Nicolas Narrando:

Marina passou a semana me evitando. Caraca eu não podia entender! Depois de tudo que ela me disse, até mesmo me beijou. Eu pensei que aquela seria a chance que eu teria de ter algo com ela. Mas não. Depois da terça-feira em diante ela só me evitava. Eu tentei me aproximar dela diversas vezes mas ela sempre fugia. Inventava alguma desculpa pra não ficar perto de mim. Não sei o que ela tinha. Mas aquilo já me irritava profundamente.

Hoje eu tiraria essa história a limpo. Era sábado. Sete e meia da manhã. Mais um dia de trabalho. Hoje teriamos externas pra gravar. Eu realmente gostava muito mais de gravar externas.

Acordei mais cedo do que o normal. Corri pelo condomínio e voltei. Tomei banho e me vesti. Logo já estava pronto pra ir trabalhar.

Me despedi apenas da minha mãe, porque era a única que acordava a essa hora no sábado junto comigo.

Dirigi por alguns instantes e enquanto isso fiquei pensando no que falaria para Marina.

Cara, eu queria tanto ela e agora sabendo que ela me queria não podia deixar ela escapar.

Cheguei no projac. Fui um dos primeiros do núcleo a chegar. Não era todos que iriam gravar as externas. Era mais nós do núcleo da banda, Marina e Thayla e mais alguns apenas. Algumas cenas e nada de mais provavelmente antes da três horas já estariamos com tudo gravado.

Aos poucos o pessoal já foi chegando e nós ja fomos nos preparando para sair gravar as cenas. Seria em outro bairro. Não sabia exatamente em qual.

— Bom dia gente ! Desculpa o atraso.

Ouvi aquela voz que eu reconhecia. Olhei pra trás e vi Marina. O que era estranho era ela chegar atrasada. Marina sempre foi pontual. Nunca se atrasava. Sempre adiantada. Algo estava acontecendo.

— Marina chegando atrasada? Caso raro. Por isso deixo passar.

Disse a Maria nossa diretora que também iria nos acompanhar na gravação de hoje. Marina apenas sorriu pra ela e foi falar com a Thayla e Joana que ja estavam ali estudando as suas cenas.

Ela nem sequer olhou pra mim.

Minutos depois e já estavamos todos indo para a Van. Precisavamos chegar o quanto antes no lugar indicado para gravar as cenas. Segundo Maria todos os figurantes e pessoal da equipe já estavam por lá. A nossa espera.

Me sentei atrás de Marina na Van, ela estava dispersa mexendo no celular, nem sequer conversava com a sua amiga. Peguei meu telefone e abri no whatsapp. Iria mandar uma real pra ela.

"Obrigada por me evitar hoje e a semana toda. Só não sabia que você nem falaria comigo"

Enviei e vi o barulho do celular dela apitar. Minha mensagem havia chegado.

"Não fala assim. Somos amigos. Tenho meus motivos" — Marina.

Amigos? Ela estava de brincadeira comigo não é mesmo. Eu tinha dispensado a Raquel pra ficar com ela. Pensei que ela já estava decidida sobre o que queria. E agora ela me diz isso? Só podia estar tirando uma com a minha cara mesmo.

"Que motivos Marina? Cara você só pode estar tirando uma comigo"

Enviei e bloqueei a tela do celular. Não queria falar com ela. Não por mensagem. Assim que acabasse as externas ela iria me ouvir. Fui o resto do caminho olhando para a paisagem. Meu celular apitou mas eu ignorei. Eu estava devidamente irritado. Como ela podia fazer isso comigo cara?

Chegamos lá em seguida. Esperei alguns descerem. Marina fez o mesmo e antes dela descer segurei seu braço. Impedindo a saída dela.

— A gente precisa conversar — Falei um tanto seco.

— Agora não Nicolas. Temos que gravar.

— Eu não disse agora. Só precisamos e você sabe disso.

Falei e sai da Van. Não queria ouvir a resposta dela. Apenas dei o intimato e saí. Vi ela indo para o camarim improvisado se ajeitar para gravar as cenas.

— O que houve? — Disse João se aproximando de mim.

Ele já estava ligado no que estava acontecendo. Vivia me perguntando sobre mim e Marina.

— Depois cara. Vamos gravar agora! — Falei e ele assentiu.

A cena era de um show da banda 4.4 em um local aberto. Um festival para ser mais exato.

Gravamos todas as cenas. Foi até divertido. Me distraí e muito. O clima entre o elenco era incrível. Nos davamos todos super bem e sempre tinha gargalhadas. Vi Marina poucas vezes. Também tratei de evita-la.

Já era quase meio dia quando voltavamos para o projac. Estavamos todos cansados. Dava pra ver em nossos rostos. Mas o bom é que agora estavamos livres de trabalho nesse fim de semana.

— Então Nicolas pilha saída hoje a noite? — Disse Danilo que agora estava sentado do meu lado.

— Pra onde cara? Não sou muito de festas — Respondi.

— Vamos nos reunir lá em casa então — Disse ele.

— Vou ver e te aviso.

Ele assentiu.

Vi ele sair do meu lado e ir até onde Marina estava. Provavelmente estava a convidando. Mas quem não sabia que ela não iria. Ela nunca ia. Então nem criei esperanças. Acho que era isso que eu tinha que fazer a partir de agora. Não criar esperanças. Marina só me fazia de otário. Maldito dia que eu deixei ela me beijar. Se eu soubesse que daria toda essa confusão eu nunca teria passado desses limites com ela. Teria deixado apenas na amizade e teria me enturmado mais com Raquel. Que agora não ia querer mais nada comigo mesmo. Que se dane!

— Marina e Joana vão ir.....

Eu não consegui prestar a atenção no que ele terminar de dizer. Só sabia focar na parte em que ele dizia que a Marina iria colar por lá.

— A Marina vai? — Perguntei incredúlo.

— Vai, pelo menos ela disse que ia.

— Nunca imaginei isso — Respondi.

— Nem eu....Mas diz ai, você vai? Vai ser churrasco. Entre amigos.

— Acho que vou. Ainda vou ver.

Ele assentiu.

É claro que eu iria ir. Só não queria deixar tão na cara que era porque a Marina iria. Era estranho ela colar nessas saídas que faziamos. Ela nunca ia. Sempre negava. Alguma coisa estranha rondava no ar.

Desci da Van basicamente correndo, precisava organizar tudo pra ir logo atrás da Marina. Antes que ela fosse embora como das outras vezes. 

Me troquei correndo. Guardei minhas coisas e fui atrás dela. Hoje ela não escapava de mim. E se escapasse teria a noite ainda. Iria dar um jeito de saber o que estava acontecendo com a Marina.

Quando cheguei em frente ao camarim feminino, ouvi algumas vozes previ que elas estavam terminando de se ajeitar. Esperei por alguns segundos até a figura de Marina sair de dentro do mesmo. Ela parecia um tanto assustada com a minha presença.

— O que faz aqui? — Disse ela.

— Impedindo você de me evitar — Falei e ela abaixou a cabeça.

— Me desculpa por isso. Eu estive com a cabeça cheia e.....

— Não Marina. Eu não desculpo! Eu to cansado cara! Você ta me fazendo de otário. Eu dispensei uma garota incrivel porque achei que teria chance com você.

— Não diz isso. Você me deu um tempo. E eu to usando isso.

— Mas precisa me ignorar desse jeito?

— Não. Me desculpa por isso. Mas é que.... Eu sai esses dias com o Daniel e eu me senti mal por isso.

— Mal com o quê? — Falei.

— A família dele Nicolas. É incrivel. Me tratam tão bem.Vai ser dificil — Disse ela.

Não acredito!

— Marina, você vai ter que lidar com isso.

— É complicado Nicolas. A gente ta junto a muito tempo eles me tratam como se eu fosse da família.

— Então você escolheu ele, não é? Tudo bem Marina. Não precisa dar desculpa.

Eu estava irritado.

— Não é isso. Só é complicado ficamos muito tempo juntos. Mas eu vou conseguir. Vai valer a pena.

Ela disse se aproximando e sorrindo pra mim. Não entendi muito bem no que ela estava tentando dizer.

— O que você quer dizer?

Eu estava tão irritado.

Continuei na mesma posição. Encostado sobre o muro do corredor. Marina se aproximou de mim e colocou seus braços em volta do meu pescoço. Ela me deu um beijo na bochecha.

— Eu estive pensando essa semana. Eu não consigo ficar mais longe de você.

Ela sussurou em meu ouvido. Aquilo era baixaria. Ela era irresistível. Olhei para os lados e dei graças a deus que não tinha ninguém. Entrelaçei meus braços na cintura dela aproximando mais nossos rostos.

— Então quer dizer que.....

Ela me interrompeu.

— Me desculpa por te evitar mas é que eu tive que ficar longe. Tinha que pensar e tomar uma decisão. Eu acho que consegui.

— E o que você decidiu? — Perguntei.

— Eu escolho você Nicolas.

O meu sorriso abriu. Eu não estava conseguindo parar de sorrir naquele momento. Eu não podia acreditar. Ela havia me escolhido.

— Você ta dizendo que...

Ela assentiu me dando outro beijo na bochecha. Me aproximei mais do rosto dela e grudei nossos narizes. Eu queria tanto beija-la.

— Não podemos nos beijar aqui — Ela disse me cortando.

Eu sorri assentindo.

— Você vai mesmo na casa do Danilo? — Perguntei.

— Vou sim. Não vou ter o que fazer mesmo. Daniel vai estar fora e......Me desculpa — Disse ela de cabeça baixa.

— Não. Tudo bem. O que você vai fazer em relação a ele? — Perguntei.

Não queria mais ele beijando ela. Nem a tocando.

— Eu vou ver. Me da um tempinho pra resolver?

— Claro.

Ela sorriu.

— Vai mesmo na casa do Danilo a noite? — Perguntei de novo.

— Vou sim.

— Então nos vemos a noite? — Falei sorrindo.

— Sim. Até a noite.