Fênix Negra escrita por FireboltVioleta


Capítulo 21
Piedade




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Em pouco menos de um dia, Rayane havia percebido que Hermione não era uma fugitiva qualquer. Os anos de experiência como auror praticamente a tornaram invisível, perita em ocultar cada um de seus rastros.

Cavallone, embora com menos experiência, também tinha suas habilidades excepcionais. Unido à Weasley, ambos representavam o tipo dupla perfeita para qualquer incursão silenciosa.

Isso, de fato, estava sendo conveniente para Rayane e Nora, já que ambas – acostumadas à se ocultarem por trás da massa de Comensais da Morte – teriam que começar a agir por si mesmas.

No entanto, as coisas não estavam indo bem nesse aspecto.

L'inferno, Blink! – ralhou Renato.

— Desculpa…! - guinchou, choramingando de dor.

A garota havia acabado de lacerar um dos tornozelos numa barra de ferro, enquanto atravessavam uma pedreira abandonada, próxima à costa do Canal da Mancha.

Surpreendendo até mesmo Cavallone, Hermione ajoelhou-se, segurando a perna ferida de Rayane. Num movimento ágil, conjurou um torniquete, com o qual amarrou a panturrilha, interrompendo o fluxo de sangue que, até então, não havia parado de escorrer.

— É uma hemorragia arterial – embora não demonstrasse, havia algum tipo inesperado de preocupação no olhar inexpressivo de Hermione – precisa estancar, ou vai sangrar até ter uma parada cardíaca – terminou de fechar o torniquete rapidamente – Renato… levante a perna dela.

Atendendo à ordem de Hermione, o rapaz ergueu a perna de Rayane, acomodando-a em seu colo.

Mesmo praguejando dolorosamente, a jovem sentiu um leve arrepio com a mão que segurava-lhe o calcanhar.

— Obrigada… - resfolegou, fechando os olhos de aflição. Sentia que sua perna estava em chamas, e não tinha coragem de ver o estrago que o ferro havia causado em sua pele.

Tensa, Nora afagou as costas da amiga, apoiando a cabeça dela em seu ombro.

— Dá para curar?

— Sim – Hermione respondeu de imediato – mas ainda vai precisar de descanso – baixou o olhar para a grama, cujas folhas haviam ficado rubras  – perdeu sangue demais.

— Isso vai nos atrasar – Renato observou, embora o dissesse como simples fato, e não como repreensão.

Rayane o encarou fracamente, surpresa.

— Eu sei – Weasley replicou, igualmente taxativa, enquanto fechava o corte com magia – mas será pior se ela morrer no meio da viagem. Se quisermos chegar à Coquelles, teremos que tomar um caminho não rastreável. E se não consegue andar…

Sentindo-se tonta, Rayane guinchou baixinho. Tudo que queria agora é ser um outro estorvo no caminho daqueles dois.

— Vocês deviam… ir sem mim…

Stuart a sacudiu, aturdida.

— Está louca, Blink? Não vamos deixar você para trás!

— Não mesmo – sibilou Cavallone – se alguém corromper a mente dela, vai descobrir todos os nossos planos. Não vamos arriscar – suspirou – e não podemos mais matar qualquer uma de vocês, graças ao Voto Perpétuo – trocou olhares com hermione, tácito – vamos acampar aqui, até Blink se recuperar.

Nora inclinou a cabeça, observando Hermione terminar de cobrir o ferimento fechado com uma atadura.

— Vai estar bem melhor amanhã – disse, reerguendo-se – por hora, vamos pernoitar aqui. O Eurotúnel está a poucos quilômetros.

Renato assentiu, apoiando a perna de Blink em uma das pedras ao seu lado.

— Mantenha essa perna erguida – disse o bruxo – não saia daí – ergueu a cabeça para Nora – você vem comigo. Precisamos proteger o perímetro.

Sem titubear, Stuart se levantou, recostando Rayane gentilmente em uma rocha atrás delas.

Com um último olhar preocupado, deu as costas para Blink, acompanhando Cavallone até a divisa da antiga pedreira.

Rayane deitou a cabeça no pedregulho, sentindo sua visão oscilar levemente.

— Você nunca andou sozinha por aí, não é? - observou Weasley pondo-se de pé, olhando ao redor.

— Nunca… - respondeu vagamente, afetada pela fraqueza – eu sempre… estive acompanhada de outras… pessoas…

— bem… vai ter que se adaptar então – lançou um olhar severo para Rayane – por mais que eu admita estar minimamente solidária com sua situação, não ficarei te pajeando para sempre. Precisa aprender a sobreviver sozinha, Blink – enfatizou – por que, quando tudo isso acabar, você não terá ninguém para te proteger.

A auror virou-se, olhando ao longo do horizonte, dando alguns passos em direção ao norte.

Sua mão deslizou pelo pescoço, indo de encontro ao pequeno pingente de seu medalhão.

Faltava pouco agora. Estava mais decidida do que nunca. Iria por um fim àquela conspiração hedionda, e saciaria – mesmo que de forma superficial – sua necessidade de esquecer da dor.

— Por que me poupou?

Hermione parou de andar.

— O que?

— Por que me poupou? - repetiu Rayane – quer dizer… eu sei que foi… conveniente… que talvez eu seja útil… e que implorei por minha vida – sussurrou – mas vocês… não precisavam de nós. Podiam nos matar sem qualquer problema – embora ainda estivesse de costas, a bruxa sabia que Rayane havia abaixado a cabeça – então… por que me deixou viver?

Mesmo com a visão opaca, a jovem pôde ver as mãos de Hermione contraírem-se em punhos.

A bruxa virou o rosto na direção da moça ferida.

— Por que te poupei? - soltou uma risada amarga e baixa – por que olho para você… - seu tom sarcástico murchou, tornando-se um suspiro exasperado – e vejo… a mim mesma… no passado – sacudiu a cabeça – uma garota inocente… preocupada com aqueles que estavam ao seu redor… alguém que achava que tudo podia se resolver com livros e uma boa conversa – seu timbre cínico retornou aos poucos – quanta ingenuidade. Eu fiz tudo certo. Tentei abrir brechas. Salvar vidas – vincou a testa em fúria – e olhe só que a vida nos deu em troca, Blink…

— Mas ainda há esperança… não é? - sentia a languidez se espalhando por seu corpo, embora suas palavras não pudessem estar mais lúcidas – quer dizer… não precisamos… terminar as coisas assim…

Tombou a cabeça de lado, a visão escurecendo aos poucos.

Viu a silhueta de Hermione voltar a se aproximar. Sentiu a mão dela segurar-lhe o queixo de modo suave.

— Descanse, garota – ouviu sua voz sussurrar – você não pode fazer um mergulhão decapitado voltar a respirar…

Foram as últimas e confusas palavras que Rayane ouviu, antes de mergulhar numa aliviante inconsciência.









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