Fênix Negra escrita por FireboltVioleta


Capítulo 13
Trevas e Luz




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Hermione inspirou profundamente, absorvendo o aroma úmido do bosque ao redor da estrada.

Sempre havia gostado dos cheiros e do clima dos ambientes selvagens. Traziam-lhe algum tipo de serenidade curiosa, como o sussurro de algo ancestral em meio à folhagem silvestre.

Porém, naquele momento, aquele aconchego não chegava a dissipar as defesas que havia construído em sua mente.

Não podia – não queria – deixar a dor desaparecer. Era a única coisa que a mantinha em pé. O único motivo pelo qual ainda tentava lutar. Sem aquilo, sabia que jamais conseguiria alcançar seu derradeiro objetivo.

Baixou a cabeça, vincando a testa.

— Você demorou.

A sombra atrás de si sufocou um muxoxo humorado.

Ora questo, minha bela – Renato saiu das sombras, posicionando-se diante de Hermione - sentiu minha falta?

— Senti falta das informações que lhe requisitei – sibilou rudemente – descobriu alguma coisa?

Renato debruçou-se sobre uma das cercas da estrada, apanhando a varinha que trazia no bolso do blazer.

— Assim você me ofende, piccolo tesoro – Cavallone ergueu-lhe uma sobrancelha – e 'stato facile. Como suspeitei, nenhum daqueles pérfidos vermes sequer desconfiou de minha verdadeira identidade. Os pobres desgraçados não hesitaram em responder tudo que o vigia lhes perguntou – riu-se — facile come rubare le caramelle a un bambino.

Para sua surpresa, ouviu a jovem resfolegar zombeteiramente.

In realtà, un intero gruppo.

O rapaz gracejou, pasmado.

— Não me disse que falava italiano, dolcezza.

— Eu não tinha por que dizer – o momentâneo humor nas feições de Hermione desapareceu rapidamente – agora desembuche, Cavallone.

— Como quiser, altezza – caçoou o bruxo, prontificando-se – há uma passagem… uns dois quilômetros á frente. Uma clareira enfeitiçada, onde lançaram um conjunto gigantesco de feitiços de proteção e ocultamento. É o primeiro grupo de Comensais da Morte do distrito, responsável pelo recrutamento de reforços. Haverá uma reunião agora de manhã. Parece-me que Blackhole também virá. Por precaução, peguei mais material para a poção, caso seja necessário.

A garota fechou as mãos em punhos.

— Se nos infiltrarmos neste pequeno grupo… será questão de tempo para encontrarmos a Serpente – virou-se na direção dele – e o que fez com os bruxos do bar?

Ela assistiu Renato cruzar os braços.

— Achei por bem… não deixar espaço para suspeitas – deu de ombros, como quem respondia sobre o clima - nessun testimone.

A notícia de que Renato dizimara os Comensais que estavam no bar não pareceu incomodar Hermione.

— Deixou os corpos lá?

Cosa? No – ele balançou a cabeça – transfigurei-os em objetos pequenos, e os enterrei nos fundos da cabana. Apaguei a memória das garçonetes e do dono do bar. Dopo tutto… se quisermos ter sucesso, não podemos deixar pistas.

— Ora, ora, Cavallone – emitiu uma risadinha desdenhosa – é mais inteligente do que eu pensava. Bom trabalho.

Grazie, Hermione – Renato voltou a guardar sua varinha – então… qual é plano agora?

Cavallone a observou retirar outra dose de Poção Polissuco da bolsa, inclinando-a té sua mão entreaberta.

— Como eu disse… - retaliou, impaciente - precisamos nos infiltrar. Você continuará usando a identidade do vigia. Se houver uma Penseira lá, use-a para analisar as memórias que retiramos, e aprender a agir como ele fazia. Como o verdadeiro Comensal está morto, ninguém poderá suspeitar que você é um impostor.

— Não vai ser difícil – o homem pareceu decididamente intrigado - e qual será a sua parte no plano a partir de agora?

Um sorriso ameaçador abriu-se no rosto de Hermione.

— Ah, Cavallone. Acho que você já sabe exatamente como nós conseguiremos nos infiltrar…








Os cochichos na barraca pareciam ribombar contra os ouvidos de Rayane.

A dor e o pesar ainda a assolavam. Dentre todos os bruxos no refeitório improvisado, era a única que mal havia tocado em sua comida.

Não conseguia entender.

Por que? Por que Mariah havia feito aquilo? Por que não havia confiado nela? Ouvido cada um de seus conselhos?

Agora era tarde demais.

Mariah e Bryan – a única família que lhe restara - haviam partido para sempre. E Rayane jamais poderia mudar o que havia acontecido.

— Coma um pouco que seja, Blink – aborreceu-se uma de suas colegas – vai morrer de fome dessa forma.

— Me deixe em paz, Nora.

Nora Stuart também havia entrado para o grupo de Comensais contra sua vontade. Com os pais ameaçados, enclausurados em um dos diversos cativeiros dos apoiadores da Serpente, trabalhava ininterruptamente com os bruxos das trevas há quase dois anos.

— Eu realmente sinto muito, Rayane – a voz de Nora baixou ligeiramente, tornando-se mais gentil – eu… não posso nem imaginar pelo que você está passando agora – afagou a mão da moça – mas você não pode deixar isso te derrubar. Sei que Mariah não desejaria que ficasse assim.

— Ah… mas não tem como sabermos o que Mariah desejaria, não é? - Rayane riu amargamente – ela está morta. Minha amiga… está morta...

A jovem voltou a chorar, secando inutilmente o rosto na manga da blusa. Penalizada, Nora afagou o ombro de Rayane, sem saber mais o que dizer.

Ambas saltaram quando um dos Comensais socou a mesa.

— Não acredito – rosnou o bruxo corpulento, fitando as duas com desgosto – espero que não estejam perdendo tempo com dramas inúteis!

— Não estamos, Grant – rebateu Stuart – agora pode voltar para sua vigília. Ou não tem mais ninguém para incomodar?

Os olhos do Comensal se estreitaram perigosamente.

— Quando Blackhole chegar, não quero ver vocês se comportando feito duas bebês choronas. Se isso acontecer… vocês vão se ver comigo – ameaçou, dando as costas e saindo violentamente do refeitório.

Desanimada, Rayane viu Nora apontar o dedo do meio na direção da clareira.

— Não tenho medo desse idiota – resmungou, segurando a mão da colega – não se preocupe, Ray. Vamos sair dessa. Eu prometo.

Rayane assentiu sem convicção, embora desejasse profundamente que Nora tivesse razão.

Não parecia haver saída para a situação na qual se encontrava agora. A angústia a atingia como uma chuva de adagas, jogando-a de encontro ao mais profundo desespero.

Ainda assim, Rayane tinha esperança. Sonhava em, algum momento, finalmente encontrar a luz no fim do túnel.

Mas ela mal sabia o que viria a encontrar.

































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