Defeituoso escrita por ohmygiu


Capítulo 2
I'm gonna be free and I'm gonna be fine (but maybe not tonight)


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos com mais um! Esse saiu mais rápido porque eu já tinha ele pronto aqui porém eu não tenho certeza de quando sai o próximo. Comentem para que eu saiba se estão gostando, sinto que estou dando tiros no escuro haha e deixem suas criticas, eu preciso muito saber onde devo trabalhar para trazer algo melhor! Se encontrarem erros me avisem, por favor. Aproveitem o capitulo, beijos ♥



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Já passava das duas da manhã quando Gabriel conseguiu fechar a conta do último grupinho que ocupava uma das mesas, eles bebiam felizes enquanto deixavam a razão sair de suas mentes com o álcool para aliviar as frustrações das próprias vidas.

Encerrar o expediente do bar em que trabalhava de garçom sempre era a pior parte, tendo sempre que expulsar bêbados, limpar banheiros lavados de vômito de pessoas que não conseguiam ao menos mirar numa privada e tentar dividir as contas entre 5 pessoas diferentes que não conseguem parar de falar.

Como era sexta-feira e o bar ficava próximo ao campus de uma faculdade, essas situações já tinham se tornado comuns, vários jovens sempre se reuniam ali para jogarem conversa fora, paquerar e beber para afogar mágoas, fossem de notas ou amores. Ele quase sentia inveja daquelas pessoas que tinham amigos para desfrutar de momentos como aquelas, mesmo com as vergonhas que vinham acompanhadas, quase

Mas ele sabia que não era uma opção com a sua condição atual, nunca seria.

Assim que terminou de trancar tudo, se dirigiu ao banheiro dos funcionários para se trocar e aproveitou a situação para dar uma avaliada no próprio corpo no espelho. 

Não se achava bonito, estava claramente acima do peso, porém com a rotina que levava era impossível fazer uma dieta regrada e se exercitar em uma academia também não era viável, afinal, mal tinha tempo para dormir quanto mais para ir se exercitar e secretamente sabia que não conseguiria abdicar das besteiras que comia mesmo se tentasse.

Passou os olhos pela cauda felpuda com pelos castanhos escuros enrrolada em seu tronco, o pelo macio esquentava um pouco e o deixava maior ainda por debaixo da camiseta, mas não tinha muito como disfarçar de outra forma. 

Subindo o olhar passou pelo rosto, reparando nos dentes ligeiramente mais acentuados e os pequenos pelos que cresciam no rosto, nunca o suficiente para chamar de barba e parou no que poderia considerar o maior dos problemas: as orelhas pontudas no topo de sua cabeça, no mesmo tom castanho da cauda, imaginando se as coisas seriam diferentes se ele não tivesse nascido desse jeito, se não tivesse nascido defeituoso.

Gabriel tinha nascido um ômega, símbolo de grande poder e importância para uma matilha, dada a raridade com que apareciam numa linhagem, porém ele nunca conseguiria se transformar já que seu lobo, de alguma forma que ninguém conseguia explicar, estava fundido a si. 

Sempre metade, nunca completamente humano e nunca completamente um lobo, não tinha outro nome para designar o que era senão defeituoso.

Já tinha desistido de entrar para qualquer matilha, pois sempre que se apresentava ao Alfa era expulso do lugar sem nenhuma chance de provar que poderia ser útil apesar de sua condição.

 Para eles sua forma não deixava espaço para discussões, era claramente um mau presságio, não haviam sequer registros de ômegas incompletos na história e nenhum Alfa responsável colocaria tudo a perder na sua matilha só porque ele queria se encaixar entre os seus.

Atualmente vivia como um lobo selvagem junto com sua mãe, sem grandes planos para a vida. Sua mãe nunca fez questão de fazer o mínimo para mantê-los e foi obrigado a começar a trabalhar muito cedo, para conseguir se manter, pois o dinheiro que a mãe estranhamente recebia não dava para quase nada, com tudo isso nunca deu muita atenção para a escola e nunca teve tempo para sequer pensar em faculdade.

Já tinha aceitado que seu destino era se esconder dos humanos, ser rejeitado pelos lobos e pela mãe, sempre levando uma vida monótona, para não dizer miserável, sem amigos e sem um companheiro.

Foi tirado de seus pensamentos quando escutou o toque de seu celular dentro da pequena mochila, assim que viu quem era ficou um pouco surpreso, sua mãe nunca ligava e nas raras vezes que acontecia era apenas para mandar ele comprar alguma coisa que estava faltando em casa.

— Alô, mãe? Eu estou saindo agora, não tem nenhum mercado aberto, se a senhora quer alguma coisa terá que esperar até amanhã.

— Cale a boca e deixa eu falar, idiota — a voz do outro lado da linha parecia irritada, pode-se dizer que Mirela não era  o melhor modelo de mãe para se espelhar — Você tem que vir pra casa agora, sem desvio nenhum e se der pegue um táxi para ser mais rápido, eu preciso de você aqui.

Estranho. Mirela só precisava dele para ir ao mercado, lavar roupas, pagar contas e para descontar todas as frustrações e mágoas que ainda não havia superado mesmo depois de 18 anos.

— Você sabe que eu não tenho dinheiro para táxi, irei demorar o tempo de sempre para chegar, aconteceu alguma coisa? Você está bem?

Apesar de tudo não conseguia se rebelar ou abandonar a mãe a própria sorte, sabia que seria muito melhor para si mesmo se o fizesse, mas algo dentro de si, um vínculo primitivo e idiota de filhote e mãe não o deixava fazer isso, sabia que ela não duraria muito sem ele.

— Gabriel, eu espero que nesse tempo que você está aí tagarelando já tenha começado a andar, a gente conversa quando você chegar, anda logo —  Sem esperar resposta encerrou a ligação.

Com um suspiro cansado, tratou de se trocar e partir para casa, deveria ser apenas mais uma das gracinhas de Mirela para lhe atingir. Enquanto andava, olhava para as ruas desertas, silenciosas e calmas, ele realmente amava aquela paz e aproveitou o caminho todo até parar em frente ao portão baixo marrom desgastado de sua casa, notando que tinha dois carros grandes e aparentemente caros parados em frente, destoando totalmente da aparência quase abandonada do local. 

Toda a sua vida, aquele pequeno sobrado bege encardido tinha sido sua casa e mesmo que não pudesse chamar exatamente de lar, o local o trazia um sentimento reconfortante, sabia que precisava de uma boa reforma na parte elétrica, uma pintura não cairia mal, o portão poderia ser menos enferrujado e o quintal com certeza precisava ser carpido, mas de alguma forma tinha se acostumado como tudo aquilo, como se mesmo imperfeito, era o melhor que tinha e era grato por isso.

''Tem algo muito estranho acontecendo, o que você fez dessa vez Mirela?''  Pensou preocupado.

Assim que atravessou o quintal e abriu a porta da frente teve a visão de dois homens enormes em pé perto do sofá em que estava sua mãe com uma expressão cansada e ao lado dela um homem que Gabriel achou muito familiar, mesmo tendo certeza que nunca tinham se conhecido antes.

— Gabriel, finalmente você chegou, achei que finalmente tivesse dado um perdido por aí. 

Apesar de estar com os cabelos desalinhados e os sinais da idade começando a aparecer, Mirela continuava sendo uma mulher muito bonita. 

Seus cabelos longos pretos contrastavam com a pele branca até demais por falta de sol e tinha um corpo, mesmo que mal cuidado, bem atraente, sempre soube que a mãe era uma beta, para muitos ela passaria despercebida mas algo nela era magnético.

 De tudo, os olhos azuis como o mar era o que mais contrastava na mulher, com os anos eles tinham ficado mais e mais distantes, quase inacessíveis e mesmo sem brilho continuavam os mais belos.

Olhos que Gabriel não tinha herdado.

— Boa noite pra senhora também — disse ignorando as palavras hostis de sua mãe, a idade podia estar passando, mas a língua felina da mãe era algo que nunca vacilava — Quem são esses? O que você fez? Já deixo avisado que não tenho dinheiro.

Passando as mãos pelo rosto num sinal de cansaço a mulher foi direta — Você lembra do Alfa Alexandre de quem eu falei alguns anos atrás e mostrei aquelas fotos?

— O Alfa que acabou com a sua vida e fez você assumir a responsabilidade de cuidar de mim? Como eu poderia esquecer, você fala disso só umas quatro vezes por dia — Disse ironizando, enquanto olhava desconfiado para o homem que estava com o olhar fixo em si

''Ele é bonito, moreno, com certeza forte pelo jeito que as roupas ficam, só não gostei muito dessa cara lisa, será que ele não podia ter barba também? E que olhos'' pensava encarando os olhos cinza que pareciam reluzir diante do seu olhar

— Esse é o filho dele e atual Alfa da Matilha das Montanhas, ele está aqui para levá-lo e eu não quero ouvir um resmungo sequer sobre isso.

''Me levar? Como assim?'" 

Gabriel estava totalmente em choque com a informação que acabara de receber.

— Olá Gabriel, você demorou bastante, achei que não viria mais — Fez-se presente a voz rouca e aparentemente calma do homem à sua frente — Sou Luis Cartulli e você nem imagina o prazer que é conhecê-lo.

— A senhora tomou algo muito mais forte do que o vinho que eu deixei na geladeira pra estar falando uma besteira dessas! — Gritou Gabriel ignorando totalmente o cumprimento do homem.

— Sei que você não me ama mas me vender? Você tá achando que vou ser buraco para outros lobos da matilha? E você, seu pervertido — Disse se dirigindo ao homem — Eu não sei o que prometeu a minha mãe, mas nós não aceitamos então vá embora que amanhã o meu dia começa às 6h, passar bem!

Já estava quase entrando no quarto para ir dormir, queria esquecer que aquele momento de loucura realmente aconteceu, até agora não parecia real.

Já estava quase no quarto quando escutou a voz de Luis num tom bem mais severo.

— Gabriel, você vai voltar aqui agora e escutar o que eu vou falar, mas já lhe deixo ciente de que você vai comigo, querendo ou não, não há nem espaço para reclamações e espero que você não complique isso, tenho me mostrado bem paciente todos esses anos.

Cause I'm gonna be free and I'm gonna be fine
Maybe not tonight
It's a different kind of danger

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, sintam-se livres para comentar e até o próximo capítulo. Beijos ♥