Brasileiríssima escrita por Sweet Girl


Capítulo 3
Capítulo 3




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Primeiro dia do Fest Verão é marcado por tiroteio

 

O início desta segunda-feira, dia 4, foi bastante agitado para as pessoas que estavam no Fest Verão 2016. A madrugada do primeiro dia do evento, que está em sua décima primeira edição, foi marcada por um tiroteio, ainda sem explicação, uma vez que nada foi roubado do local. Pessoas que estavam próximas ao lugar onde os tiros começaram disseram não terem conseguido ver o (s) autor (es) dos disparos no meio da multidão; os tiros pareciam vir de algum dos camarotes.

A polícia está investigando o caso, e pretende ouvir mais testemunhas.

O ocorrido deixou 2 mortos e 10 feridos. É uma tristeza saber que não se pode aproveitar um evento com tranquilidade.

 

 Mariana afastou o jornal, sentindo um mal-estar. Ela estivera nessa festa. Podia estar ferida agora, ou pior, morta. O sermão que sua tia dera quando a viu saindo do táxi com o primo foi merecido. E o castigo, também. O que eles estavam pensando ao sair sozinhos e escondidos de casa? – Foi a primeira coisa que ela gritou após fechar a porta da frente, isolando-os dos perigos que haviam lá fora. E a mulher estava certa, fora um ato impensado. Eles queriam apenas se divertir. Mas, e se o pior tivesse acontecido? Mariana não queria nem pensar nessa possibilidade.

 - Tia Carla, posso perguntar uma coisa? – A garota indagou em voz baixa. Estava se sentindo culpada pela preocupação que havia infligido à tia. No final das contas, os pais de Guilherme haviam acordado pouco tempo depois de eles terem saído de casa, e ficaram muito apreensivos ao não conseguirem falar com o garoto pelo celular. Sem nenhum tipo de comunicação, eles ficaram sentados na sala, se perguntando onde eles poderiam estar. Quando o táxi parara em frente à casa, Fábio foi o primeiro a aparecer, mas foi quando tia Carla saiu de casa que as coisas começaram a desandar para os dois jovens. Principalmente depois de terem dito onde estavam e o que havia acontecido lá.

— Pode, claro – a mulher respondeu, ainda olhando para seu café. Como se houvesse algo de muito interessante no líquido preto. No entanto, Mariana sabia que isto era apenas para não ter de encará-la. Ela decepcionara a tia.

 - Minha mãe mencionou alguma coisa sobre o porquê de ter cancelado minha viagem para os Estados Unidos? – Aquela ainda era uma pergunta que rondava constantemente sua mente. Mariana queria saber a verdade, pois estava na cara que a explicação fajuta que lhe dera não era o verdadeiro motivo.

 - Ela me disse a mesma coisa que falou para você, Mari – a garota deixou os ombros caírem em desânimo ao ver a tia se levantar e dar-lhe as costas para lavar a louça na pia. – Por que está me perguntando isso?

— Porque eu não acho que esse seja o verdadeiro motivo por trás dessa mudança no destino das minhas férias.

— Que besteira é essa, menina? – Carla lutou para não parecer transtornada. – É claro que esse é o verdadeiro motivo. Por que sua mãe mentiria para você? Que pergunta mais tola. – Ela balançou a cabeça. – Termine de comer essa torrada e venha me ajudar, secando a louça.

— Estou indo – falou, com desânimo.

Ajudar nas tarefas de casa era parte de seu castigo. A outra, era só poder sair na companhia da tia. Em resumo, as férias, que já não eram boas, estavam arruinadas. Guilherme, porém, parecera ficar com a parte pior. Agora ele teria que ir trabalhar com pai, como estagiário (um nome bonito para a verdadeira função, que era ser um faz-tudo dentro da empresa), mas sem remuneração. Mariana estava quase com pena do primo. Quase. Ela ainda se ressentia pelo episódio da praia de nudismo.

— Depois que terminarmos, vamos até o Hiper. Preciso comprar algumas coisas que estão faltando.

— Ok – a garota respondeu.

 

***

 

Mariana estava parada ao lado do carro, esperando a tia terminar de conversar com uma conhecida, que vira na saída do supermercado, quando sentiu uma sensação estranha de estar sendo observada. Os pelinhos em sua nuca arrepiaram, e ela virou-se, mas não havia nada suspeito. Apenas um homem de terno preto e óculos escuros que estava terminando de guardar suas compras no porta-malas do carro.

Carla parou a frase que estava dizendo e arregalou os olhos. Não podia ser. Não ali. Recompondo-se rapidamente, despediu-se de Amélia, vendedora de uma loja de roupas onde comprava, e seguiu para o carro. Destravou as portas e jogou as compras na parte traseira. Precisava sair rápido daquele estacionamento. Ela podia estar imaginando coisas, ficando paranoica, mas iria ligar para Helena. Tinha que saber se eles haviam descoberto a localização de Mariana.

— Tudo bem, tia? – Mariana perguntou, ao ver o nervosismo aparente da outra.

— Tudo sim, Mari. É que acabei de lembrar que deixei uma panela no fogo. A esta altura já deve ter queimado a comida! – Deu uma risada nervosa e manobrou o carro para fora do estacionamento.

Mariana sabia claramente que a tia estava mentindo. Ela havia deixado o fogão desligado, a garota tinha certeza. Então, por que estaria encobrindo a verdadeira razão para sua apreensão? Havia algo errado, Mariana tinha certeza. Só não sabia o que era.

 

***

 

— Tem algo de errado com a sua mãe – disse Mariana, ao entrar no quarto de Guilherme. O garoto deu um pulo da cama, largando o livro que estava lendo.

— Que susto, garota! – Ele reclamou, sentando-se.

Ela fechou a porta atrás de si e sentou-se na cadeira da mesa do computador.

— O que você quer dizer com “tem algo errado com minha mãe”? – Questionou.

Mariana contou o episódio daquela manhã e como ela vinha agindo estranho durante o restante do dia. Ela estava se sentindo sufocada, a tia não saía de perto dela um só instante.

 - Filho, você viu a...? – Tia Carla colocou a cabeça na porta do quarto do quarto, mas interrompeu-se ao ver que a sobrinha estava lá. – Ah, você está aí. Precisamos conversar, Mari. Acabei de falar com sua mãe, há algo que você precisa saber.

Será que havia acontecido algo com a mãe dela? Mariana ergueu-se de supetão da cadeira, quase a derrubando.

 - Aconteceu algo com minha mãe?

— Não, sua mãe está bem, Mari – a mulher entrou no quarto e fechou a porta, trancando-a. Sentando-se ao lado do filho, deu um suspiro. – Quem está correndo perigo é você.

— Perigo? Perigo, por quê? – A garota estava confusa. – Se isso é por causa da festa...

— Não, Mari, isto não tem nada a ver com a festa. Quer dizer, pode ser até que esteja relacionado, mas não tenho provas. O fato é que você estava certa, havia outra razão para sua mãe te mandar para cá, mas terminou não dando em nada, já que eles estão aqui.

Aquela fala enigmática estava deixando a cabeça de Mariana mais embaralhada do que estava antes.

 - Eles? De quem está falando?

— Sim, mãe, que papo estranho é esse? – Guilherme também se meteu na conversa.

Carla passou as mãos no rosto, tentando criar coragem. Ela precisava dizer, Helena estava beirando a histeria no telefone, e pedira, inclusive, que mandasse a filha de volta para a Inglaterra. No entanto, ela não achou prudente. Era melhor enviar a menina para outra cidade, de carro, do que arriscar pegar um voo. E, claro, precisavam envolver a polícia. Já passava da hora de a polícia entrar nesta história, Mariana não poderia viver uma vida de fugitiva para sempre.

— É uma história complicada, Mari, mas tem a ver com o seu pai e o período em que vocês viveram na Itália.

  - Tia Carla... – a menina começou a dizer algo, mas a mulher ergueu a mão, pedindo que esperasse ela terminar.

— Você sabe como seu pai morreu, Mari?

 Que tipo de pergunta era essa? É claro que ela sabia isso. Por que sua tia queria tocar nesse assunto? E o que o pai dela tinha a ver com tudo isso?

— Tia Carla, eu prefiro não falar sobre isso. Dói demais ainda.

— Desculpa, Mari, mas eu preciso – Carla fechou os olhos por um momento, depois tornou a abri-los. – O que te disseram foi que seu pai sofreu um acidente de carro, não é? Mas nunca falaram que seu pai estava sendo perseguido. Ele devia dinheiro para um homem importante, um homem que fazia parte da máfia. E quando não teve dinheiro para saldar a dívida, ordenaram que o matasse.

Que história louca! E bizarra! Máfia italiana? Mariana olhava sem palavras para a tia. Talvez tivesse superestimado o comportamento estranho de mais cedo, porque criar uma história assim e querer que os outros acreditassem não era normal; era loucura, pura e simplesmente.

  - Mamãe – Guilherme engoliu em seco -, talvez devêssemos cancelar a Netflix, você anda assistindo muita ficção.

 - Eu não estou inventando isso! – Exaltou-se e se levantou da cama, passando a andar de um lado para o outro do quarto. – Sua mãe é quem devia estar te contando isso, não eu! Mas não há escolha, eles te acharam aqui e estamos correndo contra o tempo. – Virando-se para encarar a sobrinha, ela continuou: - Mari, sua mãe sabia sobre a dívida, pois seu pai não teve outra alternativa a não ser contar, quando viu que não conseguiria pagar. Ele sabia que iriam querer matá-lo, por isso fugiu, ou pelo menos tentou, e pediu que sua fizesse o mesmo com você. – Aquilo era demais. Mariana balançou a cabeça, descrente diante de tanta maluquice. – Me diga, Mari, onde você e Helena estavam quando receberam a notícia da morte do Roberto?

Ela estava tentando usar o que sabia para fazê-la crer naquela história estapafúrdia! Só porque estava em San Gimignano, uma comuna italiana da região da Toscana, passeando, isto não queria dizer que o que sua tia Carla estava falando era verdade. Seu pai, o homem mais correto que conhecera, jamais deveria dinheiro para um mafioso.

— Se tudo isto é verdade, como você diz, tia Carla, então por que papai devia dinheiro aos mafiosos? – Mariana também ficou de pé. – O que o fez contrair uma dívida tão grande, que ele teve de recorrer a isto?

 - Jogo – a mulher fez uma careta. – Seu pai se envolveu com jogos de azar no clube desse... desse mafioso -  ela mal conseguia pronunciar a palavra. – Quando foi ficando sem dinheiro, recebeu uma proposta de empréstimo, o que é comum nesses lugares.

— Okay, considerando que isto fosse verdade, e não apenas um delírio seu, por que eu estaria em perigo? E por que eles viriam até aqui atrás de mim? Isso aconteceu há dois anos, e eu não tenho nada a ver com essa história!

— Mari, você não entende como a máfia funciona. Eles não queriam apenas o seu pai morto. A dívida acumulada era tão alta que a família toda deveria pagar, por não ter sido quitada. Por isso sua mãe se mudou para a Inglaterra com você. E é também por isso que veio passar as férias aqui. De alguma forma, eles descobriram que você iria para Aspen, e pretendiam te pegar no aeroporto. Sua mãe tem uma amiga que trabalha no clube que seu pai costumava jogar, foi ela quem avisou que alguns “homens de preto” estavam indo para o Colorado, especificamente, para Aspen. Agora, faz sentido para você a mudança drástica de planos? É por esta razão, também, que você está sem celular. Sua mãe ficou com medo de que pudessem rastreá-la até aqui e o jogou fora. Assim como fez com o dela. Lena comprou celulares descartáveis para conversarmos. Após cada telefonema, ela joga o aparelho fora.

Isso era demais. Era demais para Mariana assimilar.

   - Cansei de ouvir tanta loucura! – Gritou, se encaminhando para a porta. – Você precisa se tratar, tia Carla. – E saiu correndo do quarto.

Ela abriu a porta e saiu em disparada pelo pequeno jardim. Passando pelo portão, esbarrou algo sólido. Ao erguer os olhos, deu de cara com o vizinho gato. Que azar ela tinha!

— Desculpe – falou, em tom quase inaudível. Estava tão, mas tão envergonha!

 - Tudo bem – o garoto sorriu, mostrando lindas covinhas. – Parece que você estava fugindo de alguma coisa. Aconteceu algo? Meu nome é Ricardo, a propósito.

Passou uma mão pelo cabelo, meio sem jeito.

— Sou a Mariana, e eu meio que briguei com minha tia.

  - Mariana Silva! – Ouviu-se a voz da tia dela vindo de casa, e a garota fez uma careta.

— É melhor eu entrar. Tchau, Ricardo. E desculpa, mais uma vez.


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