Still Alive escrita por Jubs Malfoy


Capítulo 8
O Sol logo vai se pôr


Notas iniciais do capítulo

Desculpa o atraso. Faltou-me inspiração e tempo, mas aqui está. A música desse capítulo é Valerie, de Amy Winehouse



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Desde o amanhecer, o jardim já era transformado em um local de eventos. Uma variedade de bruxos levitava cadeiras e flores, de modo a compor o local do casamento que aconteceria ao pôr do sol.

Na casa, a família Weasley recebia ordens de uma já velha, mas ainda firme Molly. Até mesmo os filhos, já adultos, não hesitavam em obedecê-la diante dos olhares fuzilantes que recebiam. Todos os que podiam usar magia ficavam encarregados das coisas trabalhosas e as crianças eram designadas a coisas como, por exemplo, desgnomizar o jardim, para a alegria delas.

Lis e Alvo foram jogados na cozinha, com a função de preparar os salgados para a festa. Como ninguém reparava de verdade neles, os jovens utilizaram feitiços domésticos para fazerem a massa e recheares, e depois de um tempo no tédio, começaram a usar suas varinhas para levitarem e arremessarem os salgados prontos em uma panela de óleo fervente no outro lado da cozinha.

Ao olhar pela janela, Lis os viu chegando, a família mais bonita que já havia visto na vida. Gui, tio do Alvo, era um homem muito belo, cujo tempo havia feito muito bem; o cabelo, antes ruivo, agora já era quase todo grisalho, longo e preso em um rabo de cavalo. Fleur, apesar da idade, era a beleza e graça em pessoa; os cabelos dourados caíam em cascata nos ombros e ela andava como se não tocasse nunca o chão, o corpo esguio, mas curvilíneo lembrava o de uma fada, e suas roupas estavam impecáveis.

Os filhos: Victoire, Dominique e Louis, a despeito da genética Weasley, haviam nascido todos loiros, e formavam um trio de pura perfeição enquanto caminhavam em direção à casa, trazendo o que parecia ser um vestido de noiva enorme, embalado em uma proteção plástica.

— Filho, Lis, o que estão fazendo? A noiva chegou e a comida ainda...

Gina olhou ao redor e viu que tudo estava pronto e organizado. O que podia ser preparado, havia sido, e o que não, aguardava sua hora.

— Como vocês...? — ela viu as varinhas e deu um sorriso de lado — bem, acho que vocês acabaram por aqui. Vão para fora, o almoço está servido.

Duas mesas grandes acolhiam todos da família e estavam cheias de comida. O almoço foi uma refeição divertida; Teddy se transformava em animais para as crianças e os adultos contavam as histórias de sempre: jogos de quadribol, aventuras no tempo de Hogwarts, e outras. Durante aquela hora, não existiam preocupações ou qualquer coisa negativa, apenas uma grande família.

Lis e os meninos conversavam com Dominique, um ano mais nova que Lily e Hugo. A menina tinha criado uma mania de pintar o cabelo de colorido após conhecer o Teddy e descobrir que não queria ser perfeitinha que nem seus irmãos. Dessa vez, ele estava curto e de um lilás claro que realçava sua pele clara e seus olhos azuis vibrantes. Suas roupas tinham o estilo rebelde que ela tanto almejava, o que lhe dava uma personalidade particular, que era refletida em seus atos, palavras e opiniões.

A refeição terminou e todos os homens foram convocados para lavar os pratos e arrumar as coisas da festa; enquanto isso, a casa se encheu de mulheres alisando e cacheando as madeixas, pintando as unhas e fazendo a maquiagem.

Lis pegou uma caixa que a noiva tinha pedido e a levou para o quarto onde ela se encontrava. Para a menina, era impossível que alguém pudesse ser tão bonita, mas lá estava ela, a pele leitosa e limpa, sem manchas ou espinhas, os olhos azuis como o céu, agora realçados com glitter e rímel, as bochechas rosadas com blush, os lábios em forma de coração com um gloss cereja que se abriram em um sorriso de dentes perfeitos quando viu a amiga.

— Lis! Venha, entre, minha mãe vai maquiar você.

A jovem pegou a caixa e abriu, revelando um diadema de prata com brilhantes que, segundo ela, estavam na família há muitas gerações. Fleur voltou do banheiro, armada de pentes e presilhas, e não tardou em pentear o cabelo da filha, tagarelando em francês com as meninas.

— Recebi uma carta da minha família essa semana... As coisas não estão nada bonitas na França. Minha irmã disse que estão querendo criar facções anti-trouxas, e que o Ministério aprova.

— E também propõem cortar relações com a Inglaterra — completou Vic.

— Por Causa da Hermione?

— É, Lis, as propostas de leis dela estão repercutindo em vários países, não só na França. A Holanda, a Alemanha, e outros países puristas estão sendo contra isso e se dividindo com outros países que apoiam. Pronto, acabei.

Agora, o cabelo da jovem estava preso pela metade, a coroa presa com tamanha habilidade que parecia feito por mágica. As meninas trocaram de lugar, e Lis sentou em frente ao espelho enquanto Fleur escolhia um pincel para maquiagem.

— Pelo menos, a escola é desligada do ministério — a mulher continuou, passando pó no rosto da ruiva — Madame Maxime prometeu proteger os alunos nascidos trouxas.

— Até porque ela não é sangue puro — não seria correto apoiar tais pensamentos.

— Não é de sangue puro? — Lis virou, curiosa, e Fleur virou-a de volta.

— Não, acha que ela é grande daquele feito como? Só comendo e se exercitando? (Feche os olhos, Lis) Ela insiste em dizer que tem "ossos graúdos", mas a mãe dela era uma giganta. (não, Vic, a rosa) Não a culpo, é claro. Os gigantes são vistos como selvagens, provavelmente ela perderia o cargo de diretora se isso fosse comprovado. (O batom, por favor) Isso seria, obviamente, um equívoco tão grande quanto ela. Nunca vi pessoa mais delicada e elegante. Ah, pronto, agora só falta o cabelo.

Lis tomou um susto ao se olhar no espelho. Já havia se maquiado antes, mas como sempre resultava em algo forte ou meio obscuro, preferia não fazer. Mas a que Fleur havia feito era completamente diferente. Seu rosto brilhava sutilmente, um leve rubor percorria suas bochechas por conta do blush, o que dava um aspecto saudável à sua pele pálida; os cílios pareciam os de uma boneca, a boca perfeitamente desenhada se destacava em um batom vermelho. Mal teve tempo para processar a mudança, Fleur já passava uma escova em seus cabelos.

—Qual é a posição de seu avô, Lis? — Vic indagou, interessada.

— Aposto como apoia o ministro. Vivia reclamando com minha mãe por ter se casado com um mestiço, e se pudesse, e meu pai não tivesse pé firme, eu moraria na França aprendendo os valores puristas, provavelmente estaria noiva a essa altura.

— Nossa, que horror.

— Aprendi a conviver. Morei dois anos com ele, aprendendo dança, história e outras coisas. Não é de todo ruim. Tem seu lado útil. Mas, já está pronto?!

Fleur prendera seu cabelo de uma forma uma trança atravessasse sua cabeça, como uma tiara. O resto estava simplesmente solto. Simples, mas lindo. A porta do quarto se abriu e Teddy entrou, vestido em trajes a rigor, a gravata embolada no pescoço.

— Uau... Que garotas bonitas! Será que alguma delas aceita casar comigo?

— Saia, Teddy — a senhora o arrastava para a porta —já não basta você ter visto a Victoire experimentando os vestidos.

— Eu nem sei qual é o vestido! — ele segurou a porta.

— Graças a mim! Vamos, saia.

— Eu levo ele, Fleur —Lis pegou o jovem pelo braço e o arrastou porta afora.

Eles andaram pelo corredor em direção a outro quarto.

— Nervoso, querido?

— Não, sinto que estou fazendo a coisa certa — apesar da sua resposta, ele já havia feito o nó da gravata três vezes errado.

— Venha, deixa que eu faço isso — ela deu o nó certo dessa vez e ajeitou-a no pescoço dele — pronto. Agora, temos que nos apressar. O sol logo vai se pôr.

***

O céu alaranjado anunciava o despontar do crepúsculo. Os convidados esperavam em seus bancos, ouvindo a música lenta que acompanhava a entrada dos padrinhos: Harry, Gina, George e Angelina; e então, o noivo com sua avó, Andrômeda. Lis sentava em uma das primeiras fileiras, em um vestido rosa e simples, entre Alvo e Escórpio,  que riam ao observar James cantar uma prima da Victoire, que não entendia nada de inglês.

Várias flores rosa-chá decoravam as cadeiras e as tendas, que foram posicionadas de forma que o fundo ficasse exatamente onde o sol iria se pôr. Velas estavam espalhadas pelo local, dentro de esferas de papel, que flutuavam, sem queimar, pelo local. Todos aguardavam ansiosos o momento em que o grande disco de fogo alcançaria o horizonte.

E quando esse momento chegou, todos levantaram e olharam para trás. Lucy (filha mais velha do Percy) e Fred (filho do George) vinham à frente, de braços dados. Ela jogava ao chão pétalas que reluziam à luz do sol poente, o que dava a aparência de que as estrelas haviam saído do céu e pousado no grande tapete azul marinho.

Quando chegaram na frente, a música mudou para uma marcha nupcial e agora os olhares de todos estavam vidrados na linda silhueta da noiva contra a luz do Sol. Embora quase cegos, a medida que ela avançava, os queixos dos convidados iam caindo ao vê-la.

Seu vestido era branco como as nuvens, o busto sem alças era adornado de flores de seda peroladas, que também estavam na calda, descendo como uma cascata e se arrastando por uns dois metros no chão. Pequenos cristais bordados cintilavam, combinando com a coroa, e Lis a via mais como uma fada, vestida realmente de flores, e não tecido.

A cerimônia, como todas, foi massante, e os risinhos do James com a francesa já estavam dando nos nervos da Snape. O olhar fuzilante da Rose indicava que ela também estava pensando em jogar o sapato de salto agulha na garganta do garoto se ele não se calasse logo. Em alguma hora, o cérebro da Lis desligou, e talvez, só talvez, ela tivesse cochilado no ombro de Alvo. As únicas coisas que registrou foi a pequena Molly, de três anos, trazendo as alianças e a chuva de faíscas douradas durante a saída dos noivos, levando os convidados para uma tenda ainda maior, onde aconteceria a festa.

Durante a primeira dança, na qual todos olhavam os noivos, e então entravam timidamente na pista, Lis já pegava um copo de whisky de fogo nas mãos do Alvo e localizava seus amigos na festa. James continuava com a prima francesa, que só fazia rir; Lorcan dançava com Dominique,  que girava, balançando o cabelo lilás.

No outro lado do salão,  Lysander, Lily, Rose e Alvo conversavam enquanto devoravam alguns salgados e garrafas de cerveja amanteigada. O whisky desceu queimando na garganta, mas a careta que o amigo fez ao beber não perpassou o rosto da menina. A primeira dança terminou, e uma música animada começou a tocar

Well sometimes I go out by myself

And I look across the watter

— Lis, dança comigo? — Alvo estendeu a mão,  o copo ainda na outra, mas vazio.

A menina bebeu o último gole e pegou a mão do garoto, indo para o centro do salão.

‘Cause since I’ve come on home

Well my body’s been a mess

Alvo a girava pelo salão, fazendo seu vestido rodar. Lily e Lysander começaram a dançar também.

And I’ve missed your ginger hair

And the way you like to dress

Agora o Potter cantava a letra como se fosse escrita para Lis, fazendo-a rir, e confirmando que ele era fraco para bebida e que duas doses de whisky tinham sido demais para ele.

Won’t you come on over

Stop making a fool out of me

Why don’t you come on over Valerie?

Lis ria abertamente. A entrada do refrão havia animado o Alvo, que a girava rapidamente, cantando, afastando e puxando-a para ele mais vezes que o necessário. Lorcan e Lysander trocaram de par entre si. Todos dançavam, inclusive os pais dos gêmeos,  Luna e Rolf, que se divertiam com algum tipo de dança estrangeira.

And are you shopping anywhere,

Change the color of your hair, are you busy?

Seus olhos cruzaram com os de James que, para sua surpresa, não estava dançando, e o garoto ignorou sua pergunta silenciosa.

— Alvo, por que o James não está dançando?

— E eu sei? Talvez a menina não queira dançar.

Aquela resposta não desceu, mas o refrão veio e se foi, assim como a música, e o Alvo se afastou dizendo que ia pegar algo para eles. Uma música lenta começou e Lis viu Rose e Escórpio entrarem na pista de mãos dadas. Com um sorriso, ela desviou o olhar a tempo de ver e acompanhar James e a menina deixando a tenda em direção aos jardins.

—Aceita? — seu amigo trazia dois mini sanduíches e uma taça de champanhe.

A ruiva deu uma última olhada pros jardins. Um sentimento estranho a tomou na boca do estômago. Decidida a fazê-lo sumir, e evitar que o amigo ficasse ainda mais alto, ela pegou a taça de champanhe, bebendo de uma vez e, puxando Alvo pela mão, voltou para a pista, ainda sentindo estrelas explodirem no céu da boca

***

Sua cabeça doía, assim como seu corpo. Abriu os olhos e viu Escórpio roncando ao seu lado. Estava dividindo a cama com ele. O garoto ainda usava os trajes a rigor e, ao virar na cama, percebeu que ela mesma ainda estava de vestido, mas, pelo menos, sem sapatos. Nem se lembrava de voltar para a casa ou que horas saíra da festa.

Também não conseguia recordar de alguma vez em que havia dançado tanto. Fez par com Lorcan, Lysander, Lily, Alvo, Escórpio, Rose, Dominique; até com Carlinhos e o excêntrico pai dos gêmeos ela dançou. Agora, se sentia como se tivesse sido atropelada por um erumpente adulto.

Ela se ajeitou e viu James e Alvo num colchão ao lado da cama de Rose e Lily, que, ao contrário dos outros, estavam de pijama. Seus olhos registraram marcas de batom rouge na gola do Potter mais velho, mas antes que raciocinasse o que significava, seu mundo apagou.

— Lisy, ei, acorda — a menina se virou e um par de olhos verdes a encarou — bom dia, flor do dia!

— Só se for pra você, estou morrendo aqui.

Lis levantou e marchou direto para o banheiro, a mão pressionando a cabeça dolorida.

— O James está aí — mas ela já abrira a porta e entrara.

James estava apenas de toalha, gotas do banho recente ainda desciam pelos seus músculos definidos, e ele se olhava no espelho, bagunçando os cabelos já naturalmente espetados.

— Narciso morreu assim, sabia? — ela o fez notá-la, e lavou o rosto na pia ao lado da que ele usava.

— Ei! — ele deu um pulo, de olhos arregalados e segurando a toalha na cintura — eu estou aqui, sabia?

— Sim, acho que notei — ela era cínica, e diante do levantar de sobrancelhas dele, completou — querido, um banheiro só em um quarto com seis pessoas e você fica fazendo pose no espelho? Não dá.

Como que pra exemplificar, Rose entrou, escovando os dentes e ignorando os dois.

— Privacidade não existe mais?

Lily também abriu a porta, penteando o cabelo, fazendo James sair rosnando do banheiro, ainda segurando a toalha na cintura. Rose e Lily pareciam confusas.

— O que deu nele?

— Nada, nada... — e ela foi tomar uma ducha rejuvenescedora e bem gelada.

— Gina, quer ajuda?

Após o café da manhã, todos se dispersaram e a Sra Potter estava sozinha cuidando da louça.

— Se você enxugasse essas panelas, eu agradeceria.

A garota pegou a varinha na bota, recebendo uma piscadela da mulher. O silêncio se fez presente após alguns minutos de conversa leve, Gina parecia pensativa.

— Lis... Me perdoe pelo modo que minha família é com você. Quase bato no Rony quando você chegou e ele ficou encarando — ambas riram — eu até entendo o ressentimento deles com seu pai, mas muita coisa mudou, ele era o professor preferido do Teddy, e você é muito diferente do que ele era antes.

— Acho que eles não me acham um bom exemplo.

— E eles devem ser um bom exemplo, sim, não é? Viviam levando detenção. Pelo menos você os mantém numa linha de controle, se algo é exagerado, você não os envolve. Ontem, mesmo, eu vi você cuidando pra que o Alvo não bebesse demais ou fizesse besteira, e ele ficou na festa com a família o tempo inteiro. Já o James passou a cerimônia inteira atrapalhando e sumiu a festa inteira com aquela garota. Qual a necessidade?

Lis apenas acenou, guardando os pratos, que flutuavam e se encaixavam sozinhos com um gesto de varinha. Não queria admitir que passou parte da noite pensando o mesmo sobre o James.

— Eu gosto muito de vocês dois. Me lembram muito meus irmãos, Fred e George, antes... na época da escola — a menina fingiu não reparar na voz embargada da mulher, subitamente interessada em um saleiro — bem, terminamos por aqui, pode ir ficar com os meninos.

Lis saiu da cozinha e viu Rony e Rose, ele parecia brigar com a filha, ela olhava para o chão.

— Já falei para você não se envolver com eles. Um Malfoy e uma Snape, me diz em que caminho isso vai dar? Bom é que não é. Eles criaram um dragão em Hogwarts, se envolver com eles vai manchar completamente sua imagem, e a da sua mãe, que tanto defende os trouxas, e você se envolvendo com filhos de ex seguidores de Voldemort! E se você pensa que eu não vi você toda alegrinha com o Escórpio ontem, está muito enganada e cometendo um erro terrível.

A menina não dizia nada e parecia querer chorar. Lis pigarreou e entrou na sala. Rose se recusou a olhá-la, e Rony parecia constrangido. Ela esperava que ele estivesse. Uma força sobre-humana foi necessária para controlar a raiva que subia o seu corpo. Quem era ele para falar deles assim? E por que ela não contestava? Não tinha voz?

Para a surpresa dos dois, maior de Rose, Escórpio se aproximou. E pelo rosto, ele tinha ouvido tudo. Seus olhos nunca estiveram tão gélidos e ele nem olhou para a Rose quando anunciou:

— Lis, meu pai chegou, vamos para casa.


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