Estrela decadente escrita por Ariel F H


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

oi não deve ter ninguém lendo isso aqui então eu só vo posta os dois ultimos caps bjs eh nois tamo junto ((eu claramente falando sozinho))



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Estou acostumada a ficar sozinha à tarde. Raquel e Renato geralmente estão na casa de algum amigo, ou fazendo algum curso. Meus pais trabalham. Não faço nada que precise me tirar de casa.

Desde após o almoço até umas seis da tarde, na maior parte das vezes, fico completamente sozinha. Mas naquele dia eu ficaria até as dez, mais ou menos, sozinha.

Há dois lugares em que costumo passar a maior parte dos dias: quintal e meu quarto.

Eu estava no banheiro, pensando se deveria ir para fora mesmo com o tempo prometendo chuva.

Marcus toma muitos remédios.

Ele os toma antes de escovar os dentes, à noite, então guarda tudo no banheiro.

Eu tinha os comprimidos em minhas mãos antes mesmo que pudesse perceber o que estava fazendo, então parei e apenas olhei.

Eram muitos. O suficiente.

Foi aí que eu soube. Soube que talvez o destino de algumas pessoas seja simplesmente não ter destino.

Há algo de misterioso da morte que me intriga muito.

É um dos maiores mistérios da humanidade e há tantas suposições, mas ninguém nunca conseguiu provar algo realmente. E talvez nunca consiga.

Acredito que seja isso que a maioria teme quando pensa na morte: o desconhecido. Você se sente bem na própria casa porque a conhece. Sabe onde cada móvel está, mas não é o mesmo na casa de um estranho. Você não sabe o que vai encontrar se sair da sala e entrar em um quarto.

Esse mistério é bonito, mas não considero a morte em si algo para ser romantizado. Mas mesmo assim é.

Cria-se algo bonito em morrer jovem. Estar lindo e juvenil no próprio caixão.

Isso é errado em tantos sentidos.

A maioria dos famosos ficaram mais famosos por partirem cedo. Grande parte deles não receberia a atenção que recebe se não tivessem deixado o mundo dos vivos antes do esperado. Muitos se foram por culpa dos vícios, e eles são imortalizados por isso. É como um lembrete: não use heroína ou você vai acabar como alguém do clube dos 27, só que sem fama.

É tão cruel.

Algumas pessoas importantes na humanidade não tiveram seu talento compreendido enquanto estavam vivos, apenas depois. É triste demais.

Dá-se valor apenas quando é tarde demais, quando nada pode ser feito. Talvez esse tenha sido meu erro. Perdi Sara e não sei o que fazer para recuperar.

Fui até meu quarto e peguei todos os cadernos e folhas que escrevi poemas. Bem, não todos. Sou bagunçada demais para tê-los direitinho. Alguns eu provavelmente perdi ou joguei fora, mas grande parte deles não.

Minha vida estava ali na minha frente, em papéis riscados com tinta esferográfica.

Não demorei muito para passar alguns para o computador. Era uma coisa fácil. Não fiz isso com todos. Alguns são íntimos demais para que qualquer pessoa leia, são como pedaços desgrudados de mim. Pedaços que aterrorizariam qualquer um. Até mesmo Sara.

Talvez, em outro momento, eu teria orgulho de mostrar aquelas palavras para Sara, mas sinto como se estivéssemos nos tornando estranhas e talvez isso apenas a afaste mais de mim em um momento que não terei mais nada mais a fazer para traze-la para perto.

Quando terminei peguei todas as folhas. Todas as que um dia já sangrei e as marquei com partes do que sou, ou do que fui um dia e jamais voltarei a ser.

Joguei-as na churrasqueira e alimentei o fogo com a minha alma.

Observei tudo.

Lembrei da conversa que tive com Rafael. Mas aquela não era uma boa lembrança, principalmente naquele momento, então concentrei-me em Sara.

Pensar nela era bom.

Como lembrar de um bom filme, ou traduzir a letra de uma canção estrangeira e se identificar com a letra.

Sentei o chão e, pelo celular, entrei em sua conta no Twitter. Li e reli alguns tweets. As primeiras mensagens que trocamos foi por lá.

De repente, eu estava chorando.

Nunca desejei tanto que pudesse abraçar outra pessoa. Havia tanta gente ao meu redor, mas a que eu mais queria estava tão longe. Em tantos sentidos possíveis.

Eu estava distante de Sara, a única pessoa com quem quero estar perto.

E, pior, a única pessoa com quem eu queria falar sobre a falta que Sara me fazia era Sara.

Não me lembro de pensar em ir até a cozinha e ficar em frente ao esconderijo secreto de minha mãe guardar bebida alcoólica, mas aconteceu.

Eu nunca bebi realmente, mas há uma primeira vez para tudo.

Andar pela casa nunca pareceu tão silencioso, mas eu estive me acostumando a viver com meu próprio silêncio gritante.


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