POV Harry

O sol das 2 da tarde queimava meu coro cabeludo.

Hoje tinha turno a tarde no posto de gasolina.

Trabalhava como cozinheiro da lanchonete que tinha lá.

Não era um dos melhores empregos do mundo, mais pagava as minhas despesas.

-Bom dia - Bob o cara do caixa disse quando me viu.

-Bom dia - respondi educamente.

-Harry! - ouvi meu chefe gritando da sala dele. - Voce está 3 minutos atrasado!

-Foda-se - murmurrei baixinho com medo dele escutar.

-O QUE?! 

-Nada - disse revirando os olhos e pegando meu avental.

Fui para a velha e engordurada (e fedorenta) cozinha.

-Oi Harry, querido - a Sra. Climb me cumprimentou. Considerava ela como uma segunda mãe.

-Olá - disse sorrindo e lhe dando um beijo no rosto já enrugado.

-Como foi a noite com os amigos? 

-Muito legal.

Minha mãe morreu quando eu era pequeno e eu fui criado pelo meus tios já que o meu pai sumiu no mundo quando eu nasci.

Comecei a morar sozinho e a trabalhar cedo.

Sabia me virar bem.

Mas sentia falta da figura materna, coisa que encontrava na Sra. Climb.

-Dois Hamburguês pra mesa 3, e uma porção de batata frita. - Jenny a garçonete disse aparecendo na janelinha da cozinha com um papel com os pedidos na mão e o habitual coque mal feito.

-Pode deixar - respondi.

-E duas Cocas - ela completou saindo.

-Eu cuido dos hamburguês - disse.

Fui até a grelha, coloquei minhas luvas e peguei 2 hamburguês e coloquei para fritar. Peguei os outros ingredientes na geladeira e os arrumei em cima da bancada.

Virei os hamburguês.

Recebi uma mensagem no celular que vibrou no bolso da minha calça Jeans, se meu chefe solbesse disso me matéria mais tirei as luvas e fui ver o que era.

Mensagem da Sam!

Cliquei em Ler.

Harry você teve noticias do Matt ou da Caroline? 

Mandei uma mensagem pra ela respondendo que não.

Estou preocupada com eles.

Ela mandou outra. 

Respondi:

Porque?

Intuição.

Eu odiava a intuição da Sam, sempre estava certa.

Um dia ela disse pra eu tomar cuidado com o skate. Não ouvi e quebrei a perna. Droga.

Tentei ligar pro celular do Matt mesmo com medo do meu chefe descobrir.

Caixa postal.

-O que está fazendo? - ouvi a voz do meu chefe Frank vindo de trás de mim.

Dei um pulo e escondi meu celular rapidamente na calça.

-Nada - respondi assustado.

-Deixou dois hambúrgueres queimarem - ele aponto pra grelha -Vai sair do seu salário.

Suspirei derrotado.

Tirei os dois hambúrgueres que estavam pretos de tão queimados e coloquei dois novos. A batata já estava pronta e a Jenny foi entregar junto com a coca enquanto eu terminava os malditos hambúrgueres.

-Está com a cabeça nas nuvens - Sra. Climb disse me encarando.

-Fiquei um pouco preocupado com os meus amigos agora...

-Se precisar sair pra resolver algum problema, eu posso dar conta da cozinha - ela disse sorrindo.

Sra. Climb, ou Molly para os mais íntimos, já era uma mulher de idade, seria horrível da minha parte deixar todo o trabalho da cozinha pra ela.

-Não, tudo bem, obrigado - respondi sorrindo.

Recebi outra mensagem, e me segurei para não olhar até terminar o hambúrguer.

Quando Jenny foi entregar, dei uma olhava e vi que era outra da Sam.

Não consigo falar com a Claire também.

O que estava acontecendo?

Não entra em pânico, pode não ser nada.    Respondi.

Ou pode ser alguma coisa séria.

Ela sempre pensava  o pior.

Eu te ajudaria, mais estou trabalhando, sabe que eu preciso do dinheiro.

Eu sei, não quis atrapalhar. Só quero saber se está tudo bem com você. Quando sair do trabalho tem como passar aqui? 

Tem sim.

Guardei meu celular no bolso mais uma vez e peguei o próximo pedido.

Depois de fritar mil hambúrgueres meu chefe veio avisar que eu tinha 10 minutos de descanso pra poder beber água e sair um pouco daquela cozinha nojenta.

O turno da Molly já estava chegando ao fim, e quando eu voltasse pra lá estaria tomando conta da cozinha sozinho.

Joguei meu avental em cima da mesa perto do fogão e sai da cozinha rapidamente. Quando cheguei do lado de fora da lanchonete para ligar para a Sam e tenta ligar para o Matt novamente senti um cheiro estranho. Mais não dei bola.

Disquei o numero da Sam que atendeu com uma voz preocupada.

-HARRY!

-Não é a Lady Gaga falando - brinquei.

-Bobão, estou muito feliz de ouvir o seu sarcasmo.

-Fica calma, não deve ter acontecido nada.

-Não sei não, o Matt me ligou e ele estava tão estranho no telefone, enquanto não falar com ele de novo não vou sossegar. E já era para a Claire ter dado noticias também, e a Caroline.

-Claire deve estar lendo algum livro na sombra de alguma árvore perto do vulcão. E a Caroline deve ter achado um shopping no meio do caminho. Relaxa.

-Enquanto ao Matt?

-O que ele disse no telefone?

-Que... -ela fez uma pausa -que me amava.

-Então devia estar feliz! - gritei.

-EU ESTOU! Mais continuo preocupada.

-Boba - resmunguei.

-Harry! - ouvi Frank, o chefe idiota gritar.

-Impossível que já tenha passado 10 minutos - resmunguei.

-Tem que desligar? - Sam perguntou.

-Tenho sim, mais fica calma, respira fundo que quando eu sair daqui vou direto pra sua casa -disse.

-Tudo bem. Tchau.

-Tchau.

Ia desligar o telefone quando ouvi ela dizendo:

-ESPERA!

-O que?

-Te amo ok? Você é meu melhor amigo.

Fiquei meio confuso mais respondi.

-Você também é a minha melhor amiga, e eu te amo demais.

Ela suspirou satisfeita e desligou.

Me virei para a lanchonete quando senti aquele cheiro novamente.

Gás.

Ouvi um barulho de explosão e olhei para a janela onde eu pude ver de onde o barulho veio, a cozinha.

Todo o meu corpo se paralisou, enquanto minha mente gritava para que eu saísse correndo. 

Foi o que eu fiz, obedeci a minha mente, e usei toda as minhas forças para me virar rapidamente e sair correndo, não queria parar ate estar o mais longe possível, quando ouvi o primeiro grito.

SOCORRO!

Voz de criança, me fez parar no mesmo segundo. 

Porque Harry? Porque você tem que ser um dos garotos bons? Devia apenas continuar correndo e ignorar. 

Aquela explosão, foi apenas a primeira. Estávamos em um posto de gasolina, logo teria a primeira explosão séria. E eu tinha que estar o mais longe possível quando isso acontecesse.

Ignorei a parte racional de mim, e dando meia volta novamente, segui a parte emocional ate a cozinha, de onde ouvi mais um grito.

Parei para pensar no que a Sam tinha me dito, porem do mesmo jeito entrei na lanchonete que agora estava cheia de fumaça. 

Corri ate a cozinha e vi que toda a lanchonete estava vazia, tirando a garota que ainda gritava. Entrando na cozinha pude vê-La.

Ela estava sentada com a cabeça escondida nos joelhos chorando e ainda gritava por ajuda.

Corri ate ela com a mão no nariz tentando não inalar mais fumaça.

-Hey - disse tentando chamar a sua atenção enquanto chegava nela. -Vou te tirar daqui.

Toquei com a ponta nos meus dedos no seu cabelo.

-Vai ficar tudo bem. 

Ela levantou o rosto e eu pude ver seus olhos. Frios e cruéis demais para uma criança.

Tive medo dela.

-Vai sim, mais não pra você.

-O que?

A garota se levantou devagar sem tirar os olhos de mim.

-Você tem medo Harry?

-Não - disse confuso.

-Devia ter.

Antes que eu pudesse pensar ou falar alguma coisa a garotinha desapareceu e apareceu do outro lado da porta da cozinha.

-O que está fazendo? - perguntei enquanto ela fechava e trancava a porta.

-HEY! O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! - gritei assustando batendo na porta.

-Quem brinca com fogo - ouvi a voz infantil dizendo - Pode se queimar.

O  fogo estava alto ali.

Sentia cada centímetro da minha pele se queimando. Cada fio do meu cabelo. 

Minha roupas chamuscavam.

Era o fim.

Bati desesperadamente na porta com a estúpida idéia de que alguém iria me salvar. Mas eu sabia que ninguém iria.

A fumaça entrava no meu pulmão e eu não conseguia mais respirar ar puro.Não tinha mais ar puro dentro do meu organismo.

Sim, era o fim.

Outra explosão, o calor da cozinha aumentou, pensava que isso não fosse possível.

Me tirem daqui, me tirem desse lugar. Me tirem desse calor. Aquilo era como o inferno? Teria como algo ser pior que aquilo?

Eu não merecia nada como aquilo. Merecia?

Tinha medo de ouvir a resposta.

O fogo subiu pelas minhas roupas, não conseguia mais respirar, já tinha ficado ofegante. Minhas roupas se desintegraram,  meu cabelo queimava, meus pelos queimavam. 

Tudo queimava.

Comecei a pensar em todos que eu deixaria pra trás. Qual seria a reação da Sam ao saber que eu morri? Ela era minha melhor amiga, como ela iria reagir? 

Não conseguia imaginar, do jeito que ela era... Sempre imaginando coisas. Iria pensar que eu ‘’fui o próximo’’ apesar do termo parecer ate meio correto, pelo modo como eu vim parar aqui.

Não conseguia mais gritar. 

-Quem brincar com fogo - repeti a frase dela com o ultimo sofro de vida que tinha dentro de mim - Vai se queimar.

E eu apaguei.