Fênix Negra escrita por FireboltVioleta


Capítulo 5
Escuridão




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— Não… não… não…. não!

Os gritos da mulher se calaram repentinamente.

Ela não sentiu a mão do marido pousar em seu ombro. Não ouviu os guinchos horrorizados que se seguiram. Havia mergulhado num estado de torpor.

Ainda com lágrimas escorrendo por seu rosto, Hermione baixou os braços dentro do berço, puxando para si o corpo sem vida da filha.

Viu Rony se debruçar sobre o diminuto corpinho, soluçante, chorando em voz alta. Sem interrompê-lo, segurou os dedinhos inertes, sentindo-os frios como gelo.

Ainda esperava que Rose lhe piscasse. Que arrulhasse para eles, balbuciando de modo risonho, provando que tudo aquilo não passava de mais uma de suas brincadeirinhas.

Porém, quando a cabecinha de olhos vidrados tombou para o lado, a jovem mãe percebeu a realidade cruel. A mesma realidade que o coral de gritos e lamentos lá fora parecia confirmar de modo terrível.

Sua filha estava morta.

Com a mão trêmula, a jovem acariciou as pálpebras de Rose, fechando-as, dando à bebê a aparência de quem estava apenas dormindo.

— Meu anjinho… meu anjinho… - sussurrou, abraçando a cabecinha languida da criança.

Os braços de Rony a cercaram, abraçando a ela e ao corpo da filha. O rapaz tremia contra seus ombros.

— Por que… POR QUÊ? - gritou, caindo de joelhos no chão, soltando a garota.

Beijando os cabelos de Rose, Hermione a aninhou novamente no berço, recobrindo o corpinho com o edredom, assim como fazia toda noite.

Houve o som de alguém desaparatando dentro do quarto. Sem virar o rosto, Hermione virou o olhar na direção dos recém-chegados.

Sentiu seu coração parar.

Harry e Gina tinham os rostos inchados, ainda úmidos de tanto chorar.

A jovem reconheceu o volume inerte no colo de Gina, e não teve coragem de chegar mais perto para ver o corpo menor, que jazia nos braços de Harry.

Gina adiantou-se, fremindo, apertando o corpo da criança contra si.

— Em todas as casas… em todas… - soluçou – há crianças mortas….

Os joelhos dela cederam, lançando a mulher contra o chão. Foi o bastante para que Hermione conseguisse vislumbrar o rostinho pálido de Teddy, cuja visão dos cabelos esbranquiçados, destituídos de qualquer cor, fez o peito da garota se apertar.

— Rose… não… - Harry fechou os olhos, angustiado, recomeçando a verter lágrimas pelo rosto.

Por alguns minutos, não houve nenhuma verbalização nos presentes. O único som que se ouvia eram os gemidos e gritos do lado de fora da casa.

Por fim, Rony puxou o braço da esposa.

— Querida… solte-a….

Hermione apertou a mãozinha da filha, sentindo-se sufocar.

— Durma bem, meu anjo – sussurrou, com o choro travado na garganta.

Virou-se na direção da cunhada, que ainda embalava o corpo de Teddy em seus braços.

— O que houve…?

Fosse por sua mente estar dopada demais para raciocinar, ou por não ser capaz de sintetizar qualquer emoção no momento, o fato era que Hermione não percebeu imediatamente a complexidade daquela situação.

Desejou estar morta. Desejou ter feito alguma coisa. Desejou ter dado sua vida pela filha.

Mas até isso lhe fora tirado. E Teve que assistir Rose morrer diante dela, sem que pudesse ter feito nada para impedir.

— Só os primogênitos – Harry murmurou- kindermoord.

A cabeça de Hermione se ergueu.

— Kindermoord – houve um mínimo retrair com o tom de voz da jovem – minha filha foi morta pela maldição dos primogênitos?

— Impossível… - ofegou Gina – eles não fariam isso… de todos os rituais profanos… não chegariam a esse nível… eles também têm família…

Hermione arquejou, finalmente compreendendo.

A ameaça da Serpente. A punição que fora prometida.

Aquele kindermoord... era obra dela.

— Devem ter dado um jeito de se proteger – Harry emitiu um misto aflitivo de grunhido e lamúria.

Todas aquelas crianças mortas…

Sua pequena Rose… seu presente mais precioso…

Levados pelos Comensais da Morte..

Mais uma vez, as Trevas haviam arrancado tudo que mais amavam.

Harry tomou a dianteira, ajeitando o diminuto corpo de Tiago nos ombros.

— Temos… temos que avisar Kingsley – lutava para não demonstrar o quanto estava destruído – ele… ele vai…

O auror fechou os olhos, deixando que a angústia e o pesar o assolassem. Estava completamente sem chão.

Outro estalo anunciou a chegada de um novo visitante.

Carlinhos parou de chofre, olhando ao redor. Seus olhos se umedeceram instantaneamente.

— Então é verdade… - balançou a cabeça, desolado – céus…

Olhou para o irmão, sentindo o coração estremecer.

— Carlinhos… - Rony guinchou.

— Eu… eu estava na casa dos Longbottom – choramingou – Luna… ela… trouxe as duas crianças. Chloe… Clary… - tampou o rosto com as mãos por um momento, retirando-as em seguida – foi horrível – baixou o olhar para os braços de Gina – Teddy…?

Gina balançou a cabeça, pesarosa, recostando o rosto na cabecinha da criança morta.

O Weasley mais velho suspirou.

— O Ministro já está sabendo… disse que os aurores já estão tomando providências… está mandando equipes de apoio do St. Mungus para todas as casas bruxas… em que soubemos de algum…

Acabou por não terminar a frase.

Gina acomodou Teddy na poltrona do quarto, estendendo os braços para o marido.

— Pode ir – soluçou – vou… ficar com eles.

Hermione passou a maior parte daquele tempo em silêncio, apenas encarando as grades do berço de Rose, a mente pairando á quilômetros dali.

Ainda não conseguia acreditar. Não sabia o que sentir. Não sabia como reagir.

— Também vou – Rony se ergueu, o rosto inchado voltando-se para os demais.

— Rony… - Gina suspirou.

— Não – ele a interrompeu, o rosto vincando-se num esgar misto de ferocidade e desespero – alguém matou minha filha. E essa pessoa pagará. Eu quero justiça!

— È o que todos querem, irmão – Carlinhos segurou-lhe o braço – e é o que procuraremos. Mas não podemos perder a cabeça agora. O Ministério já está agindo…

— VOCÊ NÃO TEM FILHOS! - Rony desvencilhou-se dele – NÃO SABE O QUE É ISSO!

Um momento de silêncio.

— M-me desculpe.

— Não. Você tem razão… - o homem assentiu - eu não sei o que é isso. Não posso nem imaginar… o quanto estão sofrendo nesse momento. Deixe que eu acompanhe a ação dos aurores… prometo que encontraremos o culpado. Apenas fiquem aqui. Tomem… o tempo que precisarem.

Rony apenas concordou com a cabeça, desolado.

Inclinando-se, Carlinhos o abraçou.

— Eu sinto muito. De verdade.

Por fim, soltando Rony, o rapaz recuou.

Com um estalo final, voltou a aparatar, desaparecendo do quarto.

Ainda torturado de aflição, Rony puxou Hermione, apertando-a contra si.

— Vai ficar tudo bem… - choramingou o marido – vai ficar tudo bem.

A mesma coisa que todos diziam numa situação daquelas. A mais natural. Inerente do ser humano. Era instintivo desejar que tudo melhorasse.

Mas Hermione sabia a verdade.

Nada ficaria bem.

Haviam arrancado o que havia de mais puro e terno em sua alma, deixando um vazio sangrento e doloroso dentro de seu coração.

Ela não queria uma simples justiça.

Ela queria fazê-los sofrer, assim como estava sofrendo agora.

Queria lhes dar aquela sensação torturante. Queria que pagassem com a própria vida pelo crime hediondo que haviam cometido.

Não importava que a dor continuasse. Não importava o que custasse.

Hermione iria atrás dos assassinos de sua filha.

E nada a impediria.

 

 


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