White Room escrita por Kev1n


Capítulo 4
Cicatrizes e Sonhos


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, precisava organizar as ideias, fazer algumas ligações e pensar em como explodir algumas cabeças.



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Após Freddie e Luke me puxarem, a cena se passou tão rapidamente que não sei por onde andamos para chegar ao vestiário. Luke ficou guardando a porta do lado de fora e Freddie entrou para me ajudar.

— Qual o número do seu quarto? — Ele pergunta enquanto se dirige para uma caixa com várias toalhas e do lado uma caixa com várias roupas.

— 243 — Respondo lentamente tentando processar tudo que tinha acontecido até ali.

Freddie pega uma toalha, uma blusa branca com a linha preta e a calça preta com a linha branca. Ele me entrega a toalha e me dirige para um sala ao lado dos armários onde tinha vários boxes de banheiros apenas com chuveiros. Ele me empurra para dentro do box e liga o chuveiro e sai fechando a porta me deixando sozinho com os meus pensamentos. Jogo a toalha deixando ela suspensa em cima da porta e deixo a água do chuveiro cair na minha cabeça e escorrer pelo corpo enquanto pensamentos invadem minha mente.

“Quem sou eu?”

“O que sou eu?”

“Qual a minha história?”

“Quem são meus pais?”

Após algum tempo deixando a água cair em mim, começo a realmente tomar banho, e ao passar minha mãos pelo meu corpo vou sentindo todas as marcas e cicatrizes em meus dedos, alguns ainda são recentes e me fazem ter arrepios. Desligo o chuveiro, pego a toalha e me enxugo, lenta e cuidadosamente, enrolo ela em minha cintura e saio do box vendo Freddie me esperando sentado num banco em frente a alguns armários.

— Vou deixar você sozinho enquanto se arruma. — Ele fala parecendo estar triste, como se ele tivesse descoberto algo assustador. — Coloquei sua roupa no banco em frente ao teu armário. — Ele dá uma pequena pausa. — 243. — Ele se levanta e se dirige a porta que dá acesso ao lado de fora do vestiário. — Se precisar de ajuda é só chamar. — Aceno com a cabeça e ele sai da sala.

Procuro meu armário. 240, 241, 242, 243. O armário de metal é comprido e fino, há uma pequena abertura na porta, coloco minha mão e sinto um botão em cima, empurro-o e a porta se abre. No outro lado da porta há um espelho e dentro do armário há coisas sobre mim, como fotos que eu não lembro de ter tirado, cartas nas quais foram escritas por ou para mim, isso tudo é muito estranho.

Fico me olhando pelo espelho, vejo com mais atenção as marcas e cicatrizes, tocando elas levemente. Ergo meu pescoço vendo as manchas vermelhas e percebo como é o meu corpo, nunca notei muito meu corpo, não gostava de me ver, sempre pensei que nunca fosse gostar.

Pele pálida, além de marcas, cicatrizes e arranhões, há também vários sinais espalhados pelo corpo, cabelos de cor escura meio longos, olhos azuis como o mar. Meu corpo é trabalhado, mas não sei como isso é possível, nunca malhei ou fiz algum exercício físico, o que me faz questionar ainda mais quem eu sou e qual a minha história.

Deixo tudo de lado, visto a calça e logo depois a blusa. Olho para dentro do armário e percebo que há entre as fotos e as cartas, um relógio digital e uma tesoura. Será que isso tem alguma coisa a ver com Kenny e Martha? Provavelmente. Pego a tesoura com a mão direita, me dirijo ao espelho vendo meu reflexo. Com a mão esquerda eu pego uma mecha de cabelo e seguro-a, com a tesoura e corto a mecha. Isso se repete outra vez, e outra vez, faço esse ato até meu cabelo ficar mais curto, parecido com o de Freddie.

Coloco a tesoura de volta no armário, pego o relógio e o coloco no pulso esquerdo. Com as duas mãos, bagunço o cabelo, tirando alguns fios que sobraram do corte. Fecho o armário e pego a toalha, num espaço na parede há uma pequena entrada com um tudo vertical e uma placa em cima dizendo. “Jogue sua toalha e sua roupa usada aqui.”. Jogo a toalha e a blusa, logo em seguida a calça molhada que por capricho ou simples preguiça não tirei durante o banho.

Saio do vestiário e fico feliz por não ter atrapalhado ninguém, pois quando saí, apenas Freddie e Luke estavam lá, me esperando. Eles me acompanham até meu quarto, agradeço e me despeço. Olho para o relógio. 22h. Eu penso em tudo que aconteceu hoje, nos fatos, nos acontecimentos, nas pessoas, nos lugares, era tudo tão familiar, mas tudo tão... estranho, como lembranças apagadas, talvez Kenny tenha feito isso comigo e fico confuso por isso. Apago a luz, me deito na cama e fico olhando para a escuridão enquanto espero o sono vir, meus olhos pesam e finalmente adormeço.

[...]

Estava num lugar estranho, vendo pessoas estranhas. Vejo um garoto correndo pelo lugar, ele era parecido comigo, mesmo cor de cabelo, olhos e o jeito de correr. Então que percebo que era eu e aquele lugar era a CPA. Mas como isso pode acontecer? O garoto tem a aparência de ter 10 ou 11 anos e lembro claramente de... Mas como? Eu não lembro, o que aconteceu comigo?

O menino fica correndo. Uma voz surge atrás de mim, eu me viro e um homem de aparência adulta, mais ou menos de 30 anos.

— Papai. — O garoto, que sou eu, corre em direção ao homem e pula em sua direção, o homem por sua vez agarra o menino e o gira no ar e logo depois o abraça e dá vários beijos na bochecha e o pequeno dar uma risada e balança as pernas.

— Está pronto garotão? — O homem pergunta ao garoto colocando-o no chão e se agachando.

— Estou sim papai. — O garoto responde com entusiasmo e o pai bagunça seu cabelo.

Só depois percebo como o pai do garoto, que seria o meu pai, está vestido, um jaleco branco comprido uma calça branca feita do mesmo tecido do jaleco. O homem leva o menino até uma máquina com uma cadeira no meio e o coloca sentado nela e prende seus braços e suas pernas, ele dá um beija na testa do garoto e logo depois sai da sala adentrando uma sala totalmente diferente.

Essa sala possuía várias telas com batimentos cardíacos, ondas neurais, fluxos sanguíneos, além de vários outros esquemas do corpo humano, havia também computadores em toda a sala e cientistas sentados em frente à eles digitando algo como se fossem códigos, numa das paredes da sala tinha um enorme vidro que mostrava o interior da sala que continha a máquina na qual o garoto estava sentado, mas eu não lembro de tê-lo visto do interior da sala, é quando me toco que o vidro que você pode ver o que tem do outro lado, mas o outro lado não pode ver você, igual aqueles que os policiais usam em interrogatórios.

— Você sabe que isso é muito arriscado, não sabe John? — Um cientista pergunta enquanto digita algo e troca a visão do teclado para a tela do computador.

— Sim, eu sei disso. — Diz o homem abaixando a cabeça, John, esse é o nome do meu pai. — Mas isso é tudo em nome da ciência. — Uma raiva sobe pelo corpo e fecho minhas mãos em punhos, como ele pôde fazer isso? Arriscar a vida do próprio filho, em nome de algo que ele nem mesmo sabe se é certo ou não.

— Estão todos prontos? — Diz uma mulher ao entrar na sala, ela me parece familiar.

— Sim. — Todos os cientistas falam gradativamente.

— Então. — Ela dá alguns passos pra frente ficando totalmente de frente para o vidro. — Que comece o experimento 567. — Um sorriso fino é estampado em seu rosto.

— Experimento número 567 iniciando, 3%. — Uma voz mecânica como a de um robô fala, será que seria essa voz a CPA?

— Batimentos cardíacos? — A mulher pergunta.

— Ótimos. — Uma outra cientista responde.

— Ondas neurais?

— Em perfeito estado. — O homem John responde.

— Fluxo sanguíneo?

— Acelerado. — Diz um cientista enquanto mexe em seus óculos. — Provavelmente a cobaia está nervosa ou com medo.

— Cobaia? Ele é meu filho e merece respeito. — John diz para o cientista, que não lhe responde nada.

— Aumentem a força. — A mulher ordena.

— Aumentando a força........ Força duplicada. — A voz robótica diz. — Experimento número 567 iniciando, 15%. — A máquina ao redor do garoto começa a girar lentamente e uma luz branca é emanada de suas partes móveis.

— Batimentos cardíacos acelerados. — Diz o cientista que me chamou de cobaia.

— Está tudo ótimo, mantenham assim. — A mulher diz calma e friamente, como se não se importasse com a vida da criança.

— Experimento número 567 iniciando, 24%. — A máquina começa a aumentar a velocidade do giro e o brilho branco fica mais forte.

Um alarme bipa repetidas vezes embaixo da tela que mostra as ondas neurais, uma das cientistas se levanta e vai até a tela.

— Ondas neurais alteradas.

— De quanto? — A mulher pergunta desviando o olhar para a tela.

— Isso... é incrível.

— Quanto? — Ela pergunta rigidamente.

— Aumento de mais 5%.

— Aumentem a força. — A mulher ordena com um ar de satisfação.

— Aumentando a força.......... Força triplicada. Experimento número 567 iniciando, 47%. — A máquina começa a girar tão rapidamente que estimo ela ter ultrapassado a barreira do som, o brilho branco vai aumentando cada vez mais e o garoto quase não consegue ser visto, um expressão de medo toma seu rosto e ele abre a boca, provavelmente gritando, mas o vidro impede o som.

— Batimentos cardíacos acelerados, muito acelerados. — Diz John.

— Mantenham o processo. — A mulher ordena lançando um olhar para aquela máquina. — Vamos, resista, resista, por favor. — Diz ela quase num sussurro.

— Experimento número 567 iniciando, 60%. — Um barulho como se fosse um turbina ligada pode ser ouvido com facilidade.

— Ondas neurais aumentadas em mais 3%. Totalizando 18% da capacidade cerebral usada. — Diz a cientista vendo as notas na tela.

— Aumentem mais a força.

— Mas senhora isso é extremamente perigoso, a máquina pode não suportar. — Diz um dos cientistas com um ar de preocupação.

— Eu não estou pedindo, eu estou mandando. — Diz a mulher lançando um olhar petrificante.

— Aumentando a força.......... Força quadruplicada. Experimento número 567 iniciando, 83%. — O barulho de turbina aumenta mais e o vidro começa a tremer.

— Batimentos cardíacos desestabilizados. — Diz John.

A mulher não responde.

— Batimentos cardíacos desestabilizados. — Ele repete irritado e a mulher continua em silêncio. — Você vai matar o meu filho, desliga essa merda agora. — Ele grita.

— Quem manda aqui sou eu, e você deve me obedecer a qualquer custo, devo-lhe lembrar que foi você que comprometeu a vida do seu filho, não eu. — Ela diz sem nem mudar o olho.

— Experimento número 567 iniciando, 90%. — O vidro começa a rachar e logo se quebra, fazendo o barulho de turbina ficar muito grande, o brilho é tão grande que não consigo enxergar e tapo os olhos, a sala começa a tremer quase me fazendo cair no chão.

— ERRO ERRO ERRO ABORTAR EXPERIMENTO ABORTAR EXPERIMENTO. — A voz robótica diz inúmeras vezes sem parar.

— Não abortar. — A mulher grita tentando sobrepor o barulho da turbina.

— Experimento número 567 iniciando, 95%. SISTEMA INSTÁVEL SISTEMA INSTÁVEL SISTEMA INSTÁVEL.

— Que se dane essa merda, eu vou sair daqui. — Um dos cientistas fala e sai da sala correndo e logo outros cientistas saem também, eu não consigo ver quantos cientistas sobraram, não ouso tirar a mão dos meus olhos.

— Experimento número 567 iniciando, 99%. PERIGO PERIGO PERIGO PERIGO.

— O que está aconte... — A mulher grita por entre o barulho da turbina, mas uma explosão a interrompe, sou jogado para o lado batendo contra uma parede e desmaiando.

[...]

Acordo e ainda estou no meu sonho, será que isso é possível? Me levanto e vejo que todo aquele lugar está destruído, os raios de sol iluminam aquele lugar. Por toda parte há pedras e partes de paredes caídas no chão. Encontro a máquina, destruída, e o garoto, a alguns metros dela. Ouço um barulho, é a mulher erguendo uma parte da parede que prendia ela.

A mulher se levanta, ela anda até um computador que por incrível que pareça, mesmo quebrado continua operando. Ela aperta o botão e fala ao microfone.

— Relatório do experimento número 567. — Ela fala e tosse logo em seguida.

— Experimento número 567 iniciado 100% com sucesso. — A voz robótica responde de algum alto-falante perto dali.

— Dados da cobaia. — Ela fala e tosse mais uma vez.

— Dados neurais totalizando 25%, batimentos cardíacos fraco, fluxo sanguíneo estável, o experimento número 567 está pronto e operando, dentro de 3 meses as primeiras habilidades começarão a aparecer, notas sobre sua capacidade está salva no seguinte endereço de email. — Um endereço de email aparece na tela do computador, provavelmente é o da mulher.

— Excelente. — A mulher fala baixo e dá um sorriso, alguém gemendo e tossindo é ouvido em algum lugar, ela encontra John jogado no chão com um pedaço de metal cravado em sua barriga.

— John, calma, vai dar tudo certo. — Ela tenta acalmá-lo.

— Não... — Ele tosse. — Pra mim já deu.

— Não, eu vou chamar uma ambulância. — Ela procura pelo celular, suas mãos tremendo, mas não o encontra.

— Não, chegou a minha hora. — Ela segura a mão dele com força.

— Isso não pode acabar assim John, o que a Martha diria? — A mulher fala por entre choros. Martha? Seria a mesma Martha da instalação? Não pode ser.

— Ela sabe que eu fiz o possível para salvar nosso filho e ficaria feliz com isso. — Meu chão desaparece e desabo, Martha... é minha mãe, não pode ser.

— John... O experimento foi um sucesso, o filho de vocês dois está vivo. — Ela fala sorrindo deixando lágrimas rolarem.

— Se Martha estivesse aqui tenho certeza que ela ficaria orgulhosa de nós. — John fala.

— Sim. — Ela limpa os olhos, mas isso não resolve e mais lágrimas caem. — Ela ficaria.

— Alice... prometa uma coisa para mim. — Alice... seria? Meu Deus, como pode?

— Qualquer coisa John. — Ela responde.

— Cuide do Jake, treine ele e não deixe ele ser corrompido por aquela instalação que matou a Martha e sequestra as crianças dos nossos testes. — Meu estômago se revira, Martha realmente é minha mãe, Alice que me levou para aquele Centro de Pesquisas e ela esteve comigo desde o início, mas... por que Martha fingiria ter morrido, ainda mais pela instalação? A não ser que Martha não apoiasse a ideia de crianças serem cobaias e queria ajudar elas, tudo faz sentido agora.

— Eu vou John, eu vou. — Ele não fala mais nada, Alice leva sua mão até o rosto de John e fecha seus olhos. Ela anda até o garoto, que sou eu, me levanta e me carrega.

Acordo do sonho exaltado, estou na Sala de Treinamento, no chão com todos me olhando, estou suando.

— O que? Como? Por que? — Falo quando fico sentado. July vai até mim, me ajuda a levantar e me segura para eu não cair.

— Tá tudo bem Jake? — Ela pergunta. 

— O que foi que aconteceu? — Pergunto assustado.

— Você passou mal no teste, você desmaiou do nada. Tá tudo bem contigo? — Ela pergunta mais uma vez.

— Eu preciso. — Engulo em seco. — Eu preciso falar com... a Martha.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, acompanhem a fic e não esqueçam de comentar.



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