Fênix Negra escrita por FireboltVioleta


Capítulo 11
Limite




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Ridark Rockstell.

Esta havia sido a pauta da reunião dos Comensais da Morte.

Com as mãos enfiadas no bolso da jaqueta, Rayane chutou uma pedra, observando-a rolar pelo chão, deixando uma delicada trilha sobre a terra molhada,

Seus desagradáveis comparsas não estavam satisfeitos com o que havia acontecido. Alguns, para surpresa da jovem, haviam ostentado uma expressão velada de pânico com a notícia.

Em sua concepção, a preocupação de alguns presentes – embora aparentasse ser – não havia sido com a possibilidade do bruxo assassinado ter revelado quaisquer informações.

O real temor era com relação ao tipo de pessoa que havia efetivado aquele sangrento homicídio.

Não poderia ter sido um auror – até por que Rockstell havia sido capturado para um interrogatório, e não uma execução. Tampouco um bruxo das Trevas, já que teria sido facilmente identificado pelos guardas da prisão. Nem mesmo Blackhole, segundo os informantes, havia sido informado do ocorrido até então – o que o retiraria de qualquer suspeita.

Então… quem seria? Tudo que haviam conseguido concluir era que o assassino estava atrás dos Comensais à procura de um acerto de contas… ou algum tipo de vingança. Mas quem seria tolo o suficiente para fazer aquilo sozinho, contra todas as convenções do Ministério da Magia?

Ainda assim, aquele rebuliço não aparentava ter abalado os planos dos Comensais. Haviam recebido orientações de continuar com os preparativos de retaliação, sem quaisquer mudanças de conduta. Sendo assim, quem quer que estivesse atrás deles não representava uma ameaça aos interesses da Serpente.

Pelo menos por hora.

Mas Rayane não pensava assim. Alguém com sangue frio suficiente para deixar uma mensagem escrita em sangue nas paredes não podia ser considerado um simples contratempo.

Era cruel. Não hesitava em matar.

E poderia encontrá-la.

Naquele momento, Rayane Blink permitiu-se temer pela própria vida.






Por fim, após algum tempo de caminhada, retornou ao pequeno casebre no fim do bosque. Adentrou pela varanda, empurrando suavemente a porta para entrar.

— Mariah? - chamou-a – já voltei!

Entrou no hall, olhando ao redor. A casa estava completamente silenciosa.

A garota subiu pelas escadas, estranhando a modorrenta quietude do ambiente. Naquele horário, Bryan costumava estar acordado, chorando ou balbuciando alto no andar superior.

— Mariah? Bryan? - voltou a exclamar – estão dormindo?

Decidiu entrar no quarto do bebê, ainda procurando pela amiga. Sentiu-se confusa, jurando que Mariah havia lhe dito que não sairiam da casa até que ela voltasse.

Sentiu suas botas guincharem sobre o piso de madeira, derrapando levemente contra o chão. Surpreendida, baixou o olhar, retraindo a perna para trás.

E ofegou alto, quando encarou uma mancha rubra sobre a tábua que havia pisado.

— O que..? - contraiu as mãos – Mariah!

Trêmula, Rayane ergueu a cabeça na direção do berço de Bryan.

Algo dentro dela gritava para que nãos e aproximasse. Que continuasse insistindo, chamando inutilmente o nome de Mariah, esperando ouvir o choro infantil da pequena criança.

Mas talvez seu pânico estivesse desesperado para se alimentar de algo, impelindo-a para frente, fazendo sua cabeça inclinar-se dentro do berço.

Por dois longos segundos, tudo estava bem. Bryan estava ali, deitado, delicadamente coberto por seu edredom favorito, com os olhos fechados;

E então, Rayane percebeu o risco ensanguentado na testa do bebê, fino como um fósforo. Percebeu o rebaixamento violento no crânio da criança, causada por um inconfundível golpe de faca.

E, por fim, percebeu sua ausência de respiração.

O grito de horror entalou-se em sua garganta, subjugado pela ânsia. Rayane vomitou contra o chão, caindo de joelhos ao lado do berço.

Ainda fremindo, limpou a boca, sentindo os olhos saltados ensandecidamente.

— Não… - ofegou, perdendo o ar – não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não,…

Sacudia a cabeça, como se assim pudesse espantar a visão profana que se instalara em sua mente. Mas sabia que, caso voltasse a olhar, ainda veria o corpinho morto do bebê.

Com as pernas fraquejando, custou a se reerguer, sem conseguir voltar a olhar para o berço. Apoiando-se nas paredes, saiu do quarto, sentindo a visão oscilar e suas entranhas se revirarem.

— M…. Mariah… - soluçou, sentindo os olhos se encherem de lágrimas, fracassando em produzir um grito de angústia.

Não. Ela não podia… aquilo não devia ser verdade.

— P-por q-quê, Mariah…?

Mesmo sem ver, sabia onde a faca que ceifara a vida de Bryan havia repousado em seguida. Mariah jamais teria tido a coragem de fazer aquilo sem ter decidido o próprio final.

Era demais para Rayane, que adentrou vacilante no quarto de Mariah, arrastando-se pelas paredes, receando descobrir o que havia acontecido com sua melhor amiga… a única família que havia lhe restado.

Ela podia ter sido feliz. Ter esquecido tudo aquilo. Rayane seria sua irmã, e amado Bryan como se fosse parte de sua própria família de sangue. Teria feito tudo por eles.

Teria dado a vida por eles.

— Por quê…?

O corpo de Mariah já não balançava mais. Pendurada pelo pescoço por uma corda, amarrada nos ganchos da cortina, encontrava-se frio e sem vida. Havia uma cadeira tombada no chão, provavelmente chutada durante sua queda.

Evidentemente, não havia sido o suficiente para uma morte rápida, já que a faca encontrava-se enterrada no peito da jovem suicida.

Os joelhos da moça voltaram a ceder. Rayane curvou-se contra o chão, definhando em desespero.

— Não…. - choramingou – não… não…

Devia ter percebido. As últimas palavras de Mariah agora apreciam óbvias demais. Se tivesse ficado para trás, talvez pudesse ter impedido que aquilo acontecesse.

Agora era tarde demais.

Tudo que havia feito para salvar Bryan… havia sido em vão.

Mal tinha forças para odiar a amiga por tê-la colocado naquele beco sem saída. Tal como ela, Mariah também havia sofrido a vida inteira por ser filha de bruxos das Trevas.

Talvez, realmente jamais viesse a se perdoar pelo que fizera com Bryan. Quem era Rayane para julgá-la, afinal?

Ainda assim, encarar a sombra dos pés suspensos da mulher enforcada pareciam arrancar as entranhas de Rayane para fora.

Mal conseguiu erguer a cabeça quando uma mão abarcou firmemente seu ombro.

— Ela fez a escolha dela - Blackhole sussurrou, impassível, acrescentando duramente – e você fez a sua, Blink – puxou-a sem cerimônia para cima – agora vamos.

Soluçante, a jovem se pôs de pê, ainda espasmando-se em soluços. De cabeça baixa, acompanhou o bruxo para fora do quarto.

Ainda ouvindo, atrás de si, o suave som da corda a balançar, subjugada pelo peso da última coisa que Rayane havia amado na vida.
















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