The College C.R.U.E.L. escrita por Glads


Capítulo 1
Bem-vinda




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Ele gritou com a menina.

Ela abraçou o próprio corpo completamente magoada.

Ela estava usando cinto de segurança.

Ele não.

Ele fez uma ultrapassagem com o carro.

Ela se segurou no banco.

Ela permaneceu no lugar enquanto o carro capotava.

Ele foi arremessado do carro, graças a sua falta de cuidado. Ironicamente, por causa disso, sobreviveu.

Ela? Bom, eu ainda não sei.

O impacto de seis toneladas de um caminhão a noventa e cinco quilômetros por hora chocando-se direto com a frente do veículo teve uma força descomunal.

As portas do carro foram arremessadas para longe e o motorista foi jogado contra o vidro caindo próximo a uma árvore. O chassi foi lançado, bateu na pista e parou ao lado dele. As rodas foram parar do outro lado da pista como se fossem frágeis igual a uma folha de papel. O carro deixou de parecer um carro e transformou-se apenas em algo de metal completamente amassado.

O tanque de gasolina começou a pegar fogo no exato momento que o motorista do caminhão desceu cambaleante de seu veículo.

Como alguém pode fazer uma ultrapassagem tão arriscada?, perguntou-se o caminhoneiro que só queria chegar o mais rápido possível em sua casa para vê pela primeira vez sua netinha recém-nascida.

— Você está bem? – o senhor rechonchudo fez a pergunta retórica ao se aproximar do jovem motorista caído no chão.

— Ela... Ela tá no carro. Por favor... – ele tentou se sentar, mas gritou de um jeito tão arrepiante que o senhor nunca esqueceu.

— Calma, filho. Vou ver se ela tá bem.

— Ela tem que está! – o garoto falou bravo e gemendo de dor.

Claro que o caminhoneiro não quis falar nada sobre o braço do jovem está torto ou sobre sua camisa está coberta de sangue devido algo enfiado no meio do abdômen dele.

O senhor trêmulo pediu ao Criador que protegesse o rapaz, que a menina estivesse viva e que ele não tivesse um segundo ataque do coração. Tudo isso em apenas cinco segundos.

O calor do fogo aqueceu o homem a ponto de tornar-se doloroso, mas ele precisava tirar aquela menina, cujos cabelos ele já conseguia vê, de lá de dentro.

Estava quente demais, a parte de trás do carro estava quase completamente destruída pelo fogo, ainda assim o senhor não desistiu.

Ele tinha visto o simples e puro amor nos olhos daquele rapaz.

Sem dúvida, ela é ou era o amor da vida dele.

“Deus queira que continue sendo”, pensou

E ele, já viúvo sabia o quanto doía perder o amor.

Finalmente conseguiu ver a garota de frente.

Seus lábios estavam azuis, seus braços cruzados, suas pernas unidas e por incrível que pareça ela parecia imaculada.

Imaculada demais.

O Sr. De Silva, esse era o nome dele, sabia muito bem o que estava acontecendo.

Sua falecida esposa tinha passado por isso antes que o pior acontecesse...

Com lágrimas, pela sua esposa e pela garota tão nova, ele a colocou nos braços antes que o carro explodisse e fez uma prece à Deus.

Aquele casal era tão jovem... Não mereciam ficar sem viver o amor deles...

Bastou deitar a menina ao lado do seu amado, para o carro explodir.

Nenhum deles pareceu se importar.

O caminhoneiro ligava para ambulância.

A menina parecia não respirar.

O rapaz tentava olhar para a garota enquanto gritava:

— KARINE! KARINE! KARINE!

***

— KARINE! KARINE! KARINE! – gritaram os dois ao mesmo tempo – ELA VEM COMIGO!

Quer saber como eu parei ali, com um braço sendo puxado por um asiático e outro por uma morena?

Simples.

Minha mãe passou no concurso público de seus sonhos e tivemos que voltar para sua cidade natal, Clareira.

O que foi bom até o ponto em que me livrei do pessoal mesquinho da minha antiga escola, mas se tornou ruim quando tive que me despedir da minha loja de quadrinhos preferidos.

— A Karine vai comigo! – Minho insistiu.

— Não! Ela vai ficar! – Kate retrucou.

— Comigo! – o menino apertou meu pulso.

— Negativo, ela vai ficar aqui! – a garota argumentou.

— Por que ela não decide? – o asiático me soltou e cruzou os braços.

— Ela nem fala, Minho! E você já saiu puxando ela! – a garota de pele pálida, olhos verdes e cabelos pretos argumentou.

Já havia caído a noite, meu primeiro dia na Clareira estava para finalizar e bom, pelo menos eu já conhecia duas pessoas da minha idade.

— Você pode, por favor, falar alguma coisa? – o rapaz de calça jeans azul, camisa e tênis pretos pediu.

Eu neguei com a cabeça, por pura vergonha.

Digamos que eu não era a pessoa mais social do mundo.

— Viu? Ela não que ir! Vem, Karine. – Kate apertou minha mão e puxou.

— Pode parar aí! Minha mãe disse para eu mostrar a cidade para ela!

— Mostrar a cidade e não uma festa cheio de idiotas! – ela disse.

— Newt vai está lá. – ele abriu um sorriso maligno.

— O quê? – de alguma forma Kate ficou ainda mais pálida.

— Sim, amiguinha, ele já voltou da Inglaterra. Você não quer vim com a gente e vê ele?

A garota olhou atentamente o seu melhor amigo.

— Ok. – ela resmungou – Você venceu.

— Só vou vencer quando for padrinho do casamento de vocês.

Ele foi para o outro lado do carro e entrou.

Kate riu sem graça para mim, deu de ombro e disse:

— Qualquer coisa fugimos.

Depois que pousamos minha mãe me informou que teríamos que passar algumas semanas morando com sua melhor amiga Kily, enquanto a casa ao lado da dela era reformada para a gente.

Infelizmente não tínhamos a quem recorrer senão a tia Kily, como apelidei carinhosamente, já que meus avós morreram a muito tempo assim como meu pai.

Minha única família consistia na mamãe, no tio Elton, irmão do meu falecido pai e sua única filha, Gaby. Mas infelizmente, os dois últimos moravam em uma fazenda no interior.

Ao menos já conhecia tia Kily. Ela esteve presente em todos os meus aniversários até eu completar oito anos e sempre a via através da vIdeochamada. Assim como também conhecia Minho.

Certa vez, eu estava entrando no aplicativo enquanto tomava suco de uva, quando a imagem dele se fez presente.

O asiático, com braços fortes e um topete inconfundível, apareceu, nem sequer olhou para mim ou desejou “boa noite”, apenas ajeitou algo no notebook.

Foi quando senti algo gelado tocar minha pele e olhei para baixo percebendo que distraída – com a configuração da webcam e não com o garoto, pelo menos foi isso que disse para eu mesma – acabei derramando o suco na minha camiseta branca.

— Merda. – murmurei passando a mão na camisa agora com um círculo enorme roxo.

— Não esfregue. – uma voz masculina falou.

Arregalei os olhos e senti meu coração acelerar.

Que sensação é essa?, me perguntei.

Pela primeira vez, em sete anos, Minho olhou para mim, diretamente para mim.

Ele presta atenção em mim? Ele já me olhou antes e não percebi?

Ele abriu um sorriso esquisito e continuou:

— Sabão líquido. Isso vai resolver seu problema. Aplique com a roupa seca.

Eu não me atrevi a abrir a boca.

Essa foi minha única conversa com ele até chegar na Clareira e isso se praticamente obrigado a mudar.

— Então, você vai fazer o último ano também? – ele perguntou sentado na cama enquanto eu guardava algumas roupas no armário do quarto de hóspedes da sua casa.

Assenti.

Eu estava nervosa com sua presença ali, mesmo que ele tenha sido obrigado por sua mãe.

Tia Kily e minha mãe estavam no andar de baixo colocando a conversa em dia – mesmo que elas conversassem toda quarta-feira à noite pelo computador.

Como eu queria ter uma amizade com a delas.

Completamente opostas fisicamente, mas ainda assim iguais no jeito de pensar e agir.

Enquanto minha mãe tem pele branca, corpo um pouco acima do peso, e cabelos lisos e loiros, tia Kily tem a pele negra, cabelos enrolados pretos que caiem sobre sua costa e um corpo escultural.

As duas estavam juntas desde o colegial.

— Você não tá ouvindo nada do que eu digo. – Minho constatou e olhei envergonhada – Sabe, Karine, eu só sei seu nome porque minha mãe me falou, até agora você não abriu a boca.

Mordi o lábio insegura.

— Escuta... – ele se levantou – Vamos cominar o seguinte, eu finjo ser muito legal com você e você fingi gostar de mim. Todos saímos ganhando.

Concordei com a cabeça.

Eu sabia que ele era um idiota.

— Ótimo, vou chamar a Kate pra cá. Ela sempre sabe ser simpática. – ele digitou algo no celular.

Kate. Óbvio que ele tem namorada.

O observei sair do meu quarto como se um peso tivesse saído das suas costas musculosas realçadas por aquela camisa preta.

Um cordão militar chamava a atenção para sua nuca, assim como aquela calça jeans azul fazia com que olhássemos para... Ahn, deixa pra lá.

Eu ainda não era tão ousada naquela época pra olhar com tantos detalhes assim.

Continuando...

Depois disso, fui tomar um banho para só depois jantar.

Infelizmente – ou felizmente? – meus planos foram por água a baixo quando saí, só de tolha, do banheiro e dei de cara com uma garota mexendo na minha mala em cima da cama.

— Ah! Oi! – ela sorriu olhando para mim.

Arregalei os olhos e olhei para o lado, onde na mesinha tinha um abajur.

Ela pareceu perceber que eu pensava em jogar o objeto em cima dela e disse:

— Hey, calma! Sou Kate, sua vizinha!

Kate. A namorada do Minho.

O que faz aqui, mexendo nas minhas coisas?, tive vontade de perguntar.

A garota de vestido verde colado ao corpo, corou.

— Desculpa, às vezes eu sou muito curiosa.

Ainda confusa, mas relaxada por ao menos saber quem ela era, esperei ela dizer alguma coisa.

— O Minho pediu para eu vim aqui e ser legal com você para que ele não precisasse ser seu amigo.

— Nossa. – pensei alto e pela primeira vez falei naquela cidade.

De repente Kate começou a aplaudir.

— Você fala!

Acabei rindo.

— Minho me disse que foi obrigado a puxar assunto com você, mas ficou difícil quando você não falou nada.

Aproveitei a coragem repentina para falar e perguntei apertando a toalha contra o corpo:

— Ele é seu namorado?

Soou estranho e no mesmo instante tive vontade de me enterrar bem fundo, ainda mais quando ela começou a gargalha quase escandalosamente.

Eu não devia ter me metido na vida alheia.

— Não! Deus me livre! Namorar esse garoto deve ser uma tortura! – ela ainda ria – Desculpa, mas realmente, você não pode gostar do Minho.

— Eu não...

— Olha. – ela me interrompeu – Ele é meu melhor amigo, não sei o motivo, mas é... Porém, em primeiro lugar, sou uma garota e como uma tenho que te dizer, ele é um galinha.

Franzi o cenho.

Que tipo de amiga fala isso do outro?

— Só tô falando a verdade. – ela deu de ombros – Ele vive com uma garota nova todo dia, todo dia mesmo.

Uma tristeza estranha se abateu sobre mim.

— Fazendo minha propaganda, Kate? – Minho abriu a porta.

Arregalei os olhos pela segunda vez no dia.

Será que ele ouviu minha pergunta?

— Ouvindo atrás da porta, Minho? – ela retrucou.

Só então me dei conta de que ainda estava enrolada na toalha branca.

O asiático encarou fixamente minhas pernas e as contorci, para ele, só então, percebeu meu constrangimento.

Pensei que ele ia pedir desculpas, mas em vez disso, abriu um sorriso malicioso e soltou:

— Como falam no Twitter? – Minho se perguntou – Ah, sim. Suas pernas são minha nova religião, Karine.

— Saia daqui, idiota. – Kate pegou uma almofada e jogou no amigo.

Ele foi embora gargalhando alto.

— Que coisa ridícula! – a menina murmurou sobre a frase esquisita do asiático.

— Ah! Antes que eu me esqueça! – Minho apareceu novamente abrindo a porta sem bater e olhando dessa vez para o meu rosto – Se vista bem, a mamãe quer que eu te leve pra sair.

Eu assenti o mais depressa possível e ele saiu.

Fui até o armário, peguei uma camisa preta de Guerra nas Estrelas, uma calça jeans rasgada e peças íntimas voltando para o banheiro.

— Escute o que eu disse, Karine. – Kate falou pouco antes de eu fechar as portas – Minho está sendo legal porque sua mãe mandou e ele faz tudo o que puder pra deixar ela feliz, mas ele não vai hesitar em te machucar se der vontade.

Por que é amiga dele, então?, tive vontade de perguntar, mas imaginei que era íntimo de demais.

Foi dessa forma que parei bem ali, em frente à casa de Minho enquanto ele me puxava para um lado e Kate para outro. Ou melhor, foi no exato momento em que Kate descobriu que seu amigo queria me levar para uma festa “cheia de idiotas” segundo ela.

Minho batucou no volante e olhou para mim através do retrovisor, assim que estacionou o carro em uma casa agitada com vários adolescentes saindo e entrando dela ao som da música alta.

 – Bem-vinda a Clareira, Trolha.


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Notas finais do capítulo

EU VOLTEI!

Obrigada à você que está aqui! Agradeço por estarem me acompanhando nessa nova jornada.
Essa fic não é só minha, é nossa!



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