Fênix Negra escrita por FireboltVioleta


Capítulo 19
Apatia




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Cavallone adentrou na tenda, brandindo uma pequena faca nas mãos. Hermione o fitou, sem esboçar reação, observando-o desamarrá-la do pilar de madeira, ao qual ainda se encontrava presa.

— Temos que ser rápidos se quisermos prosseguir com o plano, fenice – sussurrou com urgência – Andrew Blackhole deve estar a caminho.

Hermione pôs-se de pé com alguma dificuldade, massageando os pulsos.

— E os Comensais?

— A maioria estava no refeitório – assentiu – já cuidei deles. Ainda há alguns poucos pelo acampamento, mas podemos dar cabo deles rapidamente.

A jovem percebeu um laivo de hesitação nos olhos de Renato. Contraiu os punhos, vincando a testa de irritação.

— O que houve? - sussurrou ameaçadoramente.

O rapaz suspirou, recuando para o lado, dando passagem para que Rayane entrasse.

Atrás da moça, levitada suavemente pelo feitiço de Cavallone, Nora Stuart adentrou na barraca, sendo pousada com delicadeza na parede da tenda.

— E-eu sinto muito, Weasley – Blink contorceu as mãos uma na outra, temerosa – Nora…

— Ela não estava no refeitório – Renato cortou-a, demonstrando um misto de remorso e tensão – Blink… me garantiu que não é uma Comensal da Morte como os demais.

Rayane voltou-se para Hermione, tentando ler qualquer demonstração de piedade no olhar gélido da jovem bruxa.

— Por favor, Weasley… - suplicou – Nora é toda a família que me restou… - acrescentou afoitamente – ela pode… nos ajudar… - choramingou – poupe a vida dela…

Sentiu o coração palpitar dentro do peito, se corroendo de aflição. Não via nenhuma nesga de pena na expressão endurecida de Hermione.

Por fim, ela se aproximou de Renato. Embora fosse quase meio palmo mais baixa que o bruxo, Weasley facilmente o fez se encolher.

— Faça o Voto. Mesmas condições – declarou enfim – que ela morra antes mesmo de pensar em nos trair, Cavallone. Não precisamos de mais um obstáculo em nosso caminho.

Blink suspirou de alívio, cobrindo o rosto com as mãos.

— Obrigada, Weasley – agradeceu, pousando-as contra o peito – obrigada…

O rosto de Hermione não possuía nenhuma centelha de simpatia.

— Sabe que o mesmo valerá para você, não é?

— Sim – a garota respondeu imediatamente – eu sei… - guinchou – mas eu sabia que jamais mataria alguém realmente inocente… - secou as lágrimas com o dorso da mão direita – mesmo que essa situação tenha destruído… a todos nós…- corajosamente sustentou uma troca de olhares com Hermione – eu não perdi nenhum filho… não posso imaginar como estão sofrendo… - declarou, decidida – mas queremos justiça…. tanto quanto vocês desejam.

Renato franziu o cenho, espantado, vendo a bruxa inclinando a cabeça, como se analisasse Rayane pela primeira vez na vida.

— A levaremos conosco, minha bela – intercedeu Cavallone – garanto que as vigiarei de perto.

Um suspiro aborrecido escapou dos lábios de Hermione.

— Está bem. Vamos logo com isso – sibilou – desperte-a… conjure o feitiço… partiremos assim que limparmos a área - apanhou a varinha que Renato lhe inclinou – Blink… você vem comigo.

Sem hesitar, Rayane a acompanhou tenda afora, ainda que de forma retraída.

— O que quis dizer com…?

A moça notou que Hermione fitava a varinha trêmula em sua mão.

— Melhor começar a usá-la, garota – disse entredentes – não vou ficar me preocupando em te proteger dos feitiços deles…

Com um assomo de choque, Rayane finalmente entendeu o que ela estava prestes a fazer no acampamento.

— E=eu nunca matei ninguém – gaguejou, apreensiva.

Por mais que odiasse os Comensais da Morte e o que haviam feito, Blink jamais havia conseguido se ver tirando a vida de qualquer um deles.

Fechou os olhos por um momento, ainda ladeando Hermione.

Não podia vacilar agora. Havia feito o juramento. E precisaria se desvencilhar de qualquer medo, se quisesse sobreviver aquela terrível situação.

Ainda assim, a perspectiva a perturbava.

Encolheu-se ao reconhecer a sombra de um Comensal da Morte, surgida detrás de uma das barracas do acampamento.

— Não..!

Hermione gesticulou suavemente com a varinha na direção do bruxo, mal levantando o braço ao realizar o movimento.

Um corte profundo surgiu na garganta do Comensal, que segurou o pescoço, caindo convulsivamente de joelhos, gorgolejando com o sangue que empapava seus dedos.

Sem demonstrar qualquer emoção, a bruxa baixou a varinha, apenas assistindo entediadamente o bruxo moribundo revirando-se no chão da clareira.

Rayane guinchou quando o homem parou de se contorcer, ficando completamente imóvel.

Hermione a fitou por alguns segundos.

— Parece fácil, não é? - riu amargamente – você para de sentir à partir do momento em que se lembra do que eles fizeram. É bom se lembrar disso… - alertou – por que eles também não terão nenhuma piedade de você.

Rayane retraiu-se com aquela declaração, sentindo a mão comichar de encontro à empunhadura da própria varinha.

Sabia que a bruxa tinha razão. Ainda assim, por mais que também quisesse se vingar, não havia aquele mesmo desejo de Hermione. Não queria ter sangue em suas mãos – mesmo que fossem o pagamento por todo aquele que os Comensais haviam derramado.

— Eu v-vou tentar.

Distraída, mal viu o relampejo de um feitiço que veio da direção contrária, conjurado diretamente em sua direção.

Espantada, viu-o ser bloqueado pelo recém-chegado Cavallone, que revidou com um encantamento não-verbal. O corpo inerte do bruxo desabou de costas no chão, boquiaberto, os olhos ainda esgazeados de terror.

— Você ainda vai acabar se matando – vociferou Renato, voltando se na direção de Rayane.

Atrás dele, soluçante, Nora a espreitava, afagando o braço que empunhava a varinha.

— Ray… - adiantou-se, a abraçando.

— Desculpa… - choramingou – desculpa, Nora…

— Está tudo bem – Stuart sussurrou – você não tinha como saber…

Cavallone pigarreou, lançando um olhar de censura exasperada.

— Deixem a conversa para depois – bronqueou – temos trabalho a fazer – meneou a cabeça para Hermione – avanti, dolcezza?

A bruxa assentiu.

— Cuide para que não restem testemunhas. Não podemos deixar ninguém. Quando terminar, nos encontre na entrada – acrescentou em tom baixo – leve Blink com você.

Renato concordou com a cabeça, chamando Rayane com um gesto da mão.

Amuada, ela o acompanhou, afagando o ombro de modo tenso.

— Obrigada – ciciou.

O agradecimento pegou Cavallone de surpresa.

— Pelo quê?

Suspirou.

— Por ter me salvado agora… - disse, sem graça – e por ter… defendido Nora – ofegou – bem… mais por ter… convencido Weasley a poupar a vida dela.

O rapaz ergueu uma sobrancelha.

— Você é bem mais complexa do que eu julguei anteriormente, piccola volpe— para surpresa de Rayane ele esboçou um sorriso – forse… talvez tenha sido uma excelente ideia te manter viva, afinal de contas…

E, com isso, prosseguiu seu caminho, acompanhado agora por uma Rayane absolutamente confusa.



































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