Dear Family - 1° Temporada escrita por Clay Evans


Capítulo 1
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Um taxi estaciona em frente a uma tradicional casa de um familiar bairro da cidade de Vinewood. Julian observa a casa de seus pais, onde cresceu e viveu a vida inteira com sua família e sorri de leve. O taxista desce do carro indo até o porta malas, o abrindo e tirando a mala de Julian a deixando no chão ao lado do carro. Julian desce fechando a porta em seguida e agradece o taxista o pagando e o vendo entrar novamente no taxi. O taxi sai de lá e ele continua olhando para a casa vendo uma de suas irmãs abrir a porta e sorrir ao vê-lo. Ele sorri indo até ela e deixa sua mala no chão a abraçando. Eles sorriem se olhando em seguida e ouvem o som das folhas das árvores sendo arrastadas com o vento.

Julian – Não precisa se emocionar, só fiquei fora por uma semana.

Ashley – Já não basta a nossa irmã estar longe de casa a mais de um ano, precisava ir também?

Ele se abaixa, pega a mala e sorri sem jeito.

Ashley – Como foi o casamento do seu amigo, se divertiu?

Julian – Vamos entrar, está frio aqui fora.

Ela o olha por alguns instantes intrigada e assente.

Ashley – Vamos, está todo mundo lá dentro.

Julian – Esqueci que hoje é domingo.

Eles entram fechando a porta e Julian deixa a mala no chão da sala de estar indo até a cozinha ao lado de Ashley. Ele vê seu irmão mais velho cozinhando algo no fogão com sua noiva e sorri para eles.

Julian - Isso mesmo Thaís, tem que colocar esse homem para aprender alguma coisa.

Ela sorri o abraçando rapidamente e Julian abraça seu irmão, que sorri o abraçando e segurando uma colher de pau.

Clay – É como dizem, são as mulheres que comandam a cozinha.

Thaís – Não fui eu quem pediu para ele mexer o strogonoff e sim a sua mãe.

Julian – Afinal, onde ela está?

Ashley – Mostrando minhas fotos constrangedoras de infância para o Luke em algum lugar da casa. Nosso pai está em Villareal tentando conseguir a permissão para abrir mais três novas lojas e nossa querida e amada irmã, está... onde ela está mesmo?

Clay - Eu não sei, a última vez que a vi ela disse `` Não me enche, seu saco de bosta! ´´

Julian – A Samantha é ótima.

Julian tira a colher de pau da mão de Clay e pega um pouco de strogonoff na panela o comendo. Eles o ficam olhando enquanto ele larga a colher no chão colocando a língua para fora queimada, e riem.

Clay – Está gostoso?

Julian – Quente, quente.

Eles continuam rindo e Thaís estende a mão com um copo de suco para ele. Ele o pega o bebendo de uma vez e os olha sorrindo.

Julian – Idiotas.

Rebecca estava passando pela sua sala de estar segurando um álbum de família e ouve a voz de seu genro vindo do lado externo da casa. Ela anda até a porta que dava acesso ao jardim e o vê ao telefone sorrindo.

Luke – Mas eu já disse que não posso falar com você agora, amor... te ligo mais tarde, tudo bem?... Eu nem deveria estar me arriscando tanto, estou na casa da minha sogra com a minha mulher... não começa, te ligo depois... Amélia, para.

Ela segura o álbum contra seu peito com força e se vira abalada voltando pelo mesmo caminho que havia vindo.

Samantha estava com os braços apoiados no parapeito da ponte de um rio que cruzava a cidade, o olhando pensativa enquanto o vento gelado balança as mexas de seus cabelos negros. Peter se aproxima com dois copos de chocolate quente e entrega um a ela, se apoiando no parapeito ao lado dela e dando um gole a olhando.

Peter – Está melhor?

Samantha – Estou congelando, apenas isso.

Ela dá um gole no chocolate e continua olhando para o rio.

Peter – Não gosto de te ver assim, não quero que fique assim... você é muito importante pra mim, Sam.

Ela balança a cabeça o olhando e se afasta do parapeito começando a andar pela ponte.

Samantha – Droga. Não comece com isso outra vez, eu estou cansada disso.

Peter – Cansada do que, de ouvir o quanto é importante pra mim?

Samantha – De tudo, estou cansada de tudo.

Peter começa a andar atrás dela e ela se vira o olhando irritada.

Peter – Você está diante de uma das pessoas que mais te ama e quer o seu bem nesse mundo todo e também tem uma família maravilhosa... maravilhosa, Sam.

Ela cruza os braços o olhando com frio e respira fundo tentando permanecer firme.

Peter – Você não sabe se o que vêm pensando é verdade, não sabe, mas e se for? Qual é o problema nisso? Meus pais não estão mais aqui pra eu poder dizer o quanto os amo, tudo o que me restou foi uma tia bêbada que raramente me nota, ou está sóbria... então, para. Chega. Está na hora de parar de reclamar das coisas e começar a agradecer, nem que seja por uma vez.

Ela engole seco ainda o olhando e levanta o copo de chocolate quente o balançando.

Samantha – Obrigada... está bom assim?

Ela se vira andando em direção a saída da ponte e ele a fica a vendo ir balançando a cabeça, enquanto a intensidade do vento aumenta.

Clay deixa seus irmãos e sua noiva na cozinha e sobe as escadas que dava acesso ao andar de cima da casa. Anda pelo corredor cheio de retratos de família e sorri ao ver uma foto de todos juntos no natal se lembrando de tudo o que havia acontecido naquele dia. Ele vê a porta do quarto de seus pais entre aberta e dá algumas batidas a abrindo. Rebecca estava encostava em sua penteadeira chorando e se vira enxugando as lágrimas o vendo. Clay a fica olhando sem entender e ela sorri de leve.

Rebecca – Clay.

Clay – O que houve, mãe?

Rebecca – Nada, não houve nada.

Ele fecha a porta indo até ela e a fica olhando preocupado.

Clay – Vamos, diga.

Rebecca – Saudades é só isso.

Clay – Saudades, dos meus irmãos?

Rebecca – Isso, deles.

Clay – Julian chegou, está lá embaixo na cozinha... vim avisar que o strogonoff já está pronto... mas eu sei distinguir um choro de saudade e outro de dor. O que está havendo, mãe?

Ela respira se sentando na cama e Clay se senta ao lado dela. Eles ficam se olhando calados por algum tempo até que ela respira fundo novamente.

Rebecca – Tenho percebido o jeito que com sua irmã me olha, o jeito com que nos olha... Ela vai perguntar, Clay. Ela vai perguntar a qualquer momento.

Clay – E a senhora dirá a verdade para ela, isso nunca mudou nada pra gente... a amamos do mesmo jeito, tenho certeza que ela vai lidar com isso numa boa... apesar daquele jeito durão dela. Ela sabe bem o valor que tem nessa família.

Rebecca assente sorrindo mais aliviada e ele a abraça.

Clay – Foi a senhora quem nos ensinou que nada pode nos abalar se permanecermos juntos e estamos juntos.

Rebecca – É, vai ficar tudo bem, sou uma boba em me preocupar.

Ele continua abraçado com ela e ela fica pensando em seu genro infiel.

Julian, Thaís e Ashley ainda estavam na cozinha sentados nos bancos do balcão e comem salgadinhos, enquanto conversam.

Thais – Se a Rebecca nos ver comendo isso antes do almoço, vamos nos dar mau.

Julian – Vou me dar mal é se continuar com fome, a comida oferecida nos aviões com certeza é para modelos, não enche nem o buraco do meu dente.

Ashley – Aí credo, morto de fome... mas me conte como foi o casamento do seu amigo de infância? Pegou o buquê, transou com alguma madrinha, ficou bêbado, fez algo interessante?

Julian – Não, não fiz nada disso... estava lá para presenciar um momento único entre duas almas, que se encontraram no meio de sete bilhões de pessoas e por algum motivo maior decidiram ficarem juntas, não é algo que se vê todo dia.

Elas riem e ele sorri assentindo.

Ashley – Não foi você mesmo que um dia desses disse que casamento era uma instituição falida? Que nunca iria casar e que apenas observava o quanto os casais se desgastam, quando estão casados?

Thais – Até parece que não conhece a ironia em pessoa, Ashley.

Thais sorri olhando para Julian e ele continua comendo salgadinho, indiferente.

Ashley – Estou casada a mais de um ano e nada disso é verdade, se o casal se ama e quer ficar junto, nada disso acontece. Eu e Luke somos felizes, me sinto segura com ele e até acho que ele me ama mais do que eu mesma o amo.

Julian – Você é mesmo segura de si, ou muito iludida.

Thaís – Fiquei com medo quando Clay pediu a minha mão, mas sei lá... pensei sobre e percebi que não importa a forma que estejamos juntos, só preciso estar com ele... Ele é o cara com quem quero passar minha vida.

Julian coloca dedo o perto da boca fingindo que ia vomitar e elas reviram os olhos balançando a cabeça.

Ashley – Insensível.

Thaís – Ogro.

Julian – Realista... mas o bom é que podem vir conversar comigo, quando notarem que eu estive certo o tempo todo e vocês erradas.

Luke entra na cozinha guardando o celular no bolso de sua jaqueta e se aproxima de Ashley segurando em seus ombros. Eles o olham e Ashley sorri.

Ashley – Aí está você.

Luke – Julian, você voltou.

Julian sorri sem vontade e continua comendo os salgadinhos.

Luke – Acabaram de me ligar do trabalho, preciso resolver um problema agora.

Ashley – No domingo? O que deu nos homens dessa família?

Luke – Sabe que acontece, preciso ir... nos vemos em casa mais tarde, ok?

Ele lhe dá um beijo na testa e sai da cozinha mexendo em seu celular. Ashley se levanta indo atrás dele e Julian olha para Thaís.

Julian – Cunhado é família desde de quando?

Thaís – Ah, não?

Julian – Você é, claro. Eu disse, cunhado e não cunhada.

Ele faz o sinal de joia com as duas mãos e sorri enquanto ela balança a cabeça, sorrindo.

Luke sai da casa andando em direção ao seu carro e Ashley anda atrás dele, rapidamente.

Ashley – Luke, espera.

Ele se vira a olhando e sorri de leve.

Luke – Eu sei amor, mas preciso ir mesmo... sabe que nada mais é importante do que passar um domingo com você e sua família, mas realmente preciso resolver isso.

Ashley – Se fosse tão importante assim, você não sairia.

Peter – Se não fosse preciso eu não iria, tentarei voltar o mais rápido possível, tudo bem? Só não posso prometer.

Ashley - Antigamente isso nunca acontecia, nada absolutamente nada no trabalho era motivo pra você sair desse jeito... está acontecendo alguma coisa, Luke?

Luke – Não, claro que não... você é o que mais importa pra mim, mas se eu não resolver isso agora, terei sérios problemas depois... não deixarei que nada abale nosso casamento, Ash. Dinheiro sempre causa problemas, não posso deixar que aconteça.

Ele coloca suas mãos no rosto dela e lhe dá um beijo demorado, a olha sorrindo e abre a porta de seu carro enquanto ela o fica olhando.

Luke – Coloque sua langerie mais bonita, irei recompensa-la a noite.

Ashley – Estou muito animada para isso.

Ele entra no carro o ligando, fechando a porta e lhe mandando um beijo e ela continua o olhando, séria. Ele dá a partida saindo de lá e ela se vira, voltando a casa.

Algum tempo depois...

Julian estava no banheiro de seu quarto tomando um banho dentro da banheira, relaxado, de olhos fechados e ouvindo música com fones de ouvido. Ele fica assim por muito tempo até que abre os olhos e se assustada se debatendo na água ao ver sua irmã, sentada em uma banco ao lado da banheira.

Ashley – Ótimo, finalmente me viu aqui.

Julian – Você é louca?

Ashley – Por favor, eu praticamente troquei as suas fraudas.

Julian – Não trocou não.

Ele junta a espuma da água tentando esconder seu corpo e Ashley respira fundo o olhando séria.

Ashley - Eu sei o que está acontecendo e estou muito chateada por não me contar.

Ele fica tenso a olhando e abaixa a cabeça.

Julian – Não sei do que está falando.

Ashley – Nosso pai está traindo a nossa mãe.

Ele respira fundo aliviado e ao mesmo tempo confuso e a fica olhando sem entender.

Julian – Como é?

Ashley – Nosso pai, traindo a nossa mãe... sei que já ligou os pontos. Ele está distante, se agarrando a qualquer oportunidade de sair de casa e o pior, trabalhando no domingo... quem aqui nessa família, trabalha no domingo? Isso é desculpa, isso é traição.

Julian – Desculpe, mas eu preciso dizer... O que seu marido foi fazer mesmo?

Ashley – Resolver um problema no trabalho e...

Eles ficam se olhando por alguns instantes e ela respira fundo.

Ashley – Não.

Julian – Eu não disse nada.

Ashley – Acha que...

Julian – Eu não acho nada, quando tentei dar minha opinião sobre o cara, você deixou bem claro para que eu não me metesse na vida de vocês.

Ashley – Você nunca deu uma chance. Não entendo qual é o seu problema com ele.

Julian – Espera, estamos falando da traição do nosso pai, do seu marido ou do fato de ele e nada pra mim serem a mesma coisa?

Ela se levanta irritada e Julian a fica olhando sério.

Ashley – Achei que a amizade entre nós dois era de verdade, mas é duro descobrir que só eu estava sendo amiga aqui... irmão.

Julian – Não irei dizer coisas que não acho, só para agradar você, Ash. Devia ficar feliz por isso.

Ashley – Você praticamente disse que eu estou sendo traída.

Julian – Não, você ligou os pontos... Eu apenas...

Ashley – Obrigada pela colaboração.

Ela sai do banheiro deixando a porta aberta e ele respira fundo balançando a cabeça se levantando, e enrolando uma toalha em volta de sua cintura, indo para seu quarto.

Algum tempo depois...

Ashley e Thaís estavam na área externa da casa, próximas a piscina, sentadas nas cadeiras de sol, olhando a piscina e encolhidas em seus sobretudos sentindo o vento gelado.

Ashley – O dia vai terminar e esse almoço não fica pronto.

Thaís – Não deveriam ter deixado o Clay tomando conta. Ele é um desastre na cozinha.

Ashley – Pelo menos ela não disse na minha cara que meu marido está me traindo.

Thaís a olha surpresa e Ashley continua olhando para a piscina.

Thaís – Como é?

Ashley – Esquece, não irei mais ficar pensando nisso. Me diga, quando serei tia?

Thaís – Nunca?

Ashley – Achei que queria ter um filho, não faz nem um mês que me disse isso.

Thaís – Duas semanas atrás fomos a uma festa de aniversário do filho de um amigo da faculdade do Clay. Você precisava ver o jeito que o Clay olhava para o menino, o jeito que sorria, que brincava com ele... nunca o vi assim com nenhuma outra criança, não fazia ideia de que ele poderia ser tão carinhoso assim. Eu o vi sendo pai ali, e eu gostei muito, muito mesmo do que vi.

Ashley a fica olhando sem entender e Thaís respira fundo, passando a mão no cabelo.

Thaís – Quando toquei no assunto ao chegarmos em casa ele me disse que eu não poderia pegar um dia, um momento especial que ele teve e achar que poderíamos ter aquilo, que não queria ser pai, que eu tinha que tirar isso da cabeça.

Ashley – Eu não entendo. Ele sempre gostou de crianças. Elas também sempre gostaram dele. Ele pode ter uma, pode começar a ter uma família com você e diz pra você esquecer? O que diabos está acontecendo com os homens dessa família?

Thaís fica calada por alguns instantes e balança a cabeça chateada.

Thaís – Ficou bem claro pra mim que ele quer ser pai... mas não quer ser pai de um filho meu.

Ashley – Ele pediu você em casamento.

Thaís – Meu pai pediu a minha mãe e ainda assim fez o que fez com a gente... um pedido não significa muito se o que vem depois, não o complementa. Eu sei que ele é o cara certo pra mim, mas e se eu não for a mulher certa pra ele?

Ashley balança a cabeça a olhando e respira fundo.

Ashley – Não comece a falar dela, ok? Você foi a única, a única que conseguiu coloca-lo de volta nos eixos, o amor que ele achava que sentia por ela, era doentio... não fazia bem a ele. Ele te ama. Estou estressada com coisas que aconteceram e acabei generalizando... talvez ele não queira ser pai agora, mas quando for a hora certa, vai acontecer.

Thaís continua calada e Ashley volta a respirar fundo, pensativa, enquanto o vento balança as mexas de seus cabelos.

Samantha entra em casa fechando a porta e andando em direção as escadas da sala de estar que davam acesso ao segundo andar da casa. Coloca a mão no corrimão da enorme escada e se depara com as inúmeras fotos de família espalhadas pela parede ao lado da escada, enquanto sobe os degraus lentamente. Vê várias fotos suas com seus pais e irmãos e sente seus olhos lacrimejarem, os fechando e respirando fundo. Ouve o som da voz de seus irmãos vindo da cozinha e abre os olhos cravando as unhas no corrimão e subindo rapidamente para seu quarto.

Algum tempo depois...

Todos estavam sentados á mesa da sala de jantar da casa, o único som ouvido dali era o dos talheres batendo nos pratos. Samantha come furando a comida com o garfo com raiva. Ashley no modo automático, olhando para o nada e colocando a comida na boca. Thaís olhando para Clay algumas vezes o vendo comer despreocupado e aparentemente com muita fome. Julian pensativo e quase nem tocando na comida e Rebecca apenas os observando, impaciente.

Rebecca – Todo domingo isso aqui parece um zoológico. Eu amo meu zoológico, por que não estão falando, berrando, brigando ou se abraçando?

Julian – Talvez porque as vezes é melhor ficar calado, do que dizer a verdade e a outra pessoa não gostar.

Ashley larga os talheres o olhando irritada e assente.

Ashley – Se é pra começar a dizer verdades aqui. Eu direi uma pra você, seu solteirão acomodado.

Julian – Antes solteirão do que corno.

Rebecca – O que é isso?

Clay continua despreocupado enquanto Thaís e Samantha ficam olhando atentas para Ashley e Julian.

Ashley – Acredita que seu filhinho caçula disse na minha cara que detesta meu marido e que eu estou sendo traída, mãe?

Samantha sorri de leve, dando um gole em seu suco de laranja e continua os olhando. Rebecca arregala os olhos por alguns instantes e Julian balança a cabeça.

Clay – Alguém pode me passar o purê de batatas?

Clay os fica olhando, esperando lhe passarem o purê e todos continuam do jeito que estavam.

Clay – Não? Tudo bem, então.

Ashley – Diz alguma coisa, mãe.

Rebecca – Eu...

Julian – Ela não vai ter coragem de dizer pra você, Ash. Óbvio que eu não queria ter que lhe dizer isso, na verdade eu nem disse... naturalmente você descobriria, então...

Ashley – Não é porque meu pai é um homem infiel que todos tem que ser, ok?

Rebecca a olha abismada e Ashley a olha se dando conta do que havia dito.

Rebecca – Então é isso o que pensa?

Ashley – Mãe.

Rebecca larga os talheres balançando a cabeça e Thaís olha de lado para Clay.

Thaís – Pelo menos algumas pessoas aqui tem coragem de dizer o que pensam, diferente de outras.

Clay a olha sem entender e ela vira o rosto completamente, o olhando.

Julian – Sam, querida. Como foi a sua última semana? Causando o terror na vizinhança?

Ela o olha sem dizer nada e Julian dá de ombros, balançando a cabeça.

Clay – O que quer dizer, acha que estou traindo você também?

Ashley – Também? Então você também acha que estou sendo traída.

Julian – Gente.

Thaís – Não, Clay. Não acho, mas não sei se isso é pior do que saber que eu não a mulher da sua vida, não sou a mulher que quer que seja a mãe dos seus filhos e...

Ela começa a chorar abaixando a cabeça e ele a fica olhando sem reação.

Clay – Está bêbada?

Ashley – Não fala assim com ela.

Julian – Deus. Você está insuportável hoje.

Os quatro começam a discutir na mesa. Rebecca abaixa a cabeça perdida em seus pensamentos e Samantha da outro gole em seu suco, entretida com as brigas. Olha para sua mãe por alguns instantes e pigarreia a olhando fixamente.

Samantha – Eu...

Sua voz é abafada em meio as vozes estridentes da briga generalizada na mesa e ela desvia o olhar perdendo a coragem. Rebecca continua com a cabeça abaixada e Samantha a olha novamente.

Samantha – Eu... eu...

Novamente sua voz se perde em meio a discussão e ela se irrita batendo a mão na mesa, gritando.

Samantha – Chega, caramba.

Eles param de brigar a olhando e ela continua olhando diretamente para sua mãe.

Samantha – Eu sou adotada, não sou?

Os quatro ficam em silencio a olhando chocados e Rebecca continua com a cabeça abaixada.

Samantha – Não sou?

Ela se segura para não chorar e fica olhando fixamente para sua mãe. Rebecca levanta a cabeça juntando forças para conseguir olha-la e tudo oque faz é derramar algumas lagrimas.

Julian – Sam... nunca tocamos no assunto, mas... achávamos que você sabia, mas não se importava... nunca foi segredo, só não...

Samantha – Cala a boca, Julian... cala essa boca.

Ele se cala a vendo chorar e ela enxuga as lágrimas continuando a olhar para Rebecca.

Samantha – Diz, diz pra mim.

Rebecca – Isso não muda nada. Você sempre soube e mesmo assim viveu muito bem todo esse tempo. Eu entendo que uma hora precisaria fazer a pergunta, que seria difícil ouvir a resposta, mas também sabia que isso seria com o tempo, no seu tempo, por isso esperei, por isso não tocamos no assunto, porque isso não importa, você é tão parte dessa família quanto qualquer um aqui.

Samantha – É, tem razão. Eu sempre soube. Obrigado por não tocarem no assunto e me fazerem viver com medo de perguntar e ter a certeza de que eu realmente era adotada.

Clay – Eu não sei o que está se passando na sua cabeça agora, mas eu tenho certeza de que para todos nós aqui, isso não muda nada, sempre soubemos, sempre a amamos mesmo assim... um papel dizendo que não somos irmãos biológicos nunca vai provar que não somos irmãos, que você não é parte dessa família maluca.

Samantha o olha por algum tempo, abalada e desvia o olhar olhando para todos a mesa.

Samantha – Estou magoada, bem arrasada na verdade.

Ashley – Sam.

Samantha levanta a mão para que Ashley se cale e continua os olhando.

Samantha – Já que ainda faço parte da família, mesmo no momento meio que sentindo que não... devo ter direito de dizer umas coisas.

Eles a ficam olhando atentos e ela respira fundo.

Samantha – Mãe. Acho que já tem idade suficiente para não ficar se preocupando com o que meu pai anda fazendo num domingo nublado em outra cidade. Se o casamento de vocês dura a mais de trinta anos, não vai ser a paranoia de seus filhos que vai arruína-lo. Thaís, quantos anos você tem mesmo? Vinte e quatro? Está na hora de crescer, mulher. Ficar chorando porque o seu noivo não quer ter um bebê é uma coisa muito patética. Clay, meu querido irmão mais velho... pra que pediu a mão dela em casamento se não quer ter filhos com ela? Eu sei porque, não precisa responder... Ainda ama sua ex, precisa provar a si mesmo que não, fez o pedido a Thaís, mas ter filhos é um passo muito grande a ser dado com alguém que obviamente não consegue te fazer plenamente feliz. Deveria ter um pouco mais de amor próprio e larga-lo, Thaís.

Eles a ficam olhando chocados e Samantha olha para Ashley.

Samantha – Não sei porque está tão brava com o Julian, Ashley. Todo mundo sabe o grande safado que o Luke é. Se eu quisesse já teria ido pra cama com ele, aquele porco nojento já me assediou várias vezes e você, claro, nunca nem desconfiou, aí quando alguém joga a verdade na sua cara, você fica revoltada? Você é a minha irmã mais velha, ponha-se no seu lugar e se valorize também. Eu já o coloquei no lugar dele, agora é a sua vez.

Clay – Ele assediou você? Eu vou matar aquele cara.

Ashley a fica olhando sem acreditar no que havia ouvido e Samantha se levanta apoiando as mãos na mesa.

Samantha – E você, Julian. Deveria parar de ser tão hipócrita, fica jogando coisas na cara da Ashley, mas você mesmo esconde coisas de todo mundo aqui, não serei como você e contarei a todos, deixarei que pense nisso e decida se vai ou não continuar agindo dessa forma.

Todos continuam a olhando calados, e ela enxuga as lagrimas novamente.

Samantha – Ótimo, já disse o que queria e... não me sinto melhor, não achei que isso fosse resolver algo, mas... obrigada por fazerem questão que eu me sinta parte da família. Não poderia fazer desfeita e não dizer umas verdades, como boa filha, irmã e cunhada que sou. Se me dão licença eu irei para o meu quarto agora.

Ela força um sorriso sem vontade alguma e sai de lá subindo as escadas da sala de estar, em direção ao seu quarto. Eles continuam calados e olham para lugares diferentes da sala de jantar, enquanto tentam digerir as coisas que ouviram.

Um taxi para em frente a uma bonita casa de um bairro nobre de uma cidade distante a de Vinewood. Uma garota desce do carro segurando um envelope e fecha a porta subindo na calçada e esperando um pouco até começar a andar pelo caminho de cascalho do jardim da casa. Vê alguns carros estacionados em frente a casa e sobe os degraus da escada da casa, ficando parada em frente a porta, criando coragem para tocar a campainha. Ela ouve o som de risos vindo de dentro e aperta o envelope em sua mão, com vontade de chorar. Fecha os olhos tocando a campainha, espera um pouco até que a porta se abre e vê um casal sorrindo. Ela fica os olhando tensa e os sorrisos nos rostos deles desaparecem.

Shirley – O que faz aqui, garota?

Emerson – Os termos são bem claros, você nunca pode vir aqui... vá embora.

Giselle – Eu só... só queria entregar uma coisa, não quero vê-lo. Só queria que entregassem essa carta quando ele tiver idade suficiente, para lê-la e entender tudo.

Shirley – Está louca se acha que faremos isso.

Giselle – Fiquem com ela, se acharem que deve mostrar a ele, ótimo. Mas se não, tudo bem também... só não quero que ele pense que eu não o queria, que não o amava.

Emerson – Você abriu mão dele, agora somos os pais dele e você não tem direito algum de vir aqui dizer, pedir ou esperar qualquer coisa... siga seu rumo, menina.

Os olhos dela lacrimejam e ela estende o envelope para eles.

Giselle – Por favor.

Shirley empurra o envelope e a mão de Giselle e balança a cabeça.

Shirley – Estamos dando uma festa, comemorando a chegada do nosso primeiro filho... você não é bem vinda aqui, muito menos esse envelope com sabe lá Deus o que tenha escrito. Saia da nossa propriedade agora ou chamarei a polícia.

Giselle abaixa a mão assentindo e Emerson fecha a porta com força. Ela se vira descendo as escadas e respira fundo engolindo o choro. Ela aperta o envelope em sua mão com força e caminha pela rua se lembrando de cada palavra que havia escrito.

`` - Provavelmente você nunca irá me conhecer, talvez nunca tenha ouvido falar de mim até agora, lendo esta carta. Mas achei que um dia você merecia saber, não irei dizer os motivos pelos quais decidi abrir mão de você, isso não é importante. Você tem a sua família e tenho a certeza que é amado e feliz ao lado deles, não o entregaria se soubesse que não seria...

Ela chacoalha a cabeça, sentindo suas lágrimas caírem e continua andando tentando não se lembrar do que havia escrito na carta.

Giselle – Acabou... estou melhor assim. Ele ficará melhor sem mim... ficará melhor sem mim.

Ela volta a olhar a casa pela última vez e se vira, se afastando e continuando a andar pela calçada.


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