Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 17
Capítulo 17 – When You Believe (Parte I).


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, gente bonita!
Aqui vamos nós com mais um capítulo. Lembrando que se a fanfic fosse dividida em temporadas, essa seria uma espécie de Season Finale de duas horas, porque vou dividir em duas partes. Ele corresponde mais ou menos com o final da sétima temporada, e vou dividi-lo porque foi o capítulo mais longo que eu escrevi até agora, e os prontos estão acabando, então preciso comprar tempo para terminar pelo menos mais um, já que não quero ficar sem postar por muito tempo. Sem contar que esse é pessoalmente meu capítulo favorito, narrado pelos 4 personagens principais (nessa primeira parte, apenas 2 vão narrar).
Quanto à música, é um dueto de cair o queixo, com duas das maiores divas da música, minha querida Whitney Houston e Mariah Carey. É a faixa principal da trilha sonora da animação "O Príncipe do Egito". Link: https://www.youtube.com/watch?v=LKaXY4IdZ40
Agora vamos finalmente ao capítulo. Espero que gostem do mesmo jeito que eu amei! Boa leitura!



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Eu sempre me perguntei como era estar em um coma. Você vê uma luz? É tudo escuro? Você vê as pessoas que já se foram, mas que você amava? Ou você vive sua vida novamente? Será que eu estou num coma agora, imaginando tudo isso? Sonhando com uma realidade alternativa. Quando se está num coma, você pode ouvir as pessoas à sua volta? Sempre tive essa curiosidade.

 

Rebecca

 

— Que diabos está acontecendo?! – questionei ao ouvir o alarme das máquinas, encarando Roger.

— Ela está com uma hemorragia, droga! – disse o cirurgião, com um olhar preocupado. Voltei a olhar para Claire, que estava inconsciente.

— Claire! Claire, por favor, fique acordada! Por favor! – implorei, apertando sua mão mais forte e dando tapinhas em seu rosto para tentar acordá-la.

— Os batimentos estão caindo. – avisou o anestesista.

— Faça alguma coisa! – gritei para o obstetra, que parecia focado.

— Eu estou fazendo! Se for para gritar em minha cabeça, é melhor se retirar, Dra. Cooper. – retrucou, desviando o olhar para mim rapidamente.

— Eu não vou a lugar nenhum! – neguei com a cabeça.

— Então cale-se! Fio 3-0! – esticou a mão para a equipe de enfermeiros, que entregaram-lhe o material com rapidez.

Permaneci em silêncio, mas o som do alarme das máquinas não parava por nem um segundo sequer, e Claire continuava desacordada. Segurei a mão da jovem apertado, e assisti aos movimentos de Roger com atenção.

— Eu tenho que falar com os pais. Temos que discutir algumas opções. – afirmou, tirando o avental cirúrgico e as luvas, e seguindo para fora apressadamente.

— O quê?! – indaguei, correndo atrás dele – Discutir o quê?

— Siga-me e você descobrirá. – respondeu, apressando-se até a Sala de Espera, onde os pais de Claire e os pais de Akira nos aguardavam.

— Dr. King, tem alguma coisa errada? – perguntou o pai de Claire, levantando-se ao nos ver.

— Infelizmente, Claire teve uma hemorragia em seu útero depois que retiramos os bebês. – afirmou o médico, sem rodeios – Nós temos duas opções: eu posso fazer uma Histerectomia, ou seja, retirar o útero dela. É a opção mais segura, mas devido à idade de Claire, ela pode querer ter mais filhos no futuro. Ou, eu posso fazer uma embolização dos vasos e salvar a vida dela e o útero. É mais arriscada, ela pode morrer antes que eu termine, mas também é aconselhável. E essa é uma decisão dos parentes mais próximos, no caso, os pais. – explicou, encarando os Scofield.

— Oh meu Deus... – a mãe de Claire tampou a boca com a mão, voltando a sentar-se.

— Claire não pode morrer, o maior medo dela era morrer e deixar seus filhos órfãos. Faça a Histerectomia. – falei, com os ânimos exaltados.

— Mas ela com toda a certeza iria querer mais filhos... Filhos que realmente tenham um pai. Não podemos tirar isso dela. – rebateu a mãe de Claire.

— E os bebês, eles estão bem? – questionou a mãe de Akira.

— Eles estão perfeitamente bem, estão fazendo os primeiros exames e logo poderão receber visitas. – respondeu Roger.

— Podemos, por favor, focar na Claire? – retruquei, extremamente impaciente.

— Salve o útero. – disse a mãe de Claire.

— Sra. Scofield, nós temos que salvá-la! Há outras maneiras de ter filhos... – tentei convencê-la, mas a mesma me interrompeu.

— Eu sou a mãe dela, e eu sei o que é melhor para ela. Salve o útero.

— Mas... Roger... – virei-me para o cirurgião, pedindo ajuda com o olhar.

— Eu sinto muito Rebecca, mas a decisão é dos pais, e se é isso que eles querem... Eu farei a embolização. Com licença. – falou o médico, e apressou-se em direção à SO.

— Se ela morrer, já sabemos de quem é a culpa. – disse e segui King – Você sabe que isso é um erro.

— A decisão legal é deles Dra. Cooper, eu sinto muito se você tem dúvidas quanto a minhas capacidades cirúrgicas, mas é isso que vai acontecer. – rebateu e adentrou a sala das pias, já começando a esfregar seus braços e mãos.

— E se ela morrer naquela mesa? Essas crianças não terão nem um pai, e nem uma mãe. – continuei tentando convencê-lo, apesar de saber que seria inútil.

— Ela está morta?! – retrucou o homem, elevando a voz – Ela parece morta para você? – encarou-me, parecendo esperar uma resposta, e eu apenas neguei com a cabeça – Então se há uma chance de salvá-la e de preservar a capacidade dela de ter filhos, é nela que eu vou apostar. – afirmou, aparentemente confiante, porém estressado – Como se eu já não estivesse sob uma grande quantidade de pressão, ainda tenho que ouvir uma maldita residente questionando meu trabalho. – voltou a lavar as mãos – Eu não quero você nem perto da minha SO. Nem na galeria. Vá reclamar em outro lugar. – apertou com o cotovelo o botão para abrir a porta que separava aquela sala da cirurgia e adentrou o local, deixando-me sozinha.

Neguei com a cabeça e soquei o metal das pias, sentindo como se o mundo desabasse em minha cabeça. Claire não podia morrer. Aqueles bebês não podiam perde-la. Eu não podia perde-la. Seria demais para aguentar.

Prendi as lágrimas e saí dali rapidamente. Subi até o andar da maternidade, vesti um avental rosa do neonatal e entrei na sala cheia de bebês. Aproximei-me dos gêmeos sem nome, que já estavam confortáveis em seus berços, e puxei uma poltrona, sentando-me aos pés dos dois. Suspirei e fiquei observando as crianças, que dormiam pacificamente. E pensar que eles não faziam a mínima ideia do que estava acontecendo, e talvez nunca tivessem a chance de sentir o toque quente da mãe deles.

Acariciei um dos pés de cada um com as pontas dos meus dedos, tentando encontrar ali alguma força para lutar aquela batalha. Eu amava a Claire, e não poderia perde-la.

—-

 Acordei com o som do meu bipe, e uma forte dor nas costas logo me atingiu. Eu cochilara ali mesmo naquela poltrona, fazendo carinho nos gêmeos.

Peguei o aparelho rapidamente e desliguei o som, com medo de acordar as crianças. Tudo o que eu menos precisava no momento era ouvir o choro de bebês. Levantei-me ignorando a dor e corri até o quarto indicado pelo chamado, que também dizia que Claire havia saído de cirurgia.

Fui pelas escadas mesmo, apressando-me até a UTI. Adentrei o quarto cheia de esperanças, mas elas se desfizeram quando vi a expressão de todos os presentes e notei a presença de Derek Shepherd.

— O que aconteceu? – perguntei, já temendo o pior.

— Claire ficou com o coração parado por muito tempo, o que causou uma lesão no cérebro. – respondeu Shepherd – Eu posso tentar reparar, mas não sabemos como serão os resultados, ou se ela acordará novamente. Eu sinto muito.

Naquele momento, eu senti meu chão sumir. Como aquilo poderia estar acontecendo?! Só podia ser uma brincadeira de mal gosto. Não fazia nem um ano que havíamos perdido Akira, e agora teríamos que lidar com a morte de mais uma de nós. E justamente quem!

— Não... – finalmente consegui murmurar, sentindo meu corpo tremer – Não, não... – comecei a aumentar a voz, negando com a cabeça – Você fez isso! Vocês fizeram! – apontei primeiramente para Roger, e depois para os pais dela – Ela poderia estar acordada agora, mas por culpa da santa teimosia de vocês, ela muito provavelmente nunca vai voltar. Uma salva de palmas! – bati palmas, ironicamente.

— Rebecca, você deveria se acalmar... – pediu Derek, colocando uma mão em meu ombro.

— Me acalmar?! – retruquei, livrando-me de sua mão – É minha amiga que está ali, deitada naquela cama. É minha amiga que pode nunca mais acordar para ver os filhos dela. É minha amiga que vai depender de aparelhos para viver provavelmente até o fim de sua vida, então não venha pedir para eu me acalmar, porque eu não vou. A pessoa que eu amo está praticamente morta, então não, eu não posso me acalmar, e nem quero. – finalizei, saindo do quarto, já nem impedindo mais as lágrimas de correrem.

— Atualize-nos, por favor Rebecca. – disse Anastasia, seguindo-me pelo corredor. Provavelmente eles não foram autorizados a entrar no quarto, devido à sensibilidade do caso.

— Ela está em coma. Somos só nós três agora. – respondi, sem ao menos olhar para trás para a jovem, continuando minha corrida pelo corredor.

 

1 mês depois.

 

1 mês inteiro já havia se passado desde o parto. Shepherd já havia feito sua parte quanto ao reparo do dano cerebral, mas ainda não havia nenhum sinal de melhora. E as crianças, bem, já estavam tão grandes! Elas deixaram o hospital uns três dias depois de nascerem, e estavam ficando na casa dos pais da Claire. Contudo, Anastasia, Diego, os pais de Akira e eu revezávamos para tomar conta deles todos os dias.

— Bom dia, bebês! – sorri largo, adentrando a sala da casa dos Scofield, onde as crianças estavam em seus berços portáteis – A titia Rebecca trouxe mais presentinhos para vocês. – aproximei-me dos berços, colocando um bichinho de pelúcia sobre cada um. Eu comprara dois ursinhos idênticos, para não dar briga no futuro.

— Se você trouxer presentinhos todos os dias, teremos que sair de casa para deixar só os brinquedos das crianças aqui dentro. – disse Sara, a mãe da Claire.

— Eu sei, é só agora, nos primeiros dias. – falei, fazendo algumas caretas para eles em seguida.

— Não monopolize as crianças. – reclamou Diego, também se aproximando – Hey camarada, já está quase na idade de aprender uns macetes com o tio Diego. – continuou, sentando-se no tapete e fazendo uma vozinha ridícula, enquanto mexia nas mãozinhas do menino.

— Qual é o cronograma de hoje? – perguntou Anastasia, mantendo a distância. Pelo o que eu notara, a loira não era uma grande fã de crianças, e só as pegava no colo e brincava com elas quando realmente era necessário.

— Eu estou de plantão hoje. – afirmou Diego, e voltou a fazer caretas para os bebês.

— Os pais do Akira disseram que vão passar a tarde, como sempre. – disse Sara, colocando a mesa do café – Eles passaram a noite com ela, vão descansar agora pela manhã e tomarão conta dos bebês, e nós vamos passar a tarde no hospital.

— Então somos nós duas hoje à noite, Anastasia. – sorri ironicamente, já sabendo que a loira não iria gostar muito. E eu, é claro, teria que me divertir com aquilo, afinal eram mínimos os momentos de descontração.

— Ótimo! – a loira fingiu entusiasmo, fazendo-me rir fraco.

— O café está servido. – avisou Scofield, e nós juntamos na mesa como abutres. Uma das únicas vantagens daquela situação eram as fartas refeições da mãe de Claire, que cozinhava maravilhosamente.

Tomamos o café da manhã normalmente, fazendo alguns comentários aqui e ali, mas na maior parte do tempo, todos ficávamos em silêncio. Depois de alguns minutos e todos de barriga cheia, nos despedimos das crianças e da dona da casa, seguindo para o hospital em meu carro.

Estacionei em uma vaga qualquer e nós três descemos do carro, caminhando até o vestiário em silêncio. Ao adentrarmos o local, fomos recebidos com os mesmos olhares de pena de todos os dias, algo que me deixava enjoada. Fiz uma cara feia para as pessoas que encaravam e fui até minha repartição, que ficava ao lado da de Claire. Suspirei ao ver suas coisas, as quais ninguém teve a audácia de tocar desde o ocorrido. Engoli em seco e troquei de roupa, vestindo o clássico uniforme médico azul-céu dos residentes.

— Eu estou com o Shepherd hoje. – afirmou Anastasia, também já vestida, enquanto deixávamos o vestiário.

— Emergência. – disse Diego, também caminhando ao nosso lado.

— Altman. – falei e olhei no relógio de punho – Vou dar uma passadinha no quarto dela antes das visitas. Vejo vocês depois. – despedi-me e virei em um dos corredores, seguindo para o elevador.

Pouco depois, já estava entrando o quarto de Claire. Aproximei-me lentamente e analisei seu rosto, que estava praticamente irreconhecível, devido à quantidade de tubos e máquinas que trabalhavam nela. Sua pele estava pálida e sem vida, o que revirava meu estômago, pois não podia evitar  lembrar-me de como era quando ela tinha as bochechas rosadas e o olhar vivo. Creio que a parte do olhar vivo eu só via antes do tiroteio, e algumas vezes nas consultas, quando olhávamos o ultrassom.

Sentei-me ao lado de sua cama e peguei em sua mão cuidadosamente, pois ali haviam algumas agulhas que levavam medicação e soro. Não consegui segurar o choro por muito tempo, que veio com violência, como sempre fazia. Abaixei a cabeça e escorei-a sobre sua barriga, deixando as lágrimas molharem o lençol que a cobria.

— Eu sinto muito... Muito, muito, muito. – murmurei, ainda com o rosto enfiado no tecido branco. Fiquei naquela posição por incontáveis minutos, até que consegui me recompor, prendendo um pouco o choro. Ergui a cabeça e sequei as lágrimas na manga do uniforme, respirando fundo para tentar recuperar o fôlego – Hey. – ri tristemente, encarando seu rosto novamente – Muito provavelmente você nem deve estar me ouvindo, mas mesmo assim, eu preciso conversar com você. Eu sinto falta de falar com minha amiga, sabe? – sorri fraco, e limpei a garganta – Bem, as crianças estão cada dia maiores, e mais espertas. Eles têm os olhos do Akira, bem puxadinhos. Mas o resto é praticamente você escrita. Todos nós estamos revezando para cuidar deles. Bom, quanto ao Roger, nós ainda estamos meio que brigados, por causa do seu parto e tudo mais. Eu gosto da companhia dele, sem contar que o sexo é de explodir a cabeça. Ele não é você, mas acho que posso amá-lo também. Se eu não o odiasse tanto. Sei lá, está tudo confuso. É por isso que eu preciso de você aqui. Você é igual a essas máquinas do Suporte à Vida, você é que me mantêm sobrevivendo, com tudo funcionando. Eu preciso de você. Não desista, okay? – beijei sua mão, e fiz um carinho em seus cabelos – Agora eu tenho que ir, o dever me chama. Antes de ir embora eu dou uma passadinha aqui. Amo você. – beijei sua testa também e suspirei, deixando o quarto em seguida.

—-

— Eu não sabia que você fazia o tipo religiosa. – falou Anastasia, caminhando pelo corredor da capela do hospital. Eu estava sentada nos bancos da frente, e virei-me bruscamente para olhá-la.

— Eu não faço. – afirmei, voltando a olhar para frente – Mas Claire faz, então eu me sinto conectada com ela quando estou aqui, de certa forma. E você, o que faz aqui?

— Eu não vou na igreja há anos, mas eu acredito em Deus. – disse a loira, e foi até a frente e acendeu uma vela, fazendo o sinal da cruz com as mãos.

— Por que todos estão acendendo velas para a Claire? Acender velas não é para gente morta? Claire não está morta. – falei, finalmente me dando conta do que aquilo significava.

— Ela está mais para lá do que para cá. – a jovem deu de ombros, ainda encarando as velas.

— Não! – retruquei, levantando-me – Ainda há chances dela acordar, então não, ela não está mais para lá do que para cá! – finalizei, e apressei-me para fora dali. A remota possibilidade de Claire nunca acordar me aterrorizava, e não parecia possível aceitar aquilo. Ao chegar na porta da capela, trombei com alguém, e só depois de alguns pedidos de desculpa que eu notei que a pessoa era meu pai.

— Elizabeth, eu fiquei sabendo da sua amiga... Eu sinto muito, ela era uma moça tão boa... – disse, tristemente – Eu fico feliz que não tenha abandonado as crenças da família. – apontou para dentro do cômodo, e eu olhei-o com raiva.

— Primeiramente, pare de se referir a ela como se ela estivesse morta, porque ela não está. E segundo, eu abandonei sim as crenças, não se engane. – rebati e tratei de sair dali o mais rápido possível, e segui para uma Sala de Descanso.

Entrei na sala e escorei as costas na porta, ofegante devido à corrida até ali. Escorreguei o corpo até tocar o chão, e coloquei minha cabeça entre os joelhos, deixando-me chorar novamente. Não andava muito preocupada em não chorar naqueles dias, pois sabia que era inútil lutar contra aquilo.

Algum tempo depois, senti a porta se abrindo e empurrando meu corpo para frente, e eu dei um pulo de susto, porque não queria que ninguém me visse naquela situação. Sequei as lágrimas rapidamente e virei o rosto para ver quem era.

— Rebecca? – indagou Roger, parado na fresta aberta da porta – Você está bem?

— Eu estou bem. – menti, desviando o olhar – Deixe-me em paz.

— Não. – afirmou, fechando a porta e sentando-se ao meu lado – Eu sinto tanto pelo o que aconteceu, Rebecca... Mais do que posso expressar.

— Agora ninguém precisa que você sinta muito, porque não vai adiantar. – revidei, com a cara fechada.

— Eu sei que não vai... – sussurrou e passou um braço por trás das minhas costas, abraçando-me de lado. Tentei livrar-me de seus braços, inutilmente, pois ele puxou-me para um abraço de verdade, e não consegui mais segurar o choro, então desabei ali em seus braços, apertando meu corpo contra o seu e molhando seu uniforme com minhas lágrimas – Vai ficar tudo bem...

 

Diego

1 mês depois.

 

Mais um mês havia se passado, e já fazia dois meses completos desde a complicação no parto de Claire. A cada dia que se passava as esperanças de que ela acordaria iam se diminuindo, e, apesar de nunca termos sido muito próximos, eu me sentia muito triste com aquilo tudo. Afinal, só há 3 opções de relacionamento com os outros 4 internos do seu grupo: ou vocês viram amigos muito próximos, ou arqui-inimigos, ou namoram. A não ser que a pessoa morra. Então, no meu caso com Claire, nós não éramos inimigos, e muito menos namorados, então a única opção que resta é de sermos amigos muito próximos. E vê-la naquela situação era de cortar o coração.

Além de preocuparmo-nos com Claire, também tínhamos que nos preocupar com os gêmeos e, principalmente, Rebecca. A cada dia ela surtava mais, e às vezes não deixavam as enfermeiras nem tocarem em Scofield, provavelmente com medo de alguém desligar as máquinas. Esse assunto ainda não havia sido trazido à tona, apesar de que, creio eu, todos os envolvidos já tinham pensado nisso. Contudo, ninguém tinha coragem de falar, ainda mais perto de Rebecca.

Estava começando a cochilar, quando um choro infantil me tirou de vez de meu sono. Respirei fundo e abri os olhos, pegando a babá eletrônica de cima da mesinha de centro da sala da casa dos Scofield.

— É sua vez. – murmurou Rebecca, virando de costas para mim, deitada no sofá que ficava de frente para o que eu estava.

— Eu sei. – suspirei e levantei-me, subindo para o quarto do menino, que foi quem acordara. As crianças ainda não tinham nome, e eu sinceramente não entendia porquê. O que estavam esperando? Que Claire acordasse? Porque ela poderia nunca acordar e as crianças acabariam sem nome.

Peguei o bebê em meus braços e tentei acalmá-lo, balançando-o de um lado para o outro em meu colo. Caminhei pelo quarto apertado, enquanto pedia para ele ficar quietinho. Alguns minutos depois e pude ouvir o choro da menina no quarto ao lado, e revirei os olhos. Aquilo seria tarefa para Rebecca, então nem me incomodei em ir vê-la. Cansei-me de ficar em pé e sentei-me na poltrona do quarto, aproximando meu nariz da fralda para checar se era ali o problema. Feliz ou infelizmente não era, então comecei a fazer algumas caretas, na tentativa de no mínimo fazê-lo parar de chorar. Sem sucesso, bufei e levantei-me novamente, voltando a fazer os movimentos lentos e andar pelo quarto.

— Está com problemas aí também? – perguntou Rebecca, adentrando o quarto com a menina, que também não parava de chorar.

— Não é a fralda, eu dei mamadeira para ele não faz nem uma hora, eu não sei o que fazer. – respondi, olhando-a desesperada – Cadê a Anastasia? Ela pode não gostar de crianças, mas pelo menos sabe fazê-las calarem a boca.

— Ela está de plantão. E talvez se a gente deixasse os dois perto um do outro, eles ficariam quietinhos. Gêmeos têm essa conexão. – sugeriu a morena, também balançando a bebê em seus braços.

— Não custa tentar. – dei de ombros e coloquei o garoto de volta no berço – Vou buscar o berço portátil.

— Que berço portátil o que, olha o tamanho dessa coisa, é a cama de casal dos bebês. Cabe os dois tranquilamente. – retrucou a jovem, também colocando a menina ao lado do irmão – Vamos esperar e torcer para a mágica acontecer.

Nós dois ficamos ali, parados na beira do berço, aguardando que as crianças se acalmassem. Depois de alguns minutos, os dois finalmente se calaram, deram algumas risadas de bebê e, para nossa alegria, pegaram no sono. Suspirei aliviado e sorri, estendendo a mão para Rebecca bater. Fizemos um toque de mãos e voltamos para a sala, cada um deitando em um sofá, como estávamos anteriormente.

—-

— Dr. Gomes! – chamou Richard Webber, fazendo-me acordar. Eu estava literalmente dormindo em pé, escorado no balcão das enfermeiras, com o rosto enfiado em um prontuário.

— O quê? – perguntei com a voz embargada pelo sono.

— Se for para dormir em pleno horário de serviço, vá para casa. – ordenou o homem, não parecendo muito feliz.

— Eu não estou dormindo. – falei, ainda com os olhos fechados e a cara no prontuário.

— Até quando vocês vão ficar fazendo isso?! Contratem uma babá para esses gêmeos, pelo amor de Deus! – exclamou – Agora vamos, estamos atrasados para as visitas.

— Uhum... – resmunguei, praticamente voltando a dormir.

— Dr. Gomes! – berrou o cirurgião, puxando o prontuário de debaixo do meu rosto, fazendo eu bater a cara no balcão e finalmente despertar.

— Desculpe, desculpe. – disse, agora mais alerta, e seguimos para o quarto do primeiro paciente.

—-

Adentrei o quarto com minha bandeja do almoço e fechei a porta, sentando-me na poltrona do acompanhante e puxando a mesinha portátil para perto de mim. Eu almoçava ali todos os dias desde o acontecido, porque não aguentava todo mundo encarando e ninguém ficava ali na hora do almoço, então podia passar um tempo sozinho e com Claire.

— E aí? – perguntei, como se ela fosse me responder, enquanto me ajeitava na poltrona – Hoje sua mãe caprichou na marmita, tem aquela lasanha maravilhosa dela, é uma pena que você não pode comer. – ri fraco e dei uma garfada na comida. A Sra. Scofield estava nos agradecendo com comida, e eu não podia reclamar, porque era uma das melhores que já havia comido na vida – Seus filhos são lindos e tudo mais, mas estão dando um trabalho da porra. Parece que eles sabem, quando a gente está pegando no sono, eles começam a berrar. Mas Rebecca e eu descobrimos essa noite que deixá-los dormir juntos no berço os mantêm quietinhos, então creio que vamos aderir à essa tática. – falei enquanto mastigava – Mas o pior, é que eu não tenho energia para mais nada. Eu estou esgotado, onde eu escoro eu durmo. E isso serve para sexo também. Faz uma semana que eu não vejo um pinto que não seja o meu ou o do seu filho. Uma maldita semana. Isso em tempo de sexo são meses, e eu não posso ficar meses sem transar. Sem contar que da última vez que eu transei com alguém, eu dormi no meio da hora H. Foi embaraçoso, quem dorme durante o sexo? Deus. – neguei com a cabeça, recordando-me da cena – Preciso nem que for uma rapidinha, dez minutinhos no banheiro masculino e pronto, já vou estar feliz. Mas as pessoas não me veem como o gay gostosão mais, e sim como a babá dos gêmeos da amiga em coma. Que broxante. – revirei os olhos – Se eu não gostasse mesmo dos seus filhos, eu já tinha desistido faz tempo. Agradeça-me por ser uma boa pessoa. – ergui uma sobrancelha para ela, mas o fato de ela não poder me agradecer atingiu-me, e eu abaixei a cabeça, ficando triste – A questão é que você não pode, né. – balancei a cabeça e uni os lábios, suspirando tristemente.

Continuei meu almoço ali por mais um tempo em silêncio, curtindo o clima depressivo que eu havia me deixado. O som das máquinas apenas contribuía para a morbidez daquilo, e comecei a me questionar se todo aquele sofrimento valia mesmo a pena. Talvez era hora de deixa-la ir em paz.

—-

Entrei na sala de CT e tranquei a porta, garantindo se quem estava ali era o cara que eu já havia transado há meses atrás. Sorri maliciosamente ao conferir que era ele mesmo, e tratei de agarrá-lo rapidamente, sem dá-lo tempo de pensar.

— Que diabos você está fazendo? – questionou o rapaz, lutando contra meus braços.

— Dez minutos, dentro, fora e fim. Não adianta falar que não quer, porque eu sei que é mentira. – sussurrei em seu ouvido da forma mais sexy que pude.

— Eu não quero... – murmurou, claramente mentindo.

— Não é o que esse daqui está falando. – rebati, agarrando sua ereção por cima da calça.

Esse gesto pareceu leva-lo à loucura, e o mesmo voltou a me beijar ferozmente, e me colocou de costas para ele com a barriga contra a mesa do computador dos exames, abaixando minhas calças do uniforme com urgência.

—-

Joguei-me no sofá da casa dos Scofield, exausto pelas noites mal dormidas e os longos dias de trabalho naquele maldito hospital. Um segundo depois Anastasia sentou-se ao meu lado e Rebecca do outro lado, a loira segurando um balde de pipoca e a morena uma garrafa de vinho e 3 taças.

— Nós realmente temos que ver essa droga de documentário? – reclamei, enchendo a mão de pipoca.

— Talvez seja nossa única oportunidade de aparecer na TV, então sim, nós temos mesmo que ver essa droga de documentário. – respondeu Anastasia, enfiando uma pipoca na boca.

— Eu só detesto relembrar o maldito dia do tiroteio, e essa porcaria vai ser justamente sobre isso. – revirei os olhos. Eu ainda tinha pesadelos com aquele dia, e eu parecia revivê-lo quase toda noite. Não podia nem ver filmes de ação mais, que os sons dos tiros na TV me faziam surtar. A voz do atirador perguntando se eu era cirurgião ecoava em minha mente todos os dias, e toda vez que me apresentava como Dr. Gomes, lembrava da mentira que salvara minha vida naquele dia.

— Eu também detesto relembrar aquele dia, mas vamos ver essa droga logo de uma vez. – falou Rebecca, enchendo as taças de vinho.

— Agora todo mundo quieto, que vai começar. – ordenou Lewis, aumentando o volume da TV e pegando sua taça de vinho com Rebecca.

Ficamos em silêncio pelos primeiros minutos do documentário, e a única coisa que me impedia de dormir era a pipoca e a vontade de ver Claire viva. Logo no início já tivera uma cena dela saindo de casa com Rebecca, e um clima pesado havia se formado desde lá. A cada cena que ela aparecia nós ficávamos mais tensos, e o ápice foi quando nós demos aquela minientrevista em nossa mesa do almoço, que ela nos apresentou e depois ficou um clima esquisito por causa da lembrança do tiroteio.

— Eu queria que ela estivesse aqui. – disse Anastasia, suspirando ao meu lado.

— Eu também. – concordei, e tomei o restinho de vinho do fundo da minha taça.

Quando chegou a parte da cirurgia do transplante de braços, o sono começou a bater, e meus olhos começaram a pesar. Anastasia já estava apagada, e Rebecca parecia acordada, contudo seu olhar estava longe, e provavelmente sua mente não estava ali. Meus olhos se fecharam lentamente, e deixei meu corpo relaxar, pela primeira vez em dias.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Gostaram do mesmo jeito que eu? E o que acham que vai acontecer com a Claire? Deixem seus comentários, por favor, não custa nada!
Beijões, e até mais!



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