Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 16
Capítulo 16 – Knocking On Heaven’s Door.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal!
Aqui vamos nós com mais um capítulo, até que longo novamente. Preparem o coraçãozinho!
A música de hoje foi muito difícil de escolher, porque eu queria usá-la em um capítulo especial, já que eu pessoalmente a amo. Mas foi a que melhor se encaixou, depois de procurar muito em minha lista. É uma das minhas favoritas do Guns N' Roses. Link: https://www.youtube.com/watch?v=9-H8Yxz5fJs
Espero que gostem, e boa leitura! ♥



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O futuro é uma das coisas mais assustadoras da vida. Vai me dizer que a incerteza do que pode te acontecer amanhã não te assusta? É excitante, e ao mesmo tempo é aterrorizante. O fato de não termos ideia do que ocorrerá nos dá um baita frio na barriga, que nos anima ao tentar adivinhar o que vai acontecer e nos aterroriza porque podemos não estar preparados para o que vier. Apesar de planejarmos tudo, por exemplo a faculdade que vamos fazer, a carreira que vamos seguir, se vamos nos casar, ter filhos e construir uma família, as coisas quase nunca saem do jeito que gostaríamos.

— Que diabos você está fazendo nesse hospital? Eu não disse que era para você aparecer aqui só se estivesse em trabalho de parto?! – questionou Bailey, de maneira repreensiva.

Eu encontrava-me lendo um prontuário, escorada no balcão das enfermeiras. Minha barriga parecia que ia explodir, e o uniforme que pegara para a gravidez estava esticado ao máximo. Minha cesariana estava marcada para aquela semana, e eu havia sido dispensada de meus serviços.

— Eu estou bem, Dra. Bailey! Meu parto é só no final da semana, e hoje ainda é terça! – respondi, tentando ser convincente.

— Você parece mais uma bola ambulante, e bolas ambulantes não exercem medicina nesse hospital. – retrucou, olhando-me acusadoramente – Agora vá ler livros sobre bebês e comprar enxoval!

— Ainda bem que eu estou escalada para a Emergência hoje, não para os seus serviços. – sorri falsamente e fechei o prontuário, fazendo a cirurgiã lançar-me um de seus olhares mortais, erguendo uma sobrancelha. Engoli em seco e me arrependi amargamente de ter aberto a boca – Desculpe.

— Se eu cruzar com você nesse hospital e você não estiver gritando de dor, eu vou chutar esse seu traseiro enorme de grávida de gêmeos até a saída, estamos entendidas? – estreitou os olhos, e eu assenti, sentindo-me um pouco ofendida e ameaçada – Acho bom. Vá para casa! – finalizou e deu as costas para mim, seguindo seu caminho pelo corredor.

Arregalei os olhos e bufei, virando-me em direção à Emergência. Eu não perderia dias de trabalho apenas por mero luxo de gravidez, levando em conta que já teria que ficar afastada por muitos dias após dar à luz.

Caminhei até a Emergência e procurei por Owen, que se encontrava do outro lado do balcão das enfermeiras, mexendo no computador.

 — Bom dia, Dr. Hunt, estou a seus serviços hoje. – falei, parando de frente para ele, com apenas o balcão nos separando.

— Mas não era para você estar afastada? Não é essa semana seu parto ou alguma coisa assim? – disse o homem, franzindo o cenho ao me ver.

— Eu estou em perfeita forma para exercer medicina, Dr. Hunt. Não precisa se preocupar, eu conheço meus limites. – afirmei, tentando ser convincente.

— Se você diz... – deu de ombros – Leitos 8, 9 e 10, estão esperando há alguns minutos.

— Okay, obrigada. – sorri agradecida e segui até o leito 8, colocando minhas luvas – Bom dia, qual é o problema aqui? – sorri simpática.

— Meu Deus, não é uma médica, é uma baleia! – exclamou o paciente, medindo-me com o olhar – Você tem certeza que não vai explodir, ou não vai se quebrar inteira com esse peso todo não?

— Eu estou muito bem, obrigada pela preocupação. – respondi com uma pitada de ironia, me segurando para não ser rude – E você, como se sente?

— Derrubaram-me da minha maldita bicicleta, sem nenhum motivo! – falou, e dei uma olhada em seus machucados.

— Você sente dor em algum lugar em específico? – perguntei, analisando alguns ralados.

— Não exatamente... – respondeu, mas soltou um grito de dor quando apertei sua barriga, examinando-a – Ai! Cuidado aí!

— Vou pedir uma CT abdominal para você. – afirmei, e chequei suas pupilas e reflexos – Aparentemente nenhuma lesão cerebral. Apenas um corte aqui na testa, que vai precisar de alguns pontos. Vou pegar um kit de sutura e depois as enfermeiras vêm fazer os curativos e te levarem para o exame. – finalizei, anotando tudo no prontuário.

— Pontos? Eu odeio pontos. – reclamou, revirando os olhos – Vai ficar cicatriz?

— Vou fazer o meu melhor. – sorri fraco e chamei uma enfermeira – Kit de sutura, por favor. – pedi, e a mesma assentiu e partiu rapidamente, voltando em pouco tempo.

Sentei-me ao lado do paciente e apliquei a anestesia local. Peguei a agulha e a linha de suturas e comecei a dar os pontos na testa do homem. 10 pontos depois e eu já havia acabado, então cortei a linha e joguei os materiais no lixo.

— Vou pedir para as enfermeiras fazerem os curativos e logo te levarão para o exame. – falei e concordei com a cabeça, deixando aquela repartição e seguindo para o leito 9, falando com uma enfermeira no caminho – Bom dia, como você se sente? – sorri educadamente ao deparar-me com a próxima paciente, enquanto colocava luvas novas.

— Você está vendo! Ela está grávida! – exclamou a paciente, encarando seu acompanhante – Eu não entendo por que diabos você não quer filhos! – bufou e cruzou os braços.

— Crianças são pequenos seres humanos sem a mínima noção do que fazem, sem responsabilidades, e sinceramente, sem utilidade aparente. – rebateu o homem, também cruzando os braços.

— Se for para ter um marido desses, para que um marido? – a mulher revirou os olhos – Desculpe-me, vamos prosseguir. Eu tenho tido essas cólicas horrendas e... – começou a explicar, mas parou e começou a encarar o nada.

— E o quê? – questionei, encarando-a preocupada, notando que ela ficara pálida de repente.

— Querida? – chamou o homem, e a mulher não respondeu, apenas vomitou uma quantidade considerada de sangue sobre suas pernas na cama.

— Droga! – amaldiçoei, e apressei-me para pegar uma bacia onde ela poderia vomitar – Bipe o Cirurgião Geral de plantão, agora! – ordenei, e vi uma enfermeira apressar-se.

— O que está acontecendo? Querida? – perguntou o acompanhante, aproximando-se de nós duas. A paciente ergueu o olhar para ele, e seu rosto estava extremamente pálido e com olheiras aparentes, chegando até a ser um pouco assustador – Oh meu Deus, o que está havendo com ela?!

— Nós não saberemos, até fazermos alguns exames... – respondi, sentindo-me inútil.

— O que temos aqui? – questionou Bailey, e arregalei os olhos ao ouvir sua voz, já sentindo uma bela bronca se aproximando.

— Ela chegou reclamando de cólicas fortes, e nem terminou de falar, já vomitou sangue para todo o lado. – afirmei, torcendo para ela de alguma forma não perceber que era eu.

— Não era nem para você estar aqui! – repreendeu-me, e eu suspirei, rendida – Afaste-se dessa paciente e vá para casa, esse caso é comigo agora. – continuou, olhando-me séria – Vamos leva-la para um CT, rápido! – ordenou, e o grupo de enfermeiros logo se juntou e moveram o leito, deixando-me sozinha para trás – E você, fique longe de qualquer paciente, eu estava séria quando mandei você ir embora! Você mal consegue se aguentar em pé! Você está vivendo por três, e sabe disso, então pare de ser teimosa e vá para casa. – disse séria.

— Eu não consigo ficar em casa. – falei, e ela riu-se debochada.

— Isso não é problema meu. – deu de ombros e partiu atrás da paciente.

Bufei e revirei os olhos, socando o ar de raiva. Aquelas crianças nem haviam nascido ainda, e já estavam atrapalhando minha carreira de certa forma. Minhas reclamações em pensamentos foram interrompidas pelo som de meu bipe, e ao pegá-lo vi que era Rebecca, me chamando numa Sala de Descanso. Sabia que alguma bomba estava por vir, então apressei-me até o local, encontrando-a nervosa.

— O que está havendo? – perguntei, preocupada.

— Eu estou pronta. – afirmou sorrindo, aparentemente de nervoso.

— Pronta para...? – franzi o cenho, sem entender muito bem.

— Pronta para conversar com minha mãe. – concordou com a cabeça, parecendo certa do que dizia – Eu percebi que ignorá-los não vai fazê-los desaparecer, então vou encarar isso logo de uma vez. Você vem comigo? Não sei se posso fazer isso sozinha. – pediu, encarando-me com olhos pidões.

— Claro... – assenti, ainda um pouco confusa – Qualquer coisa.

— Muito obrigada! – sorriu largo – Pode ser agora? Ou você tem algum paciente?

— Eu até tinha, mas Bailey arrancou-os de mim, só porque estou grávida. – respondi, revirando os olhos.

— Isso é uma droga. – a morena fez uma cara feia, saindo da sala comigo – E como vão esses dois aí? – colocou a mão em minha barriga, carinhosamente.

— Estão bem. – afirmei, dando de ombros.

— Que bom. – a sinceridade transbordou em suas palavras, o que fez realmente parecer que ela estava feliz em saber que estávamos bem.

Seguimos em silêncio o resto do caminho até o quarto em que a mãe dela estivera ficando nos últimos dias, e o nervosismo emanava da jovem ao meu lado. Paramos do lado de fora e ela respirou fundo, olhando-me ansiosa.

— Você consegue fazer isso, apenas entre lá e encare a mulher. – tentei dar apoio, sorrindo fraco.

— Okay... Você tem que entrar comigo. – segurou minha mão com força, e eu assenti.

— Eu vou entrar, mas não vou falar nada. – falei, balançando a cabeça.

— Tudo bem. – limpou a garganta e bateu na porta, que já se encontrava aberta – Bom dia. – sorriu sem graça, e pude ver a expressão de felicidade do pai dela, que aproximou-se de nós rapidamente.

— Elizabeth... – disse o homem, um pouco abobalhado – Claire. – olhou-me rapidamente, e eu respondi com um sorrisinho – Eu estou tão feliz de ver vocês duas.

— Quem está aí? – perguntou a mãe de Rebecca, uma mulher morena, de seus cinquenta e poucos anos, deitada na cama.

— Sou eu mamãe. Elizabeth. – respondeu, e eu franzi o cenho. Como assim, Elizabeth?

— Elizabeth? – questionou, unindo as sobrancelhas, formando uma carranca – Que diabos você está fazendo aqui? Eu pensei que tinha dito para você nunca mais pôr os pés nessa casa enquanto eu estiver viva. – continuou, encarando Cooper com raiva no olhar. Virei-me para a morena, chocada com a reação de sua mãe, mas tentei manter a compostura.

— Nós não estamos em casa, mãe. Estamos em um hospital. Eu sou médica. – disse Rebecca, aparentemente tentando compreender a situação de sua mãe.

— Você tentou me matar? É por isso que estamos num hospital?! – exclamou a mais velha, e os alarmes de seus sinais vitais dispararam, demonstrando que havia alguma anomalia em seus batimentos cardíacos – Eu sabia, o Diabo foi tomando conta de você aos poucos, primeiro ele fez você uma lésbica nojenta, e depois você tentou me matar. É assim que Satanás toma o corpo das pessoas, de pouquinho em pouquinho, eu sabia que ia acabar mal... – continuou, e seus batimentos aumentaram mais ainda.

— Ela está tendo uma taquicardia ventricular. Nós deveríamos parar por aqui. – afirmei, olhando o monitor dos sinais vitais.

— E quem é essa? Aposto que é sua namorada nojenta. Vai me dizer que foi você que engravidou ela? – indagou a senhora, voltando-se para mim e rindo ironicamente.

— Essa é aquela médica amiga nossa, que tem nos ajudado, você lembra, querida? – o pai de Rebecca, Anthony, tentou acalmar a mulher, segurando a mão dela.

— Ela é só minha amiga, mãe. – disse Rebecca, parecendo desesperada com a situação.

— Não me chame de mãe. Não ouse me chamar de mãe. Nunca mais. – vociferou a paciente, com raiva mais do que evidente, tanto na voz quanto no olhar.

— Nós deveríamos ir, Rebecca. – falei, colocando a mão em seu ombro.

A morena livrou-se de minha mão e deixou a sala rapidamente, sem dizer uma palavra sequer.

— Eu sinto muito, talvez se ela voltar num outro dia, quando ela estiver normal... – desculpou-se Anthony, olhando-me tristemente.

— Vai ser difícil ela querer voltar. – suspirei, negando com a cabeça – Eu sinto muito. – finalizei e saí da sala – Dê alguma coisa para ela se acalmar, por favor. – pedi a uma enfermeira, e fiquei observando-os pela janela. O homem tentava acalmar a esposa, que parecia possessa, enquanto a enfermeira adicionava algum remédio no soro.

Bufei e peguei meu bipe, na tentativa de localizar Rebecca, apesar que sabia que seria inútil. Escorei-me na parede ao lado da janela do quarto e fiquei mexendo no aparelho, com certeza deixando claro em minha expressão como estava aborrecida.

— Hey, Claire. – ouvi uma voz masculina, e ergui a cabeça para ver quem era, dando de cara com Diego – Tendo um dia difícil? – perguntou, escorando na parede ao meu lado.

— E tem algum dia que não é difícil? – respondi com outra pergunta, suspirando.

— Eu sei como é. – riu fraco – Desde o tiroteio, não há sequer um dia fácil... Eu imagino como está sendo para você. – encarou minha barriga – Mas sabe o que me ajuda?

— O que? – falei curiosa, virando-me para ele.

— Sexo. – afirmou, e nós dois rimos.

— Bom, nem se eu quisesse muito eu conseguiria isso. – disse ainda rindo fraco, mas com um pouco de tristeza nas palavras.

— Se eu gostasse da fruta... – falou sugestivamente, fazendo-me rir novamente. Eu estranhei um pouco as atitudes do rapaz, porque nunca tivemos muita intimidade, na verdade raramente conversávamos sem motivo aparente. Mas acabei notando que sua companhia era melhor do que eu pensava, e talvez devesse dar um pouco mais de atenção a ele.

— Estou lisonjeada. – sorri debochada, e ao poucos fui fechando o sorriso, e ambos ficamos sérios e em silêncio.

— Bom, vejo você na hora do almoço? – quebrou o silêncio, desencostando-se da parede.

— Não, na verdade eu tenho compromisso para o almoço. Os pais do Akira estão chegando na cidade, porque você sabe né, eles querem estar por perto quando eu... para o parto. – respondi, sorrindo fraco – Mas teremos muitos outros almoços, pode ter certeza.

— Eu espero que sim, a não ser que um atirador entre no hospital e mate um de nós. – brincou, e eu ri por educação. Aquilo definitivamente não tinha graça, e creio que ele sabia disso – De qualquer jeito, tchau. – acenou e afastou-se, deixando-me sozinha. Tentei bipar Rebecca mais algumas vezes, mas desisti depois de ser ignorada múltiplas vezes.

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Encontrava-me sentada no divã, de frente para meu psicólogo. Creio que nunca mencionei, mas ele era um gato. E, com os hormônios da gravidez à flor da pele, ainda mais depois da conversa que tivera com Diego, minha maior vontade era de agarrar aquele homem.

Ele estava de costas para mim, mexendo em um armário que ficava atrás de sua mesa. Não conseguia evitar, então encarava-o descaradamente. Analisava seu corpo aparentemente não muito forte, ele era mais do tipo magro, porém não deixava de ser atraente. Desci meu olhar de sua cabeça raspada, passando por suas costas cobertas com uma camisa social branca, até chegar em sua bunda, que era bastante avantajada levando em conta seu porte físico. Parei os olhos na parte de trás de sua calça social preta, e mordi os lábios, tentando evitar pensamentos ruins. Eu me sentia péssima por aquilo, primeiramente porque a sensação era como se eu estivesse “traindo” Akira, e em segundo lugar, ele era meu psicólogo, droga!

— Muito bem, encontrei seu arquivo. – falou, virando-se de frente para mim, e eu tentei ao máximo recompor-me – Desculpe a demora. As coisas estão meio bagunçadas ultimamente. – continuou, sentando-se agora no sofá de frente para mim – Então, vamos começar. Como está se sentindo? Estamos próximos do parto.

— Pois é, por mais incrível que pareça, eu estou bem. Está tudo bem. – afirmei, balançando a cabeça positivamente.

— É normal sentir-se nervosa quando o parto está próximo. Principalmente em sua situação, sabendo que vai ser uma mãe solteira de gêmeos. – disse, soando compreensivo, como sempre.

— Você falando desse jeito, parece realmente algo para se preocupar. – ri fraco – Mas por mais incrível que pareça, eu não estou nervosa. Eu me sinto normal. Acho que os seis meses que passei sabendo dessa gravidez foram suficientes para me preparar.

— Ou talvez sua ficha não tenha caído. – ergueu uma sobrancelha, me deixando um pouco pensativa – O que tem feito nos últimos dias?

— Trabalhando, é claro. – respondi, como se fosse óbvio.

— Aqui? No hospital? – questionou, franzindo o cenho.

— Onde mais seria? – ergui os ombros.

— Você não deveria estar descansando? Por que tem vindo trabalhar?

— Eu não quero ficar para trás, já vou ter que ficar vários dias afastada depois dos bebês, não posso desperdiçar o tempo que tenho.

— Você tem certeza que não está trabalhando apenas para ocupar a mente, assim não precisa pensar em sua situação?

— E se eu estiver? – retruquei, dando de ombros – Que vergonha de mim por querer ocupar a mente para não ficar em casa refletindo o quão ferrada minha vida está. – ironizei.

— Eu compreendo, você tem medo de se deixar lamentar e talvez nunca mais parar... Mas se não estiver pronta mentalmente para esse parto, eu temo que as coisas fiquem piores...

— ... do que já são, né? – cortei-o – Diga-me como “estar prestes a parir duas crianças cujo pai foi morto com uma bala na cabeça bem na minha frente e ainda ser uma residente” pode piorar.

— Você poderia desenvolver uma profunda depressão pós-parto, que causaria ainda maiores danos emocionais a você e a seus filhos, podendo até chegar a danos físicos...

— Você está dizendo que eu tenho a capacidade de machucar meus filhos, só porque tenho alguns problemas? Ou me machucar? Cara, eu não preciso desenvolver depressão pós-parto. Eu já tenho depressão. – rebati, apoiando meus braços em minhas pernas, deixando meu rosto mais próximo dele – E se eu ainda não estiver preparada para o que está prestes a acontecer, então esses 4 meses que estive aqui fazendo terapia não adiantaram nada.

— Eu sei que você está nervosa com tudo, e o que você precisa é aprender a controlar sua raiva. Então feche os olhos, respire fundo e pense em algo que te faz feliz, alguma coisa que te acalma. – ordenou, e eu revirei os olhos antes de fazer o que ele disse. O homem respirava fundo junto comigo, como se me mostrasse o que eu tinha que fazer – Okay, agora vamos continuar. Quais são os seus planos para o resto da semana?

— Eu queria trabalhar, mas estão todos me barrando. – respondi, já bem mais calma – Mas acho que vou ficar por aqui, vai que algum paciente cai do céu... se fosse literalmente, melhor ainda. – dei de ombros.

— Como estão as coisas em casa?

— O de sempre, meus pais não param de me infernizar nem por um segundo, eles têm que fazer tudo para mim. Não deixam nem eu arrumar minha própria cama sozinha.

— É por isso que você quer ficar por aqui? Porque eles ficam te lembrando toda hora sobre sua situação, ou porque você se sente incapacitada e isso te lembra o tiroteio, e sua incapacidade de mudar o que estava acontecendo?

— Eu não sei do que você está falando. Eu quero ficar aqui porque isso é um hospital, e eu sou médica, medicina é minha vida, eu quero salvar vidas. E meus pais me estressam muito.

— Exatamente. Você se sente capaz de ajudar pessoas aqui, por isso não quer parar de trabalhar. Você tem uma necessidade compulsiva e inconsciente de, de certa forma, “compensar” não poder ter ajudado Akira no tiroteio, e faz isso praticando medicina. Quando seus pais não a deixam fazer nada, você se sente da mesma forma que se sentiu durante o tiroteio, impotente. – afirmou, e aquilo fez sentido, de certa forma.

— Você é um psicólogo bom, tenho que admitir. – falei, e sem querer, soou um pouco malicioso, ainda mais que eu não pude evitar a não ser analisar seu corpo novamente. Balancei a cabeça tentando espantar os pensamentos inapropriados e sorri sem graça – Eu esqueci de mencionar, os pais de Akira estão chegando na cidade hoje. – puxei assunto, tentando disfarçar.

— E isso é algo bom? – perguntou, curioso.

— Eu sinceramente não sei... Eu não os vejo pessoalmente desde o... velório. – engoli em seco, tendo alguns flashes do funeral – Eu os contei sobre a gravidez por telefone, e eles pareciam bem animados. Talvez um pouco demais.

 — Como assim, um pouco demais?

— Eles fizeram um milhão de planos, disseram que iam reorganizar a agenda, e talvez até se mudarem para Seattle só para ficarem mais próximos das crianças.

— E isso te incomoda?

— Mas é claro! Quer dizer, é bom saber que eles se importam, mas... é estranho, sabe. Nós nos conhecemos apenas depois da morte de Akira, e me parece tudo um pouco embaraçoso.

— Quando vai se encontrar com eles?

— Nós vamos almoçar hoje. E eu estou nervosa. Não queria estar, mas estou. – mordi o lábio inferior, imaginando como seria.

— Você só precisa manter-se calma, foque no que é importante. Faça-os sentirem-se à vontade, e aprecie a preocupação dos dois. Portanto seja clara ao estabelecer alguns limites, lembrando-os sempre que você é a mãe das crianças. – aconselhou-me, e olhou no relógio – Nossa sessão infelizmente acabou, e creio que vou vê-la apenas depois do parto, então... boa sorte lá. – sorriu com sinceridade, e eu retribuí o gesto.

— Muito obrigada.

— Só por curiosidade, você já escolheu os nomes? – questionou, enquanto nos levantávamos.

— Ainda estou em dúvida. – menti, mas é claro que eu já escolhera os nomes, desde quando descobri que estava grávida. Pensei nas opções se fosse menina ou se fosse menino, e acabou que seriam os dois, então os nomes já estavam decididos.

— Ah sim... Eu farei uma visita assim que eu puder. – assentiu, e encarou-me com aqueles olhos azuis maravilhosos – Você melhorou muito desde que começamos. Eu estou orgulhoso.

— Obrigada... – sorri sem graça, e quando ele estendeu a mão para eu apertar, senti a necessidade de abraça-lo, então assim o fiz. Puxei-o para um abraço e envolvi meus braços em sua cintura, sentindo pela primeira vez seu perfume masculino, que para minha infelicidade acabou tornando-o ainda mais sexy para mim.

— Oh... – murmurou, pelo jeito sendo pego de surpresa por meu gesto. Correspondeu ao abraço, acariciando minhas costas, e afastou-se depois de um tempo – Vejo você em alguns dias.

Apenas concordei com a cabeça e encarei sua boca, respirando fundo para não deixar meus hormônios tomarem conta das minhas ações. Sorri sem graça e peguei minha bolsa, deixando a sala o mais rápido possível, tentando evitar que algo embaraçoso acontecesse.

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Estava sentada numa mesa de um restaurante não muito longe do hospital, no qual eu marcara de encontrar os pais de Akira. Olhava em volta, e batia os dedos na mesa, nervosa. Todos que passavam pela porta de entrada chamavam minha atenção, e eu esticava o pescoço para ver se era o casal.

— A senhorita gostaria de pedir alguma coisa? – perguntou uma garçonete, parando na minha frente.

— Eu estou esperando algumas pessoas, mas pode me trazer um copo d’água. – afirmei, sorrindo simpática.

— Mineral ou de torneia?

— Mineral. – respondi, e a mesma assentiu, afastando-se dali.

Voltei a estudar o local, que era muito bem decorado. As paredes apresentavam alguns papéis de parede floridos esporadicamente, e o resto era pintado de um cor-de-rosa bem claro, que combinava com a cor das flores. As mesas tinham duas toalhas: uma maior, que era branca, e uma menor por cima, que era de um tom um pouco mais escuro que as paredes. Sem contar que cada mesa possuía um vaso de vidro no centro, com flores artificiais que combinavam com as toalhas de mesa. O clima era muito agradável e alegre, coisas que, para mim, não combinavam muito com o clima cinzento de Seattle.

Percebi a entrada de duas pessoas e virei o rosto rapidamente para a porta do restaurante, logo avistando o casal de asiáticos caminhando para dentro. Desviei o olhar rapidamente e comecei a fingir que ainda não havia visto-os ali, sem saber o que fazer. A garçonete de anteriormente trouxe meu copo de água, e eu sorri agradecida e dei um gole, evitando contato visual com os dois que se aproximavam.

— Claire! Quanto tempo! – exclamou Akemi Aoki, a mãe de Akira. Sorri, fingindo notar a presença deles apenas naquele momento, e levantei-me com um pouco de dificuldade, devido ao barrigão.

— Pois é, uns 9 meses mais ou menos. – ri fraco e abracei-a.

— Uau, você está enorme! Esses nenês vão nascer grandões! – disse a mulher, e eu tentei não me sentir ofendida.

— Mas não deixa de estar linda. – afirmou Takashi Aoki, o pai de Akira, também vindo me abraçar.

— Obrigada... – retribui o gesto, ficando meio sem graça. Eu não sabia se os pais dele eram bonzinhos com todo mundo, ou apenas comigo que carregava os netos deles – Vamos nos sentar, fazer os pedidos... – sugeri, apontando para a mesa.

— Claro, claro. – concordou o homem, sentando-se em um dos quatro lugares da mesa – O bom é que nós poderemos comer relaxados, já que você não precisa ir trabalhar...

— Na verdade, eu estou trabalhando no hospital hoje, então infelizmente teremos apenas meu horário de almoço... – falei, fingindo estar chateada por não termos mais tempo.

— Você sabe que está na reta final de uma gravidez de risco, né? Não deveria estar se esforçando. – disse a mulher, soando como uma repreensão.

— Eu estou bem, estou me virando bem. – afirmei, e essa deveria ser a milésima vez nos últimos dias que eu dizia aquilo – Vamos falar do que é importante. – tentei mudar de assunto – Eu agradeço muito por terem vindo, a consideração e o apoio de vocês significa muito para mim.

— Nós que agradecemos que você está nos dando a oportunidade de participar da gravidez dos nossos netos. Eu sei que deve estar sendo muito difícil para você, devido a tudo que aconteceu... – a mulher fez uma pausa, muito provavelmente lembrando-se da morte de Akira – Você é uma guerreira, Claire. – sorriu tristemente, e eu imitei seu gesto.

— Não precisa agradecer, eu estou fazendo tudo isso por amor, tanto por Akira quanto por esses bebês. – esfreguei a mão na barriga e a olhei, sentindo meu coração derreter só de imaginar as crianças – Então, o parto está programado para a sexta-feira e será uma cesariana. Meu médico indicou que era melhor assim, então eu aceitei. – comecei a explicar, alternando olhares entre eles – Eu vou demorar um pouco para sair do hospital, mas, se tudo der certo, os bebês vão ter alta antes, e eles ficarão na casa dos meus pais, onde vocês poderão visita-los. Estão liberados para passeios, mas eu gostaria que vocês avisassem antes, e dissessem aonde pretendem ir.

— Entendido. – Akemi assentiu – Você já tem nomes?

— Ainda não estão definidos. – menti novamente, não queria divulga-los assim.

— Você pretende acatar ao sobrenome do Akira? – perguntou o homem.

— Sim, só não decidi se será Aoki-Scofield ou Scofield-Aoki. – respondi, concordando com a cabeça, e peguei o cardápio para olhar as opções.

— Normalmente o nome do pai vai no final... – disse a mulher, de forma sugestiva.

— É, ainda preciso decidir certinho. – dei de ombros, sem tirar os olhos do cardápio – Já sabem o que vão pedir?

— Até me esqueci de escolher. – a mãe de Akira riu-se e pegou o outro cardápio, também dando uma olhada – Eu vou pedir risoto de camarão. – colocou o objeto de lado e assentiu.

— Espaguete. – afirmou o homem, também deixando o cardápio de lado.

— Eu vou de salada verde mesmo. – sorri forçado, tentando parecer saudável perto dos dois. Mal sabiam eles que eu andava comendo hambúrguer quase todos os dias.

— Vamos chamar um garçom, então. – falou Takashi, erguendo a mão para chamar a atenção de um moço, que logo veio até nós e anotou nossos pedidos. Para beber eu pedi apenas suco mesmo, enquanto os dois passaram um tempão escolhendo um vinho.

— A propósito, nós trouxemos alguns presentinhos... Como estão as roupinhas, os brinquedos, as fraldas...? – disse a mulher, encarando-me depois que o garçom foi embora.

— Eu não tive tempo de dar um chá de bebê, então meus pais e eu acabamos comprando as coisas... Meus amigos também deram algumas coisas, mas está tudo sob controle, nada muito exagerado, mas também nada faltando. – respondi, dando de ombros.

— Bom, mas alguns presentes a mais não fazem mal... Toda ajuda é bem-vinda, acredite, querida. – nós duas rimos fraco, e eu concordei com a cabeça.

Alguns minutos depois, fomos servidos com nossos respectivos pratos, e o almoço fluiu bem. Conversamos sobre várias coisas, e eles me pareceram mais amistosos do que eu imaginava. Sempre tive uma visão de que orientais eram muito autoritários e fechados, mas eles acabaram com esse meu pensamento. E eu achei que eles fossem querer dar palpite em tudo da gravidez, mas eles também me deram muito espaço quanto a isso, e eu estava grata.

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Cheguei no hospital depois do almoço com meus “sogros”, e já fui direto atrás de meus pacientes de anteriormente na Emergência. Fiquei sabendo que o homem havia sido liberado, e a mulher que vomitara sangue estava em cirurgia. Decidi ir checar como a operação estava indo, então coloquei uma máscara cirúrgica e passei álcool em gel nas mãos, pois muito provavelmente não iria ao menos chegar perto da paciente. Entrei na SO pela porta principal e parei um pouco distante da mesa de cirurgia, observando.

— Como estão as coisas aqui? – perguntei, e recebi um olhar assassino de Bailey como resposta.

— O que você está fazendo aqui? Você está brincando com minha paciência, Scofield. – respondeu a mulher, negando com a cabeça.

— Eu só vim checar meus pacientes da Emergência, calma. – afirmei e cruzei os braços – O que ela tem?

— Tumor, para variar. – disse a cirurgiã, concentrada na cirurgia – Mas como ela não é sua paciente, não vou te dar detalhes sobre o caso, agora dê o fora desse hospital.

Abri a boca para responder, mas senti algo estranho e logo minha calça estava encharcada. Olhei para o chão e havia uma poça de água em meus pés, e eu fiquei encarando aquilo, um pouco assustada. Eu dizia para meio mundo que estava bem e pronta para aquilo, mas a verdade é que eu não fazia ideia do que fazer. Continuei ali paralisada e olhando para o chão, com os olhos arregalados, enquanto ninguém notava o que se passava comigo.

— Eu disse para dar o fora, Scofield. Ou vou ter que mandar alguém te tirar a força da minha SO? – falou Miranda, sem tirar os olhos da paciente. Continuei em silêncio e com a cabeça baixa – Você está surda ou... – finalmente ela olhou para mim, e pude sentir seus olhos passarem por meu corpo de baixo para cima – O que aconteceu? Claire, você está bem? – a mulher franziu o cenho, e uma enfermeira se aproximou de mim.

— Eu acho que a bolsa dela rompeu. – afirmou a moça, com uma mão em minhas costas e também olhando para o chão.

— Claire, olhe para mim. – mandou Bailey, e eu ergui a cabeça até ela, um pouco relutante – Você tem que ficar calma. Quem é seu médico, e quem você quer que eu chame? – continuou, calmamente.

— Roger King, Rebecca Cooper. – respondi, com a voz trêmula.

— Muito bem, vocês ouviram, bipe Roger King e Rebecca Cooper, agora. – ordenou a cirurgiã – Vai ficar tudo bem, eles tomarão conta de você. – afirmou, encarando-me nos olhos – Sente-a em algum lugar, até a hora que eles chegarem. – disse à enfermeira que estava perto de mim, e a mesma assentiu, ajudando-me a andar até um banquinho que se encontrava lá dentro.

— Está tudo bem, eles vão chegar logo. No final das contas, vai valer a pena, você vai ver. – falou a moça, tentando me passar calma. Eu apenas concordei com a cabeça freneticamente, já sentindo algum desconforto, que poderia ser uma contração. Apertei a mão da mulher enquanto a dor aumentava, e dei um grito. A sensação era de que meu corpo estava virando do avesso, e aquilo só me desesperava mais.

— Claire, eu sei que dói, mas você tem que aguentar firme, okay? – afirmou Miranda, com os olhos em seu paciente. Não respondi nada, apenas continuei ali, tentando controlar minha respiração.

— Claire! – exclamou Rebecca, adentrando a SO e correndo até nós – Você está bem?

— Ela acabou de ter uma contração. – respondeu a enfermeira que estava comigo, e a morena assentiu.

— Vai ficar tudo bem, o Roger logo chega. – disse Cooper, pegando em minha mão.

— Eu não estou pronta. – falei, já sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos.

— Sim, você está! Nós falamos sobre isso mais de um milhão de vezes, esse é o momento, e você está pronta! – retrucou a jovem, com convicção na voz.

— Eu estou aqui, Claire. – disse Roger, adentrando a SO rapidamente, empurrando uma cadeira de rodas – Ajudem-me a coloca-la na cadeira. – pediu, e os três me colocaram sobre a cadeira de rodas – Vamos leva-la para o pré-operatório. – afirmou, e virou-se para Bailey – Eu posso pegar sua enfermeira emprestada?

— Faça o que quiser, só tire essa garota em trabalho de parto da minha SO. – respondeu a mulher.

— Obrigado, agora vamos logo! – o homem apressou-se para fora dali conosco, e em pouco tempo estávamos num quarto, e minhas roupas já estavam sendo trocadas pelas roupas hospitalares.

— Alguém avisou meus pais e os pais do Akira? – perguntei com dificuldade, já sentindo algumas contrações piores.

— Sim, eles estão a caminho. – respondeu Rebecca, que ajudava a me vestirem.

Já devidamente vestida, fui deitada na cama e eles começaram a colocar o soro e a sonda, e as contrações às vezes me pegavam em cheio, fazendo-me gritar e estrebuchar de dor.

— Nós ouvimos falar que a hora chegou, você está bem? – questionou Anastasia, adentrando o quarto com Diego, aparentemente apressados.

— Eu pareço bem? – rebati, estressada por causa da dor – Aquele maldito Akira, me engravidou e depois morreu, lazarento, tomara que esteja queimando no fogo do inferno! – exclamei sem pensar, e reparei que todos se entreolharam um pouco surpresos.

— Está na hora, Claire. – afirmou Roger, aproximando-se da cama – Quem você vai querer que entre com você?

— Já? Mas meus pais nem chegaram ainda! – falei, arregalando os olhos.

— Não dá mais para esperar, Claire. Eu sinto muito. – disse o médico, e eu olhei em volta, tentando me acalmar.

— Rebecca. – respondi, e a mesma sorriu para mim, assentindo.

— Vamos, então. – falou o homem, e a equipe de enfermeiros se moveu rapidamente, levando minha cama pelo corredor.

— E seu eu morrer? – questionei olhando Rebecca, enquanto corríamos para a SO.

— Não pense nisso! Você não vai morrer! – rebateu a morena, acompanhando a maca ao meu lado.

— E se eu morrer? Minhas crianças vão ficar sozinhas... Elas serão órfãs de ambos os pais... – falei, desesperadamente, e agarrei a mão da jovem ao meu lado – Prometa-me que não vai deixar minhas crianças ficarem sozinhas...

— Você não vai morrer. – afirmou pausadamente, como se tentasse enfiar na minha cabeça.

— Prometa. – ordenei, olhando-a feio.

— Nós prometemos, Claire. – disse Anastasia, que também nos acompanhava.

— Eu não vou deixar você morrer. Você não vai morrer. Não é uma opção aqui, okay? – indagou Cooper, apertando minha mão – Nós vamos criar essas crianças juntas, está me ouvindo? Você não vai se safar de trocar fraldas não. – riu fraco no final, quebrando um pouco a tensão do momento.

— Vocês ficam por aqui, se virem os pais dela e do Akira mantenham-nos calmos. Só a Rebecca pode prosseguir. – afirmou Roger, olhando para Anastasia e Diego, que assentiram. 

— Boa sorte lá, Claire. – desejou Diego, acariciando minha perna de leve.

— Vai ficar tudo bem, nós te vemos mais tarde. – falou a loira, sorrindo fraco.

Eu apenas concordei com a cabeça como forma de agradecimento, e meu obstetra avançou com a cama através da porta onde só eram autorizados os médicos e em alguns casos acompanhantes, e me deixou com a equipe de enfermeiros enquanto foi se esfregar. Rebecca colocou uma toca cirúrgica e uma máscara e passou álcool em gel nas mãos, enquanto os anestesistas aplicavam a peridural.

Já anestesiada, sem sentir nada do peito para baixo, eu encarava o teto da SO, nervosa. Eu nunca estivera na posição de paciente naquele local, e era mais assustador do que parecia. Ouvi a porta se abrindo e Roger se aproximou, olhando-me antes de começar.

— Okay, Claire, nós vamos começar agora... Tente ficar relaxada, não é um procedimento complicado. Eu sei que parece assustador, mas será mais rápido do que você imagina. – explicou, como se eu nunca tivesse performado uma cesariana na vida. Balancei a cabeça positivamente e respirei fundo, voltando a olhar para o teto – Bisturi. – pediu, e provavelmente começou a cortar minha barriga.

— Está tudo bem, Claire. Ele está cortando. – disse Rebecca, apertando minha mão.

Alguns minutos se passaram, e eu já estava começando a ficar impaciente. Aquilo tudo estava sendo muito tenso para mim, ainda mais que não conseguia tirar da cabeça que, se eu morresse, meus filhos não teriam pais. Era o pensamento mais aterrorizante que eu podia ter, mas ele não me abandonava por nenhum segundo. E se aquelas crianças ficassem órfãs? Quem tomaria conta delas? Eu sei que todos se ofereceram, mas eu duvidava. Apesar de confiar neles, cuidar dos meus filhos órfãos seria demais para se pedir. Será que eles acabariam num orfanato?

Por outro lado, o medo de ser mãe também me assombrava. A possibilidade de morrer e o fato de sobreviver e ter que tomar conta de gêmeos entravam em conflito dentro de mim, e não sabia qual era mais assustador. Cuidar de duas crianças que cresceriam sem pai, e ainda impulsionar minha carreira médica, tudo isso parecia impossível. Eu pensara nisso durante toda a gravidez, mas naquele momento tudo estava se tornando real, e era mais aterrorizante do que eu pensava. Na minha cabeça eu estava pronta, mas quando senti a primeira contração, eu soube que não estava nem perto de estar pronta. Mesmo com toda a ajuda do mundo, eram apenas meus filhos e eu a partir daquele momento, e esse pensamento até me tirava o ar.

— O primeiro está vindo... – disse Roger, e logo pude ouvir o choro agudo do bebê – É o menino. – afirmou, e uma enfermeira segurou-o perto de mim, para que eu pudesse vê-lo. Algum tempo depois, ouvi outro choro de bebê, e suspirei aliviada – E lá vem a menina... – falou, e a mesma enfermeira segurou-a para eu vê-la também. Sorri boba ao ver meus filhos, mas de repente senti uma zonzeira, e pude ouvir o alarme das máquinas disparar.

— Batimentos estão caindo. – avisou o anestesista.

Fechei meu sorriso lentamente, e tudo começou a se escurecer. Era como se a sala se fechasse à minha volta, e os sons foram ficando cada vez mais distantes. De repente era tudo preto, e o silêncio dominou de vez.

O futuro é imprevisível. É assustador. É excitante. E quando você acha que tem tudo sob controle, ele te dá uma rasteira e boom! Você se encontra no chão de novo. O imprevisto acontece, e cabe a nós encará-lo.


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Notas finais do capítulo

Os gêmeos finalmente nasceram, eeeeeee! E, pra variar, a Claire se lascou mais uma vez hahaha e a mãe da Rebecca continua surpreendendo (para pior) com seu preconceito horroroso.
Enfim, me contem o que acharam do capítulo e o que acham que vai acontecer na história! Beijão!



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