Bella estava desnorteada com aquela informação. A vida toda ela sentiu que algo não se encachava na sua vida, mas nem sua fértil imaginação foi possível chegar tão longe. Nada fazia sentido. Ela queria entender aquilo, tentava assimilar todos os fatos que Renée acabará de lhe contar. Porém tudo parecia loucura.

— Bella! – Renée deu um passo em sua direção e a garota recuou.

— O que você quis dizer com “marido”?

— Você não deveria saber esse tipo de coisa.

— Por quê?

— Porque onde há homens só existe dor e destruição.

A respiração de Bella estava ofegante.

— Por que mentir? Por que vocês todas mentem?

— Para o bem de vocês – Renée estava com os olhos marejados de lágrimas – Para o bem... da única coisa boa que nos restou.

Bella balançou a cabeça negativamente. Nesse momento Renée segurou as suas mãos.

— Me prometa que não irá contar para as outras? Pelo menos até eu conversar com o conselho.

— Sim... – Bella respondeu com a voz fraca.

Renée a abraçou.

— Obrigada!

— Mas eu quero saber quem é esse homem – Bella apontou para a foto que ainda segurava – Quem era ele?

— Você não entenderia agora – Renée olhou nos olhos de Bella e passou a mão em seus cabelos – Mas... Ele era meu marido e eu era sua esposa porque nos casamos... Um homem com autoridade de Deus nos abençoou para que pudéssemos viver juntos.

— Um anjo abençoou vocês?

— Não. Um homem de carne e osso – Renée se afastou.

— Eu não entendo!

— Eu sei!

Renée foi em direção a saída.

— Espera! Se... se onde há homens só existe dor e destruição, por que você disse que amava esse homem?

Renée parou por alguns segundos e se virou.

— Porque ele era uma exceção. Para toda regra sempre existe uma exceção.

O silêncio ficou no ar.

— Então porque você o matou?

— Porque eu fui fraca – Renée falou quase chorando – E eu nunca mais vou ser fraca!

Antes que Bella pudesse fazer outra pergunta Renée saiu.

A garota ficou digerindo mentalmente toda informação que Renée lhe disse.

***       

Bella olhava fixamente para foto que estava em suas mãos, como se a imagem pudesse lhe responder todas as suas dúvidas. Renée estava com os braços e pernas cobertos e o homem também. Eles vestiam trajes esquisitos para a jovem. Não sorriam, não se tocavam, pareciam dois estranhos entre si, pelo menos foi isso que ela supôs.

Bella abriu uma caixa empoeirada que estava na sua frente. Nela haviam mais imagens, outras fotos da Renée e de outras pessoas. Na outra imagem Renée expressava um leve sorriso, um garotinho estava no seu colo e homem estava com o braço no seu ombro.

— Quem são essas pessoas?

A próxima meia hora a garota olhou todas as fotos. Mas quando mais revirava o passado menos entendia aquele mundo. Parecia que Bella e aquelas pessoas não pertenciam ao mesmo planeta.

“O homem na cabana! Ele pode me responder algumas perguntas”, porém já estava tarde para que ela saísse do acampamento e ninguém percebesse. Ao nascer do sol Bella iria encontra-lo.

***

Bella mal conseguiu dormir, mexia de um lado para o outro em cima do feno. A noite foi mais longa do que de costume. Antes do nascer do sol a jovem se aprontara para ir em busca de respostas. Ainda estava escuro, o que era mais fácil sair da vila antes de ser vista por alguém. Ela montou no seu cavalo e saiu silenciosamente.

A amazona chegou rápido ao casebre no meio do mato, mas ficou hesitante em entrar. Que tipo de respostas aquele homem poderia lhe dar?

Bella entrou calmamente no ressinto. Pôde constatar que o homem estava dormindo. O peregrino estava sujo, sua camisa estava amarrada no tórax e tinha uma mancha de sangue, ele parecia mais magro do que da última vez que o viu. “Como um homem que parecia forte não sabia se cuidar no meio da mata?” Ela aproximou-se lentamente. Não queria interromper o descanso dele. A amazona abaixou-se e tocou suavemente no rosto homem. Ele assustou-se e no reflexo afastou a mão dela brutamente.

— Desculpa, eu não sabia que era você! – disse Edward ainda despertando.

Bella estava assustada.

— O que aconteceu para você sangrar?

— Longa história... Eu pensei que você não fosse mais aparecer. Eu estou feliz que você está aqui.

Calmamente ela aproximou-se de Edward e retirou a camisa que cobria o ferimento. Era um corte profundo que iria demorar a cicatrizar. Talvez já tivesse infeccionado. Ela levantou sem dizer uma palavra e foi até o seu cavalo.

— Aonde você vai?

Ela retornou e deu para o forasteiro toda a água que tinha.

— Pode ficar!

— Obrigado!

— Precisamos tratar do seu ferimento, senão você morre.

Ela saiu do recintou e montou em seu cavalo. A amazona teria que arranjar uma solução rápida.