Still Alive escrita por Jubs Malfoy


Capítulo 40
Estou seriamente cogitando...




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Severo Snape estava preocupado. Faltava muito pouco para subir pelas paredes, ou talvez abandonar todas as suas responsabilidades como professor e ir atrás da filha no fim de mundo que ela estivesse. Ela nunca o deixaria no silêncio daquela forma, e a falta de notícias estava começando a soar como um mal agouro.

Também não ajudava que Harry Potter retivesse tantas informações sobre a missão de resgate. Severo queria, mais do que tudo, invadir aquelas reuniões e se impor. Tinha certeza de que sua filha não seria prioridade caso algo desse errado, via como eles a descartavam, supondo que estava em segurança. Ele mesmo supôs isso, a princípio, mas depois de tanto tempo...

Uma coruja invadiu a sua sala, interrompendo seus pensamentos. Não era uma ave conhecida, e aquilo já lhe despertou uma desconfiança, que se provou válida quando viu o envelope bonito e as palavras escritas nele em letras douradas. Mariage du Nikolai Pelletier e Lis D'Noir. Seus olhos percorreram as palavras que vinham na carta complementar, enquanto suas mãos amassavam sem perceber o belo convite. Aquela era a gota d'água.

O professor bateu a porta do escritório ao sair. Se pudesse aparatar dentro de Hogwarts, sua vida seria bem mais fácil, mas não podia, então lhe restou andar rapidamente todo o caminho do seu escritório até a sala da Diretora. Pretendia exigir que ela chamasse Harry Potter, que entrasse em contato com aquele francês que se dizia tio da sua filha, mas que permitiria um absurdo daqueles. Qual não foi sua surpresa ao encontrar o dito cujo da testa rachada na sala de Minerva.

— Severo? Aconteceu alguma coisa?

— Preciso que entre em contato com Carlo D'Noir — ele olhava diretamente para o Potter — Agora.

Uma juba de cabelos castanhos entrou na sala, junto com a versão mirim do homem à sua frente.

— Sr. Potter, o equipamento já está pronto — então a americana pareceu reparar nele — Prof. Snape??

— Maia, faça a ligação — Minerva interviu, calma — Severo, Carlo entrou em contato mais cedo, dizendo que precisava falar com o Harry. Se quiser nos acompanhar.

— O que você quer com ele, Snape? Recebeu alguma coisa?

— Recebi. E eu quero quebrar a cara dele, mas darei a chance de ele se explicar primeiro — o Potter o encarou assustado, mas Severo já seguia a McGonagall para a sala anexa.

O equipamento zumbia e brilhava, projetando a imagem do seu cunhado na parede. Ele parecia tão angustiado quanto o Snape, e lançou um olhar conhecedor quando o viu do outro lado.

— Severo. Então, você já sabe.

— Sei. Me diga que vão fazer algo a respeito, ou eu tiro ela de lá sozinho e dane-se o plano de vocês.

— Ei, ei! Do que estão falando? — Harry interrompeu, olhando de um para o outro — O que tem para saber? Lorde D'Noir, por que tanta urgência?

Carlo respirou fundo.

— Precisamos mudar os planos — o Potter franziu as sobrancelhas — Não podemos esperar cinco dias. Isso tem que acontecer amanhã.

— Não pode! Não temos como reunir todos os homens e recursos de hoje para amanhã.

— Eu sei. Reúna o máximo que conseguir. Se não fizermos isso exatamente amanhã, será tarde demais.

— Quê? Eles estão ameaçando nossos filhos? Eu achei...

— Não — o rosto dele estava abatido — será tarde demais para Lis.

Todos olharam para o Snape, e ele passou o convite e a carta que o sogro lhe enviou.

— Casamento? Mas que palhaçada é essa? — para a surpresa de todos, foi McGonagall quem disse aquilo, o rosto contorcido em raiva e indignação.

— Ela fez um acordo com o Pelletier. Ela vai se casar, e ele dá um jeito de tirar as crianças do castelo — um silêncio incômodo tomou a sala — Se não formos amanhã, as crianças estarão livres, mas ela não.

— Mas — a voz do Potter era muito baixa — não conseguiremos todos os homens... Como faremos isso? Não planejamos isso.

Surpreendente, Carlo sorriu, olhando pela janela do castelo.

— Então que bom que Lis é inteligente, e pensou nisso por nós.

***

O cheiro de fumaça insistente a acordou segundos antes de uma batida suave soar na porta. Lis não se deu o trabalho de responder; independente de quem fosse, entraria ela querendo ou não. Para sua surpresa, foi um vestido verde escuro que atravessou a porta, acompanhado de belos cabelos negros. Kaleen ficava bonita naquela cor.

A ruiva não se importou em levantar. Embora não se sentisse tão cansada quanto nos últimos dias, não se sentia um poço de energia, também. Com uma expressão séria, a outra garota pôs a mão em sua testa, e sua pele gelada enviou arrepios pela pele de Lis, fazendo-a rir.

— Saiu da geladeira, Kaly? — não sabia de onde tinha surgido aquele apelido, mas a menina estava intrigada demais com outra coisa para reparar.

— O que é "gedaleira"?

Aquilo fez a ruiva gargalhar deliciosamente. Ela estava perfeitamente ciente de que era a primeira risada que dava em dias, e um pedaço de si começou a gostar mais da Kaleen só por aquele fato. Os olhos escuros, no entanto, a escanearam com atenção objetiva, fazendo-a lembrar da enfermeira Longbottom.

— Kaleen — ela sentou direito, encostando na cabeceira na cama — você já pensou no que quer fazer? Quero dizer, no futuro? Profissão, ou algo assim.

Lis percebeu o desconforto da outra, e apenas esperou. Imaginou uma reação assim, dada a família e o lugar onde a pobre garota havia crescido.

— Eu não costumo pensar muito nisso. Provavelmente vou estar casada antes dos vinte, se depender dos meus pais, e terei sorte se ele deixar eu fazer algo além de ter filhos e desfilar como um enfeite — a voz dela era tão sem vida como sempre, mas naquele momento, não pareceu inadequada — Mas eu costumava querer inventar coisas importantes, e quando tinha nove, quis ser curandeira. Até mesmo aprendi algumas coisas escondida com as curandeiras do castelo.

Lis pegou a mão dela. Ainda estava tão fria... Ela lhe ofertou um sorriso sincero

— Você deveria, sabe, tentar algo nesse caminho. Foi ótima comigo no outro dia. Quem sabe não dá sorte e seu marido deixa? — Kaleen fez uma careta. Ainda era estranho vê-la dispondo de tantas reações, mas imaginou que era por agora se sentia mais à vontade com a presença da D'Noir.

— Sei que percebeu com quem meu pai pretende fazer o acordo.

— Só por cima do meu cadáver — ela disse aquilo como quem dizia que o dia estava bonito, sorrindo, e recebeu um raro sorriso da Kaleen — Se vou ser dessa família, devo ter alguma voz nisso. E eu não costumo gritar muito para conseguir o que quero.

Algo naquelas frases fez a morena ficar séria, e a ruiva aguardou, sabendo que ela explicaria o que estava pensando.

— Ainda não entendi por que vai se casar com o Nik — ela finalmente disse, em um fio de voz, e Lis apenas deu de ombros.

— Isso não importa. Apenas... Conseguiu fazer o que eu pedi?

Ela assentiu.

— Eles não vão ao casamento. Consegui garantir isso.

— Ótimo... — ela voltou a encostar na cabeceira.

— Não vai levantar?

— Eu não. Hoje é meu último dia como solteira. Me declaro de folga.

— Mas tem tantos detalhes-

— Que minha maravilhosa futura sogra pode resolver — ambas soltaram risadinhas pela clara ironia — Eu vou ficar aqui, deitada, me enchendo de doces, e caçando algo para fazer com meu tempo livre. Quer me acompanhar?

Para sua surpresa, ela nem mesmo hesitou.

— Com certeza. Mas vai passar o dia de camisola?

Ambas olharam para o pedaço de seda que a cobria, mal, para dizer o mínimo. Para Lis, ou os pijamas eram de manga longa e calça (extremamente infantis, importante ressaltar), ou extremamente curtos e cheios de renda. Não existia meio termo. E não existiam pijamas de flanela na corte francesa.

— Estou seriamente cogitando... — mas então o cheiro de fumaça a atingiu de novo. Estava fedendo, mesmo que tivesse tomado um banho de madrugada, mesmo que as roupas com que saiu estivessem trancadas no fundo falso do baú. Parecia qur saíra de um churrasco — É... Acho que vou tomar um banho. Esse cheiro de fumaça está impregnado em mim. Aliás, sabe de onde vem isso?

Kaleen fez que não, dando de ombros.

— Provavelmente queimando lenha por algum motivo. Não é exatamente incomum — ela fez muito bem seu papel de "é, deve ser", e entrou no banheiro para se livrar daquele cheiro.

Descobriu que o cabelo de Kaleen era ótimo para fazer penteados. Antes do almoço, já havia feito três diferentes, e naquele momento, trançava as mechas em uma coroa que fazia a volta em sua cabeça, enquanto a outra lhe dava, vez por outra, pedaços do bolo de chocolate que estavam devorando. Ela sempre sentia muita vontade de comer chocolate naqueles períodos do mês, mas, misericordiosamente, as cólicas não haviam dado as caras outra vez.

Se fechasse os olhos e apenas ouvisse a amiga falar (mais tagarela do que nunca havia visto), Lis podia até mesmo esquecer o motivo se estar ali. O que aconteceria no dia seguinte. Não, ela não ia pensar naquilo. Não ia pensar na tensão que se instalara no seu coração, ou na mínima esperança de que seu tio tivesse recebido sua mensagem. Não ia.

Sem se importar em bater, alguém abriu a porta, e Lis viu a preocupação de Nikolai se tornar surpresa, vendo as garota sentadas na cama, rindo e conversando. Foi apenas o tempo de ela prender a última presilha na trança, e o garoto entrou no quarto, as sobrancelhas franzidas.

— O que estão fazendo?

— Minha despedida de solteira — ela deu de ombros, sentindo-se mais leve do que em dias. Se perguntou se ele sentiu a mudança, também. Nikolai sorriu levemente, olhando da irmã para a noiva, então fixou os olhos dourados nos azuis.

— Preciso falar com você — ele mordeu o lábio inferior, e Lis percebeu como estava nervoso — a sós.

Antes que ela pudesse dizer algo, Kaleen levantou da cama.

— Vou ver por que nosso almoço está demorando. Vocês tem quinze minutos — e deslizou, fechando a porta suavemente.

— Aconteceu alguma coisa, Nik? — ele assentiu, nervoso, e sentou na cama ao lado dela. Por instinto, ela recuou alguns centímetros, mas ele não pareceu reparar.

— Os dragões, Lis — ela franziu a testa, confusa — Eles se foram. Todos eles. Fugiram. Colocaram fogo em tudo. Três dos nossos homens morreram — a surpresa ficou menos fingida quando ouviu sobre as mortes, e só para compor o papel, segurou no ombro dele.

— Eu... Como aconteceu? Eu.. sinto muito, pelos homens, quero dizer — ele assentiu tristemente, e se afastou dela, encarando-a nos olhos.

— Você ficou a noite inteira no quarto, não ficou?

Lis fez a sua melhor expressão de "está desconfiando de mim?" enquanto respondia afirmativamente sua pergunta.

— Ótimo — ele disse em um suspiro, sem nem reparar na expressão dela — Eu vou ter que dizer que te levei lá, e não quero que eles venham te interrogar. O álibi dos guardas deve ser suficiente para te descartarem e não te incomodarem.

Ela percebeu, tanto pelas palavras, quanto pela postura, que ele acreditava piamente que ela não havia feito, que não faria, aquilo. Isso a fez quase se sentir culpada por quebrar tamanha confiança. Quase. Ela não disse nada enquanto ele examinava o quarto, olhando para os doces que ela e sua irmã haviam devorado.

— Obrigado — ela inclinou a cabeça em uma pergunta silenciosa — Nunca vi a Kaleen tão feliz. Você faz bem a ela.

O sorriso que deu não foi fingido. Estava realmente começando a se apegar àquela garota.

— Confesso que estou surpresa com o potencial de sociabilidade dela — eles riram — Ela é legal.

— Sim, eu estava pensando... — ela arqueou uma sobrancelha — Seu avô nos deu aquele terreno, aquela casa para morarmos depois do casamento — aquelas palavras a fizeram se sentir nervosa, mas ela ignorou — Eu podia levá-la com a gente. Tirar ela daqui.

Lis assentiu, séria.

— Você devia fazer isso. Tirar ela daqui — esperava que ele entendesse as entrelinhas em suas palavras. Ele não pôde respondê-la, no entanto, pois Kaleen abriu a porta, acompanhada de dois criados que traziam bandejas que deviam ser seus almoços. Os dois se levantaram.

— Vou deixar as duas. Aproveitem o dia — Lis não recuou quando ele deixou um beijo em sua bochecha, e sorriu quando o viu beijar a testa da Kaleen. Os criados deixaram a comida na mesa.

— Venha, Kaly. Vamos comer até darmos trabalho para entrar nos vestidos amanhã.

***

Ela não ia conseguir dormir aquela noite. Merlin sabia o quanto ela havia tentado, mas tudo o que conseguia fazer era contar os tic-tacs do relógio, sentindo seu tempo se esvair. Tudo podia dar muito errado amanhã, mas também podia dar um pouco certo. O nervosismo a fez se levantar, sem conseguir respirar.

Enquanto se olhava no espelho, vendo o colar que permanecia perpetuamente negro em seu pescoço, ela tomou uma decisão irresponsável. Foram precisos apenas alguns minutos para vestir as roupas que usara na noite anterior. Elas ainda fediam a fumaça. Então pegou a capa da invisibilidade.

Teria que dar um jeito de devolvê-la ao James, caso tudo desse errado.

Espantando esses pensamentos da mente, saiu para um último passeio. Independente do que acontecesse amanhã, aquela seria sua última noite naquele castelo. E ela precisava muito fazer uma coisa.

***

As masmorras ficaram tediosas depois de um tempo. Às vezes Jean conseguia soltá-lo durante a noite, para uma volta no bosque, vigiado. Às vezes ele lhe trazia livros; James nunca havia lido tantos livros na vida de uma só vez. Mas ainda assim, era como se existisse uma contagem regressiva; ele sentia isso, sentia a pressão na pele e na alma, só queria saber o porquê.

Quando acordou aquela noite, o lugar estava vazio. A cela devidamente trancada, mas... Nenhum guarda. Ele não era bobo de achar que estava mais seguro daquele jeito. Ouvira Arcturo, sabia que, caso o Lorde Pelletier quisesse, nem vivo ele estaria mais. Esse pensamento o fez estremecer.

Não ajudou que ele ouvisse passos. Não eram os passos pesados e cadenciados dos soldados; eram leves, como se apenas roçassem o piso de pedra, e hesitantes, como se não quisesse entrar ali. Ele recuou quando percebeu a pessoa entrando na antecâmara, e não sabia se o que viu devia alarmá-lo ou tranquilizá-lo.

Ele nunca a vira tão cansada na vida. Nem tão magra. Uma parte dentro de si rosnou ao ver como o vestido sobrava em seu quadril e cintura, como suas maçãs do rosto estavam proeminentes e as bochechas, fundas e levemente cavadas.  Era uma mudança grande para aqueles poucos dias. Nao conseguia se lembrar se ela parecia tão abatida na última vez que se viram. As manchas sob seus olhos estavam mais fundas, também. Ela cheirava a fumaça.

Lis se aproximou, os passos vacilantes, as mãos tremendo. Parou a cinquenta centímetros das grades. Ele estava há pelo menos dois metros. Ela mordia os lábios, e ele não sabia se era a falta de luz ou se eles estavam realmente tão sem cor quanto ele via.

— James...

— O que você quer? — a voz dele era impaciente, mas ela não recuou diante do tom agressivo.

— Eu.. — ela pressionou uma mão contra a outra, os pés oscilando de nervosismo — Eu vim ver como você está, e.. — ela olhou para a porta, como se ouvisse algo, e a mão direita foi direto para a clavícula, fazendo-o perceber que o colar, talvez o que ele dera, estava sob as roupas — James — ela repetiu, e sua voz ficou chorosa — Se.. se tudo der errado, eu só queria...

Ele não sabia o que a própria expressão dizia naquele momento, mas um olhar rápido dela para ele, e ela se calou, os olhos arregalados, e então balançou a cabeça.

— Quer saber? Deixa pra lá — sua voz estava tão sem vida, que ele se assustou — Só.. se cuida, James.

Ela se virou antes que ele conseguisse registrar o que a garota dissera, e estava quase na porta quando ele a chamou.

— Ei! Lis! O que você ia me dizer? — ela não se virou para ele, mas parecia estar tremendo — Ora, vamos. Você me deve pelo menos isso.

Ele não soube o motivo, mas aquelas palavras a fizeram virar de vez, os cabelos curtos voando à pouca luz. Seu olhos estavam tristes de uma forma que fez o estômago dele revirar.

— Eu não te devo nada, James. Não mesmo.

Tão rápido quanto chegara, seus pés a levaram embora, e James ficou com uma sensação estranha, pior do que a do começo da noite, de que a contagem regressiva havia chegado ao fim.


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Notas finais do capítulo

Oie! Still Alive está quase chegando ao final, mas não vai terminar quando o último capítulo for postado. Já estou postando a série de contos Dreams of Still Alive. Já temos três capítulos postados e a cada mês postarei mais um até um pouco depois de Still Alive acabar.

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