Em Verde escrita por Radio Floyd


Capítulo 1
01 → A Morte de alguém e algo mais


Notas iniciais do capítulo

OLÁ PESSOAL!!!

Meus nome é Ágata, mas por aqui vou assinar como Flyd.

Espero que gostem dessa história tanto quanto eu gosto >
Sem mais delongas o capitulo.



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     Meus pais insistem em contratar para mim um professor de matemática, eles dizem-me que não sou o suficiente e que a filha dos vizinhos é sempre a melhor e que deveria ser um exemplo a ser seguido. Não deveria me culpar nem me martirizar por não ser boa o suficiente, algumas pessoas simplesmente não conseguem ser boas em tudo ou o tempo todo, mas como a filha sem voz que sou me obriguei a concordar.
     — Vocês têm razão, eu não estou me esforçando o suficiente ultimamente — minhas palavras saiam de dentro de mim como meros sussurros falsos.
     — Viu Robert? Eu falei pra você que aquele celular novo era um perigo, ela acabou ficando relaxada demais — a mulher que sempre tomei por mãe se pronunciou em meio ao jantar.
     — Você tem razão querida... Você sempre têm — sempre soube que era inútil brigar ou reclamar então simplesmente pousei meu celular sobre a mesa enquanto brincava com o copo vazio.
     Não que eu o quisesse entregar, eu de fato o amava e dava mais valor a ele do que a qualquer outra coisa no mundo, mas naquele momento eu não pude fazer nada se não aceitar o fato de que pouco a pouco tudo o que eu amava estava sendo retirado de mim. Primeiro Alex, depois Breanna e agora o meu celular. Minha vida se tornou um verdadeiro caos silencioso desde que Alex foi atropelado por minha causa.
     — Tá surda menina? — A mão magra e delicada da mulher de pele esbranquiçada estalou em meu rosto, para quem mal pegava nas coisas sua mão era bastante rígida e seu tapa me fez acordar.
     — Desculpe-me eu... eu não estava aqui — deixei que a minha cabeça caísse e meus olhos foram direito para o prato praticamente intocável.
     — Como sempre você nunca está aqui e foi por isso que o Alex morreu, por sua desatenção, sua falta de cuidado — a amargura em sua voz era visível. — Você nunca será o suficiente, nunca!
     E então eu vi meu pai jogar o lenço em cima da mesa e sair deixando nós duas a sós, e a cada passo que ele dava para longe da mesa eu me sentia mais e mais vazia. Era um copo quebrado que estava debaixo da torneira.
     Os olhos cinzas da mais velha estavam focados em mim como se a qualquer momento pudessem me matar e que dádiva é ela não ter uma arma. Meus olhos estavam sobre a mesa avaliando o lindo pano que cobria a mesa como se aquilo me fosse vital e então eu tomei coragem para lhe dizer algumas poucas palavras: — Sabes bem que eu não fiz aquilo de propósito — suspirei na tentativa de segurar o choro.
     — Chega!
     — Eu nunca quis que ele me tirasse de lá, eu estava bem — um som arranhado saiu de minha garganta.
     — Cale a boca...
     — Eu sinto muito, eu sinto muito mesmo. Eu nunca quis... — outro tapa foi deferido contra mim e tudo o que eu fiz foi me calar.
     Eu só queria que ela soubesse que se eu pudesse trocar de lugar com ele o faria sem nem pensar duas ou uma vez sequer.
     — Você está de castigo, nada de almoço, janta e café da manhã pra você... Vejo-a no almoço de amanhã — seus olhos estavam marejados, mas a rigidez deles era de dar inveja a qualquer parede de concreto. Seus labios estavam pressionados um no outro com força e uma de suas mãos estava fechada em punho.
     Ela estava com raiva e estava certa.
     — Eu sinto muito. — Levantei-me da mesa indo em direção às escadas, me arrastando a cada passo e tudo que estava caído foi desmoronando ainda mais.
     Meus pés estavam cansados de lutarem para manter de pé uma coisa que estava destruída por dentro, um ser que já não estava mais humano. Uma garota que havia se tornado um monstro dos piores, e o monstro estava faminto e não cansava de devorar o que ainda sobrava dela, de dentro para fora, morrendo.
     Joguei-me na cama e fiquei a olhar o teto que parecia melancólico, escuro e triste. Tudo naquele lugar parecia triste, desde os pôsteres colados até os livros perfeitamente arrumados. Aquele não era o meu quarto, mas isso nem mesmo importava, qualquer lugar daquela casa era cheio da presença dele e ele era cheio de presença.
     Todos os dias era como um sonho ruim, ele sempre parecia presente e então não voltava para casa. Tudo parecia perfeito se visto de fora, uma mulher bem sucedida com sua empresa de móveis. O pai com seu trabalho em uma dos melhores escritórios de advocacia da cidade e a filha estudando em um dos melhores colégios da cidade. Quem imaginaria que a mulher nem mesmo sua mãe era? Quem imaginaria que o pai era viciado em bebidas caras? Quem imaginaria que eles haviam perdido um de seus membros e que a família estava em declínio por dentro? Quem iria imaginar que a garota já não estava tão sã assim.
     Para todos ela tinha a vida perfeita e depois que seu irmão morreu isso não mudou, todo mundo me chamando de guerreira, lutadora. Tantas admirações falsas me cansam, me destroem e tudo o que eu quero nesse preciso momento é sumir. simplesmente desaparecer e não voltar nunca mais.
     Os lençóis ainda tem o cheiro levemente amadeirado dele e tudo ali dentro lembra ele, aquele quarto que um dia foi seu havia se tornado o meu refúgio secreto. O lugar para onde eu vinha para chorar e despejar todas as minhas dores em silêncio.
     Ele nunca aceitou que eu fosse assim, deprimida. Ele fez de tudo por mim, fez de tudo para salvar a minha alma e tudo o que fez foi perder a própria.
     As vezes quando eu estava atravessando a rua eu me lembrava de como o carro havia atingido-o em cheio e em como eu me desesperei ao ver o seu corpo ser lançado para longe, meu corpo ainda estático na calçada não pode se mexer, não o quis fazer e tudo o que fiz foi assisti-lo morrer lentamente nos braços da dona da padaria q o acalmava dizendo-o que eu estava bem. Lembro-me até hoje de seu olhar longe e distante e de como ele acenou lenta e calmamente para mim segundos antes de morrer. Ele não tinha nenhum dever para comigo, ele não precisava e mesmo assim o tinha feito.
     E tudo o que fiz para retribuir foi ficar ainda pior, foi afundar ainda mais e mais. Ele jamais sentiria orgulho e onde quer que estivesse deveria se sentir arrependido, pelo menos sua vida ainda seria boa, nossos pais ainda se amariam e o motivo de dor da família não estaria mais aqui. E tudo o que consigo fazer é chorar, chorar pela sua morte e chorar pela vida que eu ainda possuo, porquê por mais que os outros digam que a vida é boa e que vale a pena viver, isso não se encaixa para mim. Isso nunca foi verdade.
     Agarro com as minhas forças uma de suas camisetas favoritas e inalo o cheiro de suas vestes. Aquele cheiro jamais sairá de minha mente.
     As lágrimas vão secando e tudo o que sobra são cascas finas por cima de minha bochecha, o céu vai ganhado tonalidades rosadas e depois de um tempo tudo está escuro demais.


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Notas finais do capítulo

Amanhã tem mais um capitulo, espero que tenham gostado >