vida e corações permanecessem intactos. Onde ela estaria comigo.

Sinto braços rodearem os meus e Anna se agarrar em mim, sabendo do que eu precisava, do que ambos precisávamos. Tenho certeza de que ela está sofrendo ainda mais, pois as duas eram praticamente irmãs. Afasto-me um pouco, somente para poder passar um braço por seus ombros, tentando de alguma forma fazer com que nossa dor diminuísse.

Os dias até o enterro são como uma nevoa na minha memória, provavelmente pelo meu estado letárgico nos mesmos. Lembro-me de ajudar, mas me sentir tão destruído por dentro que só queria que aquilo passasse. Mas o que não saí da minha mente foi o dia no cemitério. Estava chovendo, e me lembro de olhar com raiva para as nuvens, mas então a memória do dia de chuva que Elsa e eu pegamos me voltou. E junto dele todos os nossos momentos, me fazendo sorrir, e eu soube, parado em frente a sua lapide e com um sorriso cheio de saudade no rosto, que era disso que ela queria que eu lembrasse.

. . .

— Jack? – escuto a voz suave chegar aos meus ouvidos, me fazendo voltar à realidade. Olho para minha irmã e pela sua expressão sei que fiquei em silencio, perdido em lembranças, por um bom tempo. Meu livro de fotografias repousa em seu colo, ainda aberto em uma das primeiras fotografias. É a Elsa, olhando-me daquele jeito apaixonado, e sobre quem minha irmã me pediu. Eu tirara essa foto rapidamente, enquanto ela se virava depois que a chamei, então seus cabelos estavam eternizados em um movimento maravilhoso. E, ao contrario do restante da fotografia, sua expressão estava muito bem focada. A fotografia parecia me fitar orgulhosa, feliz por tudo o que fiz. Como sei que Elsa estaria. Sorrio, olhando para minha irmã.

— Um dia eu conto dela pra você. – digo e ela revira os olhos, sorrindo. Eu ainda não havia contado a ela sobre Elsa, ainda que já faça muito tempo que voltamos a ser o que uma família é. Sophie foi a primeira das realizações dos desejos que Elsa fez para mim. Não foi fácil, mas com o tempo conseguimos voltar ao relacionamento que tínhamos quando crianças, senão melhor. Levei-a comigo pela minha viagem ao redor do mundo, para tirar as fotos para o livro, e foi quando nosso relacionamento se estreitou. Era muito bom ter minha irmãzinha de volta. E agora, entendo porque Elsa me fez prometer que iria correr atrás dos meus sonhos. Não era por ela, e sim por mim. – Vamos?

Ela assente e saí do carro. Eu faço o mesmo, pegando o embrulho no banco de trás antes de alcançá-la na calçada. Entramos no cemitério, andando em silencio pelas lapides, sabendo que elas nos trazem lembranças pesadas demais. Quando paro, Sophie faz o mesmo, dando um passo para trás quando me abaixo em frente a uma das lapides. Sorrio, correndo os dedos pelo nome escrito e o mar de lembranças me atinge mais uma vez. Deus, como sou grato. Por ela, pelo o que ela fez, por tudo o que mudou e me deu. Tive o coração quebrado, sim, mas o que tive em troca – seu amor, minha irmã de volta, a coragem que eu precisava para viver – tudo isso fez valer a pena. Olho para trás, e os olhos da minha irmã sobem da foto no concreto para os meus e ela sorri, como seu eu já não precisasse mais explicar nada. Olho para a foto também, tocando-a com a ponta dos dedos, enquanto encosto as flores ao lado da mesma. Sorrio mais uma vez, de olhos fechados.

— Obrigada. – sussurro. – Minha enfermeira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não Consigo Evitar Me Apaixonar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.