Este ano o natal vai estar cheio escrita por Segunda Estrela


Capítulo 12
O Capítulo Perdido


Notas iniciais do capítulo

Há, quem esperava por essa?
Eu até pensei que seria cômico esperar o Episódio 9 lançar e pensar que essa fanfic foi escrita no decorrer dos três filmes. Mas não, o J.J. Abrams deve matar Reylo (Se fosse o Ryan Johnson ainda, eles pelo menos dariam uns beijinhos), ou matar o Kylo Ren mesmo, mas aí ia ficar estranho ler fanfics bestas de natal.
Eu senti falta dos comentários, isso que me fez terminar, vocês alegram minha vidinha meio merda.



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A Falcon deslizava suavemente pela pista, transformando o cenário em um borrão. Se o carro pudesse falar, provavelmente se lembraria do passado: 

“Eu sinto falta dos dias de corrida, hoje em dia sou limitada a 100km/h em estradas e rodovias. Estou aguentando a bunda pesada desse garoto no meu assento, e a óbvia insegurança dele ao dirigir um carro com essa potência.” 

É claro, tudo hipoteticamente, já que carros são incapazes de pensamento racional. 

Kylo Ren dirigia com os nós dos dedos brancos, segurando firme o volante. Teria dado tudo para dirigir o carro do pai para a escola nos seus tempos de adolescente, e impressionar as garotas que o zoavam por ter emoções fortes, como gostava de repetir para si mesmo. Agora, se limitava a apreciar a velocidade do motor e a maciez dos bancos enquanto se preocupava mais com outra coisa.  

Quando ligou para sua mãe, bastou um toque para que ela atendesse, e se satisfez em pensar que a mulher estava preocupada por seu súbito desaparecimento. 

— Ben? 

— Oi, mãe. A Rey foi embora? 

Houve uma hesitação antes da senhora responder. Enquanto isso, Kylo Ren se pegou divagando sobre uma corrida dramática até o aeroporto. Pulando entre as malas e turistas, implorando para uma comissária de bordo deixá-lo passar pelo guiché. Um discurso romântico e exagerado de desculpas na frente de desconhecidos comoveria a garota, tinha certeza. Não que tivesse a intenção de fazer algo romântico, todo esse ato teatral vinha apenas de uma vontade de se redimir. E repetia isso muitas vezes para si mesmo tentando se convencer. 

É claro que toda essa sua fantasia era impossível, já que não havia um aeroporto na cidade. 

— Por que quer que eu te diga? Tem a intenção de se desculpar? – A voz da senhora era firme, e não permitia rodeios ao responder. 

O rapaz teve sua vez de hesitar. Não estava apenas temeroso de encontrar Rey, estava envergonhado, e não sabia como alguém como ela poderia desculpá-lo. 

— Eu me sinto horrível pelo que fiz ela passar. Mesmo que a Rey não me perdoe, eu não posso deixá-la ir embora se sentindo humilhada. 

Ficou impressionado consigo mesmo ao mostrar tanta gentileza com a garota. Sim, ela definitivamente iria desculpá-lo. Não haveria outra escolha depois de todo o sacrifício que estava disposto a fazer. Isso era o que repetia na sua mente, mesmo não tendo toda essa certeza de que era verdade. 

— Tudo bem, mas você trate de consertar as coisas. Rey foi para um motel porque estava tarde, eu insisti para me deixar pagar um lugar decente para passar a noite, mas ela recusou. Vou te mandar o endereço. 

— Ok. – E sentindo falta de algo, concluiu - E mãe... Obrigado. 

— Faça a coisa certa. 

Não demorou mais de trinta minutos para chegar ao pequeno motel de beira de estrada. As placas exageradas avisavam que haviam vagas, e o nome 666 do motel afugentava qualquer um que pensava em ficar. 

A cidade era de cumeeiras e montes, e de toda a estrada até o final do município, ali era quando começava a parecer habitada. Nada parecido com o pequeno chalé que ia com os pais, mas uma cidade propriamente dita. Suja, cinza e bruta.  

Detestou pensar em Rey sozinha em um quarto daqueles, era o tipo de barraco que aparecia nos noticiários. E tinha certeza que tinha visto um gambá morto perto da entrada. 

Assim que estacionou o carro e passou pelas portas de correr, evitando o gambá, foi recebido com luzes fluorescente amareladas e paredes brancas se esforçando para não descascarem por completo. Primeiro, ficou surpreso, parecia menos chiqueiro do lado de dentro. Só um pouco. 

Atrás do balcão, havia um homem de coturnos de couro preto apoiados no balcão, os cabelos tinham mechas loiras como um cantor dos Backstreet Boys, e estava lendo uma Vogue Italiana. 

Se aproximando do desconhecido, Kylo Ren teve que pigarrear algumas vezes para chamar sua atenção. 

— Boa noite, como posso servi-lo? – Disse o jovem, sem desviar seu olhar, passando vagarosamente mais uma página. 

— Eu vim encontrar uma pessoa, se puder me dizer em que quarto está. 

O jovem abaixou a revista e olhou bem para o homem alto, como se analisasse cada pedaço seu. 

— Querido, só posso te deixar entrar se tiver vindo pra um serviço. 

— Serviço? 

— Não se preocupe. Eu não julgo. 

— Não! Eu tô atrás de uma garota. 

— Olha, eu não gosto de fofocas, pessoalmente. Se você estiver atrás da sua namorada, não posso fazer nada. Semana passada um casal veio se hospedar aqui pra dar uns amassos, se é que me entende. O problema é que não vieram um com o outro. – Então, começou a rir exageradamente. – Foi um constrangimento! Depois de 1 hora de discussão, eu decidi ligar para a polícia. 

— Depois de 1 hora? 

— Claro, depois disso a briga começou a ficar chata.  – O rapaz se aproximou dele como se conspirasse. - E eu acho que era a prefeita, não tinha muito como saber, ela estava usando mais maquiagem do que uma drag queen, só que uma drag queen feia, o que você deve saber que é difícil de encontrar. Sabe quando gente velha usa muita maquiagem e a cara fica meio rachada e não se mexe direito? 

Kylo Ren olhou para o atendente, confuso e meio horrorizado, e não soube o que responder. Não que isso fosse impedir o rapaz. 

— Bem, ela estava assim. Mas não conte pra ninguém, eu não gosto de fofoca. 

Depois de um constrangedor silêncio, só para Kylo Ren, o desconhecido parecia à vontade, o homem mais alto decidiu responder: 

— Ok, eu não tô nem aí. Preciso encontrar essa garota. 

Finalmente, o homem de mexas loiras fechou a revista, e deu uma analisada profunda de cima a baixo na figura de cabelos negros do outro lado do balcão. 

— Tá bem, como é essa garota? 

Kylo Ren repirou fundo, como descreveria a Rey? A única pessoa que viu algo de bom nele era um começo. 

— Ela é a pessoa mais gentil e corajosa que eu já conheci.  No momento em que ela entra em uma sala, você sente tudo mudar, porque ela irradia uma luz que toca todos ao seu redor. E ela tem o sorriso mais bonito do mundo, é impossível não se sentir um pouco mais feliz quando ela dá uma risada, é como... 

— Tá tendendo ser engraçado? É isso que você tá tentando fazer? Eu preciso de uma descrição física. Eu não saio por aí sendo tocado pela aura das pessoas. 

Ben colocou uma mão enorme no rosto, para esconder seu embaraço. É claro que ele entendeu errado, era o que fazia, passava a vida entendendo tudo errado. Se sentiu meio patético de ter se aberto para um estranho. 

— Ela tem cabelo castanho curto, olhos que parecem escuros, mas ganham um brilho verde na luz. Tem uma voz suave, mas um sotaque forte. 

O loiro na sua frente batia uma caneta entre os dedos e não parecia impressionado. 

— O que mais? 

— Ela tem um nariz pontudo, o rosto é um pouco quadrado. – Ben deu uma risada para si mesmo. – Ela também é um pouco desengonçada, quando fica parada abre os braços de um jeito estranho e às vezes age como se fosse um garoto. 

Com as sobrancelhas erguidas, o atendente de um longo suspiro e fez uma pausa exagerada. 

— Eu tava te zoando, a gente só tem um hóspede hoje. Ela tá ali do lado de fora. 

Kylo Ren se inflamou, e por um segundo pensou em gritar com o rapaz e fazê-lo se arrepender de o ter feito perder tempo. Mas esse sentimento passou quase instantaneamente, porque olhou para a porta de vidro que ele apontava. 

— Obrigado. – Ele murmurou baixo como um agradecimento que não queria ser ouvido. 

— Tudo bem, você me lembra meu namorado. Meio rude, mas no fundo é uma pessoa gentil. 

— Bom, espero que tudo dê certo para vocês, então. 

— Ah, não. A gente terminou, eu não tenho paciência pra esse tipo de coisa. Vamos torcer pra sua garota ser diferente, não é? 

Kylo fez uma careta, a breve simpatia que tomou por ele evaporou. Mas não teve tempo de deixar que ele soubesse, porque estava focado na porta a direita da entrada, onde Rey estaria. 

Foi andando com passos vagarosos, a coragem de antes sumindo devagar. Se ela não o perdoasse, o que iria fazer? Bem, ele não tinha muita escolha, era se resignar e seguir com sua vida, mesmo que não quisesse. No fim das contas, por que estava fazendo tudo isso por ela? Ficou evitando a resposta por mais tempo do que devia, mas agora não tinha mais escolha. 

Abriu a porta de vidro, e viu a jovem em pé no frio, em um pequeno pátio, com um longo casaco por cima do pijama, os cabelos soltos e bagunçados em volta do rosto, os fios batendo em suas bochechas com o vento. Ela estava bonita. 

Foi então que percebeu que a garota estava fumando um cigarro. 

— O quê? Você fuma? – Foi a primeira coisa que saiu da sua boca do homem. 

A garota olhou para ele com surpresa, por ele estar ali e por estar questionando suas decisões antes mesmo de falar qualquer coisa. 

— E daí? Você também fuma. – Foi a única resposta que conseguiu dar, com um misto de desafio e irritação. 

— Eu sei, mas eu faço coisas idiotas o tempo inteiro. 

Ainda naquele estado de surpresa, Rey olhou para ele sem saber o que fazer.  

— Eu só fumo quando tê nervosa, tá bem? - Ela se irritou por tentar se justificar. - Isso não importa. O que você tá fazendo aqui? 

Kylo Ren tremeu com a sobriedade em sua voz, era distante. Colocou suas mãos para dentro do casaco e olhou para o chão, não conseguia lutar contra o olhar inquisidor dela. Talvez fosse a única pessoa que conseguia deixá-lo completamente sem ação. Ben sabia que merecia isso, no fundo sabia. 

Aqui estava ele, patético e pequeno mais uma vez diante daquele brilhante raio de sol que não fazia parte do seu mundo. Não podia dizer que a culpava, ele também teria desistido de si mesmo. Não queria obrigá-la a ouvir qualquer bobagem que tinha para dizer, não merecia seu perdão. Só desejava não a ter magoado tanto. 

— Sinto muito, eu vou deixar você em paz. Prometo que só vou falar o que eu preciso e vou embora. 

A postura de Rey não suavizou, ela jogou o cigarro no lixo e o seguiu com olhos astutos. 

— Eu não consigo mais mentir para você. Não consigo mais ficar escondido atrás de manipulações maldosas como eu sempre faço. Eu tenho que ser honesto. – Respirou fundo, reunindo determinação e coragem. 

Rey torceu os dedos, seu coração batia acelerado, uma parte de si estava com medo do que ele ia dizer, não sabia o que esperar. 

— Você é a pessoa mais surpreendente que eu encontrei minha vida inteira. Eu admiro sua coragem, quando você luta por aquilo que acredita, mesmo que os outros não aprovem. Como quando me deu uma chance. Você é boa, boa de um jeito que eu não imaginei que ninguém podia ser. Você viu em mim algo que achei que não existia, por mais tolo que pareça. Fez eu achar que talvez, talvez eu não fosse mesmo um monstro. 

A garota não olhava para ele, tinha uma mão no rosto tapando sua expressão, o corpo virado para lado, mas ela estava ouvindo muito bem. Ouvia cada palavra, só não queria que ele percebesse sua expressão desolada, tentando esconder lágrimas traiçoeiras. 

Ben deu um passo temeroso em sua direção, levantando a mão, quase sem perceber. 

— E o pior de tudo é saber que eu magoei a única pessoa que eu não tinha intenção. Eu sei que eu sou um lixo, eu sei que você não merece nem estar perto de alguém como eu, mas eu não podia deixar você ir sem saber que eu não tive a intenção. 

Rey se virou agitada, seus olhos estavam mareados, suas sobrancelhas estavam torcidas com uma expressão triste e ao mesmo tempo irritada. 

— Não teve? Como pode dizer que não teve? Eu confiei em você, acreditei que existia mais aí dentro, mas eu estava errada. Me diz, quando você comprou aquela pá de lixo? Foi enquanto estávamos naquela loja, e eu estava distraída demais e feliz demais para notar? Foi depois? Droga, você me beijou depois que eu te contei sobre meu passado. – Ela agora parecia simplesmente irritada. 

— Você me beijou só por causa do visco. - Ren só conseguiu argumentar isso. 

Ela colocou as mãos na cabeça, incrédula e com raiva. Marchou de um lado para o outro tentando se acalmar. 

— Às vezes você é tão tonto! – No fundo, a garota não tinha a intenção ofender ninguém, mas não estava conseguindo conter aquelas emoções explosivas. 

— Eu sei. Eu sou a pessoa mais idiota, mais ridícula que você já conheceu. E se você nunca mais quiser me ver, eu vou entender, mas não posso deixar você ir embora achando que fiz isso porque queria te machucar. 

— Não mesmo, você não vai me enganar de novo. Eu vi você, e por algum motivo que nem sei explicar, eu gostei de você, gostei de verdade. E sei lá, achei que que talvez, só talvez, você gostasse de mim também. Mesmo eu sendo fraca, mesmo eu sendo tão diferente do tipo de pessoas com quem você convive. 

Aquela declaração o atingiu mais do que esperava. Não achou que ela poderia considerá-lo mais do que um pequeno projeto de natal, talvez, nos seus momentos mais otimistas, um amigo que beijou uma vez e que ia ser deixado de lado. E as palavras confessadas com tanta mágoa deram força para o homem, mais força do que acreditou ter tido em qualquer momento da sua vida. 

— Eu estou apaixonado por você, e acho que estou há muito tempo. 

A garota parou, olhando para ele incrédula enquanto o rapaz avançava mais alguns passos. Ela tentava entender a malícia por trás de toda aquela encenação, mas não estava conseguindo. 

— Eu comprei aquilo antes mesmo de ver você aqui. - Ele disse; 

A pausa foi longa e preocupante, esse era o momento que Kylo Ren esperara para se declarar, só queria que não fosse quando ela estivesse com tanta raiva dele. 

— Eu era o garoto que ia comprar peças na loja do Unkar Plutt, e ficava conversando com você. Eu sabia do seu passado há muito mais tempo. Quando eu te vi na faculdade com o tio Luke, eu te reconheci na hora. Não sei o que passou pela minha cabeça, mas eu fiquei tão decepcionado de você não se lembrar de mim, que quis te magoar do mesmo jeito. – Ele falava tudo em um supetão, para impedir que a coragem fugisse. – Eu sei que foi infantil e idiota, e eu nem pensei muito sobre isso. Quando começamos a falar de verdade, e eu conheci você agora, eu fiquei tão hipnotizado por tudo que acontecia que eu nem mesmo lembrei daquela porcaria de presente. 

A expressão no rosto de Rey era difícil de decifrar, não era surpresa ou raiva. Tinha um tom muito mais pesaroso, e talvez intrigado. Ela se aproximou devagar, como se observasse uma pessoa completamente nova surgir na sua frente. Em um movimento inesperado, ela tirou uma mecha de cabelo negra do rosto do homem na sua frente, abrindo cortinas para ver cada detalhe que podia ter perdido. 

— É você mesmo. – Sua voz era suave e triste. – Mas não pode ser, você era tão alegre. 

— Eu não tenho como me desculpar, eu sei que não mereço. Mas eu penso em você e me preocupo mais com você do que com qualquer outro agora. Se quiser, eu vou embora agora mesmo e juro que nunca mais vai precisar me ver, mas antes eu queria te dar uma coisa. 

Rey se afastou, olhando para ele com suspeita. 

Ben tirou do pescoço o pequeno colar de madeira, a única coisa que jovem a catadora de lixo se lembrava dele. 

Ela não soube explicar, mas aquilo trouxe lágrimas aos seus olhos. Era ele, era ele de verdade. Tão diferente do garoto esperançoso que conheceu, tão decepcionado e cínico. Quão terrivelmente ele devia sentir para que o mundo mudasse assim? 

— Quero que fique com ele. Meu avô fez para minha vó, e depois passou pra mim. 

— Não posso. – Disse ela, se afastando das mãos que entregavam o presente. 

— Por favor, você foi a única pessoa além dele que acreditou em mim por completo. Sei que pode não significar muito para você e talvez você jogue no fundo de uma gaveta, mas eu quero que você tenha. 

A garota pegou o pequeno colar entre seus dedos, os desenhos estranhos eram familiares. Como pode ter sido a única coisa que lembrava? 

— Eu lembro do seu avô. – Ela falou com surpresa, percebendo que a imagem só vinha a sua cabeça agora. - Ele tinha uma cicatriz no rosto e era gentil comigo. 

— Meu avô fez coisas ruins quando era jovem, mas achou uma família e pessoas que o amavam. Você também, você consegue juntar pessoas que a amam onde quer que vá. Talvez por isso eu não tenha achado que tinha uma chance com você. Fazer amigos não é uma habilidade minha, se não deu pra notar. 

Ben suspirou fundo. Ele queria muito segurar a mão dela, mas sabia que não era uma boa ideia. 

— Bom, eu disse. Disse que estou apaixonado por você. Eu nunca falei isso pra ninguém, eu sei, sou patético mesmo. Mas eu vou embora agora, como eu prometi. Só quero que saiba que é impossível qualquer um te odiar. 

Ren resignou-se sem uma resposta, e se virou para partir, tinha feito o que prometeu. Sua consciência ainda estava pesada, mas tinha tirado um peso ainda assim. Ia sentir muita falta da garota. 

A porta de vidro amarelada se abriu com facilidade, e já estava com um pé no hall de entrada do motel. 

— Eu acho que também estou apaixonada por você. – Rey disse à suas costas. 

Ben se virou, seu coração inflou com um sentimento quente de excitação. Primeiro, duvidou do que tivesse ouvido, mas a imagem dela corada na sua frente não parecia com raiva. 

Rey estava agitada, com os braços afastados do corpo exatamente como ele havia descrito para o balconista. Os cabelos embaraçados emoldurando seu rosto, voando com o vento. 

— Contra o meu melhor julgamento, contra o bom senso dos meus amigos, eu estou apaixonada por você. E você é rude, temperamental, tem dificuldade de ouvir críticas e mostra descaso pelo sentimento dos outros... 

Ele avançou com passos ansiosos na direção dela, ouvindo cada palavra para não se deixar enganar. 

— Ainda assim, é uma pessoa carinhosa, e no fundo é bom e caridoso. E eu estou apaixonada por você. – Rey continuou falando enquanto o via avançar, sua voz falhava. 

Nesse momento, Ben colocou suas mãos envolta da pequena cintura. O sentimento de poder segurá-la sem vergonha o tomava. Agora era impossível que estivesse ouvindo tudo errado. 

— Você gosta de mim, mesmo com todas as falhas? - A pergunta era tímida e apaixonada, e ele não conseguiu se impedir de fazê-la. 

— Bem, sim. - Dizia ela, tentando olhar para todos os lugares, menos para ele, tentando esconder sua vergonha. - Mas se você fizer algo parecido de novo comigo, eu juro que não vai ter perdão ou palavras que me emocionem. 

— Nunca mais. – Ele falou com um sussurro. 

E finalmente pode beijá-la sem receio, com toda a vontade que possuía, sem temer que o rejeitasse ou risse. Passava a mão por aqueles cabelos castanhos e o rosto cheio de sardas que adorava.  Precisava dela, precisava do amor dela mais que tudo. Beijou a ponta do seu nariz, seus cabelos e suas bochechas. E mesmo assim, achava que nunca poderia beijá-la o suficiente. 

Kylo sentia os lábios macios e rosados encontrarem os seus através de um sorriso, e ele a pegou pela cintura e a levantou com a maior facilidade. 

— Você não sabe o que fez. Eu nunca mais vou deixá-la ir.  

Rey riu para ele, pobre garoto triste. Esperava poder dividir o seu mundo com ele, nem que um pouco. Estava prestes a abrir a boca para falar, quando sua expressão se tornou surpresa e perturbada. 

Kylo seguiu seu olhar e viu o balconista de botas de couro parado um pouco adiante da porta de vidro. Seus olhos estavam concentrados, mas sua postura era relaxada enquanto se apoiava na parede e bebia um café, parecendo aproveitar o show. 

Ele nem mesmo se envergonhou ao ser flagrado, com a mesma expressão neutra, ele tomou um gole de café e levantou seu polegar em um sinal de aprovação. 

 

.................................. 

  

— Rey, dá pra você controlar seu namorado?  - Gritou Poe, esperando que ela ouvisse da outra sala. 

Rey colocou a cabeça na porta, com um sorriso torto no rosto. 

— Desculpa, eu não posso. É como se ele tivesse uma personalidade própria ou algo assim. 

Ben e Poe estavam sentados na cozinha da grande casa de inverno mais uma vez. A convivência no último ano foi bem mais constante do que estavam acostumados, e embora conseguissem raros momentos de tranquilidade, a relação entre os dois ainda era marcada com implicâncias divertidas. 

— Tudo bem, agora parem crianças – Disse Luke entrando com uma caçarola de comida. – Eu sei que vocês se amam, mas existem formas mais saudáveis de demonstrar. 

Ben bufou com a ousadia do seu tio. 

— Eu não estou nem perto de gostar desse piloto. – Reclamou o rapaz com escárnio. 

— Então porque gasta tanto do seu tempo com ele? – Retrucou o senhor mais velho. 

O jovem titubeou algumas palavras antes de desistir e sair com uma marcha autoritária. 

— Acho que ele está finalmente se abrindo para você. - O senhor comentou, colocando a caçarola no forno e largando as grandes luvas de cozinha rosa em cima da pia. 

— Eu também acho. – Observou Poe, conspirando com Luke. 

Ben foi andando para a sala, onde sua namorada estava sentada conversando com seu pai. Sentou-se ao lado dela cansado, passando uma mão cuidadosa sobre seu ombro. 

— Estão falando sobre o quê? – Ele perguntou, meio desinteressado. 

— Seu pai está contando histórias de quando era piloto. – Rey respondeu. 

— Ele não faz isso sempre? 

Han cruzou os braços, com uma expressão de quem não se importava. 

— Eu realmente achei que você ia dar um jeito nesse garoto, criança. 

— Ele é difícil, mas está progredindo bastante. – Rey falou e deu um beijo estalado no homem que a abraçava. 

Ben bufou, escondendo seu embaraço. Não estava acostumado a mostrar esse tipo de afeto na frente dos pais, e Rey não entendia. É claro que ele não ia reclamar. 

— Vocês falam como seu eu fosse um projeto e nem estivesse aqui. - Seu tom era jocoso. 

Rey abraçou o homem enorme de volta, com aquele sorriso que o iluminava para o resto do dia. Ah, como ele podia ficar só olhando para ela.  

— Estou orgulhosa. 

Ben deixou esse pensamento tomar conta dele, e deu um suspiro feliz, enquanto afundava no sofá com a garota em seus braços. 

Aos poucos as pessoas se sentaram ao redor da grande sala, todos do ano passado, menos Finn e Hux, estavam se juntando para o natal mais uma vez. Este natal tinha sido bem menos cheio de reviravoltas e surpresas, consideravelmente mais calmo. Ben estava definitivamente mais feliz, em parte pela notícia que ia dar.  

Ben esperou todos se acalmarem, precisava do seu momento dramático. 

— Eu tenho um anúncio para todos. – Enquanto falava, Rey se levantou e ficou ao seu lado, segurando sua mão. 

Quase todos se entreolharam, mas não pareciam exatamente ansiosos. Kylo Ren se levantava em protesto para dar discursos algumas vezes. 

— Vocês sabem, porque faço questão de repetir, o amor da Rey é o que eu mais prezo no mundo. 

Ele se virou para a jovem de olhos brilhantes, que o encarava com doçura e cuidado. Rey também achava que tinha tido sorte, Ben trazia à tona uma rebeldia que ela não sabia que tinha. Uma vontade de lutar pelo que queria, por si mesma, não só o que esperavam dela.  

Eles apertaram ainda mais os dedos entrelaçados, tão improváveis juntos, e ainda assim, tão estranhamente complementares.  Rey sorria, Ben também, embora tentasse disfarçar entre uma palavra e outra. Não tinha vergonha de ser vulnerável na frente dela, mas ainda não se sentia bem mostrando esse novo lado na frente dos outros. 

O homem alto e sombrio, que usava quase sempre preto, estava plenamente feliz, e sentia como se fosse a primeira vez. 

— Eu a Rey estamos noivos. 

Um suspiro surpreso passou entre todos sentados, apenas Han parecia tranquilo, com um sorriso jovial e confiante no rosto. 

— E você tá sabendo disso, Rey? – Poe perguntou com um olhar aterrorizado e cômico. 

Rey franziu as sobrancelhas em uma expressão confusa, e não conseguiu responder o amigo de prontidão. 

— Sim... Ele teve que me pedir. 

— E você concorda com isso? 

— Eu... Claro que concordo, Poe. 

— Péssima decisão, sério.  – Mas o sorriso no seu rosto denunciou suas verdadeiras intenções. 

Os mais velhos se levantaram para abraçar os noivos, com cumprimentos e felicitações. 

— Eu posso casar vocês? Eu acho que fiz o curso e tenho certificado. – Perguntou Luke, se colocando entre os dois. - Se não conseguir achar, podemos comprar um ilegalmente. 

Luke foi cortado quando Han colocou a mão em seu ombro e começou a falar:  

— Não se anime tanto, ainda falta bastante tempo para o casamento. Pelo menos um ano, não é? É bom, bastante tempo para repensar se o relacionamento ainda vai dar certo. 

Kylo Ren olhou com suspeita e nervosismo para o pai. 

— E como você sabe disso? Você contou para ele? – Perguntou, virando-se para Rey. 

A garota parecia tão surpresa quanto ele. 

— Não abri minha boca para ele, as únicas pessoas para quem contamos foram Finn e Hux. 

O rebelde deu de ombros, como quem se gaba. Uma expressão convencida tomava seu rosto. Ele bateu no ombro do filho jocosamente. 

— Ninguém esconde nada do seu velho. – E depois deu uma esnobe e característica. 

Os noivos se entreolharam como expressões incrédulas e disseram o nome do culpado juntos: 

— Finn. 

Sua mãe se aproximou, um sorriso sincero em seu rosto. Ben se abaixou para que ela segurasse seu rosto, a senhora era tão pequena perto dele. Sua mãe autoritária e generosa, que ele não conseguiu deixar de amar um momento sequer. 

— Eu estou orgulhosa de você filho, seja feliz com a Rey. Cuide muito em dela. – Disse a senhora dando um aperto carinhoso em sua orelha. 

Ben sorriu, colocando a mão no rosto da mulher que o criara, estava feliz de tê-la aqui, compartilhando esse momento. 

Depois que ouviram mais algumas felicitações, apertou a mão da mulher que considerava a mais bela de todas, e sussurrou no seu ouvido para que saíssem um pouco. 

Ninguém se incomodou quando saíram sorrateiramente para o jardim. Este ano estava mais quente, não havia neve nos telhados e os lagos mal tinham congelado. Em parte, Rey tinha ficado um pouco decepcionada, mas pelo menos não sofrera tanto com o frio. 

— Quer subir na casa da árvore? – Ben perguntou, tentando fazer com que essa frase não soasse tão ruim quanto na sua cabeça. 

— Achei que você dizia que era bobagem. 

Ele a puxou pelas mãos, enquanto seguiam em direção a árvore velha. 

— É sim, muita bobagem. Mas eu fiz uma coisa para você ver. Feche os olhos. 

Ben colocou a mão na frente dos olhos verdes da garota, enquanto a guiava devagar. Quando finalmente podiam ver o entorno completo da árvore, ele a soltou. 

A casa ainda parecia a mesma, só que estava reformada e agora possuía uma varanda sustentada por longas vigas de madeira. 

Rey colocou a mão no rosto, enquanto era levada para cima pela escada espiral. 

— Você fez isso? – Ela perguntou, encantada com o cuidado dele. 

— Sim, eu construí, como meu avô costumava fazer. Não está tão bom quanto se fosse ele, mas... 

A moça morena segurou o rosto do rapaz, os cabelos negros emaranhando em seus dedos. 

— É perfeita. – Ela falou com um sorriso. – Não acredito que teve todo esse trabalho. 

Por dentro, as paredes eram pintadas com cenário de batalhas espaciais e florestas desconhecidas. Parecia levemente maior, e Rey quase não notou que o teto estava mais alto. 

— Você consegue ficar em pé. - Ela exclamou, alegre. 

Ben deu um sorriso para ela, e depois os dois sentaram na pequena varanda do lado de fora. 

— Eu quero poder ficar aqui, quando nossos filhos estiverem brincando. Eu sei que é muito cedo, e eu posso reformar tudo de novo se eles odiarem. 

Rey estava corada, mas não tinha problema. Eles iriam dividir o resto da vida juntos, era o que ela desejava do fundo do seu coração: uma família. 

— Tenho certeza que eles vão amar tanto quanto eu. 

— Eu sei que tivemos infâncias difíceis, você principalmente. Quero que nossos filhos se sintam seguros e felizes, que nunca duvidem que são amados nem por um minuto, um segundo que seja. Vamos encher a vida deles de momentos alegres e eles vão saber que podem confiar em nós. 

Rey se apoiou no ombro do noivo enquanto ouvia seus planos, ele falava com uma autoridade que ela gostava quando era sobre esse assunto. Ela queria tudo isso para sua família, tudo que ela nunca teve. 

— Não sei se vamos ser os melhores pais do mundo, mas com certeza vamos tentar. – Ela falou rindo. – De qualquer forma, ainda falta uns bons anos para se preocupar em crianças. 

Ben Solo riu de sua expressão divertida e deu um beijo demorado e tranquilo na mulher que amava.  

— Eu te amo. 

— Eu sei. – Rey respondeu tentando segurar uma risada, pois sabia que essa era uma marca registrada de Han Solo. 

Ben fingiu choque, colocando a mão no peito. 

— Não acredito que disse isso. Uma traição dessas não será perdoada. Espero que esteja pronta para as consequências. – Ele falou com uma voz mais grave que o normal, com uma falsa seriedade. 

Rey começou a rir antes mesmo que ele passasse a mão em sua barriga e fizesse cócegas. Ela fugiu para o jardim, enquanto Ben, sorrindo, corria atrás dela com suas longas pernas. 

E assim, o dia terminou perfeitamente bem. 


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Notas finais do capítulo

Eu reescrevi esse capítulo umas três vezes, mas sempre acabava perdendo em um pendrive ou um computador.
Eu lembro que o atendente loiro do hotel tinha mais falas, mas eu não tenho certeza do que era. Acho que ele insinuava mais que o Kylo Ren era um prostituto, entre outras coisas, mas sei lá.
Ia terminar sem casamento, porque eu achava que era golpe baixo, também e ia ser bem menos fofo e piegas. Eles iam mais tipo:
Kylo - E aí? Me dá uma chance?
Rey - Tá, acho que não vou morrer se sair com você.
Mas então eu pensei, porra, não sei quantos anos pro final da fanfic, e ela nem é cliché total, eu tinha que me comprometer.

Por favor, me deem um minuto do seu tempo, apenas um e me digam do que acharam da minha distopia natalina? Não sabem o que um pequeno esforço da sua parte pode influenciar em mim.

Às vezes eu choro.

P.S. Nesse ano a cidade estar mais quente é uma crítica ao aquecimento global.

Isso é totalmente mentira, pensei nisso agora.



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