Brasileiríssima escrita por Sweet Girl


Capítulo 4
Capítulo 4




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No dia seguinte, a tensão era perceptível entre tia e sobrinha. A garota havia subido e se trancado em seu quarto na noite anterior, depois de ter entrado em casa, e ignorara a todos no café da manhã. No entanto, como não queria ficar trancafiada em casa, como uma prisioneira, resolvera abrir a boca horas mais tarde para dizer que queria ir ao shopping. Sua Tia Carla, é claro, foi contra, mas quando Mariana ameaçou sair escondida e pegar um ônibus, mesmo sem conhecer nada na cidade, acabou concordando em levá-la.

E lá estavam elas, no Manaíra Shopping, caminhando por entre as lojas, algumas sacolas de compras nos braços. Carla constantemente olhava por cima do ombro, com medo de que estivessem sendo seguida. Mariana balançava a cabeça, em desgosto, quando percebia.

Mas, então, a garota sentiu uma mudança repentina no ar. Não foi algo que conseguisse explicar em palavras, ela apenas sabia, e sua tia pareceu sentir também. Um homem de terno preto vinha na direção delas, e mais dois estavam atrás dele. Parecia uma cena saída de filme.

  - Aqui, guarde isso num bolso da calça – Sua tia lhe entregou o celular dela, e a garota fez como lhe foi dito. – Agora corra, Mariana! – A mulher comandou, tirando uma pistola de dentro da bolsa. Será que ela tinha ao menos uma licença para usar isso? – E não olha para trás.

Não foi preciso mais nenhum incentivo. Mariana começou a correr no meio do shopping, ganhando olhares de estranheza das pessoas que estavam lá. Agora a história que ouvira na noite passada fazia sentido. Depois de ver o modo como o andar daqueles homens estava determinado em sua direção (e o quanto eles pareciam ser mesmo da máfia), ela entendia que era tudo verdade, por mais estranho e louco que pudesse ser.

Com o coração acelerado e a respiração falha, ela chegou à escada volante. Já havia colocado uma boa distância entre si e os “homens de preto”, e achava que pudesse se acalmar um pouco, por isso olhou para trás. E esse foi seu erro.

Eles ainda estavam atrás dela. Correndo em seus ternos pretos, o que seria cômico se ela não soubesse a gravidade da situação. Sua tia devia ter sido desarmada, pois a arma não estava mais em suas mãos, e ela tentava deter um deles, puxando-o para fora do caminho, mas não foi forte o suficiente e acabou sendo empurrada, caindo no chão.

  Mariana voltou a correr, o coração apertado por deixar a tia daquele jeito, e pulou alguns degraus da escada, até estar no térreo. De repente, ouviu-se um tiro. Um dos homens de preto chegara a escada e começara a atirar em sua direção. Nesse momento, o pânico foi geral, pessoas correndo e gritando, com medo. A garota continuou a correr, abaixada, até chegar ao lado de fora. Ela tinha de sair dali. Mas como? Lágrimas embaçaram sua visão. Isso tinha que ser um pesadelo. Um dos mais realistas que já tivera.

Com muita dificuldade, conseguiu chegar à rua, no entanto, não demorou para avistar os homens vindo em sua direção. Eles haviam se espalhado, e um estava muito próximo do local onde ela estava. Droga! Sem nem pensar, ela disparou na direção de um ônibus que estava parado no ponto e entrou, espremendo-se junto as outras pessoas. Mariana não tinha a menor ideia de para onde aquele ônibus estava indo, só sabia que era sua única salvação naquele momento.

Pegando o dinheiro que tinha no bolso, ela rezou para que tivesse dinheiro suficiente para voltar para casa.

 

***

 

 Ela teve de sair do ônibus em algum momento. Após rodar por várias ruas e ficar mais perdida que surdo em bingo, Mariana teve que descer em uma rua totalmente desconhecida para ela, pois o cobrador notara que ela estava há muito tempo lá dentro, sem descer em nenhuma das paradas – que foram todas da rota daquele ônibus, infelizmente. E o pior é que a garota não tinha mais dinheiro para outra passagem. Não ter dois reais e setenta centavos era uma vergonha! Só sairia de casa munida de dinheiro escondido dentro da meia e até do sutiã, a partir de agora. Nunca se sabia em que situação iria se meter!

Começando a andar sem rumo, pois ficar parada assim era pedir por problemas, a garota começou a debater como arrumaria um modo de ir para a casa da tia. No entanto, suas divagações foram interrompidas por um clarão repentino, que ofuscou sua visão, parando o fluxo interminável de pensamentos. Faróis. Um carro estava vindo em sua direção. Não era possível que a tivessem encontrado, droga! Agindo no piloto automático, ela começou a correr.

 Mas a corrida foi em vão, pois o carro era mais rápido que ela e logo Mariana foi puxada para o interior do veículo. Ela se debateu, tentando se libertar, porém não conseguiu. O aperto do homem no banco de trás, com ela, era muito forte. Os outros dois na frente nem viraram em sua direção.

— Você sabe por que estamos perseguindo você, garota? – O homem que a segurava perguntou. – Sabe por que nos demos tanto trabalho atrás de uma simples garota? – Mariana não ia pronunciar nada. Se ia mesmo morrer, preferia não ter nenhum tipo de diálogo com seus assassinos. Além dos mais, ela também estava bolando um jeito de sair daquele carro, viva. – É mais do que apenas uma dívida, porque sei que lhe falaram sobre isso, não negue! – Um tapa foi dado em sua bochecha esquerda. Doeu, e lágrimas se formaram em seus olhos. – Seu pai matou um dos nossos antes de tentar fugir, por isso você e sua mãe também serão mortas. Só sossegaremos quando vingarmos a morte de nosso Sottocapo! - Sottocapo? Que diabos era isso? – Mas claro que não tem ciência do que é isso, não é? – Ele riu. – Dio mio, só de ver sua cara assustada agora valeu a pena toda essa viagem. Sottocapo é o nosso subchefe.

Mariana não queria saber sobre a hierarquia deles. Por que aquele cara continuava falando? Por que ainda não a matara, se esta era a missão deles ali?

  - Não se preocupe, não queremos deixar evidências da morte aqui. Temos um lugar preparado para te apagar, capisce?

Será que ele estava lendo sua mente, ou suas expressões eram muito fáceis de ler? Ela iria ficar com a segunda, era a mais plausível.

Alguns segundos se passaram, em silêncio, os pensamentos da garota a mil, quando luzes azuis e vermelhas puderam ser vistas. Polícia! Ainda havia esperança! O carro devia estar perseguindo o que ela estava com os mafiosos, pois ela sentiu o aumento de velocidade no veículo, e o homem que estava no lado do passageiro baixou sua janela e começou a disparar contra o carro que vinha atrás.

Cazzo! — O que estava dirigindo xingou, em sua língua nativa. Mariana viu que mais dois carros de polícia estavam vindo na direção em que estavam indo. Eles estavam cercados. A garota aproveitou que o homem que a segurava se distraiu com o aparecimento da polícia e o mordeu no braço, com força, libertando-se dele. Sem demora abriu a porta e se jogou na rua, bolando alguns metros. Disparos foram ouvidos, dos dois lados, algum deles deve ter sido feito em sua direção, pois Mariana sentiu uma ardência e logo depois mais nada, a escuridão recaiu sobre ela.


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