Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 5
Capítulo 5 – Viva La Vida.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Aqui vai mais um capítulo, espero que gostem!
Gostaria de agradecer o JW, o Pedro Sartori e a Thais Cristina, que comentaram a fic! Vocês me dão inspiração para escrever! ♥
Aqui está o link da música de hoje, é bem conhecida então creio que a maioria já ouviu (https://www.youtube.com/watch?v=dvgZkm1xWPE)
E vocês viram o episódio novo de Grey's Anatomy? Eu achei bem emocionante, mas esperava mais.
Enfim, vamos ao capítulo. Boa leitura!



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Carpe Diem! Viva o momento! Todos ouvimos essa frase, mas nunca damos muita importância. Mas nós deveríamos dar, pois nós nunca sabemos quando será nosso último dia de vida. Coágulos, acidentes de ônibus, câncer, tiroteios, quedas de avião, acidentes de carro... São só algumas das coisas que podem nos matar assim, de repente. Então devemos aproveitar cada momento, principalmente com as pessoas que amamos... Pois nunca sabemos quando será a última vez.

Acordei com o som do bipe disparando. Rolei na cama e estiquei meu braço para pegar o aparelho, abrindo apenas um olho para olhá-lo.

— É uma emergência, o que será que houve? – indagou Akira, com a voz grave de sono, também olhando seu bipe.

— Só saberemos a hora que chegarmos lá. – afirmei, voltando a colocar o aparelho sobre o criado mudo, e virando-me para o jovem. Fechei os olhos por um segundo, morrendo de vontade de voltar a dormir.

— Hey, você não pode dormir de novo não, vamos levantar. – disse o asiático, acariciando meus cabelos. Sorri fraco e abri os olhos, dando de cara com seu rosto, que mostrava claros sinais de cansaço.

— Tudo bem, papai. – ri fraco – Bom dia. – dei-lhe um selinho, e o mesmo correspondeu, aprofundando mais o beijo – Nós não temos tempo pra isso. – falei separando-me dele, fazendo-o me olhar decepcionado.

— Que tal uma rápida no chuveiro? – sugeriu, erguendo uma sobrancelha. De tímido aquele garoto só tinha a cara, pois depois da primeira vez, ele começou até a me parecer um ninfomaníaco.

— Vamos logo com isso. – levantei da cama e segui pelada para o banheiro, e ele veio atrás de mim, me agarrando no segundo que entramos no banheiro.

—-

Corremos para encontrar Lexie, que se estava na entrada das ambulâncias, junto de vários residentes e cirurgiões. Vestimos rapidamente o avental amarelo e nos aproximamos dos outros. Eu particularmente estava um pouco perdida, pois ainda não havíamos trabalhado na emergência.

— O que aconteceu? – perguntou Akira, parando ao lado de Diego.

— Perderam hora porque estavam transando, né? – riu maliciosamente, negando com a cabeça enquanto alternava olhares entre o oriental e eu – Engavetamento de carros, daqui a pouco as ambulâncias vão chegar, um monte de fraturas expostas, hemorragias, vai ser o paraíso. – disse o moreno, animadamente.

— Paraíso, não sei para quem. – retrucou Anastasia. Desde o barraco envolvendo ela, Jackson e seu noivo, a garota estava com um humor horrível, e todos do hospital ainda comentavam.

— Okay pessoal, agora que estão todos aqui, vou orientá-los brevemente sobre a Emergência. – falou Lexie, posicionando-se na frente de nosso grupo – Várias ambulâncias vão chegar a qualquer momento, e eu quero que vocês trabalhem em duplas, discutam o que acham que deve ser feito com cada paciente, e se tiverem qualquer dúvida, e precisarem do mínimo de ajuda, chamem algum superior, seja residente ou cirurgião, fui clara?

— Mas nós somos em 5, alguém vai sobrar. – disse Rebecca, olhando em volta.

— Vamos organizar: Diego, você vai com Claire, Rebecca com Akira e Anastasia fica comigo. – afirmou apontando para as duplas, e algumas ambulâncias pararam ali logo em seguida – Agora mexam-se, vamos salvar vidas! – bateu palmas e correu até um dos veículos, Anastasia seguindo-a com pouca vontade.

— Vamos logo, namorada do asiático! – chamou Diego, apressando-se para um dos carros, e eu fui atrás, pedindo sorte aos céus – O que temos aqui? – questionou o rapaz, olhando o paciente e depois o paramédico.

— Carl Fischer, 30 anos, foi o causador do engavetamento, estava dirigindo o primeiro carro da fila. Inconsciente, fratura exposta, respiração ofegante, pulso fraco. – respondeu o médico de dentro da ambulância, entregando uma prancheta a Gomes.

— Okay, vamos levá-lo para dentro. – disse parecendo confiante, e os paramédicos levaram a maca para a Sala de Emergência – Você tem alguma ideia do que fazer agora? – sussurrou, enquanto caminhávamos para dentro.

— Espera, eu achei que você tivesse tudo sob controle! – exclamei surpresa, arregalando os olhos.

— Uma das técnicas para ser um bom médico é parecer ter o controle de tudo... Mesmo quando não se tem ideia do que fazer. – rebateu, e entramos atrás do paciente – Dra. Scofield, o que sugere? – perguntou, realmente parecendo estar superior ao problema.

— An... Vamos... – neguei com a cabeça, tentando pensar em algo – Vamos o entubar e... – fui interrompida pelo alarme das máquinas, e pude ver seus batimentos caindo – Prepare para desfibrilar. – ordenei, aproximando-me do carrinho de parada – Carregue para 100... Afasta! – dei um choque, sem resposta – Carregue para 150 e coloque 1 de adrenalina... Afasta! – não houve resultado – Vamos tentar de novo, 250, afasta! – dessa vez seus batimentos voltaram a subir, ainda fracos – Vamos entubar e levá-lo para uma CT. – afirmei, guardando as pás do desfibrilador.

— E a fratura exposta, a gente deixa de lado? – questionou Diego, que me observava atentamente.

— Droga, é mesmo! Bipe a Ortopedia. – pedi para uma enfermeira, que se moveu rapidamente.

— Dra. Scofield, algum de vocês que tem que entubar. – disse uma enfermeira.

— Mas eu nunca entubei antes... E você? – virei-me para o médico ao meu lado.

— Eu também não! – respondeu, dando de ombros.

— Vamos bipar Lexie. – sugeri.

— Não, você está louca? Vamos parecer incompetentes. – retrucou – Eu vou tentar. – aproximou-se da enfermeira e pegou o tubo, encarando o paciente, parecendo nervoso.

— Você tem certeza? – questionei, olhando-o preocupada.

— Tenho! – respondeu, olhando para o homem fraturado, duvidoso.

— O que temos aqui? – perguntou uma mulher morena e alta, colocando as luvas. Pelo o que eu ouvira falar, aquela era Callie Torres, a cirurgiã ortopédica.

— Graças a Deus, ele quer entubar, mas nós nunca fizemos isso, então... Será que pode o entubar para nós? – pedi, olhando diretamente para a mulher.

— Vocês ainda não entubaram? Não sabem entubar? – indagou, franzindo o cenho – Ah, vocês são internos. – revirou os olhos levemente – Okay, eu vou ensiná-los a entubar, porque é o mínimo que se deve saber quando está trabalhando na emergência. – aproximou-se de Diego, observando o paciente – Você, venha aqui auxiliar. – chamou-me, e eu a obedeci – Cheque se o laringoscópio está funcionando. – assim o fiz, e confirmei com a cabeça – Ótimo, garoto, pegue a lâmina do laringoscópio, e com a mão esquerda, posicione-o do lado direito da língua. – Diego fez o que ela disse, cuidadosamente – Pare quando conseguir ver a epiglote.

— Eu consigo ver, e agora? – disse o rapaz, desviando o olhar da garganta do paciente para Callie.

— Okay, avance a lâmina entre a epiglote e a língua. Agora levante ambas até ver as cordas vocais. – continuou explicando, assistindo-o atentamente.

— Tenho visão das cordas vocais. – afirmou Gomes, confirmando com a cabeça.

— Agora, com a mão direita, insira o tubo endotraqueal diretamente entre as cordas e traqueia, até que passe as cordas vocais. Garota, quantos centímetros está marcando no tubo? – perguntou, e eu me aproximei um pouco mais para enxergar.

— 22 Centímetros. – respondi, checando os números marcados no tubo.

— Perfeito, estamos indo bem. Agora retire o laringoscópio. – ordenou, e o médico retirou o equipamento – Agora... – olhou meu crachá, provavelmente à procura do meu nome – Claire, infle 15 de ar para evitar vazamentos de ar durante a ventilação... Agora anexe a bolsa e válvula e ventile, 12 a 15 litros por minuto, mas espero que disso você já saiba. – obedeci sua direção – Diego, cheque com o estetoscópio se o tubo está no lugar, pelos pulmões e estômago.

— Parece tudo certo para mim. – o rapaz sorriu, ainda com o estetoscópio no ouvido.  

— Muito bem, agora deixe-me dar uma olhada nessa fratura. – finalizou, estudando a perna do paciente, que possuía um osso para fora – Mande-o para o Raio-X e me bipe quando estiver pronto. – pediu, retirando as luvas – Mais alguma coisa? – perguntou, parada na porta.

— Não, muito obrigada pela consulta, e pela ajuda. – respondi, sorrindo agradecida.

— É para isso que estamos aqui. – riu fraco – Estarei aguardando seu bipe. – disse antes de sair da sala, e eu olhei Diego, sem ação.

— Ela é boa. – afirmou o rapaz, com uma cara de surpreso.

— Devemos mandá-lo para qual, primeiro? – indaguei, encarando o paciente e depois Diego.

— Vamos levá-lo para CT primeiro, depois já passamos pelo Raio-X. – falou, e eu concordei com a cabeça, dando espaço para os enfermeiros levarem a maca.

— Nós deveríamos bipar a Lexie? – questionei.

— Estamos com tudo sob controle, então creio que não é necessário. – deu de ombros – Você vem? – chamou, já na porta.

— Mas é claro! – exclamei e segui-o.

Andamos até a sala de CT, e logo que entramos no local, senti um clima diferente, e notei uma troca de olhares entre Diego e o moço que estava cuidando dos exames. Observei o paciente sendo preparado para o procedimento, escorada na parede de frente ao vidro que nos separava da máquina. Vi meu companheiro interno soltar um sorriso malicioso, sem os dois ao menos trocarem uma palavra.

— Vocês se conhecem? – perguntei, por mera curiosidade.

— Muito bem. – respondeu o homem desconhecido, fazendo Diego rir – Estou esperando uma ligação há mais de um mês. – continuou, olhando de canto para o rapaz.

— Vida de interno não é fácil, sabe como é né. – disse o médico, e pude notar que ele só queria livrar-se do cara.

— Engraçado que eu te vejo no Joe’s e na boate LGBT+ quase toda noite, mas você não tem tempo para me ligar, não é? – ergueu as sobrancelhas, virando-se para o outro rapaz.

— Esse exame vai demorar muito para ficar pronto? – questionou Diego, sorrindo forçado, aparentemente querendo se safar da conversa.

— Você sabia que ele jurava que ia ligar? – voltou-se para mim, e eu arregalei os olhos, sem saber como reagir – Fizemos tudo que você imagina naquela noite, e antes de ir embora ele disse que me ligaria no dia seguinte... Estou esperando. – voltou a olhar o computador.

Olhei para Diego como um pedido de socorro, e o mesmo sorriu debochado, dando de ombros. Ficamos em silêncio pelos próximos minutos, apenas ouvindo o som da máquina que fazia o exame. Eu alternava o olhar entre o paciente, minhas unhas e meus pés, que estavam calçados em meu par de All Stars cinzas que usava todos os dias. Suspirei já impaciente, olhando as imagens no computador.

— Está pronto. – afirmou o homem, e Diego e eu nos aproximamos do computador.

— O que você vê? – perguntou o rapaz, analisando as imagens.

— Diga-me você. – rebati, imitando seu gesto.

— Tem uma mancha no que parece... Meu Deus! É o fígado?! – aproximou-se mais, intrigado.

— Acho que sim... Bipe Cirurgia Geral! – exclamei, torcendo para não ser Bailey a cirurgiã que viesse.

— Quem? Eu? Estou fora. – disse o moço responsável pelos exames, fazendo-me revirar os olhos.

— Já bipei. – falou Gomes, mexendo em seu bipe – Ele precisa ir para o Raio-X, por causa da fratura.

— É mesmo, vamos leva-lo. Acho melhor algum de nós esperarmos aqui o cirurgião que vier. – sugeri, olhando para o interno.

— Eu bipo algum de vocês quando ele chegar. – o cara desconhecido ofereceu-se.

— Muito obrigada! – agradeci – Vamos, rápido! – chamei Diego e convoquei os enfermeiros, para levarem a maca.  Enquanto caminhávamos até a sala de Raio-X, decidi quebrar o silêncio, que já me incomodava – O cara da CT, uhn? – perguntei e sorri maliciosa.

— Você não viu nada. – riu-se – Se soubesse o tanto de gente desse hospital que se diz hétero e eu já peguei, ficaria de cara.

— O noivo da Anastasia que o diga... – falei sem pensar, fazendo-o gargalhar.

— Quase isso. – disse antes de adentrarmos a sala de Raio-X.

— Podem esperar do lado de fora, daqui a pouco acabo aqui. – pediu um rapaz, que quando viu Diego, arregalou os olhos – Diego? Não sabia que você trabalhava aqui! – exclamou, sorrindo chocado.

— Eu disse que era médico. – retrucou meu colega, franzindo o cenho.

— Só não disse que era nesse hospital! – falou, sorrindo largo.

— E você é...? – Gomes ergueu uma sobrancelha, fazendo-me prender o riso.

— Larry... O cara da boate gay. – sussurrou, provavelmente não querendo divulgar que frequentava o local.

— Sinto muito, mas... – o médico negou com a cabeça, fazendo cara de quem não tinha a mínima ideia de quem aquele homem era.

— Você foi minha primeira experiência homoafetiva! Eu te disse isso depois que nós dormimos juntos! – disse, parecendo irritado.

— Desculpa cara, mas é que é tanta informação na minha cabeça, que não dá para lembrar de tudo...

— Quer saber, dê o fora daqui, eu aviso a hora que terminar. – cortou-o, apontando para fora, hostilmente,

— Okay... – Diego ergueu as mãos em sinal de rendição, saindo da sala. Apenas sorri sem graça e o segui, rindo fraco.

— Sério? – questionei, ainda rindo.

— O que eu posso fazer? Não foi marcante, ué. – deu de ombros e cruzou os braços olhando em volta.

— Vocês têm notícias do meu marido? O nome dele é Carl Fischer. – perguntou uma mulher, de aparentemente mais de 30 anos.

— Nós estamos acompanhando-o no Raio-X... – respondeu o rapaz ao meu lado – O que a senhora faz aqui? – questionou, franzindo o cenho.

— Meu marido estava levando as crianças na escola, e eu fiquei em casa... O hospital me ligou e assim que eu soube do acidente eu corri para cá, e eles me disseram que haviam o levado para CT. Eu procurei a sala de CT, e o moço me disse que ele estava no Raio-X, então encontrei vocês agora. Ele está bem? – explicou e perguntou.

— Não sabemos muitos detalhes, estamos esperando a resposta de um médico especialista. – afirmei, tentando parecer calma.

— Eu acho melhor a senhora aguardar na sala de espera, essa é uma área recomendada apenas para a equipe médica. – sugeriu Diego, educadamente.

— Okay, mas por favor, me atualizem assim que possível? Eu não aguento ficar no escuro. – pediu a mulher, implorando com o olhar.

— Eu me certificarei de atualizá-la sempre que eu puder, fique tranquila... – garanti, sorrindo simpática. A mesma apenas assentiu e seguiu pelo corredor.

Logo que a mulher se afastou, nossos bipes dispararam, marcando emergência por Dra. Bailey, o que me fez suar frio.

— Droga... Eu aviso o cara do Raio-X que tivemos que ir, e você corre para ver o que Dra. Bailey quer... – falei para o médico à minha frente, e o mesmo fez o que eu disse, enquanto eu abri a porta da sala – Nós fomos bipados com emergência, nos chame quando estiver pronto! – avisei rapidamente, e o homem respondeu com um sinal de joia.

Disparei em direção à sala de CT, e quando cheguei lá, desejei nunca ter nascido. Bailey negava com a cabeça, olhando Diego de forma desaprovadora. Quando a médica me viu, ela me direcionou um olhar de raiva, e minha vontade era de correr dali até não sentir mais minhas pernas.

— Vocês não solicitaram um ECG?! – questionou, quase gritando, inconformada – Esse paciente pode morrer na mesa de cirurgia porque nós não temos ideia do que está acontecendo em seu coração, mas agora não dá mais tempo de fazer o exame, porque precisamos controlar essa hemorragia no abdômen dele. Que tipo de médicos são vocês?

Senti uma vontade imensa de chorar naquele momento, pois mais uma vez eu estava ali, recebendo broncas de algum superior, e colocando a vida de um paciente em risco. E lá estava eu de novo, questionando minhas capacidades de ser uma boa médica um dia.

— Vamos nos apressar para a Sala de Operações, e se esse paciente morrer, a culpa é de vocês! Internos estúpidos que se formaram na faculdade por pura sorte! – exclamou a cirurgiã geral, saindo da sala.

Fiquei paralisada por um tempo, e a muito custo acordei do transe, correndo atrás deles. Encontrei-os saindo da Sala de Raio-X, apressadamente.

— Dra. Bailey, eu fiquei responsável de dar notícias à esposa, então... Posso? – falei, acompanhando-os em direção à Sala de Operações.

— Vá, mas quero você aqui para participar da cirurgia, porque se qualquer coisa der errado, quero que você veja a merda que você fez! Agora mexam-se! – rebateu a mulher, seguindo com a maca do paciente e uma equipe de enfermeiros.

Respirei fundo e prendi as lágrimas, antes de correr para a sala de espera. Algumas pessoas se encontravam sentadas, outras andavam de um lado para outro, mas todas tinham algo em comum: a cara de preocupação. Olhei em volta na tentativa de encontrar a mulher que procurava, sem sucesso.

— Sra. Fischer? – chamei, procurando alguém que respondesse por esse nome.

— Eu. – respondeu a mesma mulher que eu vira mais cedo – Chame-me de Carrie, querida. – sorriu fraco – Você tem notícias do meu marido? – perguntou, intrigada.

— Ele está com uma hemorragia no abdômen, e estamos levando-o para uma Sala de Operações nesse exato momento... Ele precisa de cirurgia urgentemente, e faremos tudo em nosso alcance e além para curá-lo. – afirmei, tentando parecer calma, mas por dentro, estava um poço de nervosismo.

— Oh, meu Deus... – murmurou a esposa, cobrindo a boca – Você acha que ele ficará bem?

— Não posso confirmar nada, mas ele está em boas mãos. Agora eu preciso ir, sou solicitada na cirurgia. Assim que tiver mais informações, eu venho avisá-la. – disse, na tentativa de passar confiança a ela.

— Muito obrigada... Estarei no aguardo. Tome bem conta do meu Carl... – pediu com a voz chorosa, quase fazendo-me desabar.

— Eu farei tudo o que posso. – afirmei, ficando firme – Vejo você mais tarde. – despedi-me e apressei-me para a SO, prendendo as lágrimas com todas as forças.

Entrei na sala e me lavei rapidamente, e quando passei pela porta de vidro que separava os dois ambientes, pude entender o que estava acontecendo. O paciente havia sofrido uma parada, e Diego fazia massagem cardíaca, enquanto Bailey lutava contra um sangramento.

— Bipe Cardio, vamos ter que dar uma olhada melhor nesse maldito coração! – ordenou a negra baixinha, que continuava focada no que fazia.

Algum tempo depois Teddy Altman adentrou a sala, e nesse meio tempo Diego e eu já havíamos alternado para fazer massagem cardíaca. Eu não parava de pedir ajuda a Deus nem por um segundo, e o desespero estava batendo forte.

— O que aconteceu? – questionou a loira, aproximando-se da mesa.

— Há algo de errado com esse coração, e como esses internos malditos não pediram uma ECG, não sabemos o que é... Ele está parado há uns 15 minutos. – explicou a cirurgiã geral.

— Ultrassom para o coração, por favor. – pediu Teddy, esticando a mão para os enfermeiros. Passou o gel e colocou o aparelho sobre o peito do homem, observando a imagem atentamente – Hemorragia massiva no coração, vamos ter que abrir... Prepare-o para cirurgia de peito aberto.

— Na minha opinião, ele não está em condições para esse tipo de operação, Dra. Altman. – disse Bailey, sem tirar os olhos de sua parte.

— Ele não vai sobreviver se não abrirmos... Lâmina 10! – rebateu e pegou o bisturi, abrindo o peito do homem. Logo que aberto, uma grande quantidade de sangue começou a sair, fora do normal – Afastador de costelas, rápido! – exclamou a mulher, e quando ela finalmente teve acesso ao coração, pôde ver o problema – Ventrículo esquerdo rompido, droga! Por quanto tempo ele esteve parado? – questionou, negando com a cabeça.

— 1 hora, doutora. – respondeu uma das enfermeiras.

— Eu não creio que ele vá aguentar... – disse, olhando para Miranda.

— Deveríamos declarar? – perguntou a outra cirurgiã.

— Eu recomendo que sim... Não há muito o que fazer. – afirmou a loira, olhando o coração novamente. Bailey assentiu e a cardiologista olhou no relógio, suspirando antes de falar – Hora do óbito, 13:37.

— Droga! – reclamou Diego, socando a mesa de cirurgia.

Miranda tirou as luvas e seu avental cirúrgico, e Teddy a seguiu. Depois de alguns minutos observando o corpo sendo desligado, fui até onde as outras estavam se lavando.

— Vocês viram, se tivesse pedido um ECG, talvez isso não teria acontecido... Envergonhem-se! – repreendeu a mulher negra, negando com a cabeça.

— Eu sinto muito... – pediu Diego, com a voz triste.

— Agora não adianta mais! – retrucou a mulher – Eu quero falar com você em particular, Scofield. – disse me encarando, e meu desejo de ser sugada por um buraco negro aumentou ainda mais. Depois que o rapaz nos deixou sozinhas, a cirurgiã virou-se para mim, com indignação no olhar – Esse já é o terceiro caso que você está envolvida, em que ocorre um erro médico por sua parte... Eu se fosse você, prestaria mais atenção, Dra. Scofield, pois se continuar assim, nós mesmos vamos ter que te chutar daqui, está me ouvindo? – afirmou duramente – Melhore! – mandou e virou as costas, ameaçando sair dali.

— A esposa dele pediu para eu avisá-la sobre o marido... – falei, cabisbaixa.

— Você pode dar a notícia, quero que você sinta na pele como é a sensação... E Lexie Grey também terá sua punição, por não tomar conta de seus internos. – disse e saiu dali de uma vez, deixando-me sozinha.

Decidi que não poderia desabar ainda, então prendi as lágrimas e fui até a sala de espera, procurando Carrie com o olhar. Ao avistá-la, chamei-a num canto, que estava mais calmo. Respirei fundo e decidi falar, mantendo a postura.

— Sra. Carrie Fischer, eu sinto muito em informar que... Seu marido, Sr. Carl Fischer, não conseguiu resistir à cirurgia, e morreu de insuficiência cardíaca. – afirmei calmamente e olhando em seus olhos, assim como haviam me ensinado.   

— Jesus... – sussurrou, levando as duas mãos na boca, e deixando escapar o choro.

— Eu sinto muito, fizemos tudo o que podíamos. – continuei, engolindo em seco.

—-

Fui direto para casa, depois de mais um dia horrível de trabalho. Cheguei e fui diretamente tomar um banho de banheira, para tentar relaxar. Estava perdida em meus pensamentos, quando ouvi uma voz masculina que conhecia bem vir da porta do banheiro, fazendo-me abrir os olhos, assustada.

— Desculpa te assustar, é que a porta da frente estava aberta, e você não me esperou para vir embora... Então eu fiquei preocupado, e decidi vir ver como você estava. – desculpou-se e explicou Akira, aproximando-se da banheira.

— Hoje não vai rolar, Akira. – rebati, fechando os olhos novamente e suspirando.

— Eu não vim aqui só pelo sexo... Claire, eu me importo com você. Você é muito mais do que apenas algumas transas. – disse, sentando-se no chão, ficando ao meu lado e da banheira – Diga-me o que aconteceu. – pediu, encostando a cabeça na parede, e acariciando meus cabelos molhados e cheios de espuma.

Também encostei minha cabeça na parede e encarei-o carinhosamente, sentindo o sentimento que suas palavras carregavam. Fiquei observando seu rosto cansado por longos segundos, tentando decifrar aquele momento. Era como se todo aquele stress do dia fosse amenizado apenas pela presença daquele asiático.

Viva o momento. Pois nós nunca saberemos o dia de amanhã. A vida é feita de momentos, e cada momento é único. Nunca saberemos se teremos momentos no mínimo parecidos com aquele que estamos vivendo, então Carpe Diem! Porque o que tornam os momentos preciosos, são as pessoas. E nós, médicos, sabemos perfeitamente que pessoas não são eternas, e a qualquer hora podemos perder aquela que mais nos importamos.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Akira e Claire estão ficando bem próximos haha e Diego é o maior galinha que você respeita.
Vejo vocês nos comentários, beijos!



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